Introdução dos Personagens
Sophia Gusmão Delmont, 25 anos, é confeiteira, dona da charmosa e acolhedora Confeitaria Doce Encanto. Criativa, sensível e apaixonada por doces desde pequena, ela transformou a antiga padaria da avó em um refúgio doce para o bairro e para sua alma. Perfeccionista e sonhadora, Sophia coloca amor em cada receita, acreditando que cada bolo carrega uma história e cada recheio pode curar uma dor.
Atrás do avental florido e dos cabelos presos de qualquer jeito, existe uma mulher marcada por decepções. Sophia amou demais, quebrou a cara, e desde então decidiu se proteger com açúcar, chantilly e independência. Sabe o que quer, mas não sabe se ainda acredita em amor de verdade.
Bruno Castanheira, 35 anos, é um médico ginecologista obstetra respeitado, chefe do setor em um hospital renomado. Inteligente, reservado e extremamente dedicado à profissão, ele já ajudou a trazer centenas de vidas ao mundo, mas ainda carrega o peso de não saber como lidar com a sua própria. Dono de um olhar observador e um sorriso discreto, Bruno parece ter tudo sob controle — exceto o que sente.
Filho de uma família tradicional da medicina, Bruno cresceu cercado de expectativas. Sempre foi o mais centrado, o mais estável, o que não se permitia erros. Mas no fundo, existe um homem cansado da rotina previsível, das relações superficiais e de fingir que não sente falta de algo mais. Algo que nem ele sabe explicar... até conhecer Sophia.
Ela, feita de sentimentos e sabores.
Ele, moldado por lógica e silêncio.
Duas pessoas que viveram muito, mas ainda não viveram tudo. Duas histórias que, ao se cruzarem, prometem misturar razão e emoção — com uma pitada de paixão, e um gosto que ninguém vai esquecer.
Açúcar, Bisturi e Desejos
Sophia Gusmão acordava todos os dias às cinco da manhã, sem exceção. Antes mesmo do sol se erguer no céu de tons alaranjados, ela já estava com as mãos na massa – literalmente. Dona da confeitaria mais charmosa do bairro Jardim das Acácias, a Doce Encanto, Sophia era o tipo de mulher que fazia tudo com paixão: os doces, os detalhes da vitrine, a forma como organizava os livros de receitas antigos herdados da avó.
Ela era doce, mas nada ingênua. Forte como um café expresso e decidida como quem já conheceu o amargo da vida, e escolheu o açúcar como redenção.
Já Bruno Castanheira preferia a calmaria do fim da manhã. Cirurgião ginecologista renomado, dono de um olhar penetrante e um carisma que deixava pacientes e enfermeiras sem ar, ele escondia sob o jaleco branco um homem disciplinado, metódico, e que controlava tudo... exceto os próprios sentimentos. E definitivamente não estava preparado para o que o destino lhe reservaria naquela terça-feira de céu limpo.
Enquanto Sophia preparava uma fornada de cupcakes com recheio de brigadeiro gourmet e organizava mentalmente os pedidos do dia, Bruno encerrava mais uma cirurgia delicada e descia para tomar seu café na cafeteria ao lado do hospital.
Mas naquela manhã, algo o fez dobrar a esquina do outro lado da rua.
O cheiro adocicado vindo da Doce Encanto parecia ter vida própria. O aroma da baunilha misturada com chocolate invadiu seus sentidos e, sem perceber, os passos o levaram até a pequena confeitaria com letreiros dourados e florzinhas na janela.
Foi quando ele a viu pela primeira vez. Sophia, de avental rosa manchado de açúcar, cabelos presos de forma desleixada e um brilho nos olhos que não se encontrava facilmente por aí.
Ela ergueu o olhar, encontrando os dele.
E o mundo, por um segundo, pareceu parar.
Ele, todo racionalidade. Ela, puro instinto e sensibilidade.
Doce e bisturi.
Dois mundos prestes a colidir... com gosto de desejo e sabor de recomeço.
Primeira vez
Hoje é minha primeira consulta com o ginecologista. Confesso que estou nervosa. Ansiosa. Nunca fui a um, então optei pelo posto aqui perto de casa mesmo. Melhor algo prático, pensei.
Entrego meus documentos, sento na recepção e fico esperando ser chamada. Na minha cabeça, tinha certeza de que seria uma médica. Uma mulher. Estava preparada para isso.
Mas quando chamam meu nome e eu entro na sala, quase tropeço nos próprios pés.
Um homem. Um médico. E não qualquer médico — um verdadeiro galã digno de novela. Alto, elegante, com os olhos mais intensos que já vi. As pernas tremem no mesmo instante.
— Ah… me desculpa, acho que entrei na sala errada — gaguejo, tentando disfarçar a surpresa.
— Seu nome é Sophia? — ele pergunta com um meio sorriso.
— Sou sim.
— Então está no lugar certo. Pode entrar.
Sinto o rosto esquentar. Entro devagar.
— Bom dia — ele diz com gentileza. — Meu nome é doutor Bruno Brito. Sou ginecologista e vou te atender hoje.
Assinto, ainda sem graça. Mas conforme a consulta avança, começo a relaxar aos poucos.
— Me conta, o que te trouxe até aqui? — ele pergunta, abrindo a ficha.
— É minha primeira consulta com um ginecologista — respondo. — Queria saber como está minha saúde íntima, se tem algo que eu deva me preocupar, se preciso fazer exames…
— Perfeito — ele diz, anotando. — Vou te fazer algumas perguntas, tudo bem?
— Claro.
— Você tem notado mau cheiro, corrimento, menstruação irregular ou muito intensa? Como anda sua vida sexual? Usa algum método contraceptivo?
— Não tenho mau cheiro. Às vezes aparece um corrimento claro, meio esbranquiçado, mas sem odor. Minha menstruação é mais forte nos três primeiros dias. E… bom… minha vida sexual não é ativa.
Ele levanta os olhos para mim, atento.
— Não é ativa? Por escolha ou porque faz tempo?
Engulo seco. Talvez por vergonha, talvez por hábito, respondo direto:
— Nunca tive relações. Por isso também não uso anticoncepcional.
Vejo os olhos dele se estreitarem levemente. Ele continua, focado na ficha:
— Me confirma seus dados, por favor.
— Sophia Delmont, 25 anos. Primeira vez ao ginecologista. Sem queixas. Sem uso de anticoncepcional.
Ele confirma com um aceno.
— Tudo certo. Bom, então concluo que essa é sua primeira experiência nesse universo adulto de autocuidado. Já pensou em algum método contraceptivo, caso decida iniciar sua vida sexual?
— Talvez o anel vaginal, o implante ou o DIU… mas dependeria dos efeitos colaterais. O senhor indicaria algum?
— Isso varia de mulher para mulher. Nenhum método é 100% eficaz sozinho, por isso a proteção sempre é importante — ele explica. — E... você namora? Já introduziu algo na região vaginal? Algum tipo de brinquedo, por exemplo?
Sinto o rosto queimar. Desvio o olhar.
— A única coisa que toca minha região íntima são meus próprios dedos — confesso, baixinho.
Percebo um sorriso discreto nos lábios dele, que logo finge disfarçar.
— E durante a menstruação, sente dor?
— Sinto cólicas na parte baixa da barriga e dores nas costas, próximo à cintura.
Ele anota mais algumas informações.
— Tudo bem. Vou pedir alguns exames de sangue, urina e um ultrassom pélvico. Se achar necessário, farei o papanicolau. Já ouviu falar?
— Sim, já ouvi.
— Ótimo. Pode ir até o banheiro, tem um roupão limpo lá. Se vista e volte, por favor.
Faço o que ele diz. Quando volto, ele me orienta a deitar na maca e começa o ultrassom.
Passa o gel em minha barriga, concentrado.
— Olha, Sophia… até agora está tudo normal. Mas, por precaução, quero fazer o papanicolau. Tudo bem pra você?
— Tudo bem.
— Só pra confirmar: você é virgem, certo?
— Sim.
— Você é evangélica? — pergunta, parecendo curioso.
— Não. — Ele me encara, surpreso. — Por quê?
— Desculpa se pareço invasivo, mas é que é raro atender uma mulher da sua idade que ainda é virgem e que vem à consulta sem sintomas ou pedidos de contraceptivos.
— Tudo bem. Até eu me surpreendo às vezes. Como diz minha mãe: “Você não é todo mundo”.
Ele sorri, encantado. Sinto algo diferente em seu olhar. Um tipo de respeito... e um interesse que não é só clínico.
— Posso te chamar de “Soph”? Já que estou tratando de algo tão íntimo, achei que podia usar um apelido.
— Pode — respondo, com um sorriso tímido.
— Licença... abre as pernas pra mim — diz com delicadeza. — Vou introduzir o dedo, tudo bem?
Assinto. Ele realiza o exame com cuidado, mas percebo quando resmunga algo baixinho. Quase como se estivesse surpreso com a confirmação de que, sim, eu era mesmo virgem.
— Vou fazer o exame com Swab — avisa. — É apenas uma coleta de secreção vaginal. Nada invasivo, mas pode ser desconfortável.
Tudo acontece com muito profissionalismo. Logo ele termina.
— Pode se trocar, por favor.
Volto com o roupão em mãos, ajeitando os cabelos. Ele fecha a ficha e me entrega a solicitação dos exames.
— Aparentemente, está tudo certo. E, sinceramente? Seus dedos estão dando conta do recado — brinca, com um sorriso sugestivo.
Eu rio, envergonhada.
— Doutor… qual sabonete íntimo você indicaria? Já ouvi que o pH da vagina precisa estar equilibrado.
— Depende da sensibilidade. No seu caso, notei que sua pele é delicada. Alguns sabonetes podem ser abrasivos demais. Quais costuma usar?
— Sabonete de bebê. Já usei outros, mas me causaram coceiras e uma sensação de que não limpavam direito.
— Que marca?
— Granado, Baruel.
— Ótimos. Pode continuar com eles. Se em algum momento notar algo diferente, como corrimento ou irritação, pode fazer um banho de assento com camomila ou aroeira. Alivia bastante.
Assinto, satisfeita com a atenção. Me preparo para me despedir, mas ele me olha nos olhos, com uma pausa carregada de intenção.
— Posso te fazer uma pergunta fora do consultório?
— Claro.
— Você acharia estranho... ou até assédio, se eu te convidasse para sair? Comer alguma coisa?
— Você está me chamando pra sair porque sou virgem?
Ele ri, surpreso.
— Não. Estou te chamando pra sair porque gostei de você.
— Mas você é comprometido?
— Solteiro. Recém-chegado à cidade. E, sinceramente? Preciso de companhia. E você chamou minha atenção desde que entrou aqui.
Dou um sorrisinho de canto. Algo nele me instiga.
— Pode me passar seu WhatsApp? Que dia estaria disponível?
— Hoje — digo. — Essa semana, minha agenda está uma loucura.
— Hoje? Está muito cheia assim?
— Se deixar pra depois, posso mudar de ideia. Não é todo dia que aceito convites.
— E por que aceitou o meu?
— Porque você me atraiu. Não sei explicar por quê… só senti.
Ele respira fundo, como se confirmasse a própria intuição.
— Que bom. Eu também senti. Me manda o endereço que passo aí.
— Pode deixar. Te vejo mais tarde, doutor.
— Doutor só no consultório. Hoje à noite… só Bruno.
Saio do consultório sentindo meu coração disparar. Diagnóstico? Ansiedade em estado febril. Prognóstico? Algo me diz que essa história mal começou..
Ele me acompanhou até a porta, ainda sorrindo.
Eu saí com um misto de vergonha, alívio... e uma dúvida: será que foi só impressão minha ou esse médico era mais que profissional?
O Jantar com o Doutor
Saio de casa com o coração aos pulos. Não sei exatamente o que vestir — ele não disse onde iríamos, e isso só aumentava o mistério. Opto por um vestido preto longo, justo, com um trançado nas costas e um decote discreto, mas fatal. Sexy sem ser vulgar. Nos pés, uma plataforma que me dá confiança, já que salto agulha não é meu forte.
Separo os acessórios prateados, pego minha bolsa e deixo tudo preparado. Tô nervosa, não vou mentir. Fico rodando pela casa, tentando me ocupar, mas de olho no celular a cada cinco segundos. Já tinha até me convencido de que ele não ia ligar... um homem daquele, lindo e todo doutor, devia ter mulheres de sobra.
Mas às 17h em ponto, a mensagem dele chega:
“Passando para avisar que às oito estarei te esperando no Bottino Ristorante Italiano.”
Meu coração dá um pulo. Um misto de alívio e empolgação toma conta do meu corpo.
Roupinha preta aprovada.
Aviso à minha mãe que vou sair. Às 18h30, estou na rua. O restaurante não é perto, então pego um ônibus — sob olhares e comentários. Ninguém nunca me viu tão “gata” numa segunda-feira. Mas hoje não sou todo mundo.
Chego ao centro, troco de condução e, finalmente, desço em frente ao restaurante. Mando mensagem:
— Acabei de chegar. Estou na recepção.
Enquanto espero, encontro Cássio, um conhecido que me distrai com conversa fiada. Ia até pegar o celular pra ligar pro doutor, quando ouço uma voz inconfundível, aveludada, com aquele final rouco de mexer com o corpo todo:
— Boa noite... te achei linda. Mas linda mesmo. Quase não te reconheci, Sophia.
Ele me beija o rosto com carinho e firmeza. Me despeço do Cássio e sigo com Bruno até uma mesa charmosa no meio do salão, perto do fundo.
— Posso escolher o drink? — ele pergunta com aquele sorriso que deixa qualquer uma sem fôlego.
— Pode, mas sem álcool pra mim.
— Vai me deixar bebendo sozinho?
— Não, só vou te deixar mais sóbrio amanhã. — dou uma piscada provocante.
Ele ri, encantado.
— Você é mesmo uma caixinha de surpresas...
Pedimos duas caipirinhas — a minha, sem álcool. De entrada, uma tábua de queijos. Depois, Fettuccine ao Funghi pra mim, filé ao molho roquefort pra ele. E, pra fechar, um pavê de doce de leite que já chega derretendo.
A conversa flui. Ele é leve, elegante, mas tem aquele jeito firme que instiga. A cada olhar, sinto meu corpo reagir — e ele também percebe.
Em determinado momento, duas mulheres se aproximam. Roupas justas demais, olhares mal disfarçados.
— Doutor Bruno, queria só tirar uma dúvida sobre aquele exame...
Ele se ajeita, mas mantém o tom calmo:
— Agora não, meninas. Estou fora do hospital... com minha mulher.
Sinto o impacto. Elas também. Me olham com desprezo e saem.
— Que isso, doutor? Me chamando assim...
— Foi a forma mais rápida de afastar curiosas. E proteger nosso momento.
— Esperto.
— Ou só apaixonado por uma mulher de vestido preto e olhar de perigo.
Solto uma risada e pego o garfo, tentando esconder o rubor.
— Teve dificuldade pra chegar aqui?
— Só peguei dois ônibus. Achei que vinha de Porsche?
Ele para, surpreso.
— Como você sabe que tenho uma Porsche?
— Ué, foi só um palpite. Acertei?
— Sim... uma vermelha. Tá parada aí fora.
Dou uma risada debochada.
— E eu achando que tava ofendendo.
Ele se inclina, abaixa o tom:
— Não vou deixar você voltar sozinha... com esse vestido. Seria um pecado.
A bebida chega. Ele brinda:
— A nós. Às surpresas da vida.
Bebemos. Ele me observa como se quisesse decorar cada parte do meu rosto, do meu corpo, da minha pele.
— Topa ir a um lugar mais reservado depois? — ele solta, direto.
Levanto a sobrancelha.
— Que tipo de lugar?
— Calma, nada que você não queira. Só... algo mais tranquilo. Com menos olhos em cima de nós.
— Se for o que eu tô pensando... não rola. Posso te oferecer amizade.
— Quero mais do que sua amizade, Sophia. Mas respeito seu tempo. Só... não consigo tirar você da cabeça desde que entrou no consultório.
Sorrio de canto.
— E por que eu?
— Porque você me desconcerta. Me provoca... sem esforço. E eu sou viciado em desafios.
— Cuidado, doutor. Às vezes, os desafios mordem.
Ele se aproxima, segura minha mão e diz num sussurro:
— Adoro quando mordem.
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