Minha vida começou como um turbilhão — e, até hoje, eu não sei como tudo isso aconteceu. Nasci prematura com seis meses, com um choro fraco e o destino me testando desde o primeiro suspiro. tão pequena mais tendo que lutar para sobreviver.
Fui criada por minha mãe, uma mulher simples e batalhadora. Nunca ouvi um “eu te amo” sair da boca dela, mas ela cuidava de mim tão bem, me protegia de tudo — ou pelo menos achava que sim. Sempre senti que havia um segredo ou algo do tipo entre nós. Algo que ela escondia de mim lá no fundo sabe, mas que eu nunca soube o que era.
Meu pai? Bom esse nunca o conheci. A única coisa que ela me dizia era que ele era muito bonito, moreno alto de olhos verdes, e que tinham se conhecido ainda na época da escola. Ela engravidou de mim pouco depois de começarem a namorar e, no instante em que contou que estava gravida de mim, ele simplesmente desapareceu como um raio. Como se ela nunca tivesse existido. E sobre ele bom… era só isso. Nenhuma foto. Nenhuma lembrança. Só silêncio e o que minha mãe me dizia dele mais nada nenhuma informação a mais ainda pensei em procuar mais como procurar sem nenhuma pista não iria adiantar resolvi deixa essa ideia para lá.
Apesar de tudo, eu sempre fui uma boa filha. Trabalhava desde os dez anos para ajudar nas contas de casa. Vendia roupas, limpava, cozinhava. Estudava e fazia cursos. Era meio maluquinha, confesso. Sempre amei sair, dançar, curtir um bom pagode, um funk bem alto… Ouvia samba e rap amava cantar como quem ouve o próprio coração bater.
Meu sonho? Bom o meu sonho e ser modelo. Uma grande empresária. Sei lá, talvez viajar o mundo. Eu sabia que era difícil, mas nunca deixei de sonhar.
Com o tempo, minha mãe começou a sair mais a medida que fui crescendo. Conheceu um homem, se apaixonou e casou com ele . Foi tudo muito rápido. No começo, ele parecia um cara bom. Atencioso. Mas isso tudo mudou quando eu fiz 17 anos.
Meu corpo começou a mudar. Os meus seios cresceram, o meu quadril ganhou curvas, a minha cintura parecia mais afinada por mãos de escultor. Eu evitava roupas chamativas, mas parecia impossível não atrair os olhares. Especialmente os dele. mesmo tentando esconder tudo aquilo com roupas largas e folgadas
E então, naquela noite, aquela maldita noite, tudo desabou nunca pensei que isso poderia acontecer comigo.
A chuva caía forte lá fora. Eu cheguei da escola exausta e toda molhada por conta da chuva. Minha mãe avisou que não voltaria pra casa por conta da chuva que iria dormir por lá mesmo— estava sem condução por causa da chuvas fortes. Fui direto pro quarto. Molhada, cansada… só queria simplesmente descansar nada mais.
Estava tirando a roupa quando a porta se abriu de repente tomei um susto ele já tinha tentado em outras vezes mais sem sucesso dessa vez foi diferente só estava eu e ele. Ele entrou no meu quarto, e trancou a porta atrás de si. Os olhos vermelhos, alterados por algo que eu não sabia o que era se era bebida ou drogas ou os dois juntos. E na mão, uma faca.
Disse que ia apenas “brincar” comigo. Mandou eu ficar quieta. Me ameaçou. Me cortou na perna. Depois.tirou a minha roupa e dali em diante .. fez o que nenhum homem jamais deveria fazer com uma mulher. depois saiu de cima de mim como alguém estava sastisfeito com aquilo.
A dor. A vergonha. O medo. Tudo veio de uma vez. Ele me feriu — por dentro e por fora. E ainda me ameaçou: se eu contasse a alguém, mataria a mim e à minha mãe. me sentia um lixo, suja, me sentia a pior mulher do mundo ..
A partir daquele dia, o meu mundo virou um inferno. Um pesadelo silencioso.
E ninguém, absolutamente ninguém, fazia ideia do que acontecia comigo. apenas me fechei ao mundo .
Foi aí que me lembrei da Ana — minha melhor amiga. Peguei o celular, lembrando do que ela havia me dito a um tempo atrás: que no lugar onde ela morava sempre tinha casa pra alugar. Mas tinha um porém… Era preciso falar com o dono do morro, se eu quisesse morar por lá.
Naquele momento, eu não via outra alternativa. Aquilo era a minha única saída. eu tinha que me decidir se eu ficaria ali vivendo o inferno ou iria embora para sempre viver a minha vida e tentar recomeçar.
Abri o WhatsApp e chamei ela:
whats on
— Piranha?
— Fala, vaca! 😂
— Sabe onde tem casa para alugar? Tô precisando com urgência.
— Sei sim. Mas... aconteceu alguma coisa?
— Depois eu te explico, tá bom? Vou arrumar as minhas coisas. Tô indo praí. Preciso de um lugar para passar a noite. Posso ficar na sua casa hoje?
— Pode, sim, sem problema nenhum. Te busco na barreira.
— Tá bom. Quando eu chegar, te ligo pra você me buscar lá. Ok?
— Ok. Bjus ❤️
whats off
Fechei o aplicativo e terminei de arrumar as minhas coisas. Não era muita coisa mais era tudo o que eu tinha: uma mala grande, uma mochila e uma bolsa de mão. Peguei o celular novamente, chamei um Uber, e antes de sair da casa onde cresci… parei.
Olhei tudo em volta e fiquei por ali pensando em tudo que vivi tanto com coisas boas quanto as ruins.
Queria guardar na memória cada detalhe. Cada canto. Queria lembrar dos momentos bons com a minha mãe — porque, apesar de tudo, existiram. Mas algo dentro de mim dizia que isso ainda não tinha acabado. Um pressentimento. Como se a história estivesse longe do fim.
Balancei a cabeça, tentando afastar os pensamentos ruins. Talvez fosse só o trauma, o cansaço, o coração apertado por ter que ir embora daquele jeito. E ainda pior: sabendo que a minha mãe a minha unica mãe … não acreditava em mim.
eu contei a ela mais ela não acreditou.
Mas ali, de pé, com as lágrimas queimando os meus olhos, fiz um juramento silencioso. Um pacto comigo mesma:
Um dia, eu vou volta e me vingar daquele canalha. Nem que leve anos. Eu vou.
Respirei fundo.
Antes de sair de vez, olhei a minha mãe pela última vez. As lágrimas desceram no meu rosto. E eu disse, com a voz tremendo:
— Ah, minha mãe… como eu queria que tudo fosse diferente. Que a senhora tivesse acreditado em mim. Mas não quis. E eu só espero, de coração, que um dia a senhora se arrependa. E veja quem ele é de verdade. Porque ele... ele não presta. A senhora, dona Rafaela, merecia mais.
Mas ela não respondeu. Nada. Nenhuma palavra. Só fez um gesto com a mão, mandando eu sair.
Aquilo me quebrou por dentro. Ainda mais.
Saí da casa com o coração em pedaços, a alma em silêncio. Eu não sabia o que o destino reservava pra mim dali em diante… mas, enquanto caminhava em direção ao carro, só consegui pedir uma coisa:
— Deus… me ajuda. Por favor. eu tenho um pouco de dinheiro que ajuntei enquanto eu trabalhava sei que consigo memmanter um pouco ate ter um novo serviço.
Peguei minhas coisas e saí de lá. O Uber já me esperava do lado de fora. Antes de entrar no carro, olhei uma última vez para o portão
— ela o fechou com força. Aquilo doeu e como doeu em mim. Entrei no carro sem olhar pra trás.
— Boa noite. Pode me levar pra esse local aqui — mostrei o endereço.
Ele assentiu com a cabeça e seguimos. Não demorou muito pra chegar.
— Senhora, daqui eu não posso passar — avisou o motorista, parando no pé do morro.
— Tudo bem.
Paguei a corrida e mandei uma mensagem para a Ana:
"Cheguei, tô na barreira."
Assim que desci, vi vários meninos armados uns sem camisetas. Fiquei um pouco assustada, com medo e receio. Era outro mundo. Mas logo Ana apareceu, me abraçando com força.
— Você chegou, graças a Deus! — disse, aliviada.
Quando começamos a subir em direção à barreira, um dos rapazes nos parou.
— E aí, Ana... tudo suave? — perguntou, me olhando de cima a baixo.
— Tranquilo, gatinho — ela respondeu, toda segura.
— E essa aí? Não parece ser daqui, não.
— Minha amiga. Tá procurando casa pra alugar aqui no morro.
— Hum… O patrão tá sabendo?
Ana arqueou a sobrancelha.
— Vai me barrar de subir com ela agora? O meu irmão não vai gostar de saber que tu tá me impedindo de entrar na minha própria comunidade, XT…
— Eu não tô sabendo dessas fitas aí, não…
— Não posso nem subir e mandar ela ficar lá em casa primeiro?
— Espera aí pow, vou chamar ele no rádio...
O rapaz se afastou, falando no rádio com alguém. Ana me deu um sinal rápido, e nós subimos correndo antes que ele voltasse. Ainda bem que a casa dela era logo ali.
Entramos. A casa não era tão grande, mas era confortável, organizada e acolhedora. Senti um alívio. Me joguei no sofá, ainda ofegante.
Depois de alguns minutos, contei tudo o que tinha acontecido. Tudo absolutamente tudo. de certa forma me senti aliviada por contar a ela.
Ana ficou horrorizada com tudo que contei.
— Amiga... isso não pode ficar assim! A gente vai dar um jeito nisso. Eu juro.
— Não, Ana. Eu só quero tentar recomeçar. Só quero um lugar pra ficar e seguir a minha vida por enquanto. Só isso.
Assim que terminei de falar, levei um susto com a porta se abrindo.
Entrou um cara alto, moreno, de olhos verdes. Lindo. pensa num homem gostoso
Me perdi por um instante no olhar dele... até que ele começou a falar com Ana, e eu apenas observei.
— Quem é essa aí? — perguntou, já de cara fechada.
— Minha amiga, Rajda — Ana respondeu.
— E tu traz gente pra dentro de casa sem me avisar, porra, Ana?
— Tá nervosinho por quê? A Rajda tá procurando uma casa pra morar. Ainda tem algumas disponíveis. Eu só não te avisei porque a gente tava conversando, e você chegou atrapalhando a nossa conversa, Noah.
— Tô pouco me fodendo com o que cês conversam. Depois a gente troca umas ideia. Eu e você. Sem plateia. E eu já falei pra parar de falar o meu nome, porra!
Ele me olhou de cima a baixo. Sério. Intimidante.
— E tu aí… por que quer morar aqui na favela?
— Porque não tenho outro lugar pra ir, e o pouco dinheiro que eu tenho não dá pra pagar algo melhor, moço — respondi, meio atravessada.
— Noah, por favor, né? Não começa — Ana cortou. — Só vê uma casa pra ela. Você sabe que ela precisa.
Ele bufou, virou de costas.
— Vou ver isso. Mais tarde pego vocês. E para de falar o meu nome, caralho!
Saiu batendo a porta com tudo.
Ficamos em silêncio por uns segundos. O clima tinha pesado.
— Ana, você nem me falou que tinha um irmão, menina!
— Pois é, nega… Tenho. E ele é o dono da favela. É uma longa história. Desculpa o jeito dele, tá?
— Tá tudo bem, nega… — sorri, relaxando um pouco. — Mas que irmão gato, hein?
Nós duas rimos, quebrando o gelo. E por um instante, eu me senti um pouco mais segura. com ela e em paz sabe aquela sensação de alivia e paz foi o que eu senti naquele momento .
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