A cidade parecia pulsar com uma energia frenética naquela manhã. Os arranha-céus refletiam o dourado do sol enquanto carros cruzavam avenidas em ritmo acelerado. No último andar do prédio mais alto da região comercial, ele observava tudo de cima.
Noah Bastien, 28 anos, dono de uma das maiores corporações multinacionais do país, mantinha sua postura impecável de sempre. Cabelos dourados, perfeitamente penteados para trás, olhos azuis como o gelo do ártico. Seu corpo era uma escultura viva—músculos bem definidos por baixo da camisa social sob medida. Inteligente, disciplinado e implacável nos negócios, Noah era o tipo de homem que poucos ousavam enfrentar.
Apesar de toda sua fama, não era dado a escândalos. Não havia manchetes sobre suas noites com modelos ou atrizes. Ele preferia o controle—sobre tudo e todos. Inclusive sobre si mesmo.
— Senhor Bastien, ela chegou — anunciou sua assistente pessoal.
— Mande entrar — respondeu com frieza.
A porta se abriu, e ela entrou.
Aurora Nogueira. 25 anos, cabelos longos, escuros, com cachos que pareciam ter sido moldados pelas mãos de algum anjo distraído. Pele clara, olhos profundos, expressão reservada, mas não submissa. Seu corpo era elegante e definido, coberto por um vestido discreto, mas que não escondia sua silhueta marcante. Ela exalava uma combinação rara de doçura e fogo.
Noah ergueu uma sobrancelha ao vê-la. Aquilo não era comum. Não era todo dia que alguma coisa chamava sua atenção... muito menos alguém.
— Então você é a famosa Aurora Nogueira. — O tom dele era tão afiado quanto seu olhar.
— Famosa? — Ela rebateu com calma, sentando-se sem esperar permissão. — Interessante... nem sabia que minha pequena empresa causava tanto impacto.
A ousadia dela o divertiu.
— É pequena, mas promissora. Por isso estamos aqui. Negócios. — Ele se recostou na cadeira, os olhos analisando cada traço dela. — Só não imaginei que a dona fosse tão... interessante.
Aurora manteve o queixo erguido.
— Interessante costuma ser o que dizem quando não querem elogiar de verdade.
Noah deu um leve sorriso.
— Ou quando não querem admitir que foram surpreendidos.
A reunião seguiu com algumas formalidades. Ela conhecia cada ponto do contrato de cor, respondia firme, sem titubear. Sua linguagem era direta, sem frescuras. Noah, acostumado com bajulações e submissões, sentiu algo inusitado: respeito.
Quando ela se levantou para ir embora, ele se aproximou.
— Já que agora somos parceiros, talvez devêssemos celebrar. Um jantar, quem sabe?
Aurora inclinou a cabeça, os olhos fixos nos dele.
— Eu costumo celebrar sozinha. Ou com pessoas que não tentam me avaliar como um produto.
Ele soltou uma risada baixa.
— Você é afiada.
— E você é arrogante. Até logo, Sr. Bastien.
Ela saiu, e ele ficou em silêncio por um momento. Aquela mulher... era diferente. Era um desafio. E Noah Bastien adorava desafios.
---
Dois dias depois, num clube exclusivo da cidade, a batida da música eletrônica preenchia o ar. Luzes coloridas dançavam pelo salão enquanto corpos se moviam ao ritmo envolvente.
Aurora não era do tipo que frequentava boates, mas sua amiga Bianca, energética, impulsiva e tagarela, insistira até convencê-la.
— Você precisa viver, Aurora! Parar de se esconder nos relatórios e contratos. Só uma noite! — dissera ela.
Vestida com um macacão preto justo, elegante, com decote discreto, mas provocante, Aurora chamava atenção por onde passava. Seus cachos desciam pelas costas como ondas, e seus olhos brilhavam sob a luz do salão.
Bianca dançava animada com um rapaz loiro, enquanto Aurora se deixava levar pela música, sozinha, de olhos fechados.
Foi quando ele a viu.
Encostado em uma das sacadas superiores, Noah segurava um copo de whisky. Não era comum ele sair, mas fora convidado por um sócio para um encontro informal. Mal entrou, e ali estava ela. Brilhando, dançando como se o mundo não a afetasse.
E os homens… todos olhando.
Um músculo em sua mandíbula se contraiu.
— Por que esse incômodo, Bastien? — murmurou para si mesmo, bebendo.
Desceu. Queria ver de perto.
Quando ela o notou, seus olhos se encontraram. Por um segundo, o mundo pareceu parar. A música ficou distante. O salão sumiu. Só havia aquele olhar.
— Sr. Bastien... — disse ela, surpresa, mas com o mesmo tom firme.
— Aurora. — Ele se aproximou. — Bela surpresa.
— Eu diria o mesmo, se fosse uma.
Ele riu.
— Você está deslumbrante.
— E você está... o mesmo.
— Isso foi um elogio?
— Foi uma constatação.
O silêncio se alongou. Ela desviou o olhar, percebendo os olhares sobre eles.
— Algum motivo para me observar como se eu fosse um objeto em leilão?
— Você dança como se não quisesse ser tocada, mas todos querem. E isso me incomodou.
Aurora arqueou uma sobrancelha.
— Você não tem o direito de se incomodar.
— Talvez. Mas não consigo evitar.
Ela cruzou os braços.
— Sabe, Sr. Bastien, suas palavras soam como provocação. E eu não gosto de joguinhos.
Ele se aproximou, o suficiente para que ela sentisse o calor de sua respiração, mas sem tocá-la.
— Não é um jogo. É desejo.
Aurora engoliu em seco, mas não cedeu.
— Desejo é passageiro. Respeito é o que fica. E você ainda está me devendo isso.
Ele sorriu.
— Prometo me esforçar.
— Espero que sim, porque eu não sou uma mulher que se dobra fácil. E nem vai ser agora.
Ela virou-se e foi até Bianca, deixando-o ali, com um sorriso confuso no rosto.
Pela primeira vez, Noah Bastien não tinha o controle. E pela primeira vez... ele adorou isso.
Aurora havia jurado a si mesma que não se deixaria afetar por Noah Bastien. Não depois da forma como ele a olhara na boate, como se ela fosse uma peça rara de arte em exposição. Ainda assim, desde aquela noite, algo dentro dela se agitava.
O modo como ele a observava, como se enxergasse além de sua pele. Era desconcertante. E perigoso.
Na segunda-feira seguinte, ela chegou ao escritório da própria empresa mais cedo. Como sempre, organizou planilhas, respondeu e-mails e coordenou os funcionários com sua postura serena e firme. Até que seu telefone tocou.
— Aurora Nogueira? — perguntou a voz de uma secretária educada.
— Sim, sou eu.
— O Sr. Bastien solicita sua presença no escritório central da Bastien & Co. às 15h. É sobre uma proposta de extensão do contrato.
Aurora franziu o cenho.
— Proposta? Não era necessário agendar comigo antes?
— Ele pediu que fosse pessoalmente. Disse que seria... interessante para ambas as partes.
Ela revirou os olhos.
— Certo. Estarei lá.
Desligou com um suspiro.
“Interessante para ambas as partes.” Com Noah, isso podia significar qualquer coisa. E isso era o que a incomodava: ele nunca deixava claro se estava tratando de negócios ou se a estava testando.
---
Às 15h em ponto, Aurora entrou no saguão de mármore negro da sede central da Bastien & Co. Os seguranças a cumprimentaram com discrição, e o elevador a levou direto à cobertura.
Quando a porta se abriu, ele já estava lá. Em pé, ao lado da janela panorâmica, com as mãos nos bolsos da calça social, fitando a cidade como um rei no topo do castelo.
— Pontual. Gosto disso. — Ele a olhou de lado e sorriu, aquele sorriso inclinado que sempre parecia esconder um duplo sentido.
— Educação básica, Sr. Bastien. Costumo praticá-la com frequência.
Ele gesticulou para que ela se sentasse.
— Café?
— Prefiro que vá direto ao ponto.
Noah pegou uma pasta de couro da mesa e a empurrou na direção dela.
— Quero você aqui. Como consultora estratégica da nova filial no exterior.
Aurora ergueu os olhos da pasta.
— Você quer que eu trabalhe para você?
— Quero que trabalhe comigo. São seis meses na unidade de Lisboa. Você tem perfil para liderar a equipe. Inteligente, prática, detalhista… e não tem medo de me contrariar. Eu admiro isso.
Ela cruzou as pernas com elegância e fechou a pasta.
— Admiração não é suficiente para me tirar do meu próprio negócio.
— O seu negócio pode continuar funcionando com sua equipe. Você disse que são poucos, mas competentes. Pode administrar à distância.
— E por que exatamente me quer lá, Sr. Bastien?
Ele se aproximou, apoiando as mãos na mesa, inclinando-se ligeiramente.
— Porque você me intriga. E porque preciso de alguém que não me bajule. E porque... — Ele hesitou, olhando diretamente em seus olhos. — …quero te observar de perto.
Aurora riu, mas sem humor.
— Isso soa menos como uma proposta profissional e mais como uma obsessão mal disfarçada.
— Talvez seja um pouco dos dois. Mas garanto que é vantajoso para você também. Sua empresa será lançada a outro patamar. Vai conhecer outros mercados. Crescer.
Ela ficou em silêncio por um instante.
— Você está acostumado a conseguir o que quer, não está?
— Sempre.
— Então vai ser interessante ver até onde consegue ir comigo.
Noah se aproximou mais um passo, agora muito perto. O perfume dele a envolveu: notas amadeiradas e algo quente, viril.
— Você me provoca sem perceber.
— Você me irrita de propósito. — Ela sussurrou.
— E mesmo assim você veio.
Ela levantou-se de súbito, se afastando um passo.
— Porque respeito negócios. Não porque gosto de joguinhos.
— Eu também respeito negócios. Mas nunca deixo de me divertir com eles.
Aurora pegou a pasta e se dirigiu à porta.
— Vou pensar. Mas se tiver outras intenções além do profissional, a resposta é não.
— Eu posso ser muito paciente, Aurora. E melhor ainda em esconder minhas intenções... até a hora certa.
Ela lançou um olhar por cima do ombro, os olhos faiscando.
— E eu posso ser muito mais afiada do que você imagina. Cuidado para não se cortar.
Assim que ela saiu, Noah sorriu e sentou-se, tamborilando os dedos sobre a mesa.
Ela era perfeita. Forte, linda, decidida. Alvo difícil. E por isso mesmo… irresistível.
---
Mais tarde naquela noite, Aurora chegou em casa ainda com o coração acelerado. Noah mexia com ela de uma forma que ela não sabia explicar. Sentia-se viva, inquieta, desafiada. Mas também insegura.
Ela nunca teve um relacionamento. Sempre esteve focada nos estudos, depois no trabalho. E desde que perdera os pais, confiava em pouquíssimas pessoas.
E agora vinha aquele homem — aquele homem ridiculamente atraente — tentando derrubar suas muralhas.
Sentou-se no sofá e ligou para Bianca.
— Oi, sumida! — disse a amiga do outro lado da linha.
— Preciso de vinho. E conselhos. — Aurora respondeu, direta.
— Tô indo. Levo os dois.
---
Na casa de Aurora, duas taças depois...
— Você quer ele. — Bianca disse, com os olhos brilhando de empolgação. — Dá pra ver só pelo jeito que fala dele.
— Eu... não confio nele. Ele é tudo o que eu evitei a vida inteira.
— Talvez por isso você precise experimentar.
— Eu não sou um experimento, Bia.
— E ele parece um homem que experimenta devagar... — Ela riu. — Ai, amiga, só cuidado. Homens como ele sabem exatamente onde tocar sem encostar um dedo.
Aurora mordeu o lábio.
— É exatamente isso que me assusta.
Bianca a abraçou de lado.
— Então jogue com ele. Mostre que você também sabe brincar.
Aurora olhou para a pasta sobre a mesa.
Ela teria que decidir em breve. Mas já sabia, no fundo, que essa história estava só começando
O avião tocou a pista suavemente. Aurora abriu os olhos, endireitou-se na poltrona executiva e soltou um longo suspiro. Não sabia se o que pesava mais era o cansaço da viagem ou a decisão de ter aceitado a proposta de Noah Bastien.
Lisboa era linda mesmo vista de cima. O sol começava a descer no horizonte, pintando os telhados vermelhos da cidade com tons de ouro e laranja.
Um carro com motorista particular a aguardava na saída do aeroporto. Quando ela entrou, encontrou um envelope no banco.
“Apartamento 1912. Cobertura executiva. Primeiro andar reservado para escritório. O restante, para seu conforto. Sem câmeras. Sem obrigações fora do horário comercial. Mas, se quiser jantar comigo, há vinho no armário. — N.”
Aurora revirou os olhos.
— Arrogante até nos bilhetes.
Mas não conseguiu impedir o sorriso discreto que surgiu no canto da boca.
---
O apartamento era de tirar o fôlego. Amplo, moderno, com janelas do chão ao teto e uma vista espetacular da cidade. Tudo branco, cinza e madeira clara. Um luxo discreto. Ela largou as malas no quarto e foi até a cozinha. E sim — lá estava o vinho, junto com duas taças já separadas.
“Presunçoso.” Ela pensou, mas abriu mesmo assim.
Na primeira noite, decidiu descansar. Ligou para Bianca, deu notícias e garantiu que estava bem. A amiga a provocou até que ambas acabaram rindo da situação.
Na manhã seguinte, às 8h em ponto, desceu até o andar inferior, onde já havia secretárias, técnicos e gerentes reunidos.
E claro, Noah estava lá.
Impecável.
Camisa branca dobrada até os cotovelos, calça social escura e aquele ar de superioridade que parecia vir com ele desde o nascimento.
— Bom dia, Aurora. — Ele disse seu nome como se saboreasse cada sílaba.
— Sr. Bastien. — Ela respondeu seca.
— Pensei que pudesse me chamar de Noah, agora que somos colegas de equipe.
Ela cruzou os braços.
— Colegas não se chamam por apelidos. E eu gosto de manter distância profissional.
Ele inclinou a cabeça, sorrindo.
— Então vai ser uma convivência interessante.
Eles passaram o dia em reuniões. Aurora liderava as estratégias com pulso firme, surpreendendo todos ao redor. Noah assistia de longe, de braços cruzados, como quem observa uma peça rara sendo leiloada e já sabe que vai vencer o lance.
Ao fim da tarde, ele a abordou no elevador.
— Jantar?
— Não. Tenho coisas para organizar.
— A cozinha está pronta. E prometo não ser intrusivo.
Ela o olhou de cima a baixo.
— Você não sabe não ser intrusivo.
— Me dê uma chance. — Ele sorriu. — Estou tentando ser gentil.
— Está tentando me amaciar. E não funciona.
— Talvez eu esteja tentando conquistar sua curiosidade.
Ela deu um meio sorriso.
— Conquistou meu desgosto. Já é algo.
O elevador chegou. Ele segurou a porta para que ela saísse primeiro.
— Uma hora dessas, Aurora, você vai parar de me resistir.
Ela parou de costas para ele e disse:
— E você vai perceber que eu não sou uma das suas conquistas fáceis.
---
Na terceira noite, ela o encontrou na cozinha, descalço, camisa de linho meio aberta, cozinhando algo perfumado.
— Achei que estava sozinho no andar — disse, surpresa.
— A cozinha é do prédio. A comida é minha.
— Você cozinha?
— É uma das poucas coisas que faço sem planilhas. Quer provar?
Ela hesitou, depois pegou um garfo e experimentou o molho na panela.
— Está... bom.
— Só bom?
— Eu prefiro ser exigente. É um hábito.
Ele se aproximou, encostando a cintura na bancada onde ela estava.
— E o que mais você prefere? — A voz dele abaixou um tom.
Ela o olhou. Os olhos dele estavam mais escuros, intensos.
— Prefiro que respeitem meus limites.
Noah deu um passo para trás, erguendo as mãos.
— Claro. Você deixa claro onde estão.
— E você continua tentando empurrá-los.
— Admito. Mas só porque você é a primeira mulher que me olha como se não estivesse interessada.
Aurora bebeu o vinho que ele havia servido. Estava tensa. Mas não queria mostrar.
— Talvez porque eu realmente não esteja.
— Talvez. — Ele a encarou por um segundo mais longo. — Ou talvez esteja com medo de estar.
Ela se levantou, pegando a taça.
— Boa noite, Sr. Bastien.
— Boa noite, Aurora.
A tensão no ar era quase palpável. Mas nenhum dos dois recuava.
---
Nos dias que se seguiram, a convivência se tornou um jogo não declarado. Pequenos gestos, toques acidentais, provocações veladas.
Na sexta-feira, ela saiu da reunião e pegou um documento na mesma hora que ele. Suas mãos se tocaram.
Rápido.
Mas quente.
Ela não tirou a mão imediatamente. Nem ele.
— Você sente, não sente? — ele murmurou.
— Sinto o papel entre nós. — Ela retrucou, mesmo com o coração acelerado.
— E o calor da minha pele. Não mente, Aurora. Você sente também.
Ela tirou a mão devagar.
— E você continua achando que tudo gira ao seu redor. Não se cansa?
— Só quando não vale o esforço.
— E eu valeria?
Ele a olhou como se a resposta fosse óbvia.
— Você vale mais do que qualquer mulher que já conheci. E exatamente por isso... ainda estou aqui.
Aurora desviou o olhar e saiu da sala, respirando fundo.
---
Naquela noite, demorou a dormir.
O rosto dele vinha à mente. O cheiro. O toque. As palavras.
Ele era um problema.
E ao mesmo tempo, uma tentação.
Mas ela havia prometido a si mesma que não se envolveria com homens como Noah.
E agora, pela primeira vez em anos, sentia que estava começando a perder o controle que tanto prezava.
Para mais, baixe o APP de MangaToon!