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Desejo Proibido

1

Washington - Seattle 2022

- Kristen Bell

Acordo com o colchão mexendo, mas decido continuar de olhos fechados. Tyler levanta, troca de roupa, beija minha cabeça e saí do quarto. Hoje é domingo e sei que provavelmente muito cedo, mas meu namorado é atleta e a rotina dele é bem rígida, ainda mais agora que está em temporada de campeonatos da primavera. Com certeza ele levantou para correr e fazer algum exercício. Durmo por mais algumas horas até ouvir meu celular vibrando no travesseiro.

Tenho duas chamadas perdidas e umas quinhentas mensagens do Jason. Ele está apenas no quarto ao lado, qual o problema?

Jason:

Hobbit?

Acordaaaaa

Porra Kristen

Café grátis por uma semana se me tirar dessaLeio as mensagens não me surpreendendo por ele ter inserido mais um apelido em sua interminável lista de como zoar minha altura. Tenho 1,60 não sou tão baixa assim, mas o Jason é aquele cara que gosta de apelidar todo mundo, principalmente com o que mais incomoda a pessoa.

Kristen:

Por duas semanas, e com donnuts.

Jason:

Não fode

...

Fechado

Anda logo!

Levanto e me olho no espelho, meus cabelos estão bagunçados e meu rosto inchado. A cara de louca eu já tenho, agora preciso só agir feito uma. Puxo pelas pernas uma calça jeans surrada, E um moletom do time do Tyler, saio do quarto pronta para dar o meu show, digna de melhor atriz do Grammy.

Passo pelo corredor e abro de uma vez a porta do quarto do Jason.

- Eu não acredito nisso! Como teve coragem de me trair assim? Seu maldito de merda! – Grito com uma mão na maçaneta e outra no coração. A cara da garota é impagável. Ela está chocada\, apavorada e vestindo a roupa na velocidade da luz. Continuo xingando o Jason enquanto ele me pede desculpas e fala que me ama.

- Foi um erro impensável! Me perdoa chaveirinho! – Ele não perde a oportunidade de me irritar\, nem mesmo quando estou fazendo um favor pra ele.

- Você usou camisinha? Esse merda pode ter nos passado sífilis! – Falo fingindo um choro para a garota e preciso segurar o riso quando ela me olha desesperada.

- Kristen? Porra! Está de brincadeira comigo? – Jason reclama levantando da cama\, enquanto a garota sai feito uma bala do apartamento. – Ela pode espalhar isso por ai! – Fala com raiva enquanto eu sorrio.

- Disse alguma mentira? Você dorme com uma a cada noite\, não sei como isso aí ainda não caiu! – Aponto para o meio de suas pernas. Jason está vestindo apenas uma calça de moletom folgada. Sua barriga definida está a mostra e ele está descalço\, com cara de ressaca e o cabelo bagunçado. Fico envergonhada por estar falando do seu pênis e isso me deixa vermelha\, na mesma hora ele percebe.

- Isso o que? - Me encara com um sorriso besta. - Vamos lá\, chaveirinho\, diz o que? - Ele fala para me deixar mais sem graça e se aproxima.

Viro de costas e saio andando para o meu quarto. Não da pra ter uma conversa normal com Jason, ele é um completo depravado.

- Idiota! – Xingo irritada.

– Você deveria transar mais, te deixaria com um humor melhor! – Fala debochado voltando para seu quarto. Ele insiste em falar isso. Não sei de onde o Jason tirou que eu e o Tyler não transamos. Talvez não fazemos parte da família dos coelhos, como ele, mas temos uma vida sexual saudável e ativa.

- Quero croissant\, uma torta de chocolate e um cappuccino grande.. – Ignoro seu comentário idiota e ele continua andando sem me dar ouvidos.

- Jason Levinsky! Trato é trato! – Grito\, irritada e com fome.

- Você não cumpriu direito sua parte! – Fala já de dentro do quarto.

- Quero ver você lidar sozinho com suas garotas! Idiota! – Volto para o meu quarto e pego algumas roupas que estão espalhadas pelo chão. Junto todas no cesto de roupa suja e arrumo a nossa cama. Estou morando com meu namorado e o idiota do meu cunhado a dois meses.  Desde que minha amiga Shantal arrumou briga com a minha ex colega de quarto\, a convivência ficou péssima entre nós duas. E ai o Tyler me convidou pra morar aqui com eles. Apesar do Jason ser um cretino as vezes\, ainda é melhor que a Kate e todo o seu veneno espalhado pelo quarto.

Troco de roupa me sentindo uma estúpida por ter ido ajudar ele a troco de nada. Mas isso com certeza vai ter volta. Quando saio de novo do quarto sinto um cheiro de cigarro e as notas baixas do violão de Jason. Assim que vim morar aqui isso me incomodou, mas com o tempo fui me acostumando, e hoje não me importo, as vezes a música me faz até dormir melhor.

Ligo a cafeteira e encho a lava louças. Enquanto o café cremoso escorre aos poucos pela xícara, pego minha câmera e dou uma olhada nos cliques da festa de ontem. O time de futebol americano da nossa universidade jogou em casa, e garantiu mais uma vitória significante, já que estamos em uma parte importante da temporada. É agora que os olheiros dos melhores times da NFL, começam a analisar os jogadores do último ano para serem draftados.

O meu namorado Tyler é o quarterback titular, e fez um ótimo jogo. Após a partida fomos comemorar em uma festa que a fraternidade dos jogadores ofereceu.

Convidei Shantal e Harry, que são meus melhores amigos, e consegui vários flashes deles, sorrindo, bebendo e dançando em cima da mesa.

Sempre amei fotografias, e desde que ganhei uma câmera profissional da minha mãe, tenho registrado vários momentos importantes, e cada vez me apaixonado mais por esse mundo da arte. Tyler diz que isso não da dinheiro, e que preciso me decidir por outro curso. Talvez ele tenha razão, mas isso não me impede de levar minha câmera por aí, e nas horas vagas capturar momentos únicos. As melhores fotos eu deixo em um mural na parede do nosso quarto, outras espalhadas pela geladeira, que já está quase toda preenchida e vou renovando sempre que da.

Estou sentada ainda olhando as fotos e comendo um pão dormido, a cada mordida imagino um donuts bem cremoso com bastante chocolate. Fiquei com preguiça de sair pra comprar algo, depois de ficar animada com o café da manhã que Jason prometeu. Mas logo ele vai receber seu troco.

Nossa convivência sempre foi de gato e rato, apesar de ser meu amigo, Jason é folgado e promíscuo. Completamente o contrário do Tyler. Que é obcecado por limpeza, organização e rotina. Eles são os irmãos que menos se parecem, tanto em personalidade quando em aparência. Tyler é loiro dos olhos castanhos, cabelo curto e braços largos. Já Jason tem o cabelo escuro e olhos azuis, é mais alto, e tem o corpo esguio com os músculos bem definidos.

Me apaixonei por Tyler assim que entrei na faculdade, ele nunca foi desses caras que sai pegando geral e que se vangloria disso. Seu jeito estudioso e dedicado me fizeram querer ser alguém melhor, e quando ele finalmente notou minha existência, nós saímos pra jantar e não desgrudamos mais. Ele se forma esse ano, e eu no ano que vem. O melhor do nosso namoro é que sabemos bem o que queremos, e já planejamos nosso futuro, com nossa casa e cachorros..

Ainda estou terminando de organizar a cozinha quando Tyler chega todo suado, ele me entrega um saquinho de biscoitos açucarados, me dá um selinho rápido e vai tomar banho. Ligo a tv e fico assistindo enquanto me delicio com os biscoitos. Ele sabe que sou pior do que formiga, e amo quando ele lembra de trazer algo doce pra mim. Quando ele sai do banheiro conto a trapaça do Jason e ele sorri da minha cara.

- Você não devia ajudar ele a dispensar essas garotas! - Ele fala enquanto assistimos tv e ele faz massagem nos meus pés. Ontem trabalhei em pé até a hora do jogo e em seguida fomos a festa\, ele sabe como estou destruída e amo seu cuidado comigo.

- Eu sei\, mas a troca de favores com Jason é a única coisa que funciona quando quero fazer ele diminuir o volume da música\, ou guardar a louça. Você sabe! - Dou de ombros e ele concorda. Eu aprendi o melhor jeito de lidar com Jason e o Tyler sabe que ganho.

O restante do domingo foi tranquilo, ficamos assistindo filme, e dormindo a maior parte do tempo.

Já de noite quando saio do banho, escuto Tyler falar:

- Precisamos ir ao Jack's hoje. - Olho desanimada pra ele. O bar do Jack fica perto da nossa universidade\, e é lá onde passo grande parte da minha semana trabalhando como garçonete\, para ajudar em alguns gastos em casa. Meus pais estão me dando um gelo em questão de dinheiro\, porque não me apoiaram quando disse que sairia do dormitório para morar com Tyler\, apesar de amarem meu namorado\, eles ainda são muito rígidos\, e esperavam que eu só fosse morar com um homem após o casamento\, então imaginem seu desgosto ao descobrirem que agora moro com dois. Sendo um deles\, o mais depravado da cidade.

- Por que? - Pergunto sem vontade.

- É aniversário do Adam hoje. Ele quer comemorar. - Tyler fala do seu parceiro de time e meus ombros caem.

- Baby\, é minha primeira folga em um domingo\, após meses! - Reclamo subindo na cama\, ainda de toalha. - Podemos ficar por aqui essa noite e.. - Falo beijando seu rosto e pescoço. Ele me abraça e retribui meus beijos mas logo se afasta\, dizendo que realmente precisamos ir. Fico frustrada\, mas não discuto. Tyler tem lá suas regras de amizade e ele não deixa ninguém na mão. Da a mesma importância para todos do time\, e não deixa de comparecer aos eventos dados por eles como um bom capitão.

Coloco uma calça jeans, tênis branco e uma blusinha azul de algodão. Seco meu cabelo e logo estamos prontos. Não vou me arrumar demais apenas para ir ao Jack's, estou todos os dias lá, não é como se fosse alguma novidade. Tyler coloca uma blusa branca de gola, calça jeans e meu perfume preferido, ele fica lindo com o cabelo penteado pra cima com gel.

Quando entramos no carro ligo o rádio e fico procurando uma estação boa enquanto ele dirige.

- Deixa qualquer uma. Já estamos chegando. - Tyler como sempre reclama por eu ficar tentando achar uma boa música. Pra mim a graça de andar de carro\, seja de carona ou dirigindo\, com certeza é poder ficar ouvindo uma música legal enquanto canto em voz alta.

Encontro Like a prayer da Madonna e aumento o volume.

Ao chegar no bar, vimos que o pessoal do time ocupa a maior mesa do lugar, próximo as sinucas. Cumprimentamos todo mundo e depois de parabenizar Adam, fazemos nosso pedido para o Bruce, ele geralmente fica atrás do balcão servindo canecas, e Lizzy, minha companheira de turno, serve as mesas. Mas como hoje estou de folga, e a equipe de garçonetes está sobrecarregada pelo movimento, Bruce esta ajudando no salão.

Me sento próxima as meninas, que são namoradas dos outros jogadores. Enquanto Tyler fica conversando com os garotos na outra ponta da mesa. Elas me incluem em suas conversas, mas nem sempre consigo acompanhar o assunto.

Ouço um burburinho entre as mesas e quando me viro, vejo Jason e os Thugs entrando no bar. Mackenzie, a baixista anda na frente, seus cabelos vermelhos com grossos cachos balançando. Ela tem o olho azul e as curvas de dar inveja em qualquer menina. Mas o estilo Rockeira com piercings em boa parte do rosto, sua cara fechada e o humor arisco, não deixa muita gente se aproximar. Ela simplesmente sabe que é quente, e faz o bar todo parar para olhá-la.

Logo atrás dela está o baterista Peter, ele é um fofo, muito tímido levantando seus óculos, e segurando as suas baquetas. Assim como Jason ele também não tem muito estilo de Rockeiro, apenas as camisas habitualmente pretas e o cabelo na altura dos ombros.

Ao seu lado está o mais chato da banda, o guitarrista Dean. Com seu cabelo loiro espetado e o corpo todo tatuado. Consegue ser mais promíscuo, falar mais palavrões e ser mais imbecil que Jason. Também é o que mais se gaba por suas conquistas e sobre o tamanho dos seios das garotas que saí.

E por último, o vocalista Jason. Enquanto caminha descontraído, arranca suspiros, olhadas e sorrisos de todas as garotas desacompanhadas do bar. Não sei o que tanto veem no Jason, sim ele é muito bonito e tem um corpo espetacular, mas é apenas isso! Não é como se ele fosse um Deus dessa cidade. Só esse sorriso de canto presunçoso na cara é capaz de molhar as calcinhas desprevenidas, e isso é o que me irrita. Todas inflam tanto o seu ego, e por isso ele vive no alto como se fosse um rei.

Os quatro passam direto para as mesas de sinuca, logo são servidos de cerveja e começam a jogar. Eles não se apresentam muito aqui, apesar de ser o lugar favorito de todos, e onde os fãs da banda Thugs se reúnem para ver de perto os quatro juntos. Cada vez eles se tornam mais conhecidos tanto aqui em Seattle quanto nos arredores, e por isso os últimos shows foram em cidades próximas.

- Como é morar com um cara tão quente? - Emma sussurra pra mim e eu reviro os olhos. Ela namora o fullback do time\, mas vive babando no Jason também. As outras garotas escutam sua pergunta e me olham com expectativa. Como se eu fosse mesmo comentar algo de bom sobre o Jason. Ele passa o dia tocando\, ou metido embaixo do seu velho carro\, e a cada noite tem uma mulher diferente em sua cama. Se ele não fosse irmão do meu namorado\, e eu não tivesse que obrigatoriamente trocar palavras com ele\, eu nem mesmo teria me tornado sua amiga\, e nunca saberia que ele no fundo bem no fundo é um cara legal. Porque no geral\, eu não tenho nada de relevante pra falar dele!

- Tá vendo? É por isso que ele tem o ego desse tamanho! Jason não é nada demais\, garotas! - Falo gesticulando e agora é a vez delas de revirarem os olhos.

- Concordo! - Lauren chega na ponta da nossa mesa\, segurando uma caneca de cerveja.

- Você não conta! - Emily faz uma careta\, retirando Lauren da equação\, por ela ter sua preferência por mulheres.

- Claro que sim! Levinsky é superestimado. - Ela estala a língua e toma uma golada do liquido amarelo. As garotas ignoram ela e mudam de assunto. Apesar do Tyler e Jason serem irmãos\, eles usam sobrenomes diferentes\, por isso Jason é conhecido por Levinsky\, o sobrenome do seu pai\, que não é o mesmo de Tyler.

Papo chato vai e papo chato vem, Lauren levanta e vai até o balcão onde minha colega Lizzy está servindo canecas.

Percebo que quando Lauren passa pela mesa de sinuca onde a banda está jogando, Jason olha diretamente para sua bunda. Lauren é alta, magra, loira e tem seios fartos, completamente o tipo de Jason. No mesmo instante tenho uma ideia absurdamente boa.

- Já volto. - Falo para as meninas na mesa e levanto indo para o balcão onde ela está. Passo por Tyler que me olha sorrindo e jogo um beijo pra ele.

- Lauren! - Falo empolgada e ela me olha desconfiada. - Pode me fazer um favor? - Peço sorrindo.

- Depende. - Ela fala.

- Te pago uma cerveja se der um fora no Jason sem revelar sua sexualidade. - Falo sorrindo e ela me olha confusa. Depois de explicar sobre as apostas estúpidas que tenho com Levinsky\, ela concorda imediatamente. Eu sei que não é nada saudável isso\, e as vezes preciso lavar as botas fedidas dele\, ou pagar a pizza\, mas Jason consegue me manipular de uma forma\, que sempre acabo aceitando suas apostas sujas. Venho pensando em algo onde eu saia ganhando de verdade. Não gosto de trapacear\, e não sou mesmo de mentir\, mas de manhã ele me usou para expulsar sua acompanhante que não queria ir embora\, e não cumpriu com sua parte do trato\, então nada mais justo do que fazer ele pagar.

Converso um pouco com Lizzy e peço mais um refrigerante. Voltando para minha mesa passo pelo Jason.

- Hobbit\, quem é sua amiga? - Ele aponta com a cabeça pra onde a Lauren está\, com um sorriso presunçoso nos lábios. Reviro os olhos ainda brava pelo novo apelido\, mas por dentro estou dando pulinhos de felicidade pelo seu interesse em Lauren\, Jason é completamente previsível.

- Nem tenta! - Falo fingindo uma cara brava\, sabendo com toda certeza que isso vai despertar seu interesse. - É sério Jason! Ela não é pro seu bico! - Isso aumenta seu sorriso mas ele da de ombros.

- Boazinha demais\, talvez? . - Jason fala analisando Lauren de longe. Sei que ele prefere as depravadas\, que gemem como se a vida dependesse do maior grito.

- Ela nunca ficaria com você mesmo! - Falo e faço menção em me virar.

- Comprometida? - Pergunta segurando meu braço ainda olhando para Lauren.

- Qual é Levinsky\, vai jogar ou ficar de papo a noite toda? - Dean chama sua atenção para o jogo mas ele ignora. Olho para mesa ao lado onde Mackenzie está jogando com Peter\, ela masca um chiclete me olhando com desdém.

- Não! Mas.. - Começo a falar\, e Jason me corta com outra pergunta.

- Lésbica? - Fala passando um giz na ponta do taco\, ainda com um sorriso besta na cara.

- Apenas alérgica a idiotas presunçosos\, você não tem a menor chance! - Falo brava cruzando os braços. Com o coração acelerado pela mentira\, mas a minha satisfação é suprema quando ele se vira perguntando se quero apostar.

- Cem pratas\, já que acha que não tenho chances. - Ele sorri me estendendo a mão\, e preciso morder o lábio para não dar uma gargalhada. Apesar dele estar caindo feito um pato\, ainda falta a parte mais difícil.

- Não faço mais tratos com você. - Falo dispensando sua mão e dando um passo à frente\, ele me para e tira a carteira do bolso.

Isso!

- Peter! - Jason o chama tirando uma nota de cem e quando o garoto tímido de óculos se aproxima ele entrega pra ele. - Casado. - Ele fala se referindo ao pagamento antecipado da aposta. Tiro do bolso duas notas de cinquenta e entrego ao Peter\, depois de apertarmos as mãos ele sai indo em direção a Lauren. Eu volto pra minha mesa andando\, mas queria mesmo era saltitar. Nunca foi tão fácil ganhar do Jason\, mas dessa vez fiz tudo direito\, ele já estava interessado em Lauren\, e quanto tornei a coisa mais interessante ele só caiu\, achando que seria uma aposta fácil\, já que todas as mulheres abrem as pernas pra ele depois de um simples sorriso.

Quando chego em nossa mesa o Tyler abre o braço e eu me sento em seu colo sorrindo.

- Quer sobremesa baby? - Pergunto orgulhosa da minha façanha e ele me olha confuso. Me aproximo beijando seus lábios e ele aperta minha coxa. - Acabo de ganhar cem dólares do idiota do seu irmão! - Falo sorrindo e ele arregala os olhos.

- Ah Deus\, cadê ele? É impagável ver a cara do Jason perdendo uma aposta. - Tyler sorri e eu conto pra ele meu plano.

2

JASON LEVINSKY

Ja era a terceira vez que Peter errava o tempo da batida e o ritmo da nova música, Dean tinha perdido a paciência, mas eu estava tentando controlar os ânimos. Afinal é pra isso que serve os ensaios da banda, temos que arrumar o que não está saindo muito bem.

Maze é sempre arrogante com Peter e toda vez que eles discutem, o garoto acaba se desconcentrando no seu trabalho. Apesar de novo e tímido, Peter quebra tudo na bateria. Nós nos conhecemos á muito tempo, seu avô era conhecido dos meus avós, e quando o velho Bill me pediu para ouvir seu talentoso neto tocando, eu não imaginei que o moleque iria mesmo mandar tão bem. Nunca falei isso pra ele, não sou de elogiar ninguém, apenas o chamei para tomar uma cerveja e fazer um som.

Pouco tempo depois conheci Mackenzie em um show em Vancouver. Ela tocava em uma banda só de garotas. Mas as brigas constantes a fizeram sair. Maze é um pouco difícil de aturar as vezes. Principalmente quem se importa com suas palavras de merda. Apesar de ser arrogante a maioria do tempo, ela não é de todo ruim, com quem sabe lidar.

Mas na cama, ela é uma máquina de sexo, me deixou destruído varias vezes quando começamos nossa amizade. O melhor de tudo é que ela sabe separar bem as coisas, não é daquelas garotas boazinhas, que se importa com sua reputação, ou que está a procura de um namorado. Somos amigos e trabalhamos juntos, acima de qualquer diversão.

Maze também não tem uma boa relação com a mãe, e muitos problemas na família. Nisso a gente se identifica, e entendo bem o seu lado.

Já Dean, eu não me lembro direito a festa exata que nos conhecemos, mas tocamos juntos algumas vezes, até formar a banda. Ele não leva muita coisa a sério e está nessa pela diversão, mas é um bom guitarrista e amigo.

Nem sempre as coisas são tranquilas entre a gente, e nesses momentos como agora, que os ânimos sobem, eu preciso agir rápido e mudar a cena. Eles me veem como um líder por ter conhecido todos primeiro. Mas é o Peter que resolve tudo dos nossos shows, da nossa agenda, e reparte o dinheiro. Ele também está sempre querendo fazer os Thugs conhecidos, e o admiro demais por isso. Mesmo que não esteja nessa por dinheiro ou fama. A vida que tenho hoje é bem mais do que esperava. Sou grato por tocar meu violão, estar com as melhores garotas e andar por aí com meu clássico Camaro 69.

- Deu por hoje né\, vamos tomar umas cervejas. - Falo esticando as costas. O estúdio onde nos reunimos fica na casa do Dean\, é onde deixamos nossos equipamentos\, e a nossa van também. A melhor parte dos ensaios serem aqui\, é porque do outro lado da rua fica o bar do Jack\, onde tem um grande cardápio de cervejas artesanais. Também é cheio de universitárias por se localizar perto do campus.

- Só um momento. - Peter fala colocando a capa em sua bateria. Todos nós olhamos pra ele. - Precisamos falar sobre o novo álbum. - Maze é quem mais da atenção e os dois começam a conversar. Dean acende um cigarro e eu peço seu isqueiro pra acender um também.

- Vocês podem dar alguma ideia também? Ou é algo difícil demais para o cérebro minúsculo de vocês? - Maze fala com a voz estridente\, enquanto guarda os equipamentos de som.

- Da um tempo Maze\, você e Peter tornam a coisa toda muito séria! - Dean fala soltando fumaça e eu acendo o meu cigarro.

- Talvez porque seja séria pra gente? - Agora o problema se estendeu para Dean. Hoje não foi um bom dia para reunir a galera. - Já era pra estarmos por aí\, fazendo grandes shows em outras cidades maiores. Nós somos bons\, e se vocês dois dessem mais importância a banda\, já estaríamos grandes. - Ouch

- Ah vamos lá grande rainha do Rock\, quer dizer que os Thugs não são a maior banda dos eua por culpa exclusivamente minha e do Dean? - Levanto irritado.

- Você nunca quer tentar Los Angeles\, está sempre acomodado aqui. Tem algo que te impede de sair de Seattle Jason\, e nós sabemos bem o que é. - Maze fala me desafiando.

- Cala a porra da boca Mackenzie! - Falo sério com um aviso sútil no olhar. Em seguida me viro para os caras finalizando o assunto. - Quanto ao novo álbum\, vou pensar sobre a capa e na melhor forma de divulgação. Peter\, pode fazer a nossa inscrição do festival em Vancouver. Estamos prontos! - Dean comemora e eu dou um aviso para todos. - Amanhã eu espero que tenha mais música do que discussão na porra desse ensaio! - Falo pegando minha jaqueta e desço as escadas\, vamos todos para o bar do Jack\, deixando pra lá qualquer vestígio de discussão ou estranhamento entre nós. Apenas tomamos uma boa cerveja e jogamos umas partidas de sinuca.

- Hey Jason\, Jack pediu pra conversar com você\, quando tiver um tempo! - Lizzy me passa o recado enquanto carrega uma bandeja cheia de copos vazios.

- Tudo bem\, vou até a sala dele daqui a pouco. - Aviso e ela concorda. Fico pensando no que Jack teria pra falar comigo\, ele é o único dono do bar a muito tempo e nos conhecemos a muitos anos\, mas ele nunca me chamou pra uma conversa formal em seu escritório.

Quando Dean e eu terminamos a primeira partida, vejo uma loira passando, ela é alta e tem um corpo absurdo. Dean me olha e balança a cabeça, afirmando que também gostou.

Pouco tempo depois vejo Kristen conversando com a loira, elas estão no balcão sorrindo e bebendo. E nesse momento sinto vontade de investir na garota, mas não por uma forma convencional.

Tomo um gole da minha cerveja, e quando Kristen passa por mim, faço questão de provocá-la.

Já faz um tempo que conheço Kristen, na verdade conheço ela a mais tempo do que ela realmente me conhece.

Na primeira festa dos calouros da sua época, a três anos atrás, eu fui com Maze e Dean. Tínhamos acabado de tocar no bar do Jack e estávamos a procura de cerveja grátis. Ele já não estava pagando muito bem pelos shows, e ainda não recebíamos convites para tocar por aí. Foi por isso que tivemos a ideia de ir até uma dessas fraternidades idiotas atrás de garotas e cervejas.

Quando chegamos já era de madrugada, todos bêbados e drogados. Procurei por Tyler mas ele não estava nessa festa, então só começamos a beber e assistir os adolescentes.

Foi quando vi Kristen, jogando beer pong com outra garota. E me chamou atenção o fato dela estar toda molhada da piscina, e sua blusa branca completamente transparente, revelando os seios pequenos. Ela gritava e pulava a cada acerto, falando palavrões e sorrindo toda vez que fazia a outra garota beber. Eu nunca tinha visto ela antes, mas algo me fez ficar observando o jogo por um tempo.

Alguns caras ao redor começaram a olhar para Kristen com malícia e comentarem entre si, já que ela estava exposta e completamente bêbada, se tornou um alvo fácil para aproveitadores.

Quando a menina desistiu do jogo saindo para vomitar, Kristen pareceu procurar seus amigos e não achou ninguém. Os babacas que esperavam uma oportunidade de levar ela dali, se aproximaram puxando assunto e no mesmo instante me vi obrigado a intervir. Não aceitaria ver algo assim e não fazer nada. Eles estavam em três, Kristen não tinha a menor condição de sair dali com eles, então foi a hora que entreguei minha cerveja para Maze e tirei minha jaqueta, fui pra cima dos caras com sangue no olho, fazendo eles recuarem imediatamente. Depois de oferecer minha jaqueta para ela, e explicar sobre sua blusa, ela ficou completamente envergonhada, mesmo soluçando de tão bêbada.

Pela primeira vez na minha vida, ofereci para uma mulher uma carona despretensiosa. Ela não fazia muito o meu tipo, era baixinha, na época tinha o cabelo preto e curto, corpo pequeno e magro, mas seus olhos eram de um verde bem expressivo. Sua boca cheia fazia um desenho convidativo de coração e a pele clara parecia tão macia que dava vontade de tocar. Ela era bonita de um jeito diferente, nada artificial e suas roupas sem decote não passavam a impressão de que queria impressionar alguém. Talvez por isso soube que ela não tinha intenção de mostrar o sutiã aquela noite, e tive certeza quando ela rapidamente vestiu minha jaqueta.

Durante a carona até o prédio do seu dormitório, eu pude ver que ela não era tao tímida assim, porque falou durante todo o caminho, respondeu às minhas brincadeiras e não permitiu ser zoada sem me zoar de volta. Ela me contou que tinha ido pra Seattle com o objetivo de curtir todos os anos da sua faculdade como uma jovem normal, queria beber e ir a festas, porque não podia fazer isso em casa, com pais tao rígidos.

E então pra fechar sua noite de loucura com sucesso, quando chegamos a porta do seu prédio, ela subiu em cima do meu colo e me beijou feito uma louca, eu não estava nem um pouco preparado pra isso, como disse, era uma carona despretensiosa, e eu não esperava que sua boca fosse tão doce, e sua língua tão gostosa de chupar. Foi um beijo foda, que me deixou duro em dois segundos, pronto pra comer ela a noite inteira. Mas ela se afastou, deu uma gargalhada me deixando confuso, pulou do meu carro falando algo em que errava meu nome e saiu tropeçando para as escadas do seu dormitório.

Nunca mais vi essa Kristen de novo. Meses depois meu irmão Tyler me disse que estava namorando e que levaria sua garota a nossa casa. Quando ele chegou de mãos dadas com uma baixinha do mesmo sorriso, eu reconheci a Kristen louca da outra noite pela sua aparência, mas ela estava completamente diferente na personalidade.

De início eu fiquei em choque, não sabia se ela me reconheceria ou se lembraria de algo daquela noite. Mas para a felicidade de quase todos, ela não lembrava de nada, e só eu e Maze sabemos dessa história.

Não comentei com ninguém talvez por questões de ego. Algo assim nunca me aconteceu antes, geralmente eu que não lembro o nome das garotas e vou embora depois de me aproveitar..

Daí em diante nos tornamos amigos, ela é uma pequena garota irritante com duas personalidades diferentes. As vezes ainda consigo ver a Kristen daquela noite, cheia de sonhos e vontades. Que por algum motivo desistiu de realizar. Ela se tornou tão parecida com Tyler que é insuportável de ver, o jeito certinho, a obsessão por limpeza, e a garota perfeita dos pais.

Em alguns momentos tenho vontade de confronta-la perguntando "Como assim você não bebe? Na primeira vez que te vi você cheirava a álcool puro! E essa de que não fala palavrões? Em um único jogo ouvi da sua boca cinco variações diferentes dos mais sujos." Mas como não quero de forma alguma ter que explicar como sei disso, correndo o risco de fazer ela se lembrar de todo o resto, eu apenas assisto Kristen Bell viver essa vida dupla.

Sempre que estamos em aposta, trocando favores ou sozinhos, ela mostra um pouco desse seu lado verdadeiro, por isso faço questão de irritá-la, abrindo passagem para a parte que mais gosto em Kristen.

- Hobbit\, quem é sua amiga? - Pergunto dando início a mais um jogo e vejo seus olhos brilharem quando apertamos as mãos fechando a aposta. Já pra mim a coisa mais importante é a eletricidade que seu toque me causa\, e eu reprimo todas as vezes.

Depois de meia hora gastando minhas melhores investidas, Lauren levanta me dando uma desculpa e sai sem me passar nem mesmo seu telefone.

Mas que porra aconteceu aqui? Não levo um fora a anos, a banda me trouxe as mais variadas mulheres e eu geralmente nem preciso chegar em nenhuma. A maioria das fãs se jogam na minha cama e tudo que tenho que fazer é dar o meu melhor para que elas espalhem por aí.

Quando me viro puto para a área das sinucas, Peter está entregando os duzentos dólares para Kristen, que da pulinhos de alegria com um grande sorriso na cara. Levanto sem acreditar que perdi a aposta mais fácil que já fizemos.

- Miniatura trapaceira! - Aponto um dedo na cara de Kristen e ela me olha fingindo ofensa.

- Por que Jason? - Peter pergunta\, mas eu ainda não sei responder.

- Vai chorar Levinsky? Descobriu que não é tão irresistível assim? - A safada fala com um sorriso audacioso nesses lábios de coração.

- Algo você aprontou Bell! E vai ter volta! - Me aproximo falando perto do seu ouvido. Ela me olha desafiadora e minha raiva só aumenta. - Espero que você não esteja com sono\, benzinho! - Falo agora sorrindo\, porque sei o que deixa ela indignada comigo. Seu sorriso se desmancha e eu dou as costas indo em direção da mesa onde estão sentadas algumas fãs que falaram comigo mais cedo. Convido as duas mais escandalosas lá pra casa e saio com elas do bar. Ainda vou descobrir o que a Kristen fez\, mas por hora fico feliz em fazer essas duas lindas garotas gemerem a noite inteira\, atrapalhando o sono daquela mini trapaceira.

3

KRISTEN BELL

Meu celular desperta alto, e eu fico sem acreditar que é hora de acordar, já que praticamente acabei de começar a dormir. Jason passou a noite inteira fazendo barulho e me mantendo acordada, eu quero muito soca-lo por isso. Tyler dorme feito uma pedra, já eu tenho o sono leve e qualquer coisa me incomoda. Geralmente Jason não é tão barulhento assim, mas depois da aposta de ontem, ele parece que soltou um parafuso da cama pra ficar rangendo, e tenho absoluta certeza que contou para as duas garotas que tinha uma certa tara em hienas. Porque elas estavam gemendo e gritando feito o animal.

- Bom dia amor.. – Tyler fala ainda sonolento. Fico com raiva e inveja do tanto que ele dormiu sem se importar com o barulho. Conversamos um pouco ainda deitados\, e para não me atrasar\, levanto indo tomar um banho. Em seguida visto uma calça jeans\, suéter e tênis. Enquanto Tyler toma banho eu desço para preparar um café. O cheiro e o sabor melhoram um pouco meu humor.. Antes de sairmos de casa\, decido abrir o meu cofre\, estou juntando dinheiro para comprar uma motocicleta usada. Sempre tive vontade de ter uma\, mas meus pais não gostam da ideia\, nem Tyler.

Como nenhum deles me ajudaria com a grana para isso, decidi juntar a algum tempo. Vivo dependendo de carona, do Ty ou dos meus amigos, e simplesmente odeio isso. Meu ex namorado, Liam, tinha uma moto na escola. Ele me ensinou a andar e eu simplesmente adorei, dai veio minha vontade de ter a minha própria.

- Ty? – Chamo ele\, descendo as escadas com todo dinheiro do meu cofre em um envelope. – Você pode me levar em um lugar hoje depois da aula? – Pergunto pegando minha bolsa. Ele olha para o envelope e balança a cabeça negando.

- Ainda essa ideia? – Pergunta levantando da cadeira com uma xícara na mão.

- Vou comprar com ou sem sua ajuda\, mas realmente gostaria de uma carona. – Falo decidida e ele pega sua mochila.

- Não vou ficar contra seus pais amor\, e também não concordo com isso. – Tyler fala abrindo a porta da frente. – Desculpe! – Ele encolhe os ombros e eu reviro os olhos. Eu já estava contando com isso\, Tyler tem o seu jeito.

Quando chego ao prédio da minha primeira aula, ando distraída até entrar na sala e ver meu amigo Harry de longe, ele acena sentado no fundo e eu subo para encontra-lo.

- Olá Panda! – Ele me olha sorrindo e analisando meu rosto. Estou com olheiras fundas\, é claro.

- Não dormi nada essa noite. – Explico procurando uma caneta na bolsa.

- Deu pra perceber\, mas me conta\, o motivo envolve sexo?- Harry me pergunta baixo com um olhar malicioso.

- Sim\, daqueles cheios de tapas e gritos. – Falo irritada e ele me olha surpreso. Apesar de Harry ser meu melhor amigo\, eu não sou muito de falar da minha vida sexual\, então por isso ele estranha o meu comentário. – Não comigo né Harry! Óbvio. – Empurro seu ombro e ele sorri.

- Levinsky? – Pergunta mordendo uma caneta. Balanço a cabeça que sim quando o professor entra na sala. – Me fala detalhes né Kristen! – Pede se aproximando. Harry não é gay assumido para todos ainda\, poucas pessoas sabem\, outras desconfiam. Quem conversa ou vê Harry não imagina porque ele não mostra seu lado feminino para qualquer pessoa. Shantal e eu ficamos sem acreditar quando ele nos contou\, porque realmente não parece. Apesar de ser uma droga ele viver no armário\, ele prefere assim por enquanto. Seus pais não aceitam\, e ele tem muito medo do preconceito e das próprias pessoas.

- Depois! – Sussurro de volta e ele revira os olhos. O professor da inicio a aula e começo a fazer minhas anotações.

Assim que termina, conto ao Harry sobre os cem dólares que ganhei ontem e sobre a noite barulhenta do Jason.

- Hey! – Saindo do campus para o estacionamento escutamos a Shantal nos gritando. A gente para e espera ela nos encontrar.

- Pode me dar uma carona? – Peço ao Harry e ele concorda. – Mas não pra casa. Na verdade.. pode me ajudar a escolher minha moto? – Pergunto.

- E por que você acha que eu entendo algo sobre isso? – Ele questiona me olhando confuso.

- Vamos lá Harry\, apenas um apoio moral! – Falo abrindo a porta da sua camionete e ele revira os olhos.

- Chegou agora no campus? – Harry pergunta quando Shantal nos alcança\, ela sorri explicando que dormiu demais e perdeu a hora.

- Nós vamos atrás de uma moto para Kristen\, quer ir junto? – Harry pergunta dando a volta no carro.

- Nem fodendo! – Ela da de ombros. – Vão até o outro lado da cidade pra isso? – Shantal pergunta como se fosse dar uma volta ao mundo. Minha melhor amiga é um pouco diferente\, pra não dizer louca. Mas é uma das melhores pessoas que conheci em Seattle.

No fim convenço ela a ir com a gente, vou animada o caminho todo ouvindo musica e cantando com eles.

- Soube que ganhou cem dólares do Levinsky ontem?! – Shantal pergunta quando já estamos chegando a loja de motos.

- Como você soube? Nem estava no Jack's ontem! – Pergunto sem entender como as coisas se espalham rápido por aqui.

- Dean comentou  com alguém da fraternidade que o grande pau de mel Jason Levinsk levou um fora e todos estavam falando sobre isso hoje. Ele vai querer sua cabeça quando descobrir que Lauren é gay. – Shantal fala sorrindo e eu dou de ombros\, ele não pode ser pior do que já é.

- Mas e você e o Peter? - Pergunto fazendo Harry sorrir. Shantal suspira e começa a falar do quanto o garoto é tímido e devagar.

- Ele não vai te chamar pra sair! - Harry fala e eu concordo. A algumas semanas Shantal começou a se interessar pelo Peter e vem se esforçando por sua atenção.

- Vocês dois não tem absolutamente nada a ver. E não adianta falar que é divertido falar safadezas e vê-lo corar! - Falo e ela sorri concordando.

- Eu não sei\, só tenho que riscar da minha lista. - Ela fala olhando pela janela pensativa.

- O que? - Pergunto confusa.

- Sentar em um pau virgem. - Ela fala com naturalidade. Todos caímos na gargalhada.

- Peter não parece virgem\, ele só não curte piranhas. - Harry fala e Shantal da de ombros sem se importar com o adjetivo.

Quando chegamos á primeira loja de motos, minha animação vai por água a baixo. Eu não tinha nem metade do valor que estavam pedindo em uma lambreta, quanto mais em uma moto melhor. Minhas pesquisas na internet me levaram a crer que eu realmente conseguiria comprar com minhas economias, mas estão querendo cobrar o dobro do valor.

Passamos em duas outras lojas e eu já estava com vontade de chorar de frustração. Precisava voltar para dar inicio meu turno no Jack's e não tinha encontrado nada ainda.

- Por que não fica com essa Lambreta\, boneca? É ideal para garotas como você! – O ultimo cara teve a audácia de me oferecer por 4 mil dólares uma lambreta caindo os pedaços na cor rosa neon. Shantal com toda a sua educação\, mandou o homem enfiar a motocicleta em seu.. nariz.

Eu não queria uma moto espetacular. Apenas uma cor neutra para o caso de precisar revendê-la. Mas de todo caso vou ter que juntar mais dinheiro e voltar aqui depois.

- Carter disse que pagou uma mixaria em seu carro! – Harry fala quando voltamos para a estrada. – Ele comprou em uma oficina chamada Ballys\, precisou de alguns reparos\, mas saiu pela metade do preço! – Quando ele fala o nome da oficina procuro no google e vamos até la\, como a ultima esperança.

A oficina fica em lugar afastado e vazio, nós descemos do carro sem saber se o gps tinha dado no lugar certo, pois não tinha placa. Mas alguns pneus empilhados na lateral da loja nos indicavam uma borracharia, e chegando mais perto tinha um carro no alto de um elevador de carros. Um homem grande e cabeludo foi quem nos atendeu, ele usava roupas largas e cheias de graxa. Não gostei do jeito que ele olhou pra Shantal, então agradeci mentalmente por Harry estar conosco, e pelo menos parecer um homem forte e ameaçador.

- O que querem? – O homem pergunta limpando as mãos em um pano preto.

- Carter nos indicou. – Começo sem ter certeza se era uma boa ideia mencionar o garoto. – Ele disse que talvez o senhor tenha uma moto a venda\, num bom preço. – Fiz a minha melhor voz confiante.

- Ah tenho sim\, com certeza! – Ele fala nos conduzindo para o galpão na lateral da loja. – Essa belezinha aqui está a preço de bananas. É uma ótima moto\, mas está a um tempo parada. – O cara faz toda a propaganda da moto enquanto tira uma capa cheia de poeira de cima dela. Me surpreendendo completamente\, é uma Yamaha Mt\, na cor preta. Fico interessada \,porém com medo de perguntar quanto vale suas bananas.

- Quanto está pedindo nela? – Harry pergunta com sua pose de hétero top.

- Precisa de uma manutenção\, por isso estou passando por 2 mil dólares. – O cara fala olhando para Harry.

- Manutenção em que? – Pergunto animada demais. Ele fala algumas coisas sobre os pneus e o motor\, mas não me importo. O valor corresponde as minhas economias e ainda vai me sobrar dinheiro pra lidar com os reparos.

Fechamos negocio e saio da oficina com minha nova moto na carroceria de Harry. Quero dar pulos de alegria por ter dado certo, ainda não acredito.

- Obrigada Harry\, fez muito por mim hoje! – Falo quando conseguimos guardar a bendita moto na garagem.

- Só espero não ter contribuído para sua morte\, toma cuidado Kristen! – Ele fala e eu sorrio. Me despeço dos dois e subo correndo para tomar banho\, vou chegar atrasada no Jack's hoje\, mas foi por um ótimo motivo.

Visto uma calça escura, botas e o uniforme preto. Prendo o cabelo em um rabo de cavalo e desço as escadas. Não vou ter tempo de comer alguma coisa antes de sair, então só pego uma maçã na cozinha, quando estou juntando minhas coisas, Tyler chega.

- Estou atrasada\, posso usar seu carro essa noite? - Pergunto passando por ele e mordendo minha maçã.

- Eu tenho reunião com o time agora\, na casa do Max\, sobre a viagem. - Ele explica e meus ombros caem. No começo do semestre combinamos uma viagem para Califórnia com todo o time do Tyler e suas namoradas\, assim que acabar as aulas e os jogos da temporada. Vai ser incrível\, mas nesse momento não me importo com a viagem\, só quero chegar até meu trabalho.

- Não consegue me deixar no Jack's antes? - Pergunto fazendo uma careta e ele pensa por um momento.

- Vamos lá! - Fala desanimado e eu sorrio. No caminho conto a ele sobre a grande compra da minha moto e explico que não vou mais precisar ficar pedindo carona toda hora. Ele não fica animado e começa a me dar sermão sobre motocicletas e seus perigos.

Quando ele para na calçada, pulo do carro e saio correndo para a entrada do bar. Lizzy está arrumando as mesas e eu ando depressa pra guardar minha bolsa e ajudá-la. Mas ao passar pelo escritório do Jack, vejo o Jason saindo da sala e pela primeira vez em anos, com uma cara super preocupada.

- O que houve? - Pergunto olhando pra ele.

- Nada.. - Ele da um sorriso fraco mas não me convence.

- Jason me fala! - Peço aflita\, olho pra dentro da sala mas não vejo meu chefe.

- Depois. - Ele também olha pra dentro da sala\, mas em seguida sai andando sem me deixar perguntar nada.

- Jack? - Bato na porta e entro\, ele está sentado em sua cadeira olhando para o teto\, quando me vê da um sorriso que não alcança seus olhos.

- Está tudo bem? - Pergunto baixo e ele levanta da cadeira de uma vez\, passa a mão na calça como se estivesse tirando alguma poeira e volta a ser o habitual Jack.

- Estaria melhor se você não tivesse chegado atrasada não é mesmo mocinha? - Fala dando a volta em sua mesa de madeira. - Mas não tem problema\, Hope sempre me disse que até os melhores funcionários tem defeitos. - Ele começa a falar da sua falecida mulher\, com um brilho no olhar\, assim como todas as vezes que toca no nome dela. Depois de ouvir mais uma história linda dos dois\, vou correndo guardar minha bolsa e finalmente ajudar Lizzy a abrir o salão. Hoje não tem muito movimento\, e por isso organizamos o estoque\, reabastecemos os potes de ketchup e tiramos a poeira das garrafas. Coisas que não da pra fazer quando estamos lotados.

O que me da tempo de pensar sobre o Jack e o vinco de preocupação entre as sobrancelhas de Jason. Algo sério está acontecendo e isso aperta meu coração. Mil possibilidades passam em minha mente, mas algo se concretiza. Já faz algum tempo que percebo Jack diminuindo a lista de empregados, ele também está deixando faltar mercadoria e atrasando nosso salário. Eu posso estar enganada, mas talvez ele não esteja mais dando conta do bar. Todos nós amamos esse lugar, não só por servir o melhor queijo quente, ter as maiores sinucas e diversidade de estilos musicais. Mas principalmente por ser Jack o dono de tudo isso! Ele é como um pai para todos, sempre atencioso e cuidadoso. Sorrindo e nos abraçando com um braço, enquanto segura a peruca com o outro. Faz três anos que o conheço, ele é o nosso paizão, não posso imaginar o que esteja de errado com ele, mas sinto no coração que preciso ajudar, seja lá o que for.

Quando meu turno acaba, começo a ligar para o Tyler, ele demora a me atender e eu decido pedir carona para Lizzy. Ela está trocando de roupa lá dentro, e como já estou pronta prefiro esperar ela no estacionamento. Quando abro a porta de saída vejo o carro do Jason em sua vaga habitual. Ele está sentado no capô conversando com Peter, que está em pé segurando uma garrafa de vodca.

- Hey. - Falo me aproximando. Jason se vira e vejo seus olhos baixos\, ele está bêbado\, percebo pela sua expressão. -Está me devendo uma carona! Tive uma noite de merda graças a você e suas hienas! -Falo e ele sorri. Tenho medo dele dirigindo quando bebe\, mas preciso ficar a sós com ele e descobrir o que está acontecendo com Jack.

- Entra aí chaveirinho. - Jason fala e se despede de Peter.

- Na verdade\, é melhor eu dirigir. - Falo quando ele pula para o chão e se desequilibra.

- Nem se minha vida dependesse disso Bell! - Ele sorri de canto e abre a porta do carro.

Ainda estou brava por todo o barulho que ele fez. Mas Jason não é de beber tanto em plena segunda feira e está parecendo abatido e preocupado.

Entramos no carro e ele liga o rádio, coloca uma música da banda Red Hot chilli peppers e da partida no motor.

- Jack está falindo? - Pergunto dando início ao assunto de uma forma direta. Jason me olha semicerrando os olhos.

- Como sabe disso? - Ele pergunta e eu encosto a cabeça no banco. Então é verdade.. Uma tristeza me atinge\, não por talvez perder meu trabalho\, isso é o que menos me preocupa\, posso ser garçonete em qualquer bar de Seattle. Mas não imagino o quão difícil isso é para Jack\, ele e sua esposa Hope construíram juntos aquele bar\, tudo o que ele mais ama depois da sua falecida esposa\, é aquele bar\, eles não tiveram filhos. Hope morreu a dois anos e foi a coisa mais triste que aconteceu para todos\, ela era doce\, tinha um sorriso capaz de iluminar o ambiente e era o porto seguro de Jack.

- Eu só sei.. - Explico dando de ombros e ele suspira. - Isso não pode estar acontecendo\, tem que ter um jeito! - Falo frustrada.

- Ele já hipotecou a casa\, e as contas não param de chegar. Mas isso não é nem de longe o pior! - Jason fala e eu olho pra ele confusa\, tem pior?

- Kristen você precisa me jurar que vai manter segredo! Até mesmo de Tyler. - Ele fala alternando o olhar entre mim e a estrada. Percebo que o assunto é totalmente sério porque ele geralmente não me chama de Kristen. E também sempre dirige rápido e cheio de manobras\, mas hoje está devagar e atento. - Se Jack sonhar que você sabe\, ou que está olhando pra ele com pena\, eu te mato! - Ele ameaça a eu reviro os olhos mandando ele contar logo.

- Eu só estou te falando porque não sei mesmo o que fazer para ajudá-lo\, e talvez você pense em alguma coisa. Mas posso perder a confiança do Jack se ele souber que quebrei minha palavra de que não ia contar a ninguém. - Jason fala sério e meu coração acelera.

- Por Deus Jason\, o que está acontecendo? - Pergunto aflita.

- Jack está com câncer. Ele precisa retirar o tumor o quanto antes. Mas deixou de pagar seu plano de saúde\, e não tem dinheiro para se cuidar. - Jason fala e eu sinto um bolo se formar em minha garganta. - Ele quer que eu compre o bar\, vai colocar algumas contas em dia e reaver o seu plano para o tratamento. Mas não vejo isso como solução para longo prazo.

- Ah Deus! - Falo chorando. É realmente muito pior do que um problema financeiro. Jack não merecia isso! Fomos o restante do caminho conversando sobre formas de ajudá-lo \, não podemos deixar que ele se vire sozinho! Ainda mais em um momento como esse. Não vai ser fácil e nem barato lidar com isso.

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