📘 Capítulo 1 – Um Recomeço com Sabor de Café
O aroma de café fresco preenchia o ambiente como um abraço quente numa manhã fria. Isabelle girou a chave da porta principal da cafeteria, sentindo o coração bater forte no peito. Depois de tanto esforço, ali estava ela: dona do próprio sonho.
A decoração aconchegante com tons terrosos, o som suave do jazz tocando ao fundo, os bolos recém-saídos do forno… Tudo era como ela imaginara. Mas nada disso podia esconder o fato de que, por dentro, ainda lutava para curar feridas que o tempo teimava em deixar abertas.
Isabelle era uma mulher forte, mas o amor já a havia quebrado uma vez — e agora, mesmo em meio a essa conquista, ela se sentia sozinha.
— Vai dar certo — murmurou para si mesma, endireitando os ombros diante do espelho atrás do balcão.
Era seu primeiro dia de funcionamento. A cidadezinha litorânea onde decidira recomeçar a vida era calma, cheia de histórias escondidas. Gente de passado misterioso, de promessas partidas e sorrisos cansados. Isabelle achava que se encaixava bem ali.
O sininho da porta tocou.
Ela levantou os olhos — e ali estava ele.
Alto, moreno, cabelos negros levemente bagunçados, olhar profundo como o mar revolto. O blazer escuro combinava perfeitamente com seu perfume amadeirado que logo tomou conta do ambiente.
— Bom dia — ele disse, com uma voz grave e envolvente.
— Bom dia… seja bem-vindo — ela respondeu, tentando manter a compostura.
O homem olhou em volta, como se examinasse cada detalhe do lugar. Havia algo nele… algo familiar e, ao mesmo tempo, perigoso. O tipo de homem que você tenta evitar, mas o coração insiste em notar.
— Uma cafeteria charmosa dessas merece aplausos. É nova na cidade?
— Sim. Comecei hoje. Isabelle — ela estendeu a mão por cima do balcão, e ele a apertou com firmeza, mas com suavidade.
— Gael. Prazer em conhecê-la.
O toque dele deixou um rastro de calor. Ela recuou a mão rapidamente, tentando disfarçar o arrepio que percorreu seu corpo.
— O que vai querer? — perguntou, indo até a máquina de expresso.
— Surpreenda-me. — Ele sorriu, e foi como se o sol entrasse pela janela.
Enquanto preparava o café, Isabelle tentou não olhar para ele. Mas seus olhos teimavam em buscá-lo. Gael estava sentado na poltrona perto da vitrine, observando-a com uma curiosidade silenciosa. Ele não era só bonito — havia um mistério em sua presença, um peso escondido atrás do olhar calmo.
Ela serviu o café e o entregou com um leve tremor nas mãos.
— Espero que goste.
— Tenho certeza que sim. — Ele tomou um gole e a encarou. — Você colocou o coração nisso. Eu sinto.
Isabelle mordeu o lábio. Aquilo não era só uma conversa de cliente e dona de café. Era o começo de algo. Algo que ela ainda não entendia, mas já temia.
Naquela manhã, com o sol dourado iluminando o balcão, Isabelle sentiu uma faísca acender onde antes havia apenas cinzas.
E naquele momento, ela nem imaginava quantos segredos, paixões e perigos viriam com aquele homem chamado Gael.
📘 Capítulo 2 –
A cafeteria estava mais movimentada naquela manhã. Isabelle atendia clientes com um sorriso discreto, enquanto tentava ignorar o nome que ecoava em sua mente desde o dia anterior: Gael.
Ela havia passado a noite inteira revivendo a conversa. O olhar dele, a forma como falava, o arrepio que sentiu ao tocar sua mão. Mas ela precisava manter os pés no chão. Já havia acreditado demais no amor — e pagado caro por isso.
Enquanto servia um cappuccino para uma senhora, ouviu o sininho da porta novamente. Não precisava nem olhar. O ar ficou mais denso. Seu coração apertou antes mesmo que sua mente aceitasse: ele estava ali de novo.
Gael se aproximou do balcão com aquele mesmo sorriso calmo e perigoso.
— Bom dia, Isabelle.
— Gael... voltou rápido.
— Ontem você me deixou curioso. Acho que posso querer fazer disso um hábito.
Ela desviou os olhos, fingindo concentrar-se na máquina de café. Não podia permitir que ele quebrasse a parede que havia construído com tanto esforço.
— Posso oferecer o de ontem, ou quer algo diferente hoje?
— Pode me surpreender de novo. Gosto do seu gosto.
“Gosto do seu gosto.” A frase reverberou em seu peito como se tivesse sido dita ao pé do ouvido, no escuro.
Ela tentou ignorar.
Preparou um latte cremoso com canela e entregou sem dizer nada. Ele pegou a xícara, observando-a como se enxergasse além da fachada de mulher forte que ela usava todos os dias.
— Trabalha sozinha? — perguntou, casualmente.
— Por enquanto. É o começo, não posso bancar uma equipe grande.
— Corajosa. Poucas pessoas têm coragem de recomeçar do zero.
Ela ergueu os olhos.
— Eu não tive escolha.
— Às vezes, os recomeços nos levam exatamente aonde deveríamos estar — respondeu ele, com seriedade. — E às vezes... a quem deveríamos encontrar.
O coração de Isabelle bateu mais forte. Aquele homem mexia com seus sentidos de um jeito que ela detestava admitir.
Ela foi interrompida por outro cliente, e Gael aproveitou para se sentar novamente na mesma poltrona do dia anterior. Quando ela olhou de relance, viu-o observando uma fotografia na parede — uma Isabelle mais jovem, sorrindo com uma xícara na mão.
Depois que o movimento diminuiu, ela limpava as mesas quando ele se aproximou novamente, agora com o olhar mais intenso.
— Posso te fazer uma pergunta pessoal?
Ela hesitou.
— Pode tentar.
— Por que você evita tanto o que sente?
Ela ficou paralisada por um instante. Era como se ele tivesse aberto uma ferida com uma palavra.
— Porque sentir já me custou caro demais — respondeu, firme. — E eu não estou pronta pra pagar de novo.
Gael assentiu, respeitando o espaço que ela exigia. Mas seus olhos diziam que ele voltaria. Que aquela conversa não terminaria ali.
— Então eu só vou tomar café. Amanhã. Depois de amanhã. E quem sabe um dia, você me permita ver além do balcão.
Ele saiu sem esperar resposta, deixando para trás um cheiro suave de colônia e um rastro de pensamentos bagunçados.
Isabelle encostou-se no balcão, respirando fundo.
Ela não queria se apaixonar. Não agora. Não por ele.
Mas algo dentro dela — algo que havia dormido por tempo demais — estava despertando.
E ela sabia que, mesmo tentando resistir, o desejo entre eles era mais forte que o medo.
Capítulo 3 –
As nuvens escuras surgiram de repente no céu, como se refletissem o turbilhão que Isabelle sentia por dentro. Lá fora, o vento soprava forte, arrastando folhas pelas calçadas e anunciando que aquela tarde não seria como as outras.
Ela já estava encerrando o expediente quando ouviu o barulho da porta abrindo de novo. Sem olhar, já sabia quem era. Era como se o ambiente todo reagisse à presença dele.
— Achei que você não voltaria hoje — disse ela, olhando por cima do ombro.
— E perder o melhor café da cidade? Nem pensar — respondeu Gael, sacudindo os cabelos molhados da chuva e tirando a jaqueta encharcada.
Ela sorriu sem querer. Aquele homem tinha um dom: o de se infiltrar nas brechas do coração dela, mesmo quando ela tentava mantê-lo trancado.
— Está começando um temporal — ele completou, olhando pela vitrine. — Acho que você não vai conseguir fechar tão cedo.
Relâmpagos riscaram o céu. Logo a chuva engrossou, acompanhada de trovões que faziam o prédio estremecer. Isabelle trancou a porta e puxou as cortinas.
— Parece que estamos presos aqui — murmurou, mais para si do que para ele.
Gael aproximou-se devagar. Havia algo no olhar dele… um calor contido, um desejo prestes a transbordar. E mesmo com o som da tempestade lá fora, tudo que ela ouvia era o som da própria respiração acelerada.
— Eu não me importo de ficar preso aqui — ele disse, baixo. — Desde que seja com você.
O ar pareceu mais pesado. Isabelle deu um passo para trás, mas Gael a seguiu com o olhar, sem invadir o espaço dela.
— Você não faz ideia do que está despertando em mim — ele murmurou.
— E você também não faz ideia do que estou tentando controlar — ela respondeu, num sussurro.
O silêncio entre eles era carregado. Lá fora, a chuva batia com força contra os vidros. Dentro da cafeteria, o cheiro de café e canela misturava-se ao calor do desejo.
Ele se aproximou devagar, respeitando cada espaço, cada silêncio dela. Mas quando os dedos dele roçaram os dela, foi como se uma faísca acendesse tudo que ela havia tentado apagar.
— Me diz pra parar — ele disse, encostando a testa na dela.
Ela fechou os olhos, sentindo o toque, a respiração, o momento.
— Eu... não consigo — sussurrou.
E então, como se o mundo lá fora não existisse, os lábios deles se encontraram num beijo cheio de urgência e retenção. Era como se todo o desejo acumulado explodisse ali, entre o balcão e os trovões.
Isabelle o puxou pela camisa, sentindo o corpo dele colado ao seu, quente, firme. Os beijos desceram pelo pescoço, e suas mãos, que por tanto tempo foram contidas, agora exploravam com liberdade.
— A gente não devia... — ela murmurou entre suspiros.
— Mas a gente quer — ele respondeu, e voltou a beijá-la com fome.
E ali, no meio da cafeteria, com o mundo inteiro sendo lavado pela tempestade, Isabelle se entregou a um desejo que ela não sabia mais conter.
Gael a ergueu com cuidado, colocando-a sobre o balcão, e seus corpos finalmente encontraram o compasso perfeito, como se tivessem esperado por isso a vida inteira.
Naquela noite, não houve regras. Só pele, calor e sentimentos antigos renascendo.
E quando a chuva começou a passar, Isabelle sabia: nada mais seria como antes.
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