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Crônicas de um Pirata

Capítulo 1

                          CRÔNICAS DE PIRATA

                                PRÓLOGO

Antes de começar essa história, sinto que eu deveria lhes deixar alguns avisos. E é claro, as regras.

Para ler este diário precisa saber que isso é sobre a minha vida. Cada página deste caderno lhes contará a minha jornada como o tirano dos mares, um pirata temido por todo o mundo.

Certo, agora que você sabe disso, vamos para as regras.

Número 1. Seja forte

Número 2. Não confie em ninguém

Número 3. Não seja covarde, não temos espaço para medrosos aqui

Número 4. Tenha dinheiro para um psicólogo, você vai precisar

Número 5. Não percam seu tempo tentando entender minha cabeça.

Por último, eu tenho apenas um aviso. Você vai chorar.

Mais uma coisa, família não serve para nada. É uma mentira, não acredite em nenhuma palavra que sai da boca dessas pessoas, elas só querem o seu mau. Eles mentem pra você.

                    “O mundo é um lugar cruel.

                   quando menos esperar,

             as pessoas quem tu mais ama

                 darão-lhe as costas no momento mais

                               necessário.”

                                Capítulo 1

               Começando do começo. Prazer em lhe conhecer,

Eu me chamo Thomas Ékils. Essa é a história da minha vida e de como me tornei o maior vilão do mundo.

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----Dia 01\, 12

Hoje será um dia bom. É meu aniversário, estou completando oito anos. Minha família e meus amigos farão uma festa para mim esta noite. Será na praia, minha família é bem humilde, não temos muito dinheiro, então essa será minha primeira festa.

  Para ser sincero, estou muito animado para hoje à noite. Para alguém como eu, uma festa é motivo de grande felicidade. Eu gosto da minha vida, apesar de eu viver apenas como um plebeu. Não possuímos nada de grande valor.

    Bem, mais ou menos, acho que sabedoria e um bom coração são a verdadeira riqueza, eu gosto muito de ajudar as pessoas. E sempre leio quando posso, mas nem sempre tenho tempo para isso. Já que estou constantemente ajudando meus pais a ganhar dinheiro.

        Sou apenas uma criança, mas se eu quiser comer algo “bom” preciso ajudar meus pais. Três pessoas, três salários. Nosso reino é meio pobre de qualquer forma. Dizem que o rei guarda a maior parte do dinheiro para ele e sua família enquanto se chama de bom rei. É triste pensar que ele não se importa muito com seu povo.

- Bom dia Thomas! – Ouvi uma voz familiar me chamar. –

     É claro, Mary. Minha melhor amiga desde os quatro anos.

- Mary\, bom dia!

- Feliz aniversário\, Thom!

- Obrigado.

- Está animado?

- Sim\, muito animado. Essa é a minha primeira festa\, Mary.

- Haha. Estou feliz que você esteja tão feliz com isso. Vem aqui. Olha! – Falou ao abrir suas mãos cheias de moedas de prata. – Eu guardei todas as minhas moedas para comprar um presente! O que você quer?

Uou…

- M-mary...Não precisava fazer isso. Por favor\, não gaste seu dinheiro comigo!

- Ora\, não seja bobo. Vamos! Eu quero comprar algo legal para você.

   Acho que não tenho escolha.

      Gosto bastante de ir ao vilarejo, o padeiro Roberto prepara os melhores tipos de comida. O ferreiro é muito gentil e sempre nos pergunta se estamos bem. Muitos moradores compram as madeiras que vendo junto com meu pai. Eu sei que eles não precisam disso, mas sempre nos ajudam e até dão mais do que o necessário.

      A vida de um plebeu é bem chata e sem graça, não vou mentir. Mas sendo pobre, eu entendo o valor de outras coisas fora o dinheiro. Nós aprendemos a valorizar o sentimento e os pequenos momentos da nossa vida miserável. Como temos pouco dinheiro e todos aqui passam por necessidade, nós damos mais atenção para as amizades e o amor.

       Eu nunca vi alguém de classe baixa chegar ao topo. Eu serei o primeiro a conquistar a glória para essas pessoas, eu juro. Pretendo arrumar um bom emprego no futuro, e então ficarei rico.

  Trabalharei todos os dias até me tornar um homem de respeito e comprar um grande território. Se eu pudesse bater de frente com esse rei de merda, não entendo como alguém consegue manter toda a riqueza para si enquanto seu povo sofre.

   Minha mãe diz que muitas pessoas morrem de fome pela falta de dinheiro. Isso é triste, porém, creio que não será dessa forma para sempre.

- Thomas\, eu quero que você escolha algo que você gosta aqui.

- Mas...Mary\, não é certo que eu compre algo com seu dinheiro. Você trabalhou duro para guardar tudo isso\, não é?

- Está correto. Porém\, guardei este dinheiro para você\, não para mim. Use-o e compre algo.

- ....Obrigado.

        Fico feliz que Mary tenha guardado tudo isso só para o meu aniversário. Não é uma data tão importante assim, ainda assim, estou profundamente grato por tal ato.

     O vilarejo não é um lugar muito grande, então não demoramos para chegar na loja de artefatos perdidos. Eu nunca vi nada muito caro aqui. Digo, as pessoas dizem que esses objetos não são tão preciosos, por este motivo não cobram muito neles.

- Nossa...esse lugar é lindo.

- Com certeza. – Concordou. – E então? Escolha o que quiser.

- Certo.

      Ao andar pela loja, notei que haviam itens extremamente bonitos. Dizem que tudo que é vendido aqui foi achado nas praias ou durante um mergulho no mar. Ao observar tudo ali atentamente, meus olhos se prenderam em uma bússola dourada muito bonita. Havia uma corrente pendurada no pequeno artefato, como um colar.

- Que linda... – Eu não conseguia tirar meus olhos dela. Era magnífica. –

- É essa? Pode pegar\, eu vou pagar o vendedor. Moço!

- Sim? Como posso lhes ajudar\, crianças?

- Quanto custa essa bússola? – Mary perguntou com um sorriso genuíno em seu rosto. –

- Cinquenta moedas de prata.

- ....Tudo isso? Eu só tenho trinta. Não pode aceitar essa quantia? Por favor?

- Desculpe garota\, não é assim que funciona.

- Mas...é aniversário dele! Por favor? Juro que voltarei para lhe pagar o restante.

- ....Okay. Certo\, vocês venceram. Feliz aniversário garoto. – O homem falou ao bagunçar meus cabelos. – Não precisa me pagar o restante.

- Obrigado! – Não pude esconder minha felicidade ao sair dali com algo tão especial. –

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        Como eu havia dito, hoje está sendo um dia perfeito. Essa bússola, ela é tão bonita. É impossível parar de olhar para ela. É diferente de tudo que já vi. Havia um símbolo de caveira e duas espadas atrás em formato de ‘X’.

      Eu amo passar tempo com a Mary, ela é minha melhor amiga afinal. Mas ela precisava voltar para casa.

Capítulo 2

Nos veríamos de novo mais tarde durante a minha festa.

Não queria voltar ainda, então decidi andar mais um pouco. Até que tive tempo para fazer muitas coisas, comi na padaria do senhor Roberto de graça, ajudei uma senhora de idade a voltar para casa, brinquei com algumas crianças, conversei com o ferreiro e o ajudei em troca de cinquenta moedas de prata.

Queria ter voltado para casa mais cedo, mas minha curiosidade falou mais alto, a bússola que Mary comprou para mim girava muito rápido, até parar em uma direção.

Precisava seguir aquela seta. Desculpe mamãe, não posso dar as costas para uma aventura.

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Nunca tinha visto uma bússola antes, nunca cheguei sequer a tocar em uma, estava feliz em ter a minha própria mão neste momento.

Segui o caminho que o pequeno objeto me direcionava, estava cada vez mais distante do vilarejo, mas não importa. Só quero saber para onde estou indo. Será que estou prestes a encontrar um tesouro perdido? Ou talvez eu só esteja empolgado demais.

Ainda assim, seria muito legal encontrar um baú cheio de ouro e jóias valiosas. Eu com certeza as usaria para ajudar todos os meus amigos, minha família e o vilarejo.

Talvez eu tenha andado mais do que deveria. Enquanto seguia a seta, notei uma casa parada no meio do nada em uma pequena montanha. Eu sei que não deveria, mas vou arriscar.

Bati na porta, a fim de saber se havia alguém em casa.

- Olá? Estás em casa? – Esperei pela resposta, mas não obtive nada em troca de minha pergunta. – Parece que não....desculpe, desconhecido, minha bússola quer que eu entre.

Para a minha surpresa a porta já estava aberta. Pelo visto não será tão difícil quanto achei que seria.

- Eh? Por que está apontando para um baú sujo?

Provavelmente esse homem é tão pobre que nem conseguiu uma casa no vilarejo. – Não que eu seja rico, mas essa pessoas parece estar mais miserável que eu. –

Abri o baú, estava cheio de papéis enrolados, outros soltos e BEM amassados. Haviam pequenos objetos. Meus olhos exploravam cada canto da caixa, até parar em um cordão, o símbolo era idêntico ao de minha bússola.

E novamente, a curiosidade falou mais alto, o peguei em minhas mão, queria olhar mais de perto. Bem, não estou roubando então não é errado.

Claro, talvez seja de muito mau caráter entrar na casa de uma pessoa sem a permissão dela.

Porém, a culpa não é minha que a porta estava aberta, e não é minha culpa que a seta apontou para esta casa.

Não está pensando em roubar isso, está? – Congelei ao ouvir uma voz masculina. Era uma voz áspera e grossa, falava comigo após entrar na casa. –

- ...N-não. – Falei ao me virar devagar para encará-lo.

- É mesmo? O que faz aqui, garoto?

- D-desculpe senhor. – Está bem, acho que me dei mau em inúmeras formas diferentes. Minha mão vai me matar. – É-é que...minha bússola apontou para sua casa, e eu segui.

- Sua bússola? Deixe-me ver.

- C-claro. – Eu estaria mentindo se dissesse que não estava morrendo de medo. Aquele homem parecia um monstro e era extremamente alto.

- Humm. Pegou o cordão por isso?

- ....S-sim. Perdão senhor, eu estava curioso.

- Onde conseguiu essa bússola, garoto?

- E-eu ganhei. Minha amiga me deu de presente, é...é meu aniversário.

- Oh? Então não veio roubar?

- Não. – Nem tem nada de valor nessa casa para alguém querer roubar. Você é mais pobre que eu, é mais fácil você me roubar do que eu fazer isso contigo. – Não sou ladrão, senhor. Só vim até aqui por curiosidade, Nada a mais.

- Entendo. Então você não é um ratinho imundo que rouba dos outros.

- Com todo respeito, senhor. Você parece muito mais pobre que eu, e eu sou muito, MUITO pobre. Não tem nada na sua casa que valha a pena roubar.

- Ah sim. Você está certo. Então é seu aniversário? Parabéns garoto. Como se chama?

- Thomas. Thomas Ékils. – Como é possível perder o medo em uma velocidade como essa? Sou mais estranho do que pensei que fosse.

- É....

- Aceita um chá?

- Eh?

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Acho que o julguei mal. Apesar de ter uma aparência de dar medo e uma voz de demônio, ele é um cara legal e faz um ótimo chá. Estou gostando de conversar com ele, é um homem gentil.

- Então você gosta de ler? – Perguntou. –

- Sim! Amo buscar conhecimento. Quero ser um homem rico no futuro, sabe? Para alcançar esse objetivo preciso ser inteligente, ter honra para conquistar a glória.

- Você é sábio para alguém da sua idade, garoto.

- Obrigado. Aliás, o chá está ótimo.

- Sinto-me satisfeito em saber, que seja do seu gosto.

Que cara simpático. Ele me parece familiar, talvez eu tenha visto ele em algum lugar pelo vilarejo. Não me lembro.

- Você falou que era seu aniversário, estou correto?

- Sim. Está correto.

- Nos conhecemos hoje e já tenho a certeza que você será grande, Thomas. Você tem capacidade para mais do que imagina. Feliz aniversário, leve isto contigo quando voltar para casa. – Falou ao me entregar o cordão. –

- ....Obrigado. – Sorri para tal ato. Estava tranquilo ao conversar com ele, até eu olhar para a janela e ver que o sol já estava se pondo, eu precisava ir. - Eh?! Desculpe, senhor, eu preciso ir!

- Certo. Divirta-se na sua festa, garoto.

- Obrigado.

Retirei-me do local na correria, o mais rápido que consegui, quanto mais rápido melhor. Meus pais devem estar preocupados comigo. Mesmo que eu esteja encrencado com esta situação, não me arrependo do que fiz. E ainda ganhei um presente, aquela pessoa é muito gentil.

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- MAMA! CHEGUEI!

- Não grite, querido. Onde você estava? Mamãe estava preocupada.

- Eu estava....com o senhor Roberto. Ele fez um bolo para mim, então fiquei lá para agradecer e conversar com ele. – Claro que é mentira. Como vou explicar para minha mãe que eu invadi uma casa, bebi o chá que um homem desconhecido fez para mim e ainda ganhei um presente dele?! –

- Oh, entendo. O velho Roberto é de fato um homem muito gentil, agradeceu ele?

- Sim, mamãe. Eu agradeci. —Ah, se ela soubesse que eu estava na casa de um desconhecido suspeito...eu estaria morto. —

- Vá se arrumar, Thomas. Sua festa será daqui a uma hora. – Disse meu pai ao se aproximar. –

- Está bem. Estarei pronto em alguns minutos.

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Tomei um banho bem rápido. A água era gelada, então nunca ficava debaixo do cano por pouco tempo. Na realidade, eu amo a água.

Sinto uma conexão com esse elemento maravilhoso, é o tesouro mais precioso do mundo. Sem água não existe vida.

- Estou pronto. – Falei enquanto olhava-me no espelho. Até que estou bem arrumado para um simples plebeu.

- Está lindo, meu amor. – Disse minha mãe ao beijar minha bochecha. –

- Obrigado mamãe.

- Hoje é um dia especial, meu filho. Feliz aniversário.

- Obrigado pai.

Fico feliz que eles estejam felizes por mim. Estou profundamente grato, é bom saber que se importam comigo para gastarem tanto dinheiro apenas para fazer uma festa para mim.

Talvez a vida não seja tão cruel afinal.

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Eu me diverti conversando e brincando com meus pais enquanto caminhávamos até a praia.

Confio neles, mas não me atreveria a falar sobre o cordão. É algo que prefiro guardar apenas para mim. Você entende, não é caro leitor? Não estou afim de explicar como consegui algo de valor tão alto e muito menos que invadi uma casa.

Esse será meu segredo. Obscuro? Talvez, mas não importa. Não é como se eles fossem saber disso. E o dono daquela casa me recebeu muito bem, então tecnicamente não foi um ato TÃO ruim quanto parece.

- Aqui estamos.

- Aproveite sua festa. Sua mãe e eu fizemos isso para você.

- Certo. Muito obrigado.

- Thomas, feliz aniversário!

- Obrigado Eida. – Eida também é um amigo muito querido para mim. Nossas mãe são amigas de infância, então o conheço desde bebê. –

- Ei, eu trouxe um presente para ti. Venha cá. — O segui até as árvores, afastado do restante. —

- E o que seria?

- Onde conseguiu isso?! – Perguntei incrédulo ao ver meu amigo retirar uma adaga de ferro, era brilhante, o cabo rodeado de joias e uma esmeralda ao meio as adaga. –

- Não faça perguntas, aceite o presente. Você vai precisar. – Falou seriamente. –

Ele não está errado, é um presente muito bonito se me permite dizer. Mas isso deve ter custado muito dinheiro. Apenas os nobres possuem acesso a algo tão lindo assim.

Peguei a adaga de suas mãos, colocando-a em meu bolso por dentro do meu casaco. É maravilhosa, devo guardá-la com cuidado. Qualquer um roubaria de mim.

- Obrigado.

- Por nada.

Capítulo 3

Essa noite tinha tudo para ser o momento mais feliz em minha vida, confesso que eu estava me divertindo bastante com meus amigos. Eu estava alegre como nunca.

Estava tudo ocorrendo bem, como eu queria.

No momento em que eu menos esperava, meus pais se aproximaram de mim. Assim como os pais da Mary pegaram sua filha no colo, os meus fizeram o mesmo comigo.

- Sinto muito, meu filho. Quero que saiba que seu pai e eu te amamos muito! Você é nosso maior presente, mas isso é necessário, perdoe-me, meu pãozinho de mel. – Minha mãe estava com uma expressão na qual eu nunca tinha visto em seu rosto, estava séria. – É pelo sacrifício. Peço-lhe que me perdoe.

“Sacrifício” ? O que ela quer dizer com isso?

- Nós te amamos muito meu pequeno, mas isso é necessário.

Antes que eu pudesse responder qualquer coisa, meu pai me arremessou aos mares. Não demorou para que Mary fosse lançada depois de mim.

Entrei em estado de choque, eu estava completamente paralisado. Por que estão fazendo isso? O que eu fiz pra vocês me abandonarem assim?

Eu chorava de forma incontrolável, estava apavorado. Pois nunca em minha vida pensei que meus pais teriam coragem de cometer tamanha atrocidade. Olharam por um tempo antes de se virarem e irem embora.

.....Nojentos, traidores malditos. Eu senti tanto ódio nesse momento. Como podem ter jogado suas crianças para morte e nem sequer olhar para uma mísera vez?!

- MARY! – Gritei seu nome na esperança de encontrá-la nessa bagunça, a única coisa que eu conseguia sentir era preocupação, era tanto desespero. Eu tentava me manter na superfície da água. Permiti que meu corpo mergulhasse, avistei Mary afundando cada vez mais. Claro, ela não sabe nadar. Nadei em sua direção o mais rápido que pude, agarrei seu braço e puxei para cima. Ela precisava respirar. Algo óbvio, não sei por que falei isso.

Ainda estava acordada, graças a Deus avistei um tronco de árvore não muito grande, me prendi a ele enquanto segurava Mary com meu braço livre.

Quanto mais eu pensava em uma solução, mais longe ficávamos de casa. Chegou em um ponto onde eu só via água, era água e mais água. Estava perdido, com frio....e sem saída.

O corpo da Mary estava tão franco, eu sentia isso. Esse foi apenas o começo do inferno que eu ia viver.

Perdi todas as minhas esperanças ao ver minha melhor amiga morrer. Monstros marinhos se aproximaram de nós em um velocidade tão rápida que não fui capaz de fazer nada, ambos a puxaram com seus dentes enormes. Tudo que eu podia fazer era assistir, o que eu poderia fazer? Sou apenas uma criança?....Eu sou só....uma criança. Por que eu tenho que passar por isso? Por quê?

Meu sangue borbulhava de ódio. Eu senti tanta raiva e tristeza. As lágrimas caíam dos meus olhos cada vez mais.

Sem esperança, eu já não lutava mais. Deixei a força do meu corpo se esvair por completo. Não tinha mais força para me segurar no tronco, apenas senti meu corpo afundando cada vez mais até apagar por completo.

Não entendia...eu não conseguia entender. O que está havendo? Estou morto? Mas...

- Garoto? Você está bem? Consegue me ouvir?

-...Eh? – Quem é este homem? Estou vivo...mas como? Havia tanta água, estava tão fundo, tão frio, tão....distante. Os monstros.....Mary! – Mary....

- Hein? – Olhou-me em confusão. –

-...Cadê a Mary- Quem?- .....

Não. Aquilo...aquilo era um sonho, não era? A Mary...ela não está morta, está? Não...ela tem que estar viva. Ela não morreu, era tudo um pesadelo. Isso é um sonho!

Era nisso que eu queria acreditar, que minha melhor amiga estava viva em algum lugar. Eu não entendia o que estava acontecendo, nem como vim parar neste lugar. Essa terra é desconhecida por mim.

O homem me levou para sua casa. Era manhã, estava em um quarto enrolado em uma toalha marrom. Estou com frio.

- Olha garoto, pra te ajudar eu preciso saber seu nome. – Falou o homem.

- .... – Devo confiar nele?... – Thomas.

- Mmm, Thomas. Thomas de?

- Èkils...Thomas Èkils.

- Pequeno Thomas, quantos anos você tem?

- Oito.

- Oito.... – Ele me olhava curioso. – Thomas, poderia me dizer como você foi parar no mar?

Como eu fui parar lá?.....Não quero falar sobre isso.

-Eu...eu caí - Caiu? - Sim. – Não gosto de lembrar da noite passada...Mary....

- Sabe onde é sua casa? Vou te levar para sua família.

- NÃO! Por favor, não me leve de volta....eu não quero voltar. – Acho que medo é o que me define neste momento.

- Não? Por quê não quer ir para a sua casa?

- É muito longe daqui. E....e..

- Prossiga.

-...

Não sei se eu deveria confiar isso a ele, não sei se devo contar o que de fato aconteceu. Talvez eu possa confiar nele, ele pode ser bom.

- Eu...foram meus pais que me jogaram no mar.... – Neste momento, meus olhos estavam cheios de lágrimas com tais lembranças.

- ...O quê?

-...

- Céus! Quem faria algo tão cruel com o próprio filho? – O homem acariciou meus cabelos ao se ajoelhar em minha altura. – Você vai ficar bem, garoto. Eu prometo.

O que ele quer dizer com isso? Tanto faz, nada mais importa.

.

O homem desconhecido me deu roupas, mas eram muito grandes para mim, largas demais Mas as usei mesmo assim.

Disse que seu nome era Bruce. Mais tarde, duas pessoas entraram naquela casa.

-Thomas, esta é minha mulher, Giselle. E esta é minha filha, Alice. Vocês duas, este é o Thomas, e irá morar conosco daqui em diante.

- Oi! – A loira falou ao segurar minhas mãos alegremente. Tinha um sorriso enorme em seu rosto.

-....Oi.

- Eu sou Alice!

- Eu ouvi.

- Quantos anos você tem?

- Por quê quer saber?

- Curiosidade.

- Mmph. Oito.

-Jura?! Você tem minha idade! Vem! Vamos ser melhores amigos! – Ela falou ao puxar minha mão.

Mas no fundo, lá no fundo, eu sabia que ela jamais seria minha melhor amiga. Ela não é a Mary. Não é minha melhor amiga número um.

- Seja bem vindo, Thomas. – Disse Giselle.

- Obrigado.

Talvez morar aqui não seja tão ruim afinal. Me serviram janta quentinha, água e um quarto para dormir. Como eu não estaria agradecido?

E assim foram o resto dos meus dias. Não era uma família rica em dinheiro, mas certamente era muito mais rica de carinho que meus pais. Até mais dinheiro eles tem.

Bruce me levava para pescar quase todos os dias. Confesso que eu me sentia triste por matar aqueles pobres seres. Afinal, não é de hoje que tenho uma profunda conexão com a água.

E eu demorei dias, meses, bastante tempo até me recuperar do meu trauma. Quase ser assassinado pelos próprios pais não é nada fácil. Mas ele me ajudou a passar por cima disso, é claro que não me recuperei totalmente. Aquelas memórias me assombravam todas as noites.

Toda vez que fecho meus olhos, eu volto naquela noite, eu volto para o exato momento em que vi Mary morrer.

Alice é legal, mais do que eu imaginava, e por mais que seja difícil admitir, nos tornamos bons amigos. Comecei a treinar com o passar do tempo. Motivo; as roupas SEMPRE ficam largas demais em mim. O segundo motivo é que eu ajudo o Bruce no bar dele. Na verdade, eu ajudo ele em muitas coisas.

E sendo o segundo homem da casa, também cuido de Giselle e Alice, assim como Bruce sempre fez.

Eu trabalho no bar do Bruce desde os meus treze anos, a idade em que comecei a me exercitar. Bem, sempre sou eu quem vai aos fundos para pegar mais bebida, são caixas pesadas, sem contar que vou atrás de água no poço todos os dias. Não apenas isso, mas também carrego dois baldes de cachaça para servir para aqueles velhos irritantes.

- Feliz aniversário, Thom! Eh? O que está fazendo logo pela manhã?

- Treinando. O que você quer, Ali? – Perguntei ainda pendurada em um galho grosso de uma árvore, esse exercício é cansativo.

- Eu vim te parabenizar.

- Não. Eu não comemoro meu aniversário, você sabe.

- Mas....Thomas, hoje é especial! Está completando dezesseis anos.

- Então? Como se isso fizesse alguma diferença.

- Mas faz! É especial.

- Não.

Acho que não preciso elaborar o motivo pelo qual odeio esse dia, certo? Não é possível que você que está lendo isso seja burro ao ponto de não saber. Você certamente sabe o motivo.

[Aliás, você deve ser bem desocupado para estar lendo o diário enorme mesmo sabendo que foi escrito por um pirata.

“Qual é o motivo para escrever isso?” Você me pergunta. A resposta é: tédio. E eu quero que o mundo saiba quem foi o maior tirano dos mares.

Certo, certo. Eu vou deixar você continuar a história. Boa leitura, desocupado.]

.

- Por favor. Thom!

-Por qual motivo você quer que eu comemore meus dezesseis tanto assim?

- Porque você nunca comemora.

- E qual é o problema?

- Eu só quero comemorar com você.

- Desculpa Ali,, mas a resposta é não.

- Tsk.

- Até porque eu preciso trabalhar. Tchau.

- ....Tchau. E se cuida.

- Claro, claro.

Apesar de querer treinar mais, infelizmente tenho trabalho a fazer. O velhote não aguenta mais tantas tarefas sozinho. Ah, idosos.

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