O silêncio dele doía mais do que qualquer palavra.
Era pesado. Cruel.
E naquele instante, eu soube... nada do que eu dissesse mudaria o que estava prestes a acontecer.
Eu segurei a bolsa contra o peito, os dedos tremendo, o coração tão apertado que parecia que ia parar.
— Fala alguma coisa... — Minha voz saiu falha, embargada. — Andrei, pelo amor de Deus... o que tá acontecendo? Por quê? O que eu fiz?
Ele manteve o olhar fixo no chão por alguns segundos, respirou fundo, cruzou os braços e... quando finalmente me encarou, não era mais o homem que me segurou no colo enquanto eu chorava, que me fez rir no meio do caos, que me deu abrigo quando o mundo inteiro desabou sobre mim.
O que estava na minha frente agora... era o Andrei Usmanov que o mundo temia.
Frio. Implacável. Intocável.
— A gente precisa acabar com isso. — As palavras vieram duras. Secas. Sem emoção.
Senti o chão se abrir.
— Acabar...? — O nó na garganta quase não me deixou falar. — Do que você tá falando? Da gente? Isso é sério...? Você não pode estar falando sério.
Ele desviou o olhar, passou a mão na nuca, como se até isso fosse difícil pra ele. Mas quando voltou a me olhar...
Não havia nada. Nenhuma rachadura. Nenhum sinal de dúvida.
— O que aconteceu entre nós... — ele respirou fundo, apertando o maxilar. — ...foi um erro, Violetta.
Meus olhos arderam na hora.
O coração disparou, descompassado, como se quisesse pular do peito, fugir, desaparecer.
— Um... erro? — Minha voz falhou. — Então... então você me usou? É isso? Você... fingiu se importar, fingiu tudo isso...? Só pra quê, Andrei? Pra se divertir um pouco?
Ele apertou os olhos, respirou fundo, cruzou os braços e manteve o tom frio, distante, impassível.
— Não foi fingimento. — Sua voz era firme. — Mas... também não era pra ter acontecido. Foi só... coisa do momento. Só isso.
Senti o corpo inteiro estremecer.
O estômago revirou, as pernas ameaçaram ceder. Uma náusea subiu forte, me dando vontade de vomitar toda aquela dor.
— Você me fez acreditar... que eu tinha você. Que... que eu não tava sozinha. — A voz quebrou no meio. — Você me fez baixar a guarda. Me fez confiar. E agora... simplesmente diz que foi um erro? Que foi... só um momento? Você tem ideia do que isso significa pra mim? Do quanto... do quanto eu me entreguei?
Ele apertou o maxilar, desviou o olhar, respirou pesado. Mas, quando respondeu, a frieza cortou de novo.
— Você sabia desde o começo que isso não tinha futuro, Violetta. — Disse, com aquela maldita calma calculada. — A gente vive em mundos diferentes. E você... não pertence ao meu.
Meu coração parou. Literalmente.
A dor rasgou, crua, feroz.
— Sabe... — Limpei as lágrimas, sentindo uma mistura de humilhação, dor e raiva — ...eu achei, por um segundo, que você era diferente. Que por trás desse homem frio, havia... alguma coisa. Que tudo o que vivemos... significava algo. Mas eu estava errada.
Ele não disse nada. Só ficou ali. Me olhando como se eu fosse... nada.
— Quer saber, Andrei? — Minha voz tremeu, mas eu não deixei quebrar. — Você tem razão. Isso foi um erro. Você foi um erro. E eu juro... juro por tudo que me resta... que eu nunca mais quero olhar na sua cara. Nunca mais.
Vi, por um segundo, o maxilar dele travar.
Mas ele não respondeu. Não tentou me impedir. Não me segurou. Não fez absolutamente nada.
Só ficou parado.
Frio.
Imóvel.
Me assistindo virar as costas.
E quando a porta bateu atrás de mim, eu senti.
Senti tudo desabar.
Senti meu mundo ruir.
Senti meu coração... se partir de um jeito que eu sabia, com toda certeza, que nunca mais ia voltar a ser inteiro.
Existem momentos na vida em que a gente se sente forte.
Inquebrável.
Capaz de qualquer coisa.
Você corre atrás dos seus sonhos, se sacrifica, se entrega. Acredita que tudo vale a pena quando se tem um propósito, uma meta. E aí... a vida te mostra que ela não é justa. Que ela não se importa com o quanto você luta. Que ela te derruba, te esmaga, te faz engolir cada plano, cada esperança, cada maldito sonho.
E, de repente, viver não é mais sobre ser feliz.
É sobre... sobreviver.
Essa era eu. Violetta Kalin.
Vinte e oito anos. Enfermeira. Trabalhadora. A mulher que se iludia todos os dias acreditando que tava construindo um futuro. Que acreditava que amor, esforço e lealdade bastavam.
Mas, cá entre nós?
A vida não funciona assim.
Trabalhava num hospital renomado, desses que só quem tem muito dinheiro entra. Uma instituição privada, elegante, no coração de Moscou. E, olha... não era exagero dizer que só de olhar pro prédio você já se sentia pobre.
Eu consegui aquela vaga graças a um amigo da faculdade. Uma indicação milagrosa, porque, honestamente, se dependesse do meu currículo ou do meu sobrenome, eu não teria passado nem da porta.
E além de bancar minha própria vida, eu bancava a vida de outra pessoa.
Roman.
Meu noivo.
Ele estava desempregado, há meses. E quem segurava tudo? Isso mesmo. Eu.
O aluguel, a faculdade dele, as contas, a comida e, se sobrasse alguma coisa, o sonho do nosso casamento. Spoiler? Não sobrava.
Mas eu fazia mágica. Vendia coisas online, aceitava plantões extras, vivia no limite do cansaço, da exaustão, da ansiedade... e, ainda assim, acreditava que tudo valia a pena. Porque, no fim, quando a gente ama... a gente acredita que tá tudo certo.
A gente acredita.
Naquela manhã, o despertador parecia mais uma bomba prestes a explodir. Levantei, cambaleando, e a tontura veio de novo. Forte. Quase me fez cair.
Apoiei as mãos na cama, fechei os olhos e esperei o mundo parar de girar.
Mas não era só isso. Havia semanas que manchas roxas apareciam do nada no meu corpo.
Pequenas... depois maiores... e cada vez mais frequentes.
No fundo, eu sabia.
Eu só... não queria admitir. Não queria ouvir aquilo em voz alta.
Respirei fundo, levantei, fui pro banheiro. Me encarei no espelho.
Os olhos fundos, os lábios pálidos, a pele sem vida.
— Tá tudo bem... — murmurei pra mim mesma, mentindo descaradamente. — Você só tá cansada... é só isso.
Prendi o cabelo, coloquei o uniforme, peguei a bolsa.
Parei na porta do quarto, olhei Roman, deitado, esparramado na cama, dormindo como se tivesse passado a noite salvando o mundo... ou zerando algum jogo idiota.
Me aproximei, depositei um beijo na testa dele e sussurrei:
— Amor, tô indo.
Ele nem abriu os olhos. Só murmurou, com a voz arrastada e sonolenta:
— Tá... fecha a porta quando sair.
É. Super fofo, né?
Coração quentinho? Nem um pouco.
Suspirei, saí e segui meu caminho.
Na esquina, lá estava o velho Semyon, motorista do ônibus. A figura mais pontual e rabugenta de Moscou.
— Bom dia, senhor Semyon! — Sorri, acenando.
Ele olhou pelo retrovisor, arqueou a sobrancelha e respondeu, com aquele humor azedo de sempre:
— Bom dia, senhorita Violetta. Pontualidade é seu sobrenome, hein?
— Se eu me atraso, minha consciência me demite no mesmo segundo. — Fingi um sorriso, subindo. — E aí... vai me pagar uma corrida grátis hoje ou seguimos na amizade?
Ele bufou, riu de canto e respondeu:
— Só se quiser ir pendurada no retrovisor.
O Senhor Semyon era assim, mas eu adorava ele. E ele? Acho que também gostava de mim
Soltei uma risada, ajeitando a bolsa no ombro.
E, claro, nenhum assento livre. Fiquei de pé, segurando na barra de ferro, rezando pra não ser jogada de um lado pro outro como de costume.
Percebi alguns olhares. Sempre percebia. Alguns curiosos, outros desconfiados, outros até meio desconcertados.
Mas eu já tinha me acostumado.
Nasci assim.
Um olho azul. O outro, castanho.
Heterocromia.
Quando era criança, odiava. Me sentia um ET, estranha, diferente, errada.
Hoje? Hoje eu achava que era meu charme. Minha marca registrada. Se me olhavam... que olhassem.
Cheguei ao hospital e, de cara, percebi que algo tava MUITO errado.
O clima... tenso.
Pessoas andando rápido, cochichos pelos corredores, papéis voando, gente da administração em pânico.
Apertei o passo, tentando entender o que tava acontecendo.
Foi quando Olga, minha colega de plantão, surgiu do nada, segurando uma prancheta e parecendo estar a ponto de surtar.
— Que circo pegando fogo é esse? — perguntei, olhando em volta. — Perdi alguma coisa? Caiu um meteoro? Teve um assassinato? Alguém me atualiza, por favor.
Ela bufou, revirou os olhos e respondeu, andando apressada:
— Você não sabe?
— Não. E agora tô oficialmente com medo.
Ela se aproximou, olhou pros lados, baixou o tom e soltou:
— O senhor Maksim... se afastou. Tá fora. E adivinha? Colocaram o sobrinho dele no comando.
Arregalei os olhos.
— Pera. COMO ASSIM? O sobrinho? Que sobrinho? Desde quando esse homem tem sobrinho?
Ela se inclinou mais, como se aquilo fosse confidencial da CIA.
— Dizem que ele vive fora há anos. Sempre nas sombras da família. E agora... ele voltou.
— E... ele é... pelo menos gente boa? — perguntei, cheia de esperança.
Ela deu uma risada seca, quase debochada.
— Violetta... você acha MESMO que alguém da família Usmanov sabe o que é ser "gente boa"?
Travei.
— ...Tocou num ponto.
— Dizem que ele é pior que o próprio Maksim. Frio. Calculista. Nunca sorri. Não gosta de ninguém. Não confia em ninguém. E... — ela olhou pros lados novamente, abaixou ainda mais o tom — ...e que ele não tá aqui só pelo hospital.
Franzi a testa. Que homem horrível...
— Como assim?
Ela deu de ombros.
— Sei lá. Só sei que tem coisa grande aí. E... ele chega hoje. Daqui a pouco.
— Perfeito. — Levei a mão ao peito, fingindo desmaiar. — Maravilhoso. Minha vida já tava uma loucura. Agora é oficial: vai virar um filme de terror.
Ela riu.
— Se prepara, Vi. Esse lugar vai virar um verdadeiro inferno.
O dia estava simplesmente... exaustivo.
O tipo de dia que você respira fundo e pensa: “Se mais uma coisa der errado, eu surto.”
No meio da correria, parei no quarto da senhora Irina, uma das minhas pacientes favoritas. Uma mulher incrível, cheia de classe, tão doce... mas extremamente solitária.
Dona de uma fortuna absurda, mas sem ninguém por perto. Ela vivia praticamente no hospital, já fazia meses, tratando de uma insuficiência renal crônica.
Três sessões de hemodiálise por semana, além de outras complicações que teimavam em aparecer.
Ela sorriu assim que me viu entrar com a bandeja de medicação.
— Olha só... — ela ajeitou os cabelos finos, ainda bem arrumados, apesar do tempo no hospital — ...se a beleza tivesse nome, seria Violetta. — Sorriu com aquele jeitinho dela que aquecia meu coração.
Soltei uma risada leve, me aproximando.
— Ah, senhora Irina... se continuar assim, vou sair daqui me achando demais. — Toquei na mão dela, que estava um pouco fria, mas cheia de vida. — E a senhora? Como está se sentindo hoje?
Ela suspirou, olhando pela janela.
— Do mesmo jeito que um vaso de cristal velho... inteiro por fora, mas prestes a quebrar por dentro. — Ela piscou, divertida, e completou: — Mas a sua presença sempre faz tudo parecer menos ruim.
Senti aquele nó na garganta, mas disfarcei sorrindo.
— A senhora é incrível. E... se quiser, posso ser sua filha emprestada. — Toquei seu rosto com carinho. — Não substitui, eu sei... mas estarei aqui sempre que precisar.
Ela apertou minha mão, emocionada.
— Você tem um coração raro, menina...
Ficamos conversando um pouco, até eu terminar os procedimentos e ajudá-la a se ajeitar na cama.
— Você merece um mundo melhor, Violetta — disse ela, ajeitando a manta sobre as pernas. — Só espero que a vida não seja tão cruel com você como foi comigo.
Engoli seco. Engraçado... nem ela sabia o quanto aquela frase estava prestes a fazer sentido.
Saí do quarto com aquele aperto no peito, segurando uma pasta cheia de prontuários e relatórios. Virei o corredor apressada, distraída, quando...
— Aí, meu Deus! — trombei com alguém.
Os papéis voaram como folhas ao vento.
Dei dois passos pra trás, levando a mão ao peito, o susto quase me matou.
Levantei os olhos... e quase tive uma vertigem.
O homem na minha frente parecia ter saído de algum filme proibido para menores. Alto. Muito alto. E põe alto nisso. Ombros largos, postura impecável, terno preto sob medida, gravata perfeitamente alinhada, cabelo penteado pra trás, olhos... frio. Afiado. Cortante.
Ele ajeitou o paletó devagar, deslizando as mãos pelo próprio corpo, como se me dar um segundo de atenção fosse perda de tempo.
— Perdoe-me, senhor... — a voz escapou baixa, polida, contida. Mantive o tom neutro, profissional, lutando pra não soar nervosa. — Eu... eu não estava olhando pra frente... me desculpe.
Ele não respondeu de imediato. Apenas virou levemente o rosto na minha direção, estreitando os olhos. O maxilar dele travou, tenso, a mandíbula pulsando, como se estivesse segurando a própria irritação.
— Típico... — ele soltou, seco, frio. — Mais uma desastrada andando por aí feito barata tonta. — Seus olhos deslizaram por mim como se eu fosse... descartável.
Travei. Mas respirei fundo.
Controle, Violetta. Controle.
— Sinto muito. — Apertei os papéis contra o peito, abaixando a cabeça ligeiramente, mantendo a postura profissional. — Realmente não foi minha intenção.
Ele descruzou os braços, dando meio passo na minha direção. A sombra dele cobriu meu corpo inteiro.
— Só espero... — sua voz saiu mais baixa, carregada de veneno — ...que tenha mais competência pra cuidar de pacientes do que pra... andar.
Aquilo queimou. Rasgou.
Mas respirei fundo. Engoli seco.
Não dá pra perder esse emprego, Violetta. Segura.
Forcei um sorriso educado.
— É claro, senhor. Tenha um bom dia. — Mantive a compostura, fingindo uma educação que, honestamente, estava pendurada por um fio. Minha vontade era mandar esse riquinho metido tomar naquele lugar...
Girei nos calcanhares, me abaixando pra pegar os papéis do chão, mas não consegui segurar a língua.
— Arrogante... — escapou no meu tom mais baixo... só que não baixo o suficiente.
— Como é que é? — A voz dele cortou o ar, seca, afiada, gelada.
Parei. Meu corpo inteiro enrijeceu. Senti aquele frio subir pela espinha.
Levantei devagar, muito devagar, girando de volta pra encará-lo.
Ele estava parado. Imponente. Olhar semicerrado. Queixo erguido. Ombros tensos. A expressão dele beirava o descrédito.
— Eu... — engoli seco, tentando formular algo, qualquer coisa — eu... eu só... — minha boca abriu, mas não saiu som.
O olhar dele desceu pelo meu corpo, subiu devagar, como se cada segundo fosse um julgamento.
— Está me chamando... de arrogante? — O tom dele... meu Deus... parecia mais um sussurro grave, carregado de ameaça.
Meu peito subiu e desceu, desesperado. As mãos começaram a formigar. As luzes do corredor começaram a... oscilar... Não. Era a minha visão que tava falhando.
O suor frio escorreu pela nuca.
Tentei abrir a boca, dizer qualquer coisa, me retratar, sumir, me teletransportar pra Marte... mas as palavras não saíram.
O chão... pareceu desaparecer.
— Eu... eu acho que... — tentei dizer, mas a voz morreu na garganta.
As pernas ficaram bambas. Tudo girou. Tudo ficou... preto.
A última coisa que senti foram... braços. Braços fortes segurando meu corpo antes que eu batesse no chão. E aqueles olhos... frios, confusos, surpresos, me encarando enquanto tudo desabava na escuridão.
...----------------...
Acordei com uma dor latejante na cabeça e o som das vozes abafadas. Pisquei várias vezes até reconhecer onde estava. Sala de medicação.
— Violetta! — A voz desesperada da Olga preencheu meus ouvidos. Ela se jogou praticamente em cima de mim. — Meu Deus, mulher! Que susto! Disseram que você desmaiou no meio do corredor! Tá tudo bem?
— Eu... acho que sim. — Levei a mão à testa, confusa. — Não lembro de muita coisa, só... esbarrei em alguém e... — pausei. — Espera...
Ela me olhou, quase saltando da cadeira.
— É verdade o que tão dizendo? — sussurrou, arregalando os olhos.
— O quê? — franzi a testa. — O que estão dizendo, Olga?
Ela se inclinou, como se fosse contar um segredo de estado.
— Que... foi o... — ela engoliu seco — o sobrinho do senhor Maksim quem te trouxe pra cá.
— O quê?! — Quase pulei da cama. — O QUÊ?!
— Exatamente o que ouviu.
Minha boca abriu, seca.
— Não... não, não... — Levei as mãos ao rosto. — Me diz que é mentira... EU XINGUEI ELE, OLGA! EU CHAMEI ELE DE ARROGANTE!
Ela arregalou os olhos, fazendo um O perfeito com a boca.
— Você tá... você tá FERRADA!
— Eu vou ser demitida... — bati a mão na testa, entrando em pânico. — Meu Deus... meu aluguel... a faculdade do Roman... MEU CASAMENTO!
Ela me segurou pelos braços, quase me sacudindo.
— Calma, calma, calma! Talvez... talvez ele nem tenha ouvido...
— Ele olhou na minha cara, Olga! — Tapei o rosto. — Eu tô ferrada...
— Tá mesmo. — Ela concordou, simplesmente.
Foi quando a porta abriu. O médico entrou, sério, com uma pasta na mão. Dr. Yuri. Um dos poucos médicos que eu realmente gostava ali. Sempre gentil. Sempre humano.
Mas naquele momento... o rosto dele tava pálido. Tenso. Preocupado.
— Violetta... — Ele se aproximou, apertando os lábios. — Como você tá se sentindo?
— Melhor, eu acho... — respondi, tentando controlar a respiração. — Foi só um susto.
Mas ele não parecia convencido. Olhou meus exames na pasta, depois pra mim, depois pra Olga. Respirou fundo, tenso.
— Doutor... — Olga perguntou, olhando pra ele com preocupação. — Tá tudo bem?
Ele puxou uma cadeira, se sentou, apoiou os cotovelos nos joelhos e segurou as mãos. A expressão dele era de quem tava prestes a me dar uma notícia que... ninguém quer ouvir.
Eu já sabia. No fundo... eu já sabia. Só não queria ouvir.
— Violetta... — Ele suspirou. — Nós fizemos alguns exames preliminares... e... com base nos seus sintomas... nas manchas, nas tonturas... e na alteração severa no seu hemograma...
Ele pausou.
O mundo parou junto.
— ...existe uma forte suspeita de que você esteja com... leucemia.
Silêncio.
Total.
O tipo de silêncio que faz até o som dos batimentos do seu próprio coração sumir.
Olga me olhou... e eu odiei aquele olhar. Aquele olhar de pena. De compaixão. De “coitadinha”.
Eu não chorei.
Não gritei.
Não desabei.
Apenas... fiquei ali. Sentada. Olhando pra algum ponto fixo no chão, como se meu corpo tivesse desligado.
Por mais que eu quisesse me iludir... por mais que eu quisesse acreditar que era só estresse, só cansaço...
Lá no fundo... eu sempre soube.
Só... não queria encarar.
Até agora.
Para mais, baixe o APP de MangaToon!