Heart Notes
Foi Sem Querer Querendo
O som do vento da primavera acariciava as janelas da sala 2-B, onde o cheiro suave de tinta e papel novo ainda pairava no ar. Era o início do segundo semestre na Escola Fujihara, e Yui Tanaka estava, como sempre, sentada na última fileira, ao lado da janela.
Seu caderno, ao invés de estar repleto de equações e anotações de literatura, exibia versos soltos e rabiscos de acordes. A garota escondia entre páginas comuns um mundo só dela, feito de melodias nunca tocadas e sentimentos que não ousava dizer em voz alta.
—“Mesmo que você nunca me note...” —
*Ela murmurou, escrevendo com delicadeza.*
— “Meu coração canta o seu nome em silêncio.”
Yui Tanaka
*Corou ao ler o próprio verso.*
Era ridículo, talvez brega. Mas era verdadeiro.
Antes que pudesse revisar, o sinal soou. O professor já deixava a sala, e os alunos se espalhavam como folhas levadas pelo vento. Yui fechou o caderno, apressada, e saiu junto com Mika, sua melhor amiga.
Só não percebeu que a folha onde escrevera aquela letra tinha escorregado para o chão.
No corredor, Mika falava pelos cotovelos.
Mika Arai
— E aí, quem é o muso da vez?
Mika Arai
Aposto que é alguém da turma do beisebol!
Mika Arai
Ou o Senpai do clube de música? Anda, Yui, conta!
Yui Tanaka
— Eu só estava escrevendo, não é sobre ninguém específico...
Yui respondeu, rindo de leve, mas sem convencer nem a si mesma.
Enquanto isso, na sala vazia, HARUKI SAKAMOTO entrava atrasado, como sempre. Camisa meio amarrotada, gravata vermelha torta e o cabelo castanho bagunçado como se tivesse lutado contra o despertador (e perdido).
Ao se sentar, notou a folha dobrada sobre sua carteira.
Curioso, desdobrou-a e leu em voz baixa:
Haruki Sakamoto
— “Mesmo que você nunca me note, meu coração canta o seu nome em silêncio...”
Haruki Sakamoto
— Isso... isso é uma confissão?!
O coração bateu mais forte. Ele nunca tinha recebido uma. Ainda mais escrita assim... tão bonita.
Sem saber quem era a autora, mas convencido de que era para ele, Haruki a guardou no bolso. E sorriu. Pela primeira vez em semanas, parecia que a sorte sorria de volta.
Na hora do almoço, o burburinho começou.
Alguém viu Haruki falando com o pessoal do time de basquete:
Haruki Sakamoto
— “Sim, eu aceitei. A confissão de hoje de manhã.”
Haruki Sakamoto
— “A garota que me escreveu isso... tem um coração lindo.”
A notícia se espalhou mais rápido que incêndio em palha seca.
Yui só percebeu quando entrou no refeitório e todas as cabeças se viraram. Mika correu até ela, esbaforida.
Mika Arai
— Yui!! O Haruki! Ele tá dizendo que recebeu uma confissão escrita! E que aceitou!
Yui Tanaka
— Confissão... escrita?
Mika arregalou os olhos, percebendo.
Mika Arai
— Espera… aquela sua letra…
Yui Tanaka
— N-não! Não era uma declaração! Era só uma música!!
Mas era tarde. Os olhos estavam sobre ela. Os rumores, já a caminho de se tornarem lenda escolar.
Mais tarde, Haruki a esperava no pátio.
Ela se aproximou devagar, o rosto corado até as orelhas.
Haruki Sakamoto
— Você… escreveu isso?
Ele perguntou, mostrando a folha.
Yui Tanaka
— Eu… escrevi, sim, mas não era uma confissão! Era só… uma música!
Disse Yui, quase gaguejando.
Haruki piscou algumas vezes. Depois, sorriu.
Haruki Sakamoto
— Ah… bom, então... você escreve músicas? Isso é incrível. Será que um dia pode escrever uma só pra mim?
Yui Tanaka
— C-como assim?
Haruki Sakamoto
— Não é todo dia que alguém faz meu coração bater mais rápido. Mesmo que tenha sido sem querer… funcionou.
Yui não sabia se ria, chorava ou corria dali. Mas algo dentro dela disse que talvez aquela história estivesse apenas começando.
Rascunhos de Um Começo
A noite caiu silenciosa sobre a cidade de Shizuoka.
Em seu quarto pequeno, com as paredes cobertas por pôsteres de bandas e partituras coladas com fita, Yui Tanaka encarava seu caderno de músicas como se ele fosse uma bomba prestes a explodir.
Ela o abriu com cuidado, as mãos ainda trêmulas. No canto da página anterior, a mesma frase piscava como uma piada cósmica:
> “Mesmo que você nunca me note, meu coração canta o seu nome em silêncio.”
Agora ele tinha notado. E confundido tudo.
Yui Tanaka
— Como isso aconteceu...?
Murmurou, deitada de bruços, o rosto afundado no travesseiro.
Haruki Sakamoto. Popular, bonito, sorridente… e completamente fora do seu mundo.
Yui mal conseguia falar direito perto dele, e agora ele estava pedindo que ela escrevesse uma música só pra ele?
Era como se tivesse sido colocada no palco de um show que nunca ensaiou.
No dia seguinte – Escola Fujihara, portão principal
O sol mal tinha subido, e Mika já estava à porta da escola, esperando Yui com um sorriso que misturava empolgação e caos.
Mika Arai
— Você vai escrever a música pra ele?!
Ela perguntou assim que Yui apareceu.
Yui Tanaka
— Eu... ainda nem sei o que responder. Eu mal conheço o Haruki...
Mika Arai
— E ele mal te conhece! Quer coisa mais romântica que isso?! É tipo destino!
Yui Tanaka
— Isso é um grande mal-entendido, Mika. Eu não queria que ninguém visse aquela letra...
Mika, no entanto, tinha outros planos. Ela pegou a mão da amiga e puxou com força:
Mika Arai
— Então é hora de você conhecer ele de verdade. Começando hoje.
Haruki chegou pontualmente pela primeira vez no semestre. Estava visivelmente nervoso, ajeitando a gravata a cada cinco segundos.
Quando viu Yui já sentada, parou ao lado dela, sorrindo de forma...
Haruki Sakamoto
— Bom dia, Tanaka-san!
Yui o olhou, surpresa com o tom formal. Ele raramente falava assim com alguém.
Haruki se inclinou para falar mais baixo:
Haruki Sakamoto
— Sobre a música... você não precisa fazer se não quiser. Só... achei muito legal você escrever aquilo.
Ela sentiu as bochechas queimarem. Quis dizer algo inteligente, mas tudo que conseguiu foi um aceno tímido.
Haruki Sakamoto
— Se quiser, posso... te contar sobre mim. Pra você ter material, sabe? Tipo... inspiração?
Yui piscou algumas vezes.
Yui Tanaka
— Você quer... me contar sobre você?
Haruki Sakamoto
— Acho que... seria uma boa troca. Você escreve músicas, e eu... posso ser seu "personagem", sei lá...
Yui, que sempre escrevia sobre sentimentos imaginados, ficou em silêncio. Pela primeira vez, alguém queria participar da criação. E, estranhamente, isso parecia... certo.
Ela fechou o caderno e olhou diretamente nos olhos dele.
Yui Tanaka
— Tudo bem. Mas... só se não for correndo.
Yui Tanaka
Quero te conhecer... devagar.
Haruki sorriu. Um sorriso torto, quase infantil.
Haruki Sakamoto
— Devagar é meu segundo nome.
Mika, observando de longe, derrubou seu suco de caixinha no colo de tanta empolgação.
Mika Arai
— MEU DEUS! ELES ESTÃO ALMOÇANDO JUNTOS!! ISSO É UM SHIP NASCENDO AO VIVO!
Ao seu lado, Tomo Ishikawa — melhor amigo de Haruki e seu “rival auto-declarado” — bufou.
Tomo Ishikawa
— Esse idiota nem sabe o que está fazendo. Vai acabar escrevendo o nome dele errado na música...
Mika levantou a sobrancelha.
Mika Arai
— E por que você tá tão irritado com isso, hein?
Tomo Ishikawa
— Não tô irritado. Tô... analisando.
Mika Arai
— Analisando? Ou tá com ciúmes?
Tomo desviou o olhar, corando até as orelhas.
Tomo Ishikawa
— Cala a boca, Arai.
Jardim da escola, fim da aula
Yui e Haruki sentam no banco de pedra ao lado das cerejeiras. Ele começa a contar histórias bobas da infância:
Como já caiu de bicicleta na frente da escola, como odeia pimentão, e como aprendeu a tocar violão só pra parecer mais interessante (e falhou miseravelmente).
Yui ri mais do que esperava. Pela primeira vez em muito tempo, sente que talvez... só talvez, a vida real também possa render boas letras.
Ela abre o caderno, pega uma caneta, e escreve:
> “Notas tímidas começam a soar... quando os corações desafinam juntos.”
Ensaio para um Encontro
A brisa da tarde soprava suave, balançando os galhos das cerejeiras, e espalhando pétalas cor-de-rosa pelo pátio da escola Fujihara.
Yui Tanaka voltava para casa com o caderno apertado contra o peito e um novo sentimento crescendo dentro dela — algo entre curiosidade, nervosismo... e uma pontinha de empolgação.
Haruki tinha mesmo conversado com ela.
Rido das próprias histórias, contado segredos bobos e até perguntado sobre suas músicas favoritas. E, de alguma forma, tudo parecia natural, leve… diferente de tudo que Yui estava acostumada.
Sentada à escrivaninha, Yui rabiscava versos soltos no caderno. À sua frente, uma página nova começava a nascer:
> “Ele sorri sem jeito, tropeça nas palavras,
mas o som do riso dele preenche o silêncio que eu guardava.”
Ela colocou a caneta de lado, suspirando. De repente, seu celular vibrou.
📱 Nova mensagem – Mika Arai:
Mika Arai
> “Adivinha quem vai sair com Haruki sábado??? 👀👀👀”
Yui Tanaka
📱 Yui:
> “O QUÊ??? Quem?!”
Mika Arai
📱 Mika:
> “VOCÊ, SUA LESMA MUSICAL. VOCÊ MESMA.”
Yui Tanaka
📱 Yui:
> “ESPERA— EU NEM CONVIDEI ELE!”
Mika Arai
📱 Mika:
> “Não precisou. Eu fiz isso por você. 🫶”
Yui entrou na sala com o coração saindo pela boca. Procurou por Haruki… e ele estava lá. Sentado no fundo, com um sorriso torto no rosto, acenando pra ela com a mão.
Haruki Sakamoto
— Então... sábado?
Ele disse, como se aquilo fosse a coisa mais natural do mundo.
Yui Tanaka
— Você vai mesmo...?
Yui perguntou, meio sem acreditar.
Haruki Sakamoto
— Claro. Mika me disse que você quer ir na cafeteria nova do bairro. Eu sou bom em experimentar doces!
Ela olhou de canto para Mika, que fazia sinal de positivo com as duas mãos. Estava claro: não tinha mais volta.
Sábado – Cafeteria “Bitter & Sweet”
Yui chegou dez minutos antes
Os cabelos estavam presos num coque meio torto, que ela arrumara e desarrumara mil vezes. E por mais que tentasse parecer calma... suas mãos suavam.
Quando Haruki chegou, ofegante, usando uma camisa preta com gola aberta e cabelo bagunçado como sempre, ele parecia exatamente igual aos dias normais — o que, de alguma forma, confortou Yui.
Haruki Sakamoto
— Me desculpa pela demora! Eu… tive uma luta épica com meu secador de cabelo.
Haruki Sakamoto
— O secador. Ele jogou vento quente nos meus olhos.
Sentados um de frente para o outro, o silêncio ameaçou cair entre eles por alguns segundos. Mas Haruki logo apontou para o cardápio:
Haruki Sakamoto
— Ok, você vai me julgar, mas eu vou pedir o bolo arco-íris.
Yui Tanaka
— Eu também ia pedir esse…
Eles dividiram o doce, riram do sorvete que derretia mais rápido do que conseguiam comer, e acabaram entrando num papo sobre músicas da infância.
Haruki Sakamoto
— A primeira música que ouvi e chorei foi “Twilight Harmony”, sabia?
Yui Tanaka
— Essa é a minha música favorita…
Haruki Sakamoto
— Sério? A letra dela me destruiu quando eu tinha nove anos.
Haruki Sakamoto
— Acho que gosto de músicas que... parecem bobas, mas batem fundo.
Ela o observou. Pela primeira vez, sem o filtro das fofocas ou da popularidade. Só ele. Bagunçado, sensível, bobo... e absurdamente real.
Estação de trem – Entardecer
Enquanto esperavam o trem, Yui puxou o caderno da mochila. Sem pensar, arrancou uma folha e entregou a ele.
Yui Tanaka
— É só um rascunho… Mas é a primeira música que escrevi depois que te conheci.
Haruki pegou o papel, surpreso, e leu em silêncio.
> “Se o acaso desafinou os compassos,
foi só pra gente cantar juntos, do jeito certo, na hora errada.”
Ele olhou pra ela com um sorriso que começava nos olhos.
Haruki Sakamoto
— Então... agora eu sou tipo… sua inspiração?
Yui abaixou o rosto, corada.
Yui Tanaka
— Mais ou menos…
Haruki Sakamoto
— Vou tentar não desafinar muito então.
O trem chegou, e os dois entraram. Um ao lado do outro, sem encostar. Mas naquele banco duro de trem, entre risos e silêncios tranquilos, algo novo começava a ser composto.
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