Rodrigo
O som do despertador era sempre o mesmo. Seis em ponto. O ruído cortava o silêncio do apartamento como um lembrete impiedoso de que a rotina começava, mais uma vez. Rodrigo levantou-se sem reclamar. Estava acostumado. O corpo já respondia antes mesmo que ele abrisse os olhos por completo.
Chuveiro. Café preto, forte, sem açúcar. Roupas alinhadas, sempre tons escuros, blazer bem cortado sobre a camisa de algodão. Rodrigo era um homem de hábitos — e de princípios. Detetive há mais de uma década, tinha conquistado respeito não apenas pela competência, mas pela integridade.
Era sério. Mas não ríspido. Reservado, sem ser frio. Observador ao ponto de notar pequenos desvios de comportamento antes mesmo que alguém abrisse a boca. Era o tipo de homem que podia entrar em uma sala cheia e, com um único olhar, saber quem estava mentindo, quem tinha algo a esconder — e quem estava apenas tentando sobreviver.
Não sorria com facilidade. Não porque fosse infeliz, mas porque aprendera a conter emoções. A vida o ensinara que os sentimentos, se não forem domados, podem destruir até o mais forte dos homens. E ele já tinha sido destruído uma vez. Por amor. Por confiar demais.
Desde então, Rodrigo preferia o silêncio à companhia, a solitude à bagunça emocional. Tinha um pequeno apartamento no centro da cidade, nada luxuoso, mas impecavelmente organizado. Os livros estavam alinhados por ordem alfabética, as garrafas de uísque intocadas na cristaleira. Não se lembrava da última vez que alguém estivera ali além do amigo de sempre — e ocasionalmente, o cachorro do vizinho, quando este viajava.
— Vai mesmo recusar essa chance? — perguntara Bruno, seu parceiro de investigações e amigo de longas datas. — A nova geração precisa de alguém como você. Alguém que ainda tenha noção de certo e errado.
Rodrigo havia hesitado. Treinar recrutas não estava nos seus planos. Mas algo na ideia de formar novos detetives — moldar alguém para a profissão que ele tanto respeitava — o tocou.
Aceitou. E agora, uma nova turma estava prestes a começar. Ele estaria à frente do programa de formação do departamento. Seria o mentor de jovens mentes cheias de perguntas e pouca paciência. Algo em seu interior o alertava: essa turma mudará sua vida.
Mas ele não sabia como.
Ainda.
Leyla
Leyla acordou antes do sol nascer. Nunca precisou de despertador. O hábito vinha da adolescência, quando estudava e trabalhava para ajudar a mãe. Acordar cedo virou rotina. Lutar para conquistar algo, sua religião.
O pequeno apartamento que dividia com uma das amigas da faculdade era caótico, mas cheio de vida. Livros empilhados, canecas de café em lugares improváveis, quadros tortos nas paredes e post-its coloridos com frases motivacionais espalhados pelo espelho do banheiro.
Ela se olhou no reflexo: cabelo castanho ondulado, olhos intensos, olheiras suaves — presentes de noites estudando mais do que o necessário. Prendeu o cabelo num coque improvisado e sorriu de canto. A vida não tinha sido gentil com ela, mas Leyla aprendera a ser gentil consigo mesma.
Na faculdade de Ciências Criminais, foi a melhor da turma. Sagaz, rápida, perspicaz. Professores a elogiavam por seu raciocínio afiado e sua sensibilidade incomum. Leyla conseguia ler pessoas com facilidade — talvez porque tivesse passado a vida tentando decifrar as intenções por trás dos gestos dos outros.
Já havia sentido fome, medo e abandono. Já tivera portas fechadas por não ter sobrenome influente, por ser mulher, por ser jovem. Mas nenhuma dessas barreiras a deteve. Ela cresceu aprendendo que a verdade é uma arma poderosa — e que a justiça vale a briga.
Conseguiu, entre centenas de candidatos, uma vaga para estagiar no programa de formação dos detetives da cidade. Seria treinada pelos melhores. E mal podia esperar.
No entanto, naquela manhã, enquanto tomava café com as amigas, uma delas insistiu:
— Só hoje, Ley. Por favor! Uma saídinha antes do grande dia. Você precisa respirar. Relaxar. Se divertir um pouco.
— Não posso — respondeu com a voz suave, mas firme. — Amanhã começa o meu futuro.
— Uma cerveja, dois olhares e, quem sabe, um beijo... só pra quebrar a tensão? — disse Bianca, piscando.
Leyla riu, vencida. Talvez uma última noite livre fosse exatamente o que ela precisava. Só uma noite.
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Rodrigo terminou o dia no escritório assinando os relatórios do último caso encerrado. Havia silêncio no ambiente, exceto pelo som da caneta sobre o papel. Bruno entrou, como sempre sem bater.
— Vamos beber algo hoje? — perguntou com aquele tom de voz que misturava cansaço e desejo por distração. — Só nós dois. Como nos velhos tempos.
Rodrigo hesitou. Depois de tanto tempo evitando saídas noturnas, algo dentro dele — talvez uma inquietação que ele não soubesse nomear — o convenceu.
— Uma cerveja — respondeu. — Só uma.
E então, sem que soubessem, os dois caminhos começaram a se aproximar.
A noite que mudaria tudo... estava prestes a começar.
Leyla
O chuveiro quente escorria pelas costas de Leyla como uma promessa de leveza. Ela fechou os olhos por um momento, deixando que a água levasse o peso do dia — e das expectativas de amanhã. A voz de Bianca ainda ecoava na cabeça: “Você merece uma noite pra você.”
E talvez ela realmente merecesse.
Saiu enrolada na toalha, os cabelos pingando sobre os ombros. Caminhou até o quarto, ligou a caixinha de som, e uma batida suave de R&B preencheu o ar. Dançou levemente enquanto escolhia a roupa — algo que não fazia há tempos.
Escolheu uma blusa preta de um ombro só, tecido leve, que deixava a clavícula à mostra. Calça de couro justa, de cintura alta. Cinto com fivela dourada. Nos pés, salto médio — o suficiente para valorizar sua postura sem parecer que queria impressionar alguém. Prendeu o cabelo num rabo de cavalo alto e reforçou o delineado nos olhos, deixando os lábios com um brilho discreto.
Olhou-se no espelho. Era como reencontrar uma versão de si mesma que tinha guardado há muito tempo. Forte. Linda. Viva.
— Agora sim — disse, pegando a bolsa com um sorriso no canto da boca.
Rodrigo
Do outro lado da cidade, Rodrigo passava a lâmina pela mandíbula com movimentos lentos, precisos. O vapor do espelho começava a desaparecer, revelando seus olhos atentos. Ele não era vaidoso, mas cuidava de si com a mesma disciplina com que cuidava do trabalho.
Secou o rosto com a toalha, passou um perfume amadeirado discreto e vestiu uma camisa azul-marinho que realçava seus olhos castanhos claros. Dobrou as mangas até os antebraços, colocou o relógio no pulso esquerdo, jeans escuros e botas de couro. Um visual casual, mas com presença.
Bruno o esperava no carro, impaciente.
— Caramba, você parece indo pra um encontro — provocou, rindo. — Achei que fosse só uma cerveja.
— É só uma cerveja — respondeu Rodrigo, seco, enquanto trancava a porta do apartamento.
Mas algo nele sabia que não seria.
O bar
O “Alameda 88” era conhecido por sua atmosfera intimista. Luzes pendentes de tom âmbar, sofás de couro caramelo, paredes de tijolos aparentes e música ambiente que oscilava entre o soul e o jazz moderno. Era um ponto meio escondido, frequentado por adultos que buscavam mais conversa do que caos.
Leyla entrou acompanhada de duas amigas. Bianca a puxava pela mão, animada, enquanto Laura olhava o cardápio de drinks no celular. Leyla deu uma volta com os olhos pelo salão e soltou um suspiro leve, satisfeita com o clima do lugar.
Sentaram-se em uma mesa próxima ao bar. Pediram um drink colorido com frutas vermelhas, e logo estavam rindo alto de histórias da faculdade e promessas para o futuro.
Leyla jogava a cabeça para trás ao rir, genuína. Seus olhos brilhavam, e ela gesticulava com as mãos, empolgada ao contar como deu um nó no raciocínio de um professor cético durante a apresentação do TCC.
Ela estava linda. Solta. Natural.
Do outro lado do ambiente, Rodrigo e Bruno entraram e ocuparam dois bancos altos no bar. Rodrigo escolheu um canto com vista para o salão. Observava o ambiente em silêncio, bebendo uísque puro com gelo, enquanto Bruno falava sobre o novo caso que pegaram no início da semana e a colega estagiária com quem ele “talvez já estivesse flertando demais”.
— Vai ser um caos essa nova turma — murmurou Rodrigo.
— Vai ser divertido — rebateu Bruno. — Aposto que pelo menos uma das recrutas vai fazer seu gelo derreter. Você anda frio demais.
Rodrigo ignorou o comentário. Estava distraído com uma risada ao fundo. Era diferente. Musical, clara, envolvente.
Seus olhos se voltaram para a origem do som.
E lá estava ela.
De costas, cabelos presos em um rabo de cavalo elegante, blusa preta que deixava o ombro nu. A pele morena suavemente iluminada pelas luzes âmbar do bar. Ela gesticulava ao falar, encantando as duas amigas que riam junto.
Rodrigo observou por um tempo maior do que pretendia.
— Conhece? — perguntou Bruno, percebendo.
— Não — respondeu Rodrigo. — Ainda não.
Ele desviou o olhar, mas algo nele já sabia que aquela mulher, de alguma forma, atravessaria a linha que ele traçou com tanto rigor nos últimos anos.
Leyla, ainda sem notar o olhar que a perseguia à distância, bebia mais um gole do drink. Sentia uma leve tontura boa — não do álcool, mas da liberdade. Pela primeira vez em muito tempo, ela se sentia leve. A noite estava apenas começando, e a sensação de que algo diferente estava prestes a acontecer começava a roçar sua pele como um vento estranho.
No fundo, ela sabia.
Algumas noites mudam tudo.
Leyla girava a taça em movimentos suaves, observando o brilho âmbar do líquido enquanto uma música dançava pelo ambiente, envolvente, quase hipnótica. O bar estava cheio, mas não lotado. Havia espaço suficiente para respirar, mas não o bastante para se sentir invisível. Era o tipo de lugar em que as pessoas vinham para viver histórias, mesmo que por algumas horas. Era elegante, aconchegante, com luzes amareladas pendendo do teto em fios longos, criando um clima que parecia tirado de um filme noir.
Os olhos — delineados com precisão — exploravam o ambiente com aquela expressão de quem enxerga além do óbvio. Era bonita, mas não era só isso. Havia algo nela que chamava atenção antes mesmo que alguém notasse seu rosto. Um tipo de presença firme, segura, difícil de descrever.
Leyla não queria estar ali. Mas cedeu ao apelo das amigas. “Só hoje, Ley. Amanhã começa sua nova fase, você merece isso.” E aqui estava ela. Rindo com duas delas, mas olhando ao redor com certo distanciamento, como quem observa a vida de longe.
Do outro lado do bar, Rodrigo ajustava os punhos da camisa branca, já dobrada até os cotovelos, revelando antebraços fortes e tatuados. Estava com o parceiro de sempre — Leo, o mulherengo incorrigível que achava que toda noite era uma nova oportunidade de cometer os mesmos erros com mais estilo. Rodrigo, por outro lado, só queria um bom whisky e silêncio. Ou, no máximo, uma conversa inteligente.
— Você precisa relaxar, irmão. Olha esse lugar. Você tá com cara de quem veio interrogar alguém. — Leo riu, levantando a garrafa em direção a uma dupla de mulheres próximas. Rodrigo apenas suspirou.
— Relaxar não significa virar piada. — respondeu, com um meio sorriso que quase ninguém notava, mas que dizia muito sobre ele.
Ele encostou no balcão e pediu outro whisky. Enquanto esperava, seus olhos foram atraídos por um detalhe: uma mulher girando sua taça de vinho de forma hipnótica. Ela não estava tentando ser notada, e talvez por isso fosse impossível ignorá-la.
Leyla ergueu o olhar por instinto, sentindo algo. E o encontrou. Um homem de postura firme, olhar sério, mas não arrogante. Forte, discreto, com algo no semblante que dizia “não me aproxime” e ao mesmo tempo, “tente me decifrar”. Ela arqueou uma sobrancelha, num gesto involuntário.
Rodrigo desviou os olhos por um segundo, depois voltou a encará-la. Aquela troca durou pouco — dois, talvez três segundos — mas teve mais intensidade do que qualquer conversa naquela noite.
— Não olha agora, mas o James Bond tá te encarando. — disse uma das amigas de Leyla, provocando risos. Ela riu também, mas sem tirar os olhos dele. Foi então que decidiu levantar para ir ao banheiro. Nada demais. Apenas se mover um pouco. Mas sabia, no fundo, que estava convidando o acaso a brincar.
Rodrigo, sem saber por quê, também se moveu. Pegou a bebida e foi até uma das poltronas próximas à entrada dos lavabos, onde o som era mais suave. Precisava de um momento só. Mas quando ela passou, o perfume a invadiu. E o olhar se cruzou outra vez.
— Parece que escolhemos a mesma trilha de fuga. — disse ela, com um meio sorriso.
Rodrigo encarou por um segundo, tentando entender se aquilo era uma provocação ou apenas casualidade.
— Ou a mesma necessidade de silêncio. — respondeu.
— Nem sempre o barulho vem do som. — ela completou, já indo em direção à porta. Mas antes de entrar, olhou por cima do ombro. Ele ainda a observava.
E ali, naquele olhar silencioso e sem compromisso, havia o primeiro flerte. Não intencional. Não planejado. Apenas... orgânico. Como tudo que realmente vale a pena ser vivido.
Leyla retornou ao bar com o andar seguro de quem não se deixa intimidar por nada. O sorriso ainda brincava em seus lábios, e os olhos brilhavam com a leveza de quem havia se permitido respirar por alguns instantes fora da rotina. Assim que adentrou o salão, foi recebida pelas amigas com uma enxurrada de comentários e perguntas, mas ela apenas sorriu, misteriosa, enquanto buscava, sem querer admitir, o olhar do estranho de olhos castanhos que havia cruzado o seu minutos antes.
Rodrigo a viu antes que ela o notasse. Estava encostado no balcão, segurando um copo de uísque com a mesma firmeza com que mantinha seus princípios. Só que, pela primeira vez em muito tempo, sentia esses mesmos princípios vacilarem. Havia algo naquela mulher... não era só beleza. Era postura. Era o olhar. Era o jeito como ela ocupava o espaço sem pedir permissão.
Ela não se encaixava no padrão das mulheres que cruzavam aquele bar — muito menos no perfil das que se deixavam levar por flertes rasos. Rodrigo sentiu isso instintivamente.
Tomou um gole da bebida e passou os olhos por ela com mais atenção. A forma como ela falava com as amigas, os gestos expressivos, a risada levemente rouca que escapava vez ou outra. Inteligente. Espontânea. Ousada.
“Definitivamente, o tipo que me instiga”, pensou, e o pensamento foi tão claro e direto que o fez sorrir sozinho. Há quanto tempo não sentia aquilo? O arrepio na espinha, a curiosidade viva, o desejo genuíno de conhecer — não só o corpo, mas o que havia por trás daquele olhar?
Ele havia se blindado por tanto tempo, mantendo tudo sob controle, que aquela pequena desordem interna parecia quase deliciosa. E por mais que sua mente gritasse para manter distância — afinal, estava ali para relaxar, e no dia seguinte teria que se apresentar como orientador de novos recrutas — algo nele dizia que aquela noite poderia ser diferente.
Mas não seria fácil. Ele sabia disso. Aquela mulher não era do tipo que se ganhava com frases prontas ou olhares intensos. Teria que conquistá-la. Provocar sua mente antes de tentar alcançar sua pele.
Rodrigo se endireitou, observando o movimento ao redor. Ela estava de costas para ele, mas ele sentia sua presença como se ela ocupasse cada centímetro daquele ambiente.
— Certo... — murmurou para si mesmo, com um sorriso enviesado. — Vamos ver até onde isso vai.
Ele deixou o copo no balcão e deu o primeiro passo em direção à imprevisibilidade daquela noite.
Rodrigo se aproximou devagar, sem pressa. Não era do tipo impulsivo. Gostava de observar antes de agir. Mas havia algo quase magnético naquela mulher — algo que o fez cruzar o salão com passos decididos, como se aquela fosse uma daquelas raras situações em que o instinto falava mais alto do que qualquer código de conduta.
Leyla ainda estava rindo de algo que uma das amigas dissera quando sentiu o peso de um olhar queimando em sua nuca. Virou-se com naturalidade e o viu. Ele caminhava na direção dela, os ombros largos e a postura firme como um predador que não precisava correr para alcançar sua presa.
Ela ergueu uma sobrancelha, curiosa.
— Espero que você não tenha voltado só por causa do meu olhar insistente, — disse ela, provocando, assim que ele se aproximou.
Rodrigo sorriu, surpreso pela audácia.
— Eu diria que o olhar foi um convite. Mas... o jeito como você voltou, como se não devesse nada a ninguém, isso sim me trouxe de volta.
Ela mordeu o canto do lábio, divertindo-se. O olhar dele era intenso, mas havia respeito ali. Interesse genuíno. Isso a fez relaxar.
— E o que te faz pensar que eu estou interessada em continuar essa conversa?
— Nada, — ele respondeu, com um meio sorriso. — Mas algo me diz que você é do tipo que gosta de saber com quem está lidando antes de descartar. Estou certo?
Ela cruzou os braços, intrigada, inclinando levemente a cabeça.
— Rodrigo.
— Leyla.
Os nomes saíram juntos, quase como um pacto não verbal de que, dali em diante, ambos sabiam que estavam cruzando uma linha invisível.
— Um nome forte, Leyla. Diferente. Assim como você.
— E você, Rodrigo... Tem cara de quem gosta de ter tudo sob controle. Mas está claramente fora da zona de conforto.
Ele riu, surpreso mais uma vez.
— É perceptível assim?
— Para quem sabe observar, sim. — Ela deu um passo sutil para o lado, como se estivesse testando os limites do espaço entre eles. — Mas eu gosto disso.
— De quê?
— De ver alguém tão no controle... perdendo um pouco o equilíbrio.
Rodrigo a olhou fixamente. Ela estava o provocando com cada palavra, cada gesto, e ao mesmo tempo parecia nem perceber o poder que exercia. Aquilo era fascinante.
— Você é perigosa, Leyla.
— E você parece o tipo que gosta de viver perigosamente, mesmo que tente negar.
Havia algo quase elétrico no ar. Eles não estavam encostados, mas a tensão era palpável. Um jogo silencioso se desenrolava entre olhares e sorrisos enviesados.
Rodrigo estendeu a mão.
— Me concede uma dança?
Ela olhou para a pista, depois para ele, e assentiu, aceitando.
Enquanto caminhavam em direção ao centro do bar, a música mudava para algo mais lento, envolvente. Os dedos dele tocaram a cintura dela com firmeza, mas sem invadir. O toque foi o suficiente para arrepiar a pele de Leyla sob o tecido do vestido.
E então dançaram. Sem palavras por alguns minutos. Apenas corpos em sintonia, como se se conhecessem há anos.
Rodrigo pensava que havia tempo que não se deixava levar assim. Que talvez, só por aquela noite, ele pudesse abrir uma exceção às regras. Ela valia o risco.
Leyla, por outro lado, sentia que algo naquela presença a acalmava e desafiava ao mesmo tempo. E mesmo sem saber seu sobrenome, profissão ou qualquer detalhe, sabia que aquele homem misterioso acabaria marcando sua história de um jeito que ela não poderia prever.
E a noite... estava apenas começando.
A música seguia num ritmo lento e hipnotizante, como se conspirasse com o desejo crescente entre eles. O corpo de Leyla se encaixava ao de Rodrigo com uma naturalidade desconcertante, e os olhos de ambos se mantinham conectados, como se o mundo ao redor tivesse se dissolvido.
Rodrigo deslizou os dedos pelas costas dela, sentindo cada curva, cada arrepio. A roupa leve denunciava o calor da pele que parecia implorar por mais contato. Ela aproximou o rosto do dele, os lábios perigosamente próximos ao ouvido.
— Você sempre dança assim... ou é só comigo?
A voz de Leyla era um sussurro carregado de intenção, e Rodrigo sentiu o efeito imediato daquele timbre rouco e provocante.
— Só com quem me tira o ar, — ele respondeu, virando o rosto lentamente até que os lábios quase roçaram os dela.
Ela mordeu o canto do lábio, os olhos brilhando de ousadia.
— Então respira fundo... porque eu ainda nem comecei.
O sorriso que se formou nos lábios dele era puro desafio. Rodrigo sabia que estava entrando num território sem volta — e queria cada segundo daquilo.
— Vamos sair daqui?
A pergunta pairou entre eles com o mesmo peso da tensão que vibrava no ar. Leyla o olhou nos olhos, séria por um instante, como se calculasse o risco... e decidiu se jogar.
— Meu apartamento fica aqui perto. Se estiver pronto para esquecer do mundo por uma noite, vem comigo.
Rodrigo assentiu.
O apartamento estava silencioso, mas o ar entre eles fervia. Assim que Leyla fechou a porta, Rodrigo se encostou suavemente contra ela, com as mãos ao lado de seu rosto, dominando o espaço, mas sem tocá-la — ainda. Os olhos dele percorriam cada traço do rosto dela, como se memorizassem. Leyla não desviava o olhar. Sentia-se desafiada… e excitada.
Ele abaixou o rosto até perto da boca dela, e perguntou num tom grave, carregado de desejo:
— Você gosta de ser dominada?
Leyla mordeu o lábio inferior devagar, mantendo os olhos cravados nos dele. Havia algo felino em seu olhar. Uma mistura perfeita de provocação e entrega.
— Gosto… — disse, sua voz baixa, sedosa. — mas também gosto de dominar!
Fez uma pausa e, com um sorriso enviesado, acrescentou:
— Só que hoje… estou disposta a fazer tudo o que você mandar.
Rodrigo sorriu. Um sorriso cheio de intenção.
— Então tire a roupa. Devagar. Quero ver você se despir pra mim.
Ela obedeceu. Começou pelo zíper lateral do vestido, deixando-o escorregar pelos ombros até cair aos pés. O tecido deslizou pela pele como se tivesse sido feito para aquilo. Rodrigo deu um passo atrás para apreciar. Por baixo, Leyla usava uma lingerie preta rendada que moldava seu corpo como uma obra de arte.
— Isso é quase criminoso. — ele sussurrou, se aproximando, os dedos roçando na pele nua da cintura dela. — Você é um perigo que vale a pena correr.
Leyla se aproximou até que seus corpos se tocassem por completo, sentindo o volume sob a calça dele pressionar sua barriga.
— Então corre o risco, Mas corre direito...
Rodrigo não precisou de mais incentivo. Segurou-a pela nuca e a beijou com uma intensidade que arrancou um gemido abafado de Leyla. As mãos dele exploravam, deslizavam por cada curva do corpo dela com fome e reverência. Ele a ergueu com firmeza, fazendo-a envolver as pernas ao redor de sua cintura, e a levou até o sofá.
A deitou com cuidado, mas seus olhos diziam outra coisa: ele estava no controle agora.
Rodrigo ajoelhou-se entre as pernas dela e beijou sua barriga, desceu devagar, mordendo de leve o interior das coxas, até a borda da calcinha. Leyla arqueou o corpo, as mãos cravadas na almofada.
Ele a provocou, a língua brincando por cima do tecido rendado, depois puxando-o com os dentes, sem quebrar o contato visual.
— Não fecha as pernas pra mim. Nunca. — ele ordenou, voz baixa e firme.
Leyla obedeceu, arfando. Rodrigo então mergulhou entre suas pernas com maestria. A língua dele traçava caminhos firmes e suaves, alternando movimentos lentos e rápidos, intensos e circulares. Leyla gemia alto, o corpo se contorcendo sob os cuidados de um homem que parecia saber exatamente como levá-la à beira.
Ele a segurava pelas coxas, firme, mantendo-a aberta, vulnerável e completamente entregue. Quando os dedos dele a penetraram junto com a língua, ela explodiu, gritando o nome dele, que já queimava nela como se o conhecesse há muito tempo.
Rodrigo subiu o corpo sobre o dela, beijando-a com os lábios ainda molhados de seu prazer. Leyla o puxou para mais perto, e disse entre respirações irregulares:
— Me fode como se essa fosse a última noite da sua vida...
Ele riu, rouco, tirando a camisa com um só movimento. O abdômen definido, os ombros largos e braços fortes fizeram Leyla morder o lábio, admirada.
— Essa noite — ele murmurou ao pé do ouvido dela, enquanto descia a calça e a cueca — vai ser sua perdição.
Ela o sentiu se encaixar entre suas pernas e, antes de penetrá-la, Rodrigo segurou seu queixo e a fez olhar em seus olhos:
— Quero que você me sinta por horas. Que amanhã acorde com meu gosto na sua pele. Está pronta?
Leyla sorriu, ofegante, os olhos faiscando:
— Eu nasci pronta.
E então ele a possuiu com força, com ritmo, com desejo acumulado. Cada investida era um encontro brutal de vontades, os corpos chocando-se num embate de prazer e provocação. Gemidos preenchiam o quarto, os nomes trocados entre beijos e palavras sujas, mãos explorando, unhas cravando, dentes mordendo.
Era mais que sexo. Era desejo puro, cru, sem filtros.
Quando o clímax os atingiu juntos, era como se estivessem no centro de um incêndio. E nenhum dos dois queria apagar as chamas.
O sono não veio. Não naquela noite.
Depois do primeiro clímax, Leyla se deixou ficar deitada com ele no sofá por alguns minutos, o corpo ainda trêmulo, o peito subindo e descendo devagar. Rodrigo, por sua vez, a observava como quem contempla um incêndio: fascinado com a destruição e hipnotizado pela beleza do caos.
Mas a calmaria não durou.
Ele começou a beijá-la novamente, dessa vez com um toque mais lento, provocante. As mãos passeavam pela pele com a confiança de quem já conhecia cada curva, mas a fome de quem ainda queria desvendar todas as camadas.
Leyla sorriu contra a boca dele.
— De novo?
— Quantas vezes seu corpo aguentar — ele respondeu, e a virou de bruços.
Ela arqueou as costas, sentindo o toque quente das mãos dele deslizarem por suas costas até os quadris. Rodrigo a segurou com firmeza, beijando cada vértebra até o cóccix, e então desceu novamente com a boca entre suas pernas, fazendo-a estremecer.
— Você tem gosto de vício — murmurou contra a pele molhada dela. — E eu não sou do tipo que larga fácil.
Leyla respondeu com um gemido grave, perdendo-se novamente na dança que ele conduzia. As horas seguintes foram um desfile de sensações. Fizeram amor contra a parede, na bancada da cozinha, e até no chão do corredor, entre beijos urgentes e sorrisos cúmplices. Ele a segurava pelos pulsos quando queria o controle, mas a deixava montar nele com uma expressão devota quando ela assumia o comando. Eram dois corpos em sincronia, jogando um jogo onde não havia vencedores, apenas prazer.
Por fim, já com os primeiros sinais da madrugada tingindo o céu de azul-acinzentado, Leyla se encolheu contra o peito dele, no colchão bagunçado que haviam puxado da cama para a sala. O silêncio entre eles não era desconfortável — era carregado. Cheio de uma tensão quase agridoce, como se soubessem que aquilo tinha hora pra acabar.
Rodrigo olhou o relógio no celular, e soltou um suspiro leve.
— Preciso ir… tenho um compromisso cedo. Daqueles que não dá pra adiar.
Enquanto ele se vestia, ela se levantou e pegou o celular, já sentindo aquela estranha pontada no peito — o tipo que acontece quando se sabe que algo foi intenso demais pra ser apenas uma noite.
— Toma, disse, entregando o celular desbloqueado pra ele. — Digita seu número aí. Assim, se você sumir, eu tenho onde cobrar.
Ele deu um sorriso de canto, aceitando.
— Só se você prometer não me esquecer.
— Isso seria impossível — respondeu Leyla, com aquele brilho desafiador nos olhos.
Rodrigo digitou o número e, antes de salvar o contato, olhou para ela por cima da tela.
— Posso salvar como quiser?
— Vai depender da criatividade.
Ele escreveu e mostrou:
"– Perdição"
Ela riu, divertida, e pegou o celular Dele.
— Então, justiça seja feita.
Digitou e mostrou a tela:
" – Tentação"
O riso dele foi baixo, rouco. Tinha algo de verdadeiro naquele momento, como se mesmo sem saber das vidas um do outro, eles tivessem se marcado de um jeito que ia demorar a desaparecer.
Ele se aproximou, segurou o rosto dela com as duas mãos e deu um beijo lento e cheio de promessa. Não era um adeus. Era um “até”.
— Espero que a vida seja boa o suficiente pra me colocar de novo no seu caminho — murmurou, ainda próximo.
— Ou cruel o bastante pra nos forçar a repetir essa loucura — provocou ela, sorrindo.
Rodrigo saiu em seguida, deixando apenas o cheiro no ar, os lençóis desfeitos e a certeza mútua de que aquela noite não ia acabar ali.
Leyla ficou parada por um tempo, encarando a porta fechada. Tocou os lábios, ainda sensíveis do último beijo, e suspirou.
Ela sabia o nome dele.
Ele sabia o dela.
Mas nenhum dos dois fazia ideia de que o destino as vezes é mais cruel do que se pode imaginar.
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