Lorenzo nunca soube o que era ter um lar verdadeiro até que Marxs cruzou seu caminho. O homem, já moldado pela brutalidade do submundo, viu naquele menino de olhos atentos um reflexo de si mesmo—alguém que precisava de um novo destino. Beatriz, por sua vez, embora temesse a vida que Marxs levava, enxergou em Lorenzo a chance de construir uma família que jamais poderia ter biologicamente.

Os anos passaram, e Lorenzo cresceu cercado por luxo e poder, mas também por disciplina e rigor. Marxs não poupava esforços para ensinar ao garoto os códigos da máfia Drakons: lealdade acima de tudo, respeito pela hierarquia e a necessidade de manter a família intacta a qualquer custo. Para o mundo, Lorenzo era apenas o herdeiro adotivo de um influente empresário; dentro da organização, ele era visto como a futura peça-chave no comando da família.

Aos 16 anos, Lorenzo já participava das reuniões estratégicas. Sua mente afiada e sua postura calma contrastavam com a impetuosidade de outros membros. Marxs via nele não apenas um sucessor, mas um líder que poderia levar a Drakons a um novo nível. Mas o jovem também carregava dúvidas. Afinal, teria sido esse o futuro que escolheria se tivesse sido criado fora desse mundo?

O grande teste veio quando um antigo inimigo da família tentou tomar o território dos Drakons. Lorenzo, com inteligência e estratégia, provou que estava pronto. Seus movimentos precisos e seu respeito pelas tradições da máfia garantiram a vitória. Naquela noite, Marxs olhou para ele com orgulho. Lorenzo não era apenas seu filho—ele era o futuro.

Mas o futuro reserva surpresas. Lorenzo começaria a questionar seu papel, a ponderar se poderia romper os ciclos de violência que sempre assombraram a família Drakons. E seria nesse dilema que ele descobriria sua verdadeira força.

Lorenzo foi criado sem espaços para sentimentalismo e compaixão. Aos seus 24 anos ...ele já havia se tornado um líder implacável dentro da máfia Drakons. Desde pequeno, Marxs fez questão de ensinar a Lorenzo que fraqueza era um luxo que apenas os inimigos poderiam se dar. Com treinos rigorosos, estratégias meticulosas e decisões calculadas, Lorenzo se transformou em um sucessor digno do nome que carregava.

Aos 24 anos, sua presença era temida e respeitada. Ele compreendia que cada ação precisava ser precisa, que cada aliança deveria ser cuidadosamente escolhida. A máfia não perdoava erros, e ele não cometia nenhum. Sua ascensão trouxe desafios—aliados que testavam sua autoridade, inimigos que questionavam sua capacidade. Mas Lorenzo não hesitava. Ele sabia que uma demonstração de força era necessária para consolidar seu domínio.

Seu dilema, porém, não estava na liderança, mas no vazio que carregava. Sem espaço para sentimentalismo, ele se tornou um mestre na arte de esconder suas emoções. Mas no fundo, mesmo que tentasse negar, questionava-se: era esse realmente o destino que queria? O mundo que Marxs construiu para ele lhe deu poder, mas tirou sua humanidade. Desde seus 13 anos, Lorenzo foi criando a fogo e ferro, sem espaços para sentimentalismos e compaixão. Se tornou o que seu pai mais desejou um jovem cruel e sem coração, forjado para liderar sem piedade. Mais será que um doce amor pode mudar um coração de pedra ?

Certa manhã Lorenzo se acorda bem cedo, faz sua higiene e desce para tomar café da manhã. Ao chegar na cozinha vê sua mãe com uma xícara de café nas mãos

Ele dá bom dia a ela e ela responde com carinho.

Beatriz sorriu ao ver o filho entrar. Havia um brilho discreto em seus olhos, como se algo estivesse prestes a ser revelado.

— Bom dia, meu amor — disse ela com suavidade, levando a xícara aos lábios. — Dormiu bem?

— Como sempre — respondeu Lorenzo, puxando uma cadeira e se servindo de uma fatia de pão. Seu tom era calmo, mas sua mente já rodava nos compromissos do dia.

Beatriz observou o filho por um instante, como quem ponderava se era o momento certo. O silêncio que se seguiu foi quebrado pelo leve tilintar da colher em sua xícara.

— Lorenzo… precisamos conversar. Na verdade seu pai precisa falar com você primeiro.

Ele a olhou de soslaio, mastigando devagar, atento ao tom da mãe.

— Seu pai está te esperando no escritório.

Lorenzo arqueou uma sobrancelha, agora encarando-a diretamente.

— E o que o papai quer comigo?

Beatriz hesitou, pousando a xícara na mesa. Seu olhar se tornara mais sério.

— Marxs e Ivan chegaram a um acordo. Um... compromisso entre famílias. Você será apresentado a Selena, a filha deles.

Lorenzo recostou-se na cadeira, os dedos tamborilando levemente na borda do prato. O nome não lhe era estranho, mas a ideia de casamento arranjado despertava algo diferente nele — raiva, desconfiança e talvez desconforto.

— Isso não é uma negociação de território, mãe. É a minha vida.

— Eu sei, meu filho. Mas às vezes, dentro desse mundo, os sentimentos não são prioridade. Seu pai acredita que essa união é necessária para garantir a paz entre as famílias — explicou, num tom quase de desculpa.

Ele permaneceu em silêncio por alguns segundos. O relógio na parede marcava 7h13. Um novo dia havia começado, e com ele, uma decisão que não fora sua.

Ele deixou a cozinha em passos firmes, mas dentro dele, algo já começava a ruir.

NO ESCRITÓRIO

Lorenzo entra escritório de seu pai Marxs e se senta na poltrona de frente para ele. Marxs levanta os olhos lentamente dos papéis à sua frente, observando Lorenzo com aquela expressão que combinava autoridade e desapontamento.

— Então já sabe... — disse, repousando a caneta sobre a mesa. — Imagino que não esteja satisfeito.

Lorenzo cruzou os braços, o olhar firme. — Não estou. Aliás, estou farto dessas alianças baseadas em interesses. Eu não quero me casar.

O silêncio no escritório era denso. Marxs se recostou na cadeira, entrelaçando os dedos sobre o peito. Sua voz saiu grave e contida.

— Isso não é sobre o que você quer, Lorenzo. É sobre o que a família precisa. O casamento com Selena não é um pedido... é uma decisão.

Lorenzo se inclinou levemente para frente, o rosto tenso. — Você fala como se eu fosse uma peça em seu tabuleiro, e não seu filho.

— Você é as duas coisas — respondeu Marxs com frieza. — E um Drakons não recua de seus deveres. Essa aliança com os Petrovic pode significar décadas de paz e estabilidade. E você sabe que isso e para pagamento de uma dívida bilionária causada por eles. Você acha que eu quis essa vida? Que foi fácil? Eu fiz escolhas por todos nós, inclusive por você.

Lorenzo desviou o olhar por um momento, respirando fundo. Seu sangue fervia, mas ele sabia que bater de frente com Marxs era como tentar derrubar concreto à unha.

— E o que acontece se eu disser “não”? — murmurou.

Marxs se inclinou sobre a mesa, o olhar cortante. — Então, você deixa de ser herdeiro. E eu encontro outro que entenda o peso de carregar esse nome.

O silêncio voltou, mas agora havia algo novo ali: um rompimento invisível, uma rachadura que não seria consertada tão cedo.

O jantar já havia terminado, mas a noite apenas começava para Lorenzo. Em um dos salões privativos da mansão Drakons, Marxs aguardava com dois convidados especiais: Ivan Petrovic, o magnata dos Bálcãs e chefe de uma das famílias mafiosas mais enigmáticas da Europa Oriental, e sua filha, Selena.

Lorenzo entrou no salão com o porte calculado de quem sabia o peso que carregava. Seu olhar cruzou o de Ivan, um homem de feições duras, barba bem aparada e um casaco de linho impecável. Ao seu lado, Selena se ergueu da poltrona com uma elegância quase letal.

— Lorenzo Drakons — disse Ivan, a voz com um sotaque arrastado, mas firme — o herdeiro do império latino. Enfim nos conhecemos.

— É uma honra, senhor Petrovic — respondeu Lorenzo, estendendo a mão. Ivan a apertou com força, testando limites.

Selena manteve-se em silêncio por um momento, os olhos atentos, analisando-o com a precisão de uma estrategista. Quando finalmente estendeu a mão, sua pele era fria, mas seu olhar queimava.

— Selena — disse apenas, como se seu nome já fosse o suficiente para deixar marcas.

O silêncio entre eles foi quebrado por Marxs:

— Ivan e eu estamos discutindo uma possível cooperação entre as famílias. Algo… maior que qualquer tratado atual. A presença de vocês dois aqui não é mera formalidade.

O salão mergulhou em um silêncio pesado, denso como fumaça de charuto em noite longa. Lorenzo, apoiado com uma das mãos no encosto da cadeira, fitou Selena como se estivesse tentando decifrar um código antigo.

— Quanto você quer por ela? — disse, a voz fria, mas os olhos incendiando a mesa.

Ivan ergueu uma sobrancelha, surpreso pela ousadia, mas não ofendido. Em vez disso, inclinou-se calmamente para a frente, como um leão que avalia o tamanho da presa.

— Trezentos bilhões — respondeu, sem pestanejar.

Selena congelou. As palavras do pai soaram como um tiro à queima-roupa. O vinho em sua taça tremulou com a força de sua mão cerrando o cristal. Aquilo não fazia parte do acordo. Ela não era um item, uma ação na bolsa da máfia, ou uma peça num leilão de poder. Seu olhar alternava entre Lorenzo e Ivan, tentando entender o jogo cruel que acabara de ser armado sem sua permissão.

— Eu não sou uma moeda — disse enfim, a voz tensa, cortante como navalha. — Muito menos um número.

Ivan não a olhou. Apenas sorriu de canto, como se o preço fosse só mais uma das lições que pretendia ensinar à filha.

Lorenzo observava tudo em silêncio. Não esperava uma reação tão ousada de Selena.

— Então estamos negociando pessoas agora? — ele questionou com desprezo. — Que tipo de pai oferece a própria filha como garantia de poder?

Ivan riu suavemente, impassível. — O tipo que sabe o valor de um legado. Ou você acha que as guerras entre famílias terminam com discursos e apertos de mão?

Selena levantou-se. Seus olhos, antes calculistas, agora brilhavam com fúria.

— Se sente agora Selena — Diz Lorenzo Irritado

Selena se senta encarando Lorenzo.

Lorenzo assistiu em silêncio. Pela primeira vez, ele se perguntou se não havia encontrado em Selena algo mais perigoso — e mais fascinante — do que qualquer inimigo.