Domínik observava o movimento elegante na mansão dos Zhao's, os lustres reluzindo sob a luz suave, mas sua mente estava longe daquele ambiente opulento. Enquanto cortes de carne suculentos eram servidos, ele lutava para engolir o que parecia ser um banquete em meio ao turbilhão de emoções que o consumia. Prometeu a Dimitri que o ajudaria com os papéis sobre Mary Kay, a menina de apenas quatorze anos encontrada de forma brutal na manhã anterior, e a imagem de seu corpo despido e desolado ecoava em sua mente, como um grito ensurdecedor que não o deixava em paz. A responsabilidade que pesava sobre seus ombros se tornava cada vez mais insuportável, e o riso e a conversa ao seu redor pareciam não fazer sentido diante da tragédia que abalará a cidade. "Como posso estar aqui?", pensou, enquanto um sorriso forçado se fixava em seu rosto, ocultando a tempestade interna que o consumia.
Domínik continuava a refeição em um silêncio ensurdecedor, com o garfo paralisado a poucos centímetros do prato, enquanto sua mente se perdia em um turbilhão de pensamentos. A estranha sensação que o acompanhava desde sua chegada à mansão se intensificava, como se uma nuvem de inquietação estivesse se acumulando ao seu redor. Foi nesse momento que decidiu verificar o celular, que estava no modo silencioso, e seu coração disparou ao notar trinta chamadas não atendidas de Dimitri. A ansiedade cresceu dentro dele, e, no instante em que se preparava para retornar a ligação, outro nome apareceu na tela: Steven Solace. Um agente que, ao atender, trouxe uma onda de apreensão. "Algo aconteceu com Dimitri. Ele não está atendendo. Saiu por volta das onze da noite com um grupo de oito homens para investigar uma denúncia anônima relacionada a William Colcci", informou Steven, sua voz carregada de tensão. O estômago de Domínik se contorceu, e a refeição luxuosa a sua volta tornava-se irrelevante diante da urgência do que estava acontecendo. "Localizem o celular de Dimitri imediatamente!", exclamou, sentindo a determinação crescer dentro dele. A responsabilidade se tornava cada vez mais pesada, e ele compreendia que não poderia ignorar a conexão entre a brutalidade do crime contra Mary Kay e o desaparecimento de seu amigo.
Enquanto tentava processar a gravidade da situação, uma notificação chamou sua atenção: uma nova mensagem na caixa de entrada. Era uma mensagem de voz de Dimitri, que, com dificuldade, explicou que a denúncia anônima apontava que William Colcci estaria em uma estrada rural em Nova Jersey, quilômetros 222, na antiga usina de álcool. Assim que ouviu as palavras de Dimitri, a adrenalina disparou e, como um impulso, levantou-se da mesa. Mas antes que pudesse agir, o telefone tocou, e ao atender, seu coração afundou ao perceber que, do outro lado, não era Dimitri quem falava, mas sim William. "Tenho uma proposta", disse ele, a voz fria e calculista. "Entregarei Dimitri em troca de Sally." E, como se isso não fosse o bastante, William enviou uma foto de Dimitri, que estava ensanguentado e gravemente ferido. A visão acionou uma memória aterrorizante; já tinha visto ferimentos semelhantes antes... Jack. Os mesmos tipos de cortes e lesões.
Nesse instante, percebeu Kunlun observando a tela do seu celular, e um frio percorreu sua espinha. Rapidamente, escondeu o aparelho, o pânico se instalando. Não podia acreditar que a história estava se repetindo, que o pesadelo estava prestes a se desenrolar novamente diante de seus olhos. A urgência da situação tornava-se insuportável, e ele sabia que precisava agir rapidamente para salvar Dimitri antes que fosse tarde demais.
Nesse momento, o celular vibrou novamente, e ao olhar, viu que era Steven Solace mais uma vez. A voz dele, agora carregada de urgência, ecoou no aparelho: "A casa de Dimitri está em chamas! Jeff e Davi ainda estão lá!" O mundo ao seu redor desmoronou em um instante, e a realidade se tornou um borrão. O desespero tomou conta dele, fazendo seu coração disparar como se quisesse sair do peito. Sem pensar, levantou-se abruptamente, quase derrubando a cadeira, as palavras de Steven reverberando em sua mente como um alerta fatal. A necessidade de agir se intensificou; não podia permitir que mais vidas se perdessem. Com a adrenalina correndo em suas veias, ele se dirigiu à saída da mansão, determinado a salvar seus amigos e a impedir que a situação se tornasse ainda mais trágica. A sensação de que o tempo estava se esgotando o impulsionava a correr, um turbilhão de emoções e medos se mesclando em sua mente enquanto se preparava para enfrentar o caos que o aguardava.
Nesse momento, enquanto eu atravessava a sala em disparada, prestes a sair pela porta da frente da mansão dos Zhao, fui surpreendido por Kunlun que surgiu no meu caminho, com o olhar sério e determinado. Nas mãos dele, havia um embrulho de tecido vermelho escuro, com inscrições orientais bordadas em dourado. Sem dizer uma palavra, ele desfez o pano, revelando uma espada samurai antiga, com a lâmina perfeitamente polida e a empunhadura envolta por uma faixa de couro envelhecido, mas firme. “Ela pertenceu ao meu bisavô,” ele disse, a voz baixa mas carregada de significado. “É uma lâmina de proteção… e de sorte. Hoje… você vai precisar das duas coisas.” Por um instante, hesitei, surpreso com o presente inesperado, mas a gravidade da situação me trouxe de volta ao foco. Peguei a katana com as mãos tremendo de adrenalina, senti o peso e a energia dela e prendi-a às costas, de forma improvisada, com o cinto do sobretudo que eu ainda usava.
Respirei fundo, tentando organizar as palavras na minha cabeça e informei rapidamente aos que estavam na sala: “A casa do Dimitri está em chamas! Jeff e Davi ainda estavam lá quando o incêndio começou! Eu tô indo pra lá agora!” Sem esperar qualquer resposta, corri até o carro com o coração acelerado, o sangue latejando nas têmporas, as imagens dos meus amigos presos em meio às chamas martelando dentro de mim como um soco repetitivo. Liguei o motor com brutalidade e arranquei do estacionamento da mansão, cortando as ruas de forma quase suicida, com os pneus cantando a cada curva.
Enquanto acelerava rumo à casa de Dimitri, o celular vibrou de novo. Atendi no viva-voz, sem tirar os olhos da estrada. Era Steven mais uma vez.
“Dominik! Jeff e Davi foram retirados a tempo! Estão vivos! Estão no hospital agora… com queimaduras, mas conscientes!”
O alívio foi imediato, mas não durou mais que alguns segundos. A raiva e a certeza de que aquilo era só o começo me fizeram cerrar os dentes. Sem pensar duas vezes, dei a ordem com a voz firme: “Reúna o pelotão inteiro. Quero todo mundo pronto em cinco minutos. Equipamento completo. E passem a localização da antiga usina de álcool abandonada pra todos. Quando estiverem prontos… me encontrem lá. Repito: na usina!”
Desviei o carro em uma guinada tão violenta que quase subi no canteiro central da avenida, forçando o motor ao máximo enquanto tomava o novo rumo. A usina de álcool abandonada surgia na minha mente como um presságio… e eu sabia que chegando antes do combinado, talvez… só talvez… eu ainda pudesse virar esse jogo sujo antes que William Colcci desse o próximo passo.
Dirigi até onde o asfalto acabava e o mato alto começava a engolir o caminho, estacionando o carro a uma distância segura, longe o bastante para que o som do motor não denunciasse minha presença. Desliguei as luzes, tirei as chaves da ignição e respirei fundo por um segundo, tentando controlar a fúria que queimava dentro de mim como o próprio incêndio que quase matou Jeff e Davi. Peguei a katana, sentindo o peso dela como uma extensão do meu próprio braço. O aço parecia vibrar levemente, como se soubesse que sangue seria derramado naquela noite.
Avancei a pé, me esgueirando pelas sombras, com passos tão leves que até as folhas secas no chão pareciam respeitar meu silêncio. Meus olhos varreram o entorno da usina, reconhecendo pelo menos uma dúzia de homens posicionados em pontos estratégicos… todos armados… todos desavisados. O cheiro de óleo queimado e ferrugem tomava o ar, misturado com o gosto metálico de antecipação na minha garganta.
O primeiro caiu com um golpe seco, limpo, direto na garganta. Nem teve tempo de entender de onde veio a morte. O segundo, alguns metros adiante, teve o destino selado com um corte preciso na base da nuca. Me movia como uma sombra entre as estruturas enferrujadas, usando as colunas de concreto e os restos de maquinário como cobertura. Um por um, eles iam caindo. Gargantas abertas, colunas cortadas, golpes únicos, rápidos e letais. Nenhum disparo, nenhum grito… apenas o som abafado da lâmina rasgando carne e a respiração desesperada das vítimas segundos antes de apagarem de vez.
O sangue começava a se acumular no chão, mas eu não diminuía o ritmo. Cada corpo derrubado era uma dívida paga… uma resposta direta à emboscada covarde que quase custou a vida dos meus amigos. Quando percebi, já eram oito… talvez nove… espalhados como bonecos quebrados entre as pilastras e os corredores escuros da usina.
Eu seguia avançando… sempre em silêncio absoluto… com os olhos fixos no prédio principal, onde, com toda a certeza, o verdadeiro inferno ainda me aguardava.
Continuei avançando pelas sombras, a katana firme nas minhas mãos, o corpo operando no instinto mais puro de sobrevivência e vingança. Cada passo era calculado, cada movimento uma dança de morte em silêncio absoluto. Um dos guardas veio em minha direção, distraído com o rádio na mão, nem percebeu a presença até sentir o fio da lâmina atravessar seu abdômen de lado a lado. Segurei seu corpo antes que caísse, deitando-o no chão com cuidado para que o impacto não fizesse barulho.
Dois outros conversavam próximos a um velho tanque de combustível. Me aproximei por trás, com a velocidade de um predador. O primeiro caiu com um corte horizontal na garganta, o sangue jorrando como um arco escuro no ar. O segundo, ao virar-se em choque, teve o crânio aberto por um golpe seco no alto da cabeça, a lâmina entrando como se cortasse papel. Meu rosto, minha roupa, minhas mãos… tudo já estava sujo de sangue, mas eu continuava sem hesitar.
Mais três surgiram ao fundo, patrulhando o corredor lateral da usina. Movimentei-me com precisão, como se meus pés mal tocassem o chão. Um deles caiu com um corte transversal nas costas, profundo o bastante para rasgar a coluna. O segundo tentou gritar, mas meu punho o atingiu na garganta antes, e logo depois a katana abriu seu peito de cima a baixo. O terceiro, assustado, sequer teve tempo de reagir antes que eu atravessasse a lâmina direto no coração dele.
O silêncio continuava sendo meu maior aliado. Os poucos barulhos eram abafados, curtos… e mortais. A adrenalina me mantinha em movimento, e meu foco estava agora na grande porta metálica ao fundo da usina… o único lugar ainda iluminado por uma lâmpada amarela tremeluzente. Era ali… atrás daquela porta… que a verdadeira batalha me esperava.
Respirei fundo, ajustei a katana nas mãos, e com o sangue escorrendo pela lâmina, dei o último passo… parando bem diante da porta… pronto para abrir e encarar o próximo nível do inferno.
Eu estava andando de um lado pro outro na sala, com o coração disparado e as mãos tremendo. A cada minuto que passava sem notícia, a angústia só aumentava. Onde diabos o Domínik tinha se enfiado? Por que ele não atendia o celular? Por que saiu assim, sem avisar ninguém? Eu revirei a casa, liguei pra todo mundo, até pros contatos que ele evitava... e nada. Um silêncio sufocante. Minha cabeça fervia de pensamentos, cenários horríveis se formando um atrás do outro. Será que ele foi atrás dos Colcci sozinho? Ou será que alguma coisa pior aconteceu? Eu já não sabia mais se estava com raiva dele por ter sumido ou se o medo de perdê-lo me paralisava mais. Tudo o que eu queria naquele momento era ouvir a voz dele dizendo que estava bem…
Em meio ao meu desespero, fui até Kunlun, que estava sentado no canto da sala, com aquela expressão sempre séria, mas dessa vez… parecia diferente, mais tenso. Me ajoelhei na frente dele, sem conseguir segurar as lágrimas nos olhos. "Kunlun… pelo amor de Deus… você sabe onde o Domínik tá? Você viu pra onde ele foi? Por que ele saiu desse jeito?", perguntei com a voz trêmula, quase implorando por uma resposta. Ele respirou fundo, desviou o olhar como se estivesse escolhendo as palavras com cuidado e finalmente disse, com um tom pesado: "Sally… antes de sair… ele recebeu uma foto no celular… uma foto do Dimitri… muito machucado… parecia ter apanhado muito… sangrando… quase irreconhecível… Eu vi de relance… foi por isso que o Domínik saiu daquele jeito… sem falar nada com ninguém." Meu coração parou por um segundo. Dimitri? Machucado assim? Uma foto? O que estava acontecendo? Senti minhas pernas falharem e me segurei na borda do sofá pra não desabar ali mesmo…O ar parecia sumir dos meus pulmões, e uma tontura tomou conta da minha cabeça. Minhas mãos foram direto ao rosto, tentando conter o choro que agora vinha com força, mas era inútil. "Não… não… não pode ser… por que ele não me disse nada? Por que ele foi sozinho? Por que ele sempre tem que carregar tudo nas costas?", minha voz saiu entrecortada, quase num grito de desespero. Kunlun veio até mim, ajoelhando ao meu lado, colocando as mãos firmes nos meus ombros. "Sally… escuta… o Domínik sabe se defender… muito bem, você sabe disso… ele já enfrentou coisas bem piores…", ele tentava me segurar ali, tentando ancorar minha mente que parecia à beira de um colapso. Mas aquelas palavras… por mais verdadeiras que fossem… não eram o suficiente… nada naquele momento era o bastante pra me acalmar. Eu tremia inteira. Foi quando Nicholas entrou na sala, a expressão dele tentando ser a mais calma possível, mas eu via no fundo dos olhos dele que ele também estava preocupado. "Sally… olha pra mim… você sabe como o Domínik é… ele sempre sabe o que faz… provavelmente não é nada grave… ele só… ele só foi resolver isso rápido, do jeito dele…", ele falou, forçando um sorriso, mas eu não conseguia acreditar… meu peito só doía mais… a ideia de que ele podia estar em perigo, machucado… ou pior… estava me consumindo por dentro.
William Colcci estava sentado em sua poltrona de couro no escritório abafado da usina, com os olhos fixos na planta baixa do local, como se já traçasse ali o cenário perfeito para o assassinato que tanto desejava. O cheiro de óleo queimado e ferrugem impregnava o ar. Seu capanga, um homem de quase dois metros de altura, pele negra reluzente de suor, cabeça raspada com exceção de uma única trança grossa tingida de amarelo corvo que descia pela lateral do crânio, entrou com passos pesados. Os músculos saltavam por baixo da camiseta justa, e os duzentos e vinte quilos que carregava pareciam feitos só de ódio e força bruta. Sem rodeios, informou com a voz grave e abafada: “Sally tá na casa do Kunlun.” A reação de William foi instantânea. O punho cerrou com tanta violência que explodiu contra a parede de concreto, deixando ali uma rachadura. O olhar dele era puro veneno, os dentes cerrados, cuspindo as palavras entre o ódio e o desejo de sangue: “Maldito Domínik... Ele vai morrer.”
William rosnou com tanta raiva que parecia um animal prestes a dilacerar a presa. Levantou-se num salto, jogando a cadeira para trás com violência, e desceu os degraus de metal com passos pesados, como se cada pisada fosse uma descarga de fúria acumulada. Precisava descontar em alguém… e quem melhor do que Dimitri? Quando empurrou a porta da sala de contenção, o cenário que encontrou o fez parar por um segundo, tomado por uma mistura de surpresa e nojo. Maria Grace estava ajoelhada entre as pernas de Dimitri, sugando-o com uma fome doentia, gemendo baixo como se aquilo fosse um prazer para ela. Dimitri, preso nas correntes, tentava se afastar o máximo que o corpo permitia, o rosto contraído numa expressão de puro nojo e repulsa, virando o rosto como se a simples visão dela o enojasse ainda mais do que o ato em si. O som molhado e vulgar dos movimentos de Maria ecoava pela sala, enquanto ela se esforçava, gemendo de forma forçada e grotesca, como se aquilo fosse um ritual distorcido de submissão. William franziu o cenho, os olhos queimando de raiva redobrada.
Antes que William pudesse abrir a boca para gritar com os dois, a porta se escancarou com um estrondo tão forte que fez a estrutura de metal ranger. O ar pareceu congelar por um segundo. Ali, parado na soleira, como uma sombra saída do próprio inferno, estava Domínik. Os olhos dele ardiam num tom escuro, com uma fúria que parecia rasgar tudo ao redor. E antes que alguém tivesse tempo de reagir, Domínik avançou numa explosão de movimento. Em suas mãos, brilhando sob a luz fraca da sala, estava a espada de Kunlun — aquela lâmina que William reconheceu de imediato, a mesma que Kunlun jurara só usar quando encontrasse o sobrinho perdido. Mas agora, era Domínik quem a empunhava… e com ela, num único golpe rápido e devastador, partiu o capanga ao meio, do ombro até o quadril. O som do corpo se rasgando ecoou como um trovão abafado, espalhando sangue pelas paredes e pelo chão de concreto. O peso do cadáver se dividiu em duas metades grotescas que caíram com um baque surdo, espalhando vísceras pelo chão. William congelou por um segundo, os olhos arregalados, sentindo a respiração travar na garganta enquanto encarava o homem que, até poucos minutos atrás, ele planejava matar. Agora… era Domínik quem estava caçando.
Antes que o sangue do primeiro corpo terminasse de escorrer pelo chão, Cérbero – o verdadeiro monstro de dois metros, meu cão de guerra, o único que eu ainda confiava para situações como essa – avançou na direção de Domínik com um rugido que fez as paredes tremerem. O chão pareceu vibrar com o peso dos seus passos enquanto ele atravessava a sala como um touro enfurecido. Os dois colidiram com a força de dois titãs. Cérbero desferiu um soco violento que atingiu Domínik no ombro, arrancando dele um rosnado de dor e fazendo-o recuar meio passo. Aproveitando a brecha, Cérbero lançou uma sequência de golpes brutais, um cruzado que atingiu o maxilar de Domínik, seguido de um chute lateral que o fez bater contra a parede. Por um instante, eu acreditei que ele fosse conseguir. Mas Domínik não era fraco… infelizmente. Com uma velocidade que parecia impossível para alguém naquele estado, ele se recuperou e girou o corpo, desviando do próximo ataque de Cérbero. Em menos de dois segundos, Domínik já estava atrás dele, e antes que meu capanga pudesse reagir, Domínik acertou um soco certeiro e violento bem no centro da coluna lombar de Cérbero. O estalo seco que ecoou pela sala foi horrível. Cérbero caiu de joelhos com um grito gutural de dor, as pernas tremendo, o corpo inteiro falhando como se tivesse sido desligado de dentro pra fora. Sem hesitar, Domínik se aproximou por trás, segurou a cabeça dele com as duas mãos e, com um movimento rápido e cruel, torceu seu pescoço até ouvir o estalo final. O corpo gigantesco de Cérbero tombou para o lado, morto. O silêncio que se seguiu foi tão denso quanto o cheiro de sangue que agora dominava o ambiente.
O pânico começou a se espalhar pelo meu peito como veneno. Meus olhos correram desesperados pelos cantos da sala, minhas mãos vasculharam meus próprios bolsos, procurando o revólver... mas nada. Merda! Onde diabos eu tinha enfiado aquela arma? A raiva misturada ao medo me fez perder o controle. Sem pensar, avancei com tudo pra cima dele, com a única arma que ainda me restava: minha prótese de metal na mão direita. Cerrei o punho com força, sentindo o peso frio e a brutalidade daquela peça mecânica. Lancei um soco direto mirando o rosto dele, um golpe que, em qualquer outro homem, teria sido suficiente pra abrir o crânio... Mas Domínik era feito de outro material. Num movimento rápido demais pra minha vista cansada acompanhar, ele se esquivou por um fio, girando o corpo como uma sombra veloz. Antes que eu pudesse recuar, senti o braço ser puxado com violência. Ele me prendeu numa chave de braço tão firme que meu ombro quase saiu do lugar. Tentei lutar, espernear, mas ele usou meu próprio corpo como alavanca e me arremessou com uma força absurda. Voei desajeitado pela sala e bati com tudo contra a parede de concreto, o impacto arrancando de mim um gemido de dor profundo e rouco. Senti a coluna vibrar com o choque, o mundo girando por alguns segundos enquanto o gosto metálico de sangue começava a preencher minha boca.
Antes mesmo que eu conseguisse recuperar o fôlego, senti o primeiro impacto no rosto. A cabeça virou para o lado com o estalo seco do soco que ele me deu, o gosto de sangue se espalhando ainda mais pela boca. Tentei levantar os braços numa tentativa desesperada de proteger a cabeça, mas ele era mais rápido… e mais forte. O segundo golpe veio no estômago, arrancando o ar dos meus pulmões, seguido de outro direto no meu queixo, que fez minha visão escurecer por um segundo. Cada soco parecia carregar toda a raiva acumulada dele, como se ele quisesse me esmagar ali mesmo, no chão imundo da usina. Me encolhi, tentando proteger as costelas e o rosto, mas era inútil… Domínik era uma tempestade violenta e implacável, e eu era só mais um corpo tentando sobreviver no meio dela. Cada tentativa de reação minha era sufocada por um novo golpe, mais forte, mais preciso. A dor latejava em cada canto do meu corpo, e o som abafado dos meus próprios gemidos misturados aos socos dele era tudo o que eu conseguia ouvir.
No meio daquela sequência brutal de socos, ouvi um grito agudo. Num surto de desespero, Maria Grace se lançou sobre as costas dele como uma louca, cravando as unhas no rosto e no pescoço de Domínik, arranhando com toda a força que tinha, como uma gata selvagem acuada. Por um instante, ele pareceu se irritar mais do que sentir dor. Com um movimento seco e violento, ele se levantou, agarrou Maria pelos cabelos e a ergueu do chão como se ela não pesasse nada. Sem qualquer piedade, a arremessou para o outro lado da sala. O som do corpo dela batendo contra as prateleiras de metal ecoou como uma explosão de ossos e madeira.
Aproveitei a distração. Mesmo com o corpo doendo, me forcei a levantar. Meus pulmões queimavam, a cabeça girava, mas a raiva me dava forças. Avancei tropeçando, e com o que me restava de equilíbrio, acertei um soco direto na parte de trás do joelho dele. Senti o impacto, ouvi o estalo, e finalmente vi Domínik cair em um dos joelhos, perdendo o centro de gravidade. Sem perder tempo, me ergui de vez, avançando por trás dele e, com um movimento rápido, puxei o braço dele com toda a força que meu corpo dolorido permitia, encaixando uma chave de braço com o máximo de pressão. Cerrei os dentes, rangendo de ódio, sentindo os músculos dele tentando reagir, mas eu forcei ainda mais, tentando quebrá-lo ali mesmo.
Por alguns segundos, senti que tinha uma chance. Apertei a chave de braço com tudo, sentindo os ossos dele rangerem sob a pressão. Mas então veio a explosão... Uma descarga de força brutal, quase animal, como se toda a fúria de Domínik tivesse despertado de uma só vez. Ele soltou um grito rouco, um rugido vindo do fundo da garganta, e com um movimento violento de corpo, me lançou para trás como se eu fosse um peso morto. Fui arremessado pelo ar com tanta força que, por instinto, girei o corpo no meio do salto, me preparando para o impacto. Quando os pés tocaram o chão, deslizei alguns metros para trás, sentindo os músculos gritarem, mas… não caí. Pela primeira vez naquela noite, me mantive de pé. Meus joelhos quase cederam, mas firmei os calcanhares no chão, levantando o queixo ensanguentado, respirando com dificuldade e com os punhos cerrados. Olhei direto nos olhos dele… e ali, por um breve instante, Domínik também me encarou… como se soubesse que, por mais fraco que eu estivesse… eu ainda não tinha desistido.
O sangue latejava nas minhas têmporas, a dor espalhada pelo corpo todo já parecia um detalhe distante. Sem pensar duas vezes, avancei contra ele, rugindo como um animal ferido, mas determinado a não cair de novo. Lancei o primeiro soco mirando o queixo, ele bloqueou com o antebraço, e no segundo seguinte, foi a vez dele atacar. O punho dele veio como uma marreta contra meu tórax, me fazendo perder o ar por um segundo, mas eu reagi com um gancho certeiro na lateral da costela dele. O impacto fez Domínik dar meio passo para o lado, mas antes que eu pudesse aproveitar a abertura, ele já estava de volta, acertando um direto na lateral do meu rosto, me fazendo ver estrelas. Mesmo cambaleando, não recuei. Revidamos como dois malditos possuídos, soco por soco, golpe por golpe. O som da carne sendo atingida, o estalo de juntas e ossos, os grunhidos de dor e raiva… tudo se misturava num caos violento e sujo, como se aquele pedaço da usina tivesse virado um ringue improvisado entre dois homens dispostos a se matar ali mesmo.
O mundo girava ao meu redor, o gosto de sangue já era constante na minha boca, mas a adrenalina me empurrava pra frente. No meio de um dos golpes, quando Domínik tentou me acertar um cruzado, me abaixei por instinto… e foi aí que senti o cabo frio da minha faca ainda presa na lateral da minha bota. Sem pensar, puxei a lâmina com um movimento rápido, quase desesperado. Num surto de ódio, avancei, cortando o ombro dele com o primeiro golpe, rasgando a pele e abrindo um talho fundo. Ele rosnou de dor, mas eu não parei. O segundo corte veio logo em seguida, atingindo o flanco dele. E o terceiro… quase pegou no pescoço, por pouco.
Mas Domínik, mesmo sangrando, era uma força desumana. No momento em que fui para o quarto golpe, ele agarrou minha mão com uma velocidade absurda, segurando a lâmina com força tamanha que vi o sangue escorrer pelos dedos dele… e então, com um movimento brutal, quebrou a faca nas próprias mãos. Antes que eu pudesse reagir, ele enterrou a parte quebrada, com toda a lâmina restante, direto no meu abdômen. O metal rasgou minha carne com uma dor ardente e insuportável, afundando até o cabo. O choque me fez perder o ar, um grito preso explodiu na minha garganta, e por um segundo, minhas pernas ameaçaram ceder… mas mesmo com o sangue começando a escorrer, eu continuei ali… com os olhos fixos nele… ainda de pé.
Cambaleando, com o sangue quente escorrendo pela minha barriga e a visão começando a turvar, me afastei de Domínik com passos trôpegos, cada movimento parecendo rasgar mais meu interior. Meu olhar encontrou o de Dimitri, ainda acorrentado no canto da sala, os olhos dele arregalados, a respiração presa na garganta enquanto assistia toda aquela cena com puro terror estampado no rosto. Um sorriso amargo, quase insano, se abriu no meu rosto manchado de sangue. Me arrastei até ele, cada passo deixando um rastro vermelho no chão.
Quando cheguei perto o suficiente, cerrei os dentes e, com um grito gutural de dor e raiva, arranquei a lâmina quebrada de dentro do meu abdômen, sentindo o sangue jorrar com força. Sem pensar, cravei a faca direto no abdômen de Dimitri, torcendo a lâmina só para sentir o desespero dele se transformar em um gemido de dor sufocado. Antes que Domínik pudesse reagir, puxei a lâmina ensanguentada e a encostei na garganta de Dimitri, ofegando, com a voz falha e rouca, mas firme na ameaça:
— Se você der mais um passo... eu mato ele… aqui… agora…
Mas o segundo seguinte foi um borrão. Não vi de onde veio… só senti o impacto violento de uma barra de metal cravando direto na minha panturrilha. Um grito de dor escapou dos meus pulmões, me fazendo largar Dimitri por reflexo. As pernas cederam, e caí de lado no chão, com a barra de ferro atravessando carne e músculo, prendendo minha perna ao piso de concreto. O mundo ao redor começou a se apagar nas bordas da minha visão… mas a única coisa que eu ainda enxergava claramente… era o olhar assassino de Domínik vindo na minha direção.
Mesmo caído no chão, com a perna atravessada pela barra de metal e o sangue se acumulando ao meu redor, encontrei forças para rir. Uma risada rouca, carregada de dor, ódio e pura provocação. O som saiu quebrado, quase como um ronco de animal ferido, mas ecoou forte o suficiente pra fazer o olhar de Domínik escurecer ainda mais.
— Sabe de uma coisa...? — cuspi sangue pro lado, forçando um sorriso torto, debochado, mesmo com a dor me consumindo por dentro. — Não adianta... — continuei, arfando, enquanto mantinha o olhar cravado no dele, desafiando cada fibra de controle que ainda restava naquele homem. — Você pode me matar agora... mas eu já tive o prazer… o privilégio… de acabar com o Jack. — Dei uma risada mais forte, mesmo sentindo o gosto metálico invadindo a garganta. — E a Sally… ah, a Sally… — sorri mais largo, com os olhos queimando de malícia. — Como ela gostou... Ela gemia feito uma vadia… e eu tenho certeza que ela amou transar comigo… muito mais do que com você… — minha voz desceu pra um tom quase sussurrado, carregado de veneno — E quer saber a melhor parte...? Ela era tão… apertada... tão perfeita… que parecia ter sido feita só pra mim...
O silêncio que seguiu foi como um fio esticando ao limite, prestes a arrebentar. Eu sabia… aquele era o momento… ou ele me mataria de vez… ou perderia o controle de uma vez por todas.
Mal terminei de cuspir aquelas últimas palavras venenosas, vi nos olhos de Domínik o instante exato em que toda a razão desapareceu. Foi como se algo dentro dele simplesmente quebrasse. Ele avançou sobre mim com uma fúria descontrolada, um ódio tão denso que parecia material. O primeiro soco veio como um martelo contra o meu rosto, estalando meu nariz de imediato. O segundo atingiu minha mandíbula com tanta força que senti o maxilar deslocar. Antes que eu pudesse reagir, ele já estava em cima de mim, desferindo uma chuva de socos brutais, cada um mais pesado, mais certeiro e mais destrutivo que o anterior.
Meu corpo já não obedecia mais. Só sentia os impactos, um atrás do outro, como se cada golpe afundasse meus ossos contra o chão de concreto. As costelas estalaram, o sangue escorria pelos cantos da minha boca, e a visão foi ficando turva, preta nas bordas, mas os socos não paravam. Quando achei que ele fosse recuar, veio o primeiro chute, direto nas minhas costelas, me fazendo virar de lado com o impacto. Outro chute, dessa vez nas costas, me deixando sem ar, e outro na lateral da cabeça, me fazendo cuspir sangue e dentes.
A cada golpe, a dor explodia como uma descarga elétrica por todo o meu corpo. Eu ouvia meus próprios ossos cedendo, sentia a carne rasgar, o gosto de ferro na garganta, e mesmo sem conseguir mais gritar… eu sabia… ele queria me destruir… me apagar… fazer cada uma das minhas palavras morrer junto comigo.
No meio daquela tempestade de golpes, quando meu corpo já parecia mais um saco de carne prestes a desabar de vez, Domínik deu um passo pra trás, respirando pesado, os punhos ensanguentados, o olhar como o de um predador que ainda não tinha terminado de brincar com a presa. Sem dizer uma palavra, ele se agachou ao lado da minha perna e, num movimento seco e cruel, arrancou a barra de metal cravada na minha panturrilha. Um grito rasgou minha garganta de forma involuntária, a dor foi tão insuportável que por um segundo achei que fosse apagar ali mesmo.
Ele jogou a barra de lado com desprezo e se levantou, olhando pra mim de cima como se eu não passasse de um verme. E então, com a voz carregada de desprezo e ódio, cuspiu as palavras como uma sentença:
— Levanta… vai… me ataca, seu covarde de merda. — Ele chutou meu ombro com força, me virando de frente pra ele. — Você só é homem quando tá na frente de mulher indefesa… gente amarrada… ferida… — A respiração dele vinha pesada, os olhos queimando feito brasas. — Mas quando alguém do seu tamanho, alguém inteiro, alguém de pé… resolve te enfrentar de verdade… — Ele abriu os braços, me desafiando — ...olha só pra você… é só isso… um nada… um lixo…
Ele deu um passo à frente, se inclinando, me encarando bem de perto, com a voz baixa, quase num sussurro:
— Vem… me mostra o que você tem... se ainda tiver alguma coisa sobrando aí dentro…
Cada músculo do meu corpo gritava de dor, a perna latejava como se pegasse fogo, o sangue escorria quente, tingindo o chão de vermelho. Mas o ódio… o maldito ódio me empurrava pra frente. Cerrei os dentes com força, sentindo o gosto metálico invadir a boca, e comecei a me arrastar com dificuldade, as mãos tremendo, o corpo falhando. Apoiei a mão boa no chão, forcei os joelhos e, mancando, com a perna quase inútil, consegui me colocar de pé, trêmulo, ofegante, mas de pé.
Domínik ficou ali, parado, me olhando como se esperasse pelo meu próximo movimento… como se quisesse ver até onde eu iria com aquele orgulho estúpido.
— Seu… filho da puta… — murmurei entre os dentes, quase sem voz.
E com um grito rouco, avancei mesmo assim, tropeçando, mancando, mas com o punho fechado, lançando um soco direto na direção do rosto dele. Meu corpo inteiro parecia quebrar a cada movimento, a visão escurecia nas bordas, mas eu continuei… golpe após golpe… mesmo sabendo que no fundo, eu já tinha perdido essa luta.
Meu soco mal alcançou o rosto dele, e quando acertou, foi como atingir uma parede de concreto. Domínik nem se mexeu. Em um único movimento, ele segurou meu peito com as duas mãos e me empurrou com uma força absurda. Fui lançado como um boneco de pano contra as prateleiras de metal enferrujadas no canto da sala. O impacto foi tão violento que as estantes desabaram sobre mim, derrubando ferramentas, caixas e pedaços de ferro.
Antes que eu pudesse sequer me arrastar para sair dali, ele já estava em cima de mim de novo. Agarrou meu braço direito com ambas as mãos e, num movimento brutal, torceu com tanta força que ouvi o estalo seco… seguido de outro… e mais outro… como madeira sendo partida. O osso quebrou em vários pontos, e eu gritei tão alto que minha garganta pareceu rasgar. Mas ele não parou.
Com o mesmo ódio cego, pegou meu braço esquerdo e fez exatamente a mesma coisa, torcendo, puxando e dobrando em ângulos impossíveis, quebrando tudo de forma lenta e cruel, como se quisesse que eu sentisse cada fissura, cada fratura, cada pedaço se partindo por dentro da carne. As dores se misturavam… como facas enfiadas diretamente nos nervos… um inferno que parecia não ter fim. Eu berrava, me contorcendo, tentando me proteger, mas com os dois braços destruídos, eu era apenas um pedaço de carne sangrando no chão, completamente indefeso diante dele.
Enquanto eu gemia, quase sufocando com o próprio sangue e a dor insuportável queimando por dentro, Domínik se ajoelhou ao meu lado, os olhos ardendo em uma fúria implacável. Com voz grave e cortante, ele sussurrou:
— Isso é por Natalina… filha do Zhao Kunlun.
Antes que eu pudesse reagir, ele agarrou minha perna ainda intacta com força brutal e começou a torcê-la sem piedade. Estalo após estalo ecoava pela sala enquanto meus gritos de dor enchiam o ar, mas eu estava completamente impotente, incapaz de me defender. A cada nova fratura, a agonia aumentava, o corpo queimava e a sensação de desespero me consumia.
Quando finalmente terminou com aquela perna, Domínik não hesitou. Virou-se para a outra e começou a dilacerá-la com a mesma violência impiedosa, quebrando os ossos um a um, enquanto proferia, com olhos cheios de rancor:
— E isso é por Jack.
Meu corpo inteiro virou um grito contínuo de dor e agonia, espalhado pelo chão frio e sujo da usina, enquanto eu era completamente destruído diante dele, sem forças para resistir.
Quando terminou com minhas pernas, Domínik se levantou lentamente, respirando com dificuldade, o corpo ainda coberto de sangue, mas o olhar… o olhar dele continuava o mesmo: puro ódio. Ele deu alguns passos para trás, como se fosse me dar um segundo de trégua, mas eu sabia… aquilo estava longe de acabar.
Com um avanço repentino, ele voltou até mim e, sem qualquer aviso, desferiu um chute violento no meu tórax. O impacto foi tão forte que ouvi o som abafado de várias costelas se partindo de uma só vez. Gritei, ou pelo menos tentei… mas o ar simplesmente não veio. Meu peito afundava com cada nova fratura. Ele não parou. Ajoelhou-se sobre mim, apoiando os joelhos no meu tronco e, com os punhos fechados, começou a golpear meu peito com uma fúria animalesca, quebrando uma a uma todas as costelas que ainda estavam inteiras. Cada soco era uma explosão de dor, como se meu peito fosse um saco de ossos sendo esmagado por dentro.
Depois, segurou meu ombro e, com um puxão seco, partiu minha clavícula como se fosse um galho podre. O estalo foi grotesco, ecoando pela sala como o som de madeira rachando.
Ele continuou… quebrando o que sobrou de mim… costelas, clavícula, o outro ombro, minhas mãos já inúteis, os dedos… cada osso… cada maldita parte do meu corpo. Tudo se despedaçando, uma fratura atrás da outra, até eu me tornar uma massa disforme de carne ensanguentada e ossos partidos.
E enquanto fazia isso, com a voz baixa, carregada de desprezo e ira, ele disse, cuspindo as palavras como veneno:
— E isso… — soco.
— …é por… — outro estalo.
— …Sally.
Cada golpe era uma sentença… e eu… não era mais nada além de um corpo quebrado… um aviso… um exemplo… da fúria de Domínik.
Quando achei que não tinha como piorar, vi Domínik puxar uma faca — grande, pesada, de lâmina larga e suja de sangue antigo. Por um instante, mesmo com a visão turva e a dor latejando em cada centímetro do meu corpo destroçado, consegui ver o brilho frio do metal refletindo na luz fraca da usina.
Sem dizer mais nada, sem hesitação, ele cravou a lâmina no meu abdômen com toda a força, e o grito que saiu de mim foi mais um lamento sufocado do que qualquer outra coisa. Mas ele não parou.
Puxou a faca de volta e me esfaqueou de novo.
E de novo.
E de novo.
As estocadas vinham rápidas, violentas, como se cada uma fosse carregada com tudo o que ele tinha guardado de ódio e dor. O sangue jorrava, respingando nas mãos dele, no chão, nas paredes próximas. Meu corpo já mal reagia aos golpes, tremendo apenas por reflexo, cada facada um rasgo novo que parecia nunca ter fim. Peito, abdômen, laterais… o som da lâmina entrando e saindo da carne era grotesco… molhado… desesperador.
Ele continuava… furioso… como se quisesse me esvaziar por dentro… como se só fosse parar quando não sobrasse nada de mim além de um corpo perfurado, sangrando e à beira da morte.
Quando, por fim, ele parou, Domínik ficou ali, de pé, com a respiração descompassada, os ombros subindo e descendo como se o próprio ar fosse fogo queimando dentro dos pulmões dele. Estava completamente coberto de sangue… o meu sangue. As roupas, as mãos, o rosto… até o cabelo parecia sujo e pesado com o vermelho escuro que escorria em fios grossos. Ele largou a faca no chão com um som metálico e frio, que ecoou na minha cabeça já entorpecida pela dor e pela perda de sangue.
Ele se afastou, os passos ecoando pela usina silenciosa como se o mundo inteiro estivesse prendendo a respiração.
Senti o frio me tomando de vez… primeiro nos dedos… depois nas pernas… nos braços… e então no peito. Cada respiração vinha mais fraca, mais rasa… e o gosto de ferro na boca já parecia eterno.
A visão foi escurecendo nas bordas… tudo ficando borrado… nebuloso…
E antes que tudo se apagasse de vez… no último lampejo de consciência… minha mente, num último ato de crueldade ou talvez misericórdia, me trouxe uma lembrança antiga…
O sorriso da Sally…
Ela rindo, naqueles tempos de escola… quando a vida ainda era simples… quando ela me olhava como se eu fosse só mais um garoto…
E então… veio o fim.
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