...SOPHIE...
"Que desânimo é esse, Meninas? Animam-se, vamos!" Kayla disse, se aproximando da nossa mesa com aquele sorriso que parecia mais falso do que genuíno. Na mesma hora, seus olhos passaram por nós – Minji, Yuna, Haley e eu – como se estivesse tentando avaliar se alguém ali iria reagir ao seu chamado.
Minha atenção, no entanto, estava em outro detalhe: a taça em sua mão. Será que ela não se cansa de beber, não? pensei, enquanto minha paciência começava a desaparecer pouco a pouco.
Sentindo o incômodo crescer, respirei fundo antes de responder: "Você pode se sentar, por favor?" Minha voz saiu fria, sem qualquer tentativa de esconder a irritação, e meus olhos se fixaram diretamente nos dela.
Ela arqueou a sobrancelha, fingindo surpresa, mas o sorriso desafiador não desapareceu de seu rosto. "Mas isso é uma festa, não é?" respondeu, com um biquinho que, ao invés de ser fofo, conseguiu apenas me irritar ainda mais.
Eu não tinha tempo para aquilo. Não naquela noite. "Sim, mas não é *a sua* festa, Kayla," retruquei, cruzando os braços e me virando de volta para o palco, onde o homem de terno já começava a falar. O evento finalmente estava começando, e eu queria me concentrar, mas Kayla parecia decidida a me testar.
"Aff, não dá pra você relaxar, não?" ela provocou, revirando os olhos enquanto dava mais um gole em sua bebida. Dessa vez, fui eu quem bufou, furiosa. Mas, felizmente, ela desistiu de continuar. Com um suspiro exagerado, se jogou na cadeira ao lado de Minji, finalmente ficando quieta.
Pelo canto do olho, vi Minji lançar um olhar de lado para Kayla, como quem dizia "era só isso que você queria?". Yuna e Haley apenas trocaram sorrisos discretos, claramente preferindo não se meter. Eu, por outro lado, tentei ignorar completamente e voltei minha atenção para o palco, onde as luzes já estavam mais intensas e o apresentador começava a anunciar o início da premiação.
Pelo menos, por agora, teríamos paz.
O salão estava cheio, e o clima era de expectativa. Parecia que todo mundo estava prendendo a respiração, esperando o grande momento. As mesas estavam organizadas em volta do palco, e cada uma delas tinha artistas que eu conhecia muito bem – grupos femininos e masculinos, além de cantores solo. Era impossível ignorar o brilho das roupas, os sorrisos atentos e os olhares que iam do palco para o público. Todos pareciam tão perfeitos, como se tivessem saído de uma revista.
Mesmo assim, dava para sentir que ninguém estava realmente calmo. Alguns sussurravam entre si, outros mexiam nos celulares, mas todos estavam ali com o mesmo objetivo: serem reconhecidos, mesmo que por alguns segundos, naquela noite tão importante.
O palco era enorme e estava bem iluminado, com luzes douradas que refletiam nas cortinas vermelhas ao fundo. Tudo parecia feito para impressionar. Só de olhar, dava para sentir o peso daquele momento. Não era só mais um evento. Estar ali era um sonho para qualquer artista, o tipo de coisa que você trabalha anos para conquistar.
De repente, o homem de terno subiu ao palco. Ele caminhava devagar, com passos firmes, e segurava o microfone com confiança, como se estivesse no controle de tudo. Assim que começou a falar, sua voz preencheu o salão.
"Sejam bem-vindos à vigésima edição do *Prêmio K-pop do Ano*!" ele anunciou. Era como se aquelas palavras tivessem acendido um estopim. A plateia explodiu em aplausos e gritos cheios de energia, e o som parecia vibrar dentro de mim.
Olhei ao redor. Kayla agora estava mais atenta, embora tentasse parecer indiferente. Minjo, como sempre, mantinha aquele sorriso discreto, o tipo de expressão que ele usava quando sabia que estava sendo observado. Outros artistas nas mesas ao lado também pareciam se ajeitar em seus lugares, tentando disfarçar a ansiedade.
"Hoje, temos aqui os maiores nomes da música coreana," continuou o apresentador. Sua voz era calma, mas cheia de emoção, e parecia alcançar cada canto do salão. "Artistas que tocaram o coração de milhões com suas vozes, suas performances incríveis e suas músicas inesquecíveis."
Ele fez uma pausa, e o silêncio que tomou conta do lugar foi quase tão forte quanto o barulho de antes. Todo mundo parecia estar sentindo o mesmo: a importância daquele momento. Era como se o ar tivesse ficado mais pesado, cheio de emoção.
"Sem mais delongas, vamos começar a premiação!" ele disse, e dessa vez o público explodiu ainda mais. Aplausos, gritos, assobios. As luzes do palco ficaram mais brilhantes, agora em tons vibrantes, e a música de fundo começou a tocar.
Eu senti minhas mãos suando, mas bati palmas junto com todos os outros. Olhei ao redor da nossa mesa e vi os rostos dos artistas ao nosso lado. Alguns estavam sorrindo, outros pareciam sérios, mas havia algo em comum em todos eles: o brilho nos olhos. Era o brilho de quem sabia que só de estar ali já era uma conquista.
E com isso, a noite mais esperada do ano finalmente começou.
...****************...
Depois de anunciarem os terceiros e segundos lugares para os grupos vencedores, finalmente chegou o momento mais aguardado da noite: o prêmio final. Meu coração parecia bater fora do peito, e todas nós estávamos quase saltando das cadeiras quando o homem no palco começou a falar.
"E agora, temos o tão esperado prêmio de *Melhores Músicas do Ano*!" ele anunciou, com uma voz firme e cheia de suspense, sem dar nenhuma pista de quem poderia ser o vencedor.
"Caramba, isso dá uma agonia do caramba!" Minji murmurou ao meu lado, enquanto mexia os dedos nervosamente, formando um sinal de "solte" no ar. Olhei para baixo e vi Haley e Yuna apertando as mãos uma da outra debaixo da mesa, como se isso fosse ajudá-las a segurar os nervos. Já Kayla, como sempre, parecia mais relaxada – ou talvez apenas disfarçasse bem – enquanto terminava os últimos goles de sua bebida.
Eu, por outro lado, sentia como se minha respiração estivesse presa. Cada segundo parecia durar uma eternidade.
"E o prêmio de *Melhores Músicas do Ano* vai para..." O apresentador segurava o cartão nas mãos, mas estava demorando tanto para abrir que parecia estar nos torturando de propósito. Cada movimento dele era lento, calculado, como se quisesse nos deixar à beira de um colapso.
Eu estava ficando louca. Ele puxava o cartão devagar, parando para olhar para o público, que por sua vez parecia tão ansioso quanto nós. Era como se o tempo tivesse parado.
"E o prêmio vai para..." Ele fez mais uma pausa, olhando para os rostos curiosos na plateia, criando ainda mais drama. "4EVER!" ele finalmente anunciou, e o salão inteiro explodiu em aplausos e gritos.
Por um momento, eu não consegui acreditar no que tinha ouvido. Olhei para as meninas, e percebi que elas também estavam em choque. Minji, Haley, Yuna, Kayla e eu nos entreolhamos, todas com os olhos arregalados e as bocas abertas, sem saber se aquilo era real.
"Subam aqui, meninas, venham receber o prêmio de vocês!" o apresentador disse, apontando diretamente para nós com um sorriso no rosto. No mesmo instante, dois homens apareceram no palco carregando buquês de flores, enquanto outro trazia o troféu – uma obra de arte em forma de microfone, com o brilho de diamantes que refletia as luzes do palco de forma quase hipnotizante.
"Puta merda..." murmurei, sentindo meu corpo inteiro tremer. "Conseguimos."
As meninas começaram a se levantar, ainda meio em transe, enquanto os outros artistas nos olhavam com sorrisos e aplausos. A plateia parecia uma onda de emoção, mas tudo ao meu redor parecia distante, como se minha mente estivesse tentando processar o que estava acontecendo.
Enquanto caminhávamos até o palco, senti as lágrimas se acumulando nos meus olhos. Tudo o que passamos – o esforço, as noites sem dormir, os ensaios intermináveis – havia valido a pena. Aquele momento… aquele troféu… era nosso.
Ao subirmos no palco, fomos recebidas com buquês de rosas vermelhas, cada um mais bonito que o outro. As flores brilhavam sob as luzes do palco, e era impossível não notar como combinavam perfeitamente com nossos vestidos vermelhos cheios de glitter. Era como se tudo tivesse sido planejado para aquele momento – e talvez tivesse mesmo.
Assim que pegamos as flores, todas as câmeras se voltaram para nós. Flashes vinham de todos os cantos do salão, fazendo o palco parecer ainda mais iluminado. Era um mar de atenção completamente focado em nós. Estávamos acostumadas com palcos – afinal, esse era o nosso lugar –, mas esse era diferente. Esse palco não era para cantar ou dançar. Esse palco era para celebrar.
Enquanto olhava para a plateia, ouvi assobios vindos de algum lugar. Meu olhar vagou até que encontrei Rafael, nosso coreógrafo, e Julian nosso empresário, assobiando juntos, animados, seus rostos iluminados por sorrisos orgulhosos. Não consegui evitar um sorriso de volta. Eles estavam sempre do nosso lado, e vê-los comemorando por nós fez meu peito se aquecer.
Continuei olhando para o público e, na mesa mais à frente, vi algo que me deixou ainda mais emocionada. Os pais de Minji estavam ali, sentados com minha irmã, Mirae. Eles estavam sorrindo, claramente orgulhosos, enquanto aplaudiam com entusiasmo. O irmão de Yuna também estava junto deles, usando um paletó cinza muito elegante, o tipo de roupa que ele só usaria em uma ocasião como essa. Era estranho vê-lo, mais ele estava ali. Só espero que seja só para vê-la..
Não eram apenas eles. Outros pais e familiares dos artistas também aplaudiam de suas mesas, alguns com lágrimas nos olhos, outros sorrindo como se estivessem vivendo aquele momento junto conosco. Era impossível não se sentir ainda mais grata por tudo.
Meu olhar voltou para Mirae, minha irmã. Quando nossos olhos se encontraram, vi lágrimas escorrendo pelo rosto dela. Ela estava sorrindo, mas as lágrimas deixavam claro o quanto aquele momento significava para ela também. Meu coração apertou, e eu sorri de volta, tentando segurar minhas próprias lágrimas. Eu queria que ela soubesse que tudo o que fiz até agora foi por nós duas.
E por nossos país...
"Agora, garotas, o momento é todo de vocês," disse o apresentador, me puxando de volta para o presente. Ele deu um passo para o lado, estendendo o braço em direção ao microfone, como se estivesse nos entregando o palco. Tudo parecia tão grandioso, como se aquele momento fosse um sonho.
Olhei para as meninas, e vi o mesmo brilho nos olhos delas que eu sentia nos meus. Era a nossa vez. O palco era nosso.
SIM MEUS AMADOS LEITORES ADMITO QUE ESQUECI O NOME DO GRUPO DAS GAROTAS DA PRIMEIRA TEMP KKKKKK MAIS AMEI ESSE E ESPERO QUE NÃO SE IMPORTEM E TAMBÉM TENHAM GOSTADO PFV KKKK🙏🏻
...KAYLA...
Assim que chegamos em casa, me joguei no sofá sem nenhuma preocupação, largada de qualquer jeito, sentindo como se meu corpo estivesse feito de pedra. A primeira coisa que fiz foi chutar os sapatos para longe, sem nem me importar onde eles iriam parar.
"É impressão minha ou tá tudo girando?" murmurei, minha voz arrastada enquanto olhava para o teto. Minha cabeça parecia flutuar, e o resto do meu corpo estava mole e pesado, como se eu fosse afundar no sofá para sempre.
"Eu *avisei* pra você não beber demais, mas você nunca escuta," Yuna disse, me lançando aquele olhar maternal que ela sempre fazia questão de usar nessas situações. Ela cruzou os braços, balançando a cabeça enquanto me observava praticamente desmaiada no sofá.
"Desde quando ela *escuta* alguém, Yuna?" Sophie completou, passando por mim com o tom sério de sempre. Ela tirava o casaco que tinha colocado assim que saímos do evento, sem nem me dar muita atenção.
"Ah, qual é, gente! Nós ganhamos! *Nós ganhamos, porra!*" gritei, jogando os braços para o alto, mesmo sem forças para me levantar. "Por que vocês têm que ser tão caretas? Tipo, nós vencemos! Isso não acontece todo dia! Vamos continuar festejando! Que tal uma balada, hein?" sugeri, ainda jogada no sofá, meio tonta, mas cheia de energia. Ou, pelo menos, tentando parecer que tinha energia pra isso.
"Que tal um banho?" Yuna rebateu com firmeza, já se aproximando de mim com aquele olhar decidido que só ela tinha. Antes que eu pudesse protestar, senti suas mãos firmes nas minhas costas, me ajudando a levantar com cuidado.
"Banho?" perguntei, tentando focar meus olhos nela, mas ainda meio zonza. "Sério?"
"Sim, festeira," ela respondeu, me guiando com paciência, como se eu fosse uma criança que se recusava a ir para a cama. Ela colocou uma das mãos nas minhas costas e segurou meu braço com a outra, garantindo que eu não tropeçasse pelo caminho.
"Eu só queria dançar um pouco..." murmurei, meio derrotada, enquanto deixava Yuna me levar.
"Só queria te tirar do sofá antes que você desmaie," ela respondeu, com um sorriso travesso, mas ainda firme.
Atrás de nós, ouvi Sophie bufar baixinho enquanto pegava as nossas coisas e as colocava no lugar. "Essa noite ainda vai ser longa..." ela disse, como se já soubesse o trabalho que teria pela frente.
Enquanto Yuna me empurrava para o banheiro, não pude evitar um sorriso. Tudo bem, talvez eu tivesse exagerado um pouco – ok, muito –, mas a sensação de vitória ainda estava pulsando no meu peito. Não importava o quanto elas reclamassem, eu sabia que, no fundo, elas estavam tão felizes quanto eu.
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Entro no chuveiro e deixo que a água quente me envolva, como um abraço acolhedor. O som da água caindo é quase hipnótico, e eu me permito um momento de tranquilidade. Com as mãos, aplico o sabão sobre meu corpo, sentindo a espuma deslizar suavemente pela pele, enquanto o aroma fresco e limpo me envolve.
Apoio-me contra a parede fria, buscando estabilidade enquanto a água escorre em cascata. A pressão do dia a dia parece se dissipar a cada gota que toca meu corpo. Fecho os olhos e abaixo a cabeça, permitindo que a água escorra pelos meus cabelos, puxando-os para baixo com força. Sinto cada fio se soltar, como se estivesse me livrando de um peso invisível.
"Ganhamos mais..." A frase ressoa em minha mente, um eco de conquistas e momentos compartilhados. Mas, mesmo com essa lembrança, uma sensação de vazio persiste, como uma sombra que não consigo afastar completamente.
Com um suspiro profundo, me lembrando dos lugares dos acentos vazios perto do palco.
"Esqueça isso, Kayla..." murmuro para mim mesma, enquanto pego uma toalha e a envolvo em torno do meu corpo. O tecido macio e quente me traz um pouco de conforto, mas o peso do álcool ainda persiste. Sinto a leveza da água escorrendo, mas a sensação de embriaguez ainda me acompanha, como uma sombra que não quer me deixar. Sei que amanhã essa sensação vai me consumir por completo, mas, por agora, não me importo.
Caminho até a cama, cada passo um lembrete do álcool. Sento-me na beirada, sentindo o colchão afundar sob meu peso, como se ele estivesse me acolhendo após um longo dia. Meu olhar se dirige ao meu celular que repousa sobre o lençol, um objeto inanimado, esperando por um sinal de vida. Com um toque hesitante, aperto o botão para ligá-lo, meu coração acelerando levemente na expectativa de ver alguma notificação. Mas, ao olhar para a tela, percebo que não há nada. Claro, pensei, um sorriso involuntário surge em meus lábios.
Pego o secador de cabelo, ligando-o e deixando o som do vento quente preencher o espaço ao meu redor.
...SOPHIE...
"Será que ela está bem?" Minji pergunta, sua voz carregada de preocupação enquanto abre a geladeira, o som metálico das prateleiras se movendo ecoando na cozinha. Ela busca uma garrafinha de água, mas sua expressão revela que a sede não é a única coisa que a inquieta. O brilho da luz fluorescente reflete em seu rosto, acentuando as sombras que se formam sob seus olhos.
"É a Kayla, com certeza. É só mais um pouco de drama e tals," respondo, tentando desviar a atenção do que realmente importa. Meus olhos permanecem fixos na tela da TV. Ao meu lado, Yuna e Haley estão imersas na trama, mas a inquietação de Minji é palpável, como uma sombra que se estende sobre nós.
"Eu também estou preocupada..." Yuna concorda, interrompendo o fluxo do filme ao pausar a tela. Ela volta seu olhar para Minji, que agora segura a garrafa de água como se fosse um objeto precioso. A tensão no ar é quase tangível.
"Meninas, vocês conhecem ela..."Digo, Yuna me olha, e o olhar de Minji se une ao dela, ambas com expressões sérias que falam mais do que palavras poderiam. A preocupação delas é evidente, e eu não posso ignorar isso, mas a verdade é que não sei como lidar com a situação de Kayla.
Ela tem os seus altos e baixos e ambos são demais para eu acompanhar..
"Sophie... você sabe que..." Minji começa, sua voz firme, mas eu não quero ouvir. Viro-me para frente, tentando evitar uma discussão que sei que não levará a lugar algum. O filme continua a tocar, mas a tensão entre nós é mais intensa do que qualquer cena na tela.
"Eu sei, ok..." respondo, a frustração transparecendo em minha voz. Termino a frase e me viro de costas para elas, buscando um momento de silêncio, um espaço onde eu possa processar tudo isso.
Kayla, na verdade, tem andado mais animada do que o habitual. Seu tom de voz, embora vibrante, parece um pouco forçado, como se estivesse tentando convencer a si mesma de que tudo está bem. Algo mudou em seu jeito de ser; há uma energia quase frenética nela, como se quisesse se meter em confusão ou chamar a atenção, como se já não fizesse isso o suficiente. Essa nova faceta dela me deixa inquieta, uma sensação de que por trás do sorriso, algo mais profundo está se escondendo.
"Bem... se tem algo errado com ela, não acham que ela iria nos contar se quisesse?" digo, tentando trazer um pouco de lógica à situação. Minhas palavras atraem a atenção de todas, e o ambiente se torna mais sério, como se a leveza do filme tivesse sido interrompida por uma verdade incômoda.
"É, você tá certa..." Minji concorda, juntando-se a nós no sofá e tomando um gole da garrafinha de água que havia buscado. O gesto dela é quase automático, mas a expressão em seu rosto revela que ela também está refletindo sobre o que eu disse.
"Ótimo," digo, pegando o controle remoto e despausando o filme.
" Sério? Vocês nem me esperaram!?" A voz de Kayla surge de repente. Ela sai de seu quarto e se joga ao meu lado no sofá, fazendo com que eu a encare. "Foi mal," ela diz, com uma expressão de inocência que parece quase exagerada.
Ela parece ótima, não estão vendo?
Noto os seus cabelos loiros, ainda um pouco úmidos, como se ela tivesse acabado de sair do banho. A camisola de costume, uma camiseta branca larga, contrasta com a calça de moletom azul que combina perfeitamente com os seus olhos. É uma combinação simples, mas que combina com ela.
"Podemos voltar" Minji sugere, pegando o controle da minha mão com um movimento rápido.
Ei..
"Não precisa, sei muito bem como vai acabar essa história," Kayla responde, cruzando as pernas de maneira descontraída e olhando para a tela com um sorriso travesso. "Eles ficam juntos, casam e têm uma renca de filhos." Ela termina a frase com um tom de desdém, e Minji ri, divertida com a certeza de Kayla.
"Kayla, você é mesmo anti-romances, né?" Haley comenta, e Yuna sorri, concordando com a afirmação.
E uma pegadora sem coração, tem mesmo o direito de criticar o que considera clichê?.
"Pensando alguma coisa de mim, né, Sophie?" Kayla diz, virando-se para mim com um olhar curioso. "Tá na sua cara." ela aponta pra mim.
"Dá pra ficar quieta e assistir?" respondo, tentando ignorar a provocação e dando um sinal para Minji continuar o filme.
"Tá bom..." Kayla choraminga ao meu lado.
...****************...
Yuna abre a boca pela terceira vez enquanto o filme ainda continua passando, e eu já sei o que vem a seguir. "Eu acho que vou indo," ela diz, colocando a mão na boca como se estivesse se preparando para soltar mais um bocejo.
"Eu também," Haley diz , encarando-as enquanto se levantam do sofá. Elas trocam olhares cúmplices e, com um sorriso travesso, se dirigem para o quarto de Yuna, sem a menor cerimônia.
"Vocês nem disfarçam mais, né?" comento, tentando manter um tom de brincadeira, mas a verdade é que não consigo evitar um sorriso ao ver a ousadia delas.
As duas se viram para mim, sorrisos maliciosos nos rostos, e antes que eu possa dizer mais alguma coisa, elas fecham a porta atrás de si com um estalo.
SOPHIE
Assim que o filme terminou, me levantei do sofá, sentindo o corpo pesar pelo cansaço. Minji já havia dado boa noite e ido para o quarto dela, e eu estava pronto para fazer o mesmo. No entanto, parei no meio do caminho ao notar Kayla ainda sentada no sofá, imóvel, encarando a tela preta onde os créditos finais rolavam.
"Vai ficar aí?" perguntei, virando-me para encará-la. Ela nem desviou o olhar.
"Não, já já eu vou ", respondeu, com um tom distante, como se só então percebesse que estava fixando o vazio.
Observei-a por mais alguns segundos, pensando se deveria insistir ou apenas deixá-la ali. Será que A Culpa é das Estrelas tinha traumatizado ainda mais a Kayla com filmes românticos?
Pensei em provocar, tirar sarro da expressão confusa que ela fazia, mas o cansaço venceu. Além disso, amanhã teríamos que estar de pé cedo para treinar na academia, e o sono já começava a pesar. Resolvi deixar para depois.
Tenho mais o que fazer..
"Boa noite", murmurei, sem esperar resposta. Dei as costas e segui pelo corredor até o meu quarto, ignorando o silêncio que Kayla deixava para trás. O som dos meus passos ecoava, preenchendo a casa adormecida.
Chegando ao quarto, fui ao banheiro. Olhei rapidamente no espelho, notando o cansaço estampado no rosto, e alcancei a escova de dentes. Enquanto escovava, o som da água corrente enchia o silêncio.
Enxaguei a boca, sequei o rosto com uma toalha e voltei para o quarto. Deitei na cama com um suspiro, puxando o cobertor até os ombros. O peso macio me envolveu, e meus olhos começaram a fechar. Antes de dormir, ainda pensei brevemente em Kayla, sozinha no sofá. Então, o sono me venceu.
****************
Um estrondo me arrancou do sono, fazendo meu coração disparar enquanto me sentava na cama de forma abrupta. O quarto estava mergulhado em um silêncio pesado, mas o som ainda ecoava em minha mente.
O que foi isso?
Levantei da cama devagar, meus pés descalços tocando o chão frio. Caminhei até a porta, cada passo cuidadoso, como se o escuro ao meu redor fosse algo palpável e ameaçador. Saí do quarto e me deparei com o corredor imerso em sombras. Tudo parecia quieto demais.
Não tem nada...
De repente, um gemido fraco veio da direção da cozinha, quebrando o silêncio. Meu corpo se enrijeceu, e minha respiração ficou mais atenta. Meu instinto era correr na outra direção e chamar as outras, mas algo me empurrou para frente. A cada passo que eu dava, sentia os sentidos em alerta, já me preparando para pegar uma panela, uma cadeira ou qualquer coisa que pudesse servir como arma.
Assim que cheguei perto, vi uma sombra estatelada no chão, imóvel.
"É sério isso?" murmurei para mim mesma.
Ascendi a luz, revelando a cena em detalhes. Lá estava Kayla, deitada no chão da cozinha com uma expressão confusa, como se fosse o lugar mais normal para estar àquela hora da madrugada.
"Mas que merda você está fazendo aí no chão?" perguntei, cruzando os braços e levantando uma sobrancelha, a paciência já por um fio. "Você tem ideia de que horas são?"
Ela piscou, os olhos semicerrados enquanto tentava focar em mim.
"Eu... caí", murmurou, a voz arrastada, típica de quem passou dos limites. "Só vim pegar um pouco de água e tropecei em algo."
Meus olhos foram diretamente para a garrafa quase vazia de soju no balcão.
Água, claro...
Soltei um suspiro pesado, sentindo um misto de irritação e resignação. É claro que ela não tinha jeito. Era Kayla, afinal de contas. Nem valia a pena dar um sermão. Amanhã, com certeza, o peso do álcool falaria mais alto, e ela ia se arrepender sozinha.
"Vê se acende a luz antes de sair tropeçando pelo apartamento", resmunguei, já me virando para ir embora.
"Claro!" respondeu ela, num tom animado e ridiculamente bêbado.
Rolei os olhos enquanto voltava para o quarto, bufei e murmurei para mim mesma: "Mais que idiota... Será que ela não tem noção mesmo?"
Me joguei na cama novamente, tentando esquecer a cena ridícula. Sabia que, amanhã, esse episódio seria mais um motivo de zombaria. Fechei os olhos, esperando que o sono voltasse logo.
...****************...
O som irritante do despertador invadiu meu sono, arrastando-me de volta à realidade. Com um gemido abafado, virei para o lado, tentando inutilmente me agarrar aos últimos vestígios de sono. Já sabia o que vinha a seguir: levantar, me arrumar e ir treinar. Mesmo depois de anos com essa rotina, acredite, nunca fica mais fácil. Na verdade, parece que fica cada vez mais difícil.
Respirei fundo, reunindo forças para me forçar a sair da cama. O chão frio sob os pés me acordou um pouco mais enquanto caminhava preguiçosamente até o banheiro. Peguei minha toalha no caminho, já me preparando para o banho.
A água quente me ajudou a despertar de verdade, embora minha mente ainda estivesse vagando entre pensamentos. Depois de escovar os dentes e sair do banheiro, vesti minha roupa de academia — um conjunto prático e confortável que já fazia parte do ritual matinal.
Ao abrir a porta do quarto, encontrei Minji na cozinha, como esperado. Sentada no balcão, ela mordia uma torrada com um ar tranquilo, já pronta em sua roupa de treino.
"Bom dia pra vocês," cumprimentei com um tom levemente provocativo ao perceber Yuna e Haley saindo de seus quartos, já arrumadas também.
Elas trocaram sorrisos cúmplices antes de responderem com um uníssono: "Bom dia."
"Eu fiz mais torradas. Querem?" Minji ofereceu casualmente, sem nem se preocupar em limpar as migalhas dos cantos da boca.
"Ainda tem?" Yuna perguntou, sorrindo enquanto se aproximava do balcão e dava uma olhada nos pratos.
Minji fez uma careta exagerada, arrancando uma risada de Yuna.
"Claro que tem. Justin me mataria se eu comesse tudo sozinha," Minji respondeu com um tom dramático, fazendo bico.
"De novo?" perguntei, arqueando uma sobrancelha com desconfiança.
"Sim," Minji admitiu, um sorriso travesso dançando em seus lábios.
Aproximei-me para pegar minha própria torrada do prato no balcão, enquanto elas continuavam a brincar.
"Kayla ainda não saiu do quarto?" Haley perguntou de repente, olhando para a porta fechada.
A menção de Kayla me fez lembrar instantaneamente do desastre de ontem à noite. Com certeza está com uma ressaca horrível, pensei, revirando os olhos.
"Ela deve estar com ressaca. Vou ver como ela tá," disse Yuna, parecendo preocupada. Sem esperar por ninguém, já caminhava em direção ao quarto de Kayla.
"Eu também vou," Minji anunciou, engolindo apressadamente o último pedaço de torrada antes de correr atrás de Yuna.
"Será que...?" Haley começou, mas nem precisou terminar a frase.
"Não, as duas já foram," respondi, dando a primeira mordida na minha torrada.
Haley assentiu silenciosamente, mordendo a dela também. Ficamos assim, nós duas, em um silêncio confortável, terminando o café da manhã enquanto aguardávamos o retorno das outras.
Minji e Yuna voltaram alguns minutos depois.
"E aí? Como a loira tá?" Haley perguntou sem rodeios, olhando para Yuna.
"Enjoada e morrendo de dor de cabeça," Minji respondeu rapidamente, cortando qualquer chance de Yuna falar.
Suspirei. Já esperava por isso. Coloquei o copo vazio no balcão e me virei, cruzando os braços.
"Duvido que ela consiga sair da cama hoje," Yuna comentou, cruzando os próprios braços e encostando-se à parede.
"Justin não vai gostar... já é..." Haley começou, mas eu terminei por ela:
"A terceira vez essa semana," conclui, secamente.
Houve um momento de silêncio em que todas me encararam, até que Minji quebrou o gelo.
"Vocês não acham que ela tá exagerando demais ultimamente?"
"Ela sempre foi assim... Mas concordo," respondi.
"Não dá pra fazer nada. Mesmo que se arraste para o treino, vai desmaiar no primeiro exercício ou vomitar como uma cena de O Exorcista," comentei, arrancando um riso discreto delas.
O som da campainha cortou nossa conversa. Franzi o cenho e fui atender, meu olhar passando rapidamente pelo olho mágico antes de abrir a porta. Era Caio, nosso novo treinador, parado ali com seu jeito casual.
"Bom dia, meninas," ele disse, mas seu olhar ficou fixo em mim, embora falasse com todas.
As outras responderam um tímido "bom dia" atrás de mim.
"Já estamos indo, Caio," informei, com o mesmo tom neutro de sempre.
"Tranquilo. Só passei para confirmar. Então, vou esperar vocês lá em cima," disse ele, dando meia-volta e desaparecendo pelo corredor.
Suspirei e me virei para as outras. "Precisamos ir."
Elas assentiram e começaram a pegar suas coisas. Antes de sairmos, Yuna deu um passo até a porta de Kayla e falou em um tom suave: "Qualquer coisa, me liga, tá?"
Sem resposta. Provavelmente, ela já tinha caído no sono outra vez.
Respirei fundo e abri a porta, saindo junto com as meninas. Não importava o caos do apartamento, o treino sempre nos chamava, como um compromisso inevitável.
...****************...
Subimos até o andar da academia do prédio, os passos ritmados e rápidos contra o piso frio do corredor. Quando chegamos, Caio já estava lá, sentado em um dos bancos espalhados pela sala, esperando. Assim que nos viu, levantou-se rapidamente e veio até nós, com sua regata justa para exibir seus músculos como sempre. Eu não tinha dúvida de que ele adorava esse espetáculo.
Caio era simpático, tratava todas nós com respeito desde que começou a trabalhar conosco, depois de ser contratado por Justin. Ele era realmente um cara legal, mas às vezes eu não entendia porque o encantamento das outras estava sempre em cima dos seus músculos e do seu estilo de cara "bad boy".
Toda vez que eu olhava para o cabelo caramelo, cacheado e natural de Caio, lembrava-me do que Minji me disse no primeiro dia que treinamos com ele.
"É tão fofinho, parece macarrõezinhos enrolados com shoyu."
Bati a porta da mente contra aquela lembrança e me concentrei no que estava acontecendo no momento.
"Cadê a Kayla?" Caio perguntou, olhando ao redor com um semblante atento e preocupado.
"Ela não vai conseguir vir hoje," Yuna respondeu com um tom de voz baixo, o que imediatamente fez Caio olhar para ela, curioso.
"Por que?" Ele não parecia desistir da resposta. Afinal ele tinha que reportar tudo para justin depois..
"Ela tá doente," Minji disse, tentando manter um semblante tranquilo, mas seus olhos quase diziam o contrário. Aquela justificativa parecia um pouco vaga, especialmente porque todos nós sabíamos o que havia acontecido na noite anterior. A verdadeira razão era bem mais óbvia — Kayla havia se perdido na bebida, praticamente se afogando em litros de álcool na premiação, e depois ainda teve sua rodada extra na madrugada.
Mas, até agora, ninguém sabia da sua recaida na madrugada também.
"Mais que droga..." Caio murmurou, seu tom agora um pouco mais baixo. "Minhas melhoras pra ela... Vamos começar," disse ele, batendo as palmas para colocar todos em movimento, tentando quebrar a tensão do momento e seguir com o treino.
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