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Missão: Amor e Guerra

Capítulo 1 – Ordem Direta

O som dos golpes secos ecoava pelas paredes acolchoadas da sala de treinamento. O ar tinha o cheiro de suor, esforço e concentração. Lara Almeida mantinha a respiração controlada enquanto girava o quadril, derrubando o adversário com um movimento limpo de jiu-jitsu. O corpo definido, resultado de anos de disciplina, se movia com precisão milimétrica. Nada em sua rotina era feito pela metade.

— De novo — ordenou, fria.

O colega de treino engoliu em seco, mas obedeceu. Sabia que Lara era exigente, com os outros e com ela mesma. Faixa preta em jiu-jitsu, especialista em muay thai, agente das Forças Especiais do governo... e completamente avessa a qualquer envolvimento emocional.

Aos trinta anos, Lara sabia o preço de se apegar. Era bonita, sim. Pele clara, olhos azuis intensos e cabelo preto na altura dos ombros. O corpo torneado chamava atenção por onde passava — inclusive onde não devia — mas ela ignorava. Namoros eram distrações, e distrações matavam em campo.

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Mais tarde, em seu apartamento na cobertura, Lara se jogou no sofá. A taça de vinho tinto em mãos contrastava com o cenário de combate que fora seu dia. Ela gostava daquele ritual. Um vinho de safra selecionada, o silêncio da cidade alta e a vista do horizonte — onde a calma era apenas aparente.

Foi interrompida pelo celular institucional vibrando sobre a bancada. Atendeu sem hesitar.

— Almeida — disse, seca.

— Tenente Almeida, relatório em mãos. Você foi designada para uma missão conjunta.

Ela cerrou os olhos.

— Conjunta? Com qual unidade?

Silêncio. Uma pausa carregada.

— Esquadrão Ômega.

Ela se endireitou no sofá.

— Quem está comandando?

— Coronel Ricardo Costa.

Um xingamento quase escapou dos seus lábios. Ricardo. O homem mais arrogante, mandão e insuportavelmente bonito que ela já conhecera. Tinha história com ele, e nenhuma boa.

— Autorizo recusa — respondeu imediatamente.

— Ordem direta do alto comando. Missão de prioridade classe A.

Ela fechou os olhos e suspirou fundo.

— Envio os dados agora. Apresente-se amanhã às 06h no hangar 4. E, Almeida... — o tom do superior mudou, quase num deboche contido — tentem não se matar antes da missão começar.

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O hangar 4 estava movimentado quando ela chegou. Seu uniforme tático preto colava-se perfeitamente às curvas. Tudo nela exalava eficiência, desde a postura até o olhar glacial.

Ricardo estava encostado num dos jipes blindados, braços cruzados, óculos escuros cobrindo os olhos castanhos claros, mas o sorriso debochado estava no lugar de sempre.

— Sempre pontual. Uma qualidade admirável — disse ao vê-la.

— E você continua irritante. Uma qualidade que não muda com os anos — rebateu.

— Sentiu saudade, Almeida?

Ela passou por ele sem responder, mas ele se virou para segui-la. O modo como ela andava, a firmeza nos passos, o rabo de cavalo balançando... provocavam nele sensações perigosas. E ele adorava brincar com fogo.

A reunião começou. Ricardo liderava com autoridade inquestionável. Mesmo sendo um canalha arrogante, era bom no que fazia. Taticamente impecável. Estratégico. Mortal. Isso ela respeitava, mesmo que jamais admitisse.

— Missão concluída em 72 horas, sem alarde, sem testemunhas — finalizou ele. — E, Lara... sem improvisos dessa vez.

— Desde que você não atrapalhe — ela retrucou, fria.

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A missão foi um sucesso.

Sem rastros, sem sobreviventes. O alvo era um pequeno grupo insurgente operando sob o radar. Lara e Ricardo trabalharam juntos com eficiência desconcertante. Brigavam, sim. Discutiam o tempo todo. Mas em campo... pareciam dançar.

De volta à base, algo inesperado os aguardava: uma nova missão.

Dessa vez, os dois estavam sozinhos.

— Disfarçados? — ela ergueu uma sobrancelha ao ler o relatório.

— Casal recém-casado — confirmou o oficial que entregou os dados. — Vocês vão se infiltrar em um núcleo de tráfico que opera disfarçado de boate em outra cidade. Precisamos de identificação visual dos chefes.

— Por que não mandam um casal de verdade? — Ricardo questionou.

— Porque nenhum tem o treinamento de vocês dois juntos. Vocês são nossa melhor chance.

Lara bufou. Odiava isso.

— Isso vai dar errado — murmurou.

— Ou muito certo — Ricardo sorriu.

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A viagem foi silenciosa. Lara ignorava as tentativas dele de puxar conversa, preferindo olhar pela janela do helicóptero. Mas Ricardo estava longe de desistir.

Na chegada ao novo “apartamento disfarçado”, descobriram outro detalhe: quarto único. Camas de casal.

— Isso é pegadinha? — ela perguntou, olhando o ambiente luxuoso demais para uma missão de infiltração.

— Fique tranquila. Não ronco — ele brincou, jogando a mochila no sofá.

— Ótimo. Porque se roncar, eu sufoco você com o travesseiro.

— Tem tanta coisa mais interessante que você poderia fazer comigo na cama...

Ela o fuzilou com o olhar. Mas ele apenas sorriu, cínico, como sempre.

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Nos dias seguintes, eles frequentaram a boate investigada. Beijos forçados, mãos entrelaçadas para manter o disfarce. O calor entre eles, mesmo negado, era palpável. Lara detestava admitir que o modo como ele a olhava fazia algo nela estremecer. E Ricardo se torturava tentando não imaginar como ela seria sem o uniforme.

Até que o inevitável aconteceu.

Depois de uma noite tensa na boate, voltaram para o apartamento. Lara foi a primeira a chegar e se trancou no banheiro para um banho. A tranca estava quebrada — ela notou, mas achou que Ricardo ainda estivesse fora.

Estava errada.

Ele entrou, distraído, tirando a camisa suada e caminhando direto ao banheiro, empurrando a porta sem pensar.

O mundo parou.

Ela estava de costas, nua, a pele clara reluzente sob o vapor. Ao ouvi-lo, virou-se — os olhos em choque, depois raiva pura.

— O que diabos—?!

Mas ele não conseguia falar. Os olhos travaram no corpo perfeito, curvas definidas, os seios cheios, o olhar furioso.

— Você é um idiota! — ela gritou, atirando o sabonete contra ele.

Ricardo fechou a porta no susto, mas saiu com o rosto vermelho, o peito acelerado.

Por muito tempo ficou parado do lado de fora do banheiro, apoiado na parede, tentando esquecer aquela visão. Mas não conseguiu.

E pela primeira vez... o silêncio entre eles falou mais do que qualquer provocação.

Capítulo 2 – Entre Olhares e Silêncios

O silêncio daquela manhã era denso, quase incômodo. Lara se movimentava com precisão pela cozinha do apartamento improvisado, vestindo apenas uma camiseta larga e shorts curtos. O cabelo ainda úmido após o banho caía pelos ombros, e seu rosto exibia a expressão séria de sempre. Mas por dentro, tudo estava revirado.

A lembrança da noite anterior ainda a queimava. O momento exato em que ouviu a porta do banheiro — com a tranca quebrada — se abrir e, ao virar-se, deu de cara com Ricardo. Ele parado, calado, observando-a nua com uma expressão que ela nunca havia visto antes. Nenhuma piada, nenhuma provocação. Apenas silêncio. Um silêncio que a desarmou mais do que qualquer toque.

E ela odiava isso.

— Vai continuar de cara fechada ou me dar bom dia? — a voz dele surgiu atrás dela, arrastada pelo sono e cheia daquele deboche irritante.

Ela não se virou.

— Bom dia, Costa. Ainda não morreu?

— Não. E depois de ontem, acho que ganhei mais uns bons anos de vida.

Ela virou-se devagar, apoiando-se na bancada, o café em mãos.

— Um comentário idiota a mais, e eu te coloco pra dormir na varanda.

Ele sorriu. Estava descalço, sem camisa, com uma calça de moletom escura que deixava os músculos do abdômen visíveis — e, infelizmente para ela, era uma visão difícil de ignorar.

— Admite, Almeida… você ficou mexida — disse ele, pegando a outra caneca da prateleira.

— Mexida? Só de raiva. Nunca pensei que fosse te ver sem graça.

— Você me deixou sem ar. Isso não é o mesmo que vergonha.

Ela bufou e voltou a beber o café. Mas a tensão entre eles era quase palpável. Desde que chegaram àquele apartamento, sabiam que teriam que dividir o único quarto. Mas o incidente no banheiro tinha quebrado uma barreira invisível. Eles já se provocavam antes, mas agora havia uma nova camada. Um desejo disfarçado de irritação. Uma atração que os dois fingiam não existir.

— Recebi a atualização da missão — ela disse, mudando de assunto. — Barone vai estar hoje na boate. Precisamos conseguir imagens nítidas dele e da segurança pessoal. A entrega vai acontecer no salão reservado.

— Já tenho o equipamento pronto. Câmera com lente oculta. O ponto de observação ideal é perto do bar dos fundos. Vai dar uma boa visão da entrada dos VVIPs.

— E nosso papel de casal continua?

— Aparentemente, estamos mais “felizes” do que nunca — ele respondeu com sarcasmo. — Casal em lua de mel.

Ela revirou os olhos.

— Vai ser um desafio fingir que gosto de você.

— Você finge tão bem que às vezes até eu acredito que me odeia.

Ela o encarou com intensidade.

— Eu não preciso fingir.

Ele riu baixo, aquele sorriso malicioso que sempre deixava seu estômago revirado.

— Tão linda quando tá com raiva.

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A noite chegou e, como parte da missão, os dois seguiram para a boate. Lara usava um vestido preto justo, com decote profundo e fenda lateral, elegante e provocante. Seus cabelos estavam presos em um coque alto, com algumas mechas soltas emoldurando o rosto. Maquiagem discreta, mas mortalmente sedutora.

Ricardo teve que respirar fundo ao vê-la.

— Eu devia estar acostumado com você, mas cada vez fica pior — murmurou, ajustando o paletó.

Ela o ignorou, fingindo arrumar os brincos enquanto caminhavam juntos para a entrada da boate. O ambiente vibrava: luzes pulsantes, música alta, sorrisos falsos e olhares perigosos.

Na pista de dança, eles precisavam manter o disfarce.

— Sorria — ele disse no ouvido dela. — Casais felizes não parecem prestes a se esganar.

Ela o olhou por cima do ombro, com um sorriso falso colado no rosto.

— Casais felizes não precisam de faca escondida na coxa.

— Você é mesmo perfeita — ele sussurrou, segurando sua cintura com firmeza.

Ela sentiu um arrepio percorrer o corpo, mas ignorou. Foco na missão.

— A câmera tá com você? — ela perguntou.

— No paletó. Só preciso de um bom ângulo.

— O homem da direita é segurança do Barone. Memorize o rosto.

— Já tá gravado. Mas não é o único que vou lembrar essa noite.

Ela tentou ignorar a provocação, mas era difícil. Eles dançavam como se estivessem em uma disputa de poder. Corpo colado, movimentos perfeitos, mas com tensão demais no ar.

— Se continuar encostando assim, vai sair mancando da missão.

— Se eu sair mancando, vai ser por outro motivo — ele disse, com um sorriso que a fez perder o ritmo por um segundo.

Ela recobrou o controle e o empurrou levemente, como parte da encenação.

— Você é um idiota completo.

— E você é linda demais pra isso aqui ser só atuação.

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Horas depois, de volta ao apartamento, o silêncio era pesado.

Ricardo se jogou no sofá e começou a tirar os sapatos. Lara foi até o armário pegar uma muda de roupa e seguiu para o banheiro — mas voltou imediatamente.

— Não consertaram a tranca ainda — ela murmurou, contrariada.

— Relaxa, Almeida. Agora eu bato antes.

Ela o fuzilou com o olhar, entrou no banheiro e bateu a porta.

Minutos depois, ele ouvia o som do chuveiro, tentando desviar a mente da imagem dela nua. Mas era impossível.

Quando ela saiu, estava com o pijama justo, pele fresca, e cabelo ainda úmido. Caminhou até a cama e puxou o cobertor.

Ricardo tirou a camisa ali mesmo, pegando o outro lado da cama. Ficaram de costas um para o outro por alguns segundos, até que ele quebrou o silêncio.

— Por que se afasta tanto, Lara?

— Porque me manter distante mantém as pessoas vivas.

— E você não?

Ela hesitou.

— Eu não me importo com isso.

Ele virou-se para ela.

— Mentirosa.

Ela também virou-se, agora os dois de frente, separados por centímetros.

— Você acha que me conhece?

— Acho que quero conhecer — ele disse, num tom mais baixo, quase verdadeiro.

O silêncio se instalou novamente, mas agora era outro tipo de silêncio. Cheio de tensão. De pensamentos que ambos fingiam não ter.

— Dorme, Costa. A missão ainda não acabou.

— Não... mas acho que a gente já começou outra — ele respondeu, virando de costas com um sorriso contido.

E, mais uma vez, nenhum dos dois conseguiu dormir logo.

Capítulo 3 – Beijos, Mentiras e Olhares Afiados

A boate estava mais cheia do que o habitual naquela noite. Membros importantes da organização que investigavam estariam presentes. Lara e Ricardo entraram em sincronia, disfarçados como um casal sofisticado, apaixonado e visivelmente entrosado — o oposto da realidade entre eles.

Ela usava um vestido vermelho justo, longo, com decote nas costas. O tipo de roupa que realçava cada curva de seu corpo definido. Ricardo, com um terno escuro perfeitamente alinhado ao seu físico, parecia saído de um anúncio de revista. A beleza dos dois chamava atenção, e isso fazia parte do plano: atrair olhares para que pudessem circular livremente.

— Está incrível — ele sussurrou ao vê-la sair do carro. O tom não foi irônico, nem provocativo. Apenas sincero.

Ela o olhou de lado, umedecendo os lábios antes de responder:

— Controle-se, Costa. Estamos aqui a trabalho.

— Você devia receber treinamento em autocontrole. Tá cada vez mais difícil fingir que eu não te desejo.

Ela fingiu que não ouviu e passou o braço em torno do dele, caminhando com elegância até a entrada.

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Já no interior, identificaram três alvos de relevância, entre eles um novo rosto, com anotações de possíveis ligações diretas ao tráfico internacional. Lara estava com um ponto eletrônico no ouvido e uma câmera embutida em um colar discreto.

— Terceiro alvo, mesa próxima ao balcão central. Analisando as feições... batem com o infiltrado do Panamá — murmurou, de forma quase imperceptível.

— Já estou registrando — respondeu Ricardo, mantendo o braço ao redor da cintura dela enquanto dançavam.

Estavam tão próximos que ela conseguia sentir a respiração dele no pescoço. Seu toque era firme, quase possessivo. A mão na cintura escorregou levemente, e ela o empurrou com os quadris, sussurrando:

— Se continuar tocando onde não deve, vou quebrar sua clavícula. Com um sorriso no rosto.

— Eu posso arriscar. Vale a pena — ele devolveu, com aquele sorriso malicioso.

Foi então que um dos alvos os olhou diretamente. Era o tipo de olhar que atravessa, que mede, que desconfia.

— Temos companhia — murmurou ela.

— Hora de atuar — disse ele, antes de puxá-la bruscamente para um beijo.

Ela ficou surpresa, mas respondeu no mesmo segundo. Era uma missão. Eles estavam sendo observados. O beijo tinha que parecer real. E foi.

A boca de Ricardo encontrou a dela com uma mistura de precisão e intensidade. Não havia doçura, havia desejo contido, raiva acumulada, tensão de dias. Lara segurou a nuca dele com firmeza, fingindo paixão. Mas ao mesmo tempo… algo real surgiu ali. Um calor inesperado. Um arrepio genuíno.

Quando se afastaram, ambos estavam ofegantes.

— Que beijo técnico, Almeida — ele murmurou, ainda perto demais.

— Vá pro inferno, Costa — ela disse, com os olhos ardendo.

— Acho que acabei de passar por lá… e adorei.

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Horas depois, de volta ao apartamento, Lara entrou primeiro, jogando os saltos em um canto e indo direto para a cozinha. Ainda sentia os lábios formigando. O maldito beijo não saía da cabeça. Estava irritada. Confusa. E, para piorar, ainda excitada.

— Água com gelo? — ela perguntou sem olhar para trás.

— Não sabia que me tratava tão bem — respondeu Ricardo, jogando a jaqueta no sofá.

— É pra ver se esfria a cabeça.

Ele se aproximou, pegando o copo da mão dela, seus dedos se tocando por um segundo. Ambos sentiram. Mas nenhum disse nada.

— Sobre hoje... — ele começou.

— Não aconteceu nada — ela cortou. — Era parte do disfarce. Ponto final.

— Pena. Porque foi... real.

Ela o encarou.

— Foi uma farsa. Assim como toda essa encenação. Eu não me envolvo. Nunca me envolvo. Isso aqui é missão. Só isso.

Ele assentiu devagar, mas havia algo em seu olhar que não concordava. Algo entre frustração e desafio.

— E se fosse mais do que isso?

Ela deu um passo à frente, ficando perigosamente próxima.

— Você quer me testar, Ricardo?

— Eu quero você. Mas por enquanto... vou continuar te provocando. Até você deixar de mentir pra si mesma.

Ela virou-se, indo para o quarto, o coração disparado. Mas antes de entrar, jogou por cima do ombro:

— Se tentar me beijar de novo sem estarmos sendo observados, vai sair daqui com a mandíbula deslocada.

— Ótimo — ele respondeu, tirando a camisa no meio da sala. — Pelo menos vou ter o gosto da sua boca na memória enquanto estiver no hospital.

Ela fechou a porta com força, mordendo o lábio. Estava em perigo. Mas não era por causa da missão.

Era por causa dele.

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Mais tarde, ambos já estavam na cama, um de cada lado, o quarto em silêncio. Ela de costas, ele deitado, com uma mão atrás da cabeça. O som do ventilador girando preenchia o espaço entre eles.

— Almeida… — ele chamou, baixinho.

— Hm?

— Da próxima vez que precisar me beijar em missão… tenta não se entregar tanto.

Ela riu sozinha, sem virar.

— Vai sonhando.

E, naquele quarto escuro, ambos adormeceram com a mesma imagem na mente: o beijo.

Falso ou não… tinha mudado tudo.

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