...[Baseado e fatos quase reais]( ・ω・)ノ...
O sol de março batia forte no campus da Universidade Particular Unip. Era o primeiro semestre, a primeira semana de aula. Tudo era novo, barulhento e um pouco caótico — alunos andando de um lado pro outro, tentando achar prédios, salas, laboratórios.
Gabriel equilibrava um tubo de projetos vazio em um ombro e uma mochila abarrotada no outro. Tinha acabado de sair de uma aula introdutória de representação gráfica. Seu caderno estava todo rabiscado com formas geométricas e notas confusas. Ele suspirou, aliviado por ter saído da sala, mas confuso sobre para onde deveria ir agora.
Enquanto checava o mapa do campus no celular, uma garota esbarrou nele com um caderno no rosto e fones nos ouvidos.
— Opa! — ele exclamou, segurando o tubo para não cair. — Foi mal, tá tudo bem?
Ela tirou o fone, revelando um par de olhos verdes intensos, quase hipnóticos. Os cachos castanhos claros balançaram quando ela sorriu, envergonhada.
— Ai, desculpa! Eu tava tentando achar o prédio de Ciências da economia e... é, não prestei atenção.
— Bom... você não é a primeira pessoa perdida que me esbarra hoje — Gabriel respondeu com um meio sorriso.
— Então eu sou só mais uma estatística?
— Pode ser... Mas estatísticas são importantes, né? — ele disse, provocando.
Ela riu, e Gabriel notou a covinha que se formava em sua bochecha esquerda.
— Anna Júlia. Primeiro semestre de Economia.
— Gabriel Miranda. Primeiro semestre de Arquitetura. Também tô perdido, só escondo melhor.
— Hm, achei que estudantes de Arquitetura eram bons em orientação espacial — ela brincou.
— Só quando tem planta baixa.
Ela riu de novo, e algo naquele riso fez Gabriel esquecer que estava com pressa. Ele apontou para um banco debaixo de uma árvore.
— Já que nenhum de nós sabe pra onde vai agora… quer sentar um pouco e conspirar contra esse campus gigante?
— Achei uma boa estratégia. — Ela o seguiu até o banco, sentando com um suspiro. — Você sempre faz piada quando esbarra em alguém ou é só hoje?
— Você ainda não viu nada. Ele dá uma risada que faz o ar ficar mais leve
— Já vai se acostumando com as piadas
Ela o encarou por um segundo. O sorriso ainda estava ali, mas agora mais suave.
— hummm… essa foi boa. Zero arrogância e um ponto de charme.
— Obrigado. Trabalho com arquitetura, mas às vezes faço Fanfics na Internet
— Péssimo trocadilho — Ela riu, cobrindo a boca. — Mas você ganhou mais um ponto por tentar.
Ficaram ali por quase meia hora. Falaram sobre o nervosismo do primeiro semestre, sobre as expectativas, sobre o peso dos cursos. Gabriel contou como sempre foi apaixonado por formas, prédios antigos, e com desenhos e pinturas. Anna Júlia falou de como sempre gostou de entender o porquê das coisas custarem o que custam, das desigualdades econômicas e do poder do dinheiro nas decisões.
— Então... — ele disse, depois de um tempo. — Quer continuar essa conversa com um açaí depois da aula amanhã?
Ela ergueu uma sobrancelha.
— Açaí como colegas que se perderam juntos ou como pessoas que... talvez queiram se perder um pouco mais?
Gabriel sorriu.
— Podemos começar como colegas. Mas eu não reclamaria se nos perdêssemos um pouco mais... juntos.
Ela ficou em silêncio por dois segundos, como se decidisse algo consigo mesma.
— Amanhã. Três e meia. No The Best açaí perto do Havan.
— Fechado. Três e meia. — Ele se levantou, sorrindo. — Foi um prazer esbarrar em você, Anna.
— Igualmente, Gabriel.
Ele foi embora com o coração um pouco mais leve. E, sem nem perceber, encontrou o prédio que estava procurando.
Parou diante da entrada como quem desperta de um sonho. Olhou em volta, confirmou a placa: “Bloco D – Departamento de Arquitetura”. Era ali mesmo.
— Ah... era só virar à esquerda em vez de tentar adivinhar pelo instinto. — riu sozinho.
Subiu os degraus com passos mais firmes. Ainda sentia a cena de antes se repetindo na cabeça: o toque rápido do esbarrão, o som leve da risada dela, os olhos verdes que quase faziam ele esquecer do próprio nome.
Ao entrar na sala, o professor já falava sobre referências visuais e proporções humanas no espaço. Gabriel pediu licença, escolheu um lugar discreto no fundo e se sentou.
Mas ao abrir o caderno, em vez de copiar o que estava no projetor, rabiscou:
Dois círculos. Um sorriso. Um par de olhos. E, ao lado, o nome: Anna Júlia.
—Ah então tá.
...[Capítulo seguinte em breve…]...
A aula acabou antes do previsto.
— Por hoje é isso, pessoal. Passem os esboços na prancheta e tragam segunda-feira. — disse o professor, já recolhendo o material da mesa.
Gabriel soltou um suspiro baixo e guardou o caderno. Os desenhos estavam meio tortos, e entre rascunhos de fachadas e planos de corte, lá estava de novo: o mesmo par de olhos verdes, escondido entre as linhas.
Ele sorriu de canto, quase sem perceber. Jogou a alça do tubo de projetos no ombro e saiu da sala, com o corpo indo, mas a cabeça meio longe.
No caminho, murmurou pra si:
— Só um açaí... só um açaí. É um encontro?. É só... conversa.
O céu estava começando a dourar. Aquela luz de fim de tarde parecia escolher cuidadosamente onde tocar — e, por alguma razão, deixava tudo mais bonito. Até a fachada preta do “The Best Açaí”, que normalmente parecia um pouco exagerada, agora parecia vibrar.
Gabriel atravessou a rua, olhou o relógio.
15h23. Três minutos de antecedência.
Entrou. A porta fez um “tilim” tímido.
Olhou em volta. Açaís coloridos nas mesas, um garçon distraído no balcão, e... ninguém ainda.
Foi até uma mesa no canto e se sentou. Pegou o celular, desbloqueou. Travou de novo.
Passou a mão no cabelo e respirou fundo.
Dois minutos depois, uma voz conhecida surgiu atrás dele:
— Cheguei no tempo certo ou você veio com meia hora de antecedência por nervosismo?
Ele olhou por cima do ombro. Anna Júlia.
Cacheada, sorriso fácil, com uma calça jeans e uma camisa que mostrava a barriga e uma expressão que parecia saber mais do que dizia.
— Eu? Nervoso? Não… isso aqui é... presença tática antecipada. Arquitetura exige planejamento, sabe? — tentou brincar, mas o tom saiu mais sério do que queria.
Ela puxou a cadeira, rindo.
— Entendi. “Presença tática antecipada”. Anotado.
— E você? Costuma se atrasar ou só chega no tempo certo quando quer causar impacto?
— Só chego quando sei que alguém tá esperando. — Ela respondeu, simples. E direto.
Gabriel arregalou os olhos levemente, sem saber o que fazer com aquela resposta.
— Uau... essa foi... — ele coçou a nuca. — Isso foi tipo... flerte ou...?
— Foi só verdade. Você que decide se quer ficar vermelho ou não.
Ele soltou um riso meio travado, meio encantado.
— Ok. Vou fingir maturidade.
— E eu vou fingir que não notei você escondendo um sorriso.
Ela olhou o cardápio colado na parede.
— E aí, o arquiteto vai pedir o que?
— O básico. Açaí, banana e... — olhou pra ela, hesitando — granola. Já que aparentemente isso define o destino de relacionamentos.
— Boa escolha. Isso já te coloca no top 10 dos humanos confiáveis.
Ele sorriu, aliviado, e fez o pedido. Enquanto esperavam, ficou girando a colher entre os dedos.
— Você parece tranquila sempre, né? Isso é de verdade ou você tá fingindo melhor que eu?
— Acho que... eu só gosto de ouvir mais do que falar. Mesmo que pareça o contrário às vezes.
— E você... — ela o encarou — tem um jeito calmo. Meio que parece que tá sempre desenhando tudo na cabeça antes de dizer.
Gabriel abaixou o olhar, com um sorriso pequeno.
— Talvez eu esteja mesmo. Ou talvez eu só esteja... tentando não estragar uma tarde que tá sendo melhor do que eu imaginava.
Anna Júlia sorriu. Um daqueles sorrisos que não pedem permissão pra acontecer.
— Fica tranquilo, arquiteto. Eu também to gostando
Anna Júlia misturava o açaí com calma, jogando mais leite em pó por cima.
— Confesso que não esperava que você realmente viesse. — disse, sem tirar os olhos do copo.
Gabriel ergueu uma sobrancelha, surpreso.
— Sério? Por quê?
— Você tem cara de quem pensa demais antes de agir. Achei que ia inventar uma desculpa de última hora… tipo um trabalho de maquete ou uma apresentação surpresa.
Ele riu, meio sem graça.
— Eu… quase fiz isso, na real. Fiquei parado na frente do prédio por uns bons minutos pensando se devia mesmo atravessar a rua.
— E por que atravessou?
Ele hesitou. Mexeu devagar com a colher, sem olhar diretamente pra ela.
— Porque... acho que teria me arrependido mais se não tivesse vindo.
Anna Júlia parou, olhou pra ele e sorriu de canto.
— Boa resposta. Parece sincera.
— Foi. — respondeu ele, e então, olhou pra ela — E você? Por que veio?
— Porque achei que você era diferente. — respondeu sem pausa — E porque... a forma como você pediu desculpa quando derrubou meu tubo de projetos foi genuína demais pra ignorar.
Gabriel desviou o olhar, tímido.
— Eu realmente achei que ia te matar do coração.
— Quase conseguiu. Mas compensou com o olhar de cachorro arrependido que fez depois.
Ela riu, e ele também, mais relaxado agora.
Um silêncio breve se instalou, não desconfortável, mas cheio de pequenas perguntas que ainda não tinham virado palavras.
Então Gabriel disse:
— Posso te perguntar uma coisa?
— Pode. Só não garanto que vou responder.
— Por que economia?
Ela pensou um pouco, olhando para a colher mergulhada no açaí.
— Porque eu queria entender o mundo. Pelo menos um pedaço dele. E... talvez aprender como não ficar perdida dentro dele. E você? Arquitetura?
Ele respirou fundo.
— Porque eu queria construir lugares onde as pessoas pudessem se sentir em casa. Mesmo que não fossem suas casas.
— Uau. — disse ela, genuinamente impressionada. — Isso foi bonito.
Ele deu um pequeno sorriso.
— Foi só verdade. Você que decide se quer ficar vermelha ou não.
Ela arregalou os olhos, surpresa, e depois soltou uma gargalhada.
— Tocou a minha frase de volta? Ponto pro arquiteto.
O tempo passou sem que eles percebessem. O sol começou a desaparecer do outro lado da rua. As luzes da cidade foram acendendo devagar, como se o universo estivesse com preguiça de dar fim ao encontro.
Quando se levantaram, Gabriel ajeitou o tubo de projetos no ombro.
— Obrigado pelo açaí. E pela conversa. Foi… inesperadamente leve.
— Leve, mas boa. — ela disse, caminhando ao lado dele. — Vai querer repetir?
Ele mordeu o lábio por um instante.
— Talvez… mas só se o convite vier com uma condição.
— Qual?
— Que da próxima vez, você derrube o meu tubo. Assim a gente empata.
Ela deu uma risada e estendeu a mão como se selasse um acordo invisível.
— Fechado.
E então, antes de ir embora, ela se virou:
— Ah! Gabriel…
— Hm?
— Tenta pensar menos da próxima vez. Você sorri melhor quando não tá planejando tudo.
Ele apenas assentiu, o coração mais leve do que quando chegou.
...[Continua]...
bônus:
O sábado amanheceu preguiçoso, mas Gabriel não estava.
Depois do açaí com Anna Júlia, algo dentro dele parecia diferente. Não era como se ele tivesse se transformado de uma hora pra outra — mas havia uma leveza nova no peito. Um tipo de coragem silenciosa que vinha depois de ter sido bem recebido por alguém inesperado.
E por algum motivo, ele acordou querendo vê-la de novo.
Entre livros de arquitetura e uns rabiscos aleatórios no caderno, a mente dele escapava para o jeito que ela mexia no açaí, o riso fácil, e aquela frase que ela lançou como se fosse a coisa mais natural do mundo:
“Você sorri melhor quando não tá planejando tudo.”
Ele não parava de pensar nisso.
Quando o celular vibrou, ele se jogou no colchão para ver.
Anna Júlia
Ei, descobri um café perto do campus que tem pão de queijo do tamanho da minha cabeça. Vai encarar?
Ele riu. Pensou por dois segundos.
Gabriel
Se tiver lugar pra desenhar e falar besteira, tô dentro.
Anna Júlia
Melhor ainda. Tem tomada, Wi-Fi e uma moça no balcão que já me chamou de "querida" Muito diva. Vamos.
Dessa vez, ele nem pensou em hesitar.
O café era pequeno, com luz natural entrando pelas janelas grandes e mesas de madeira cheias de marcas e história. Gabriel chegou antes — por vontade própria. Escolheu uma mesa perto da parede, abriu o caderno e começou a rabiscar.
Alguns minutos depois, sentiu a presença dela se aproximando antes mesmo de olhar.
— Sabia que você vinha, mas tô surpresa que chegou antes. — disse Anna, colocando a bolsa na cadeira.
— Tô praticando o “pensar menos” que você recomendou.
Ela sorriu, tirando o casaco.
— E como tá indo?
— Tô aqui, né? Já é um avanço. — respondeu ele, sem tirar os olhos do caderno, mas com um meio sorriso confiante.
— Hm… olha só. Gabriel versão 2.0.
— Ainda em fase beta — ele riu — mas acho que menos bugado.
Ela se inclinou pra espiar o caderno.
— Você desenha rostos bem, hein. É só prática ou tem alguém que inspira?
Ele virou a página antes que ela visse o que ele não queria mostrar.
— Inspiração aparece às vezes. Tipo... do nada. Literalmente esbarra em você.
Ela arqueou a sobrancelha, divertida.
— Isso foi uma indireta?
— Foi. Mas do jeito mais educado possível.
Ela riu, pegou o cardápio e balançou a cabeça.
— Gostei. Pode continuar nesse modo aí. Gabriel beta é mais corajoso.
— Mas ainda com vergonha de fazer flerte de verdade.
— Tudo bem. Eu traduzo. — ela piscou. — E aí, vai querer o pão de queijo mutante?
— Só se você dividir. Vai que eu não dou conta.
— Já tá confiando demais, hein?
— Ou talvez eu só esteja tentando garantir que a gente fique na mesma mesa por mais tempo.
Ela ficou em silêncio por um segundo, observando ele com um olhar leve, quase como se estivesse tentando ler o que ele não dizia. Depois, sorriu.
— Tá. Fechado.
Eles fizeram o pedido. A conversa correu solta, cheia de pausas confortáveis e piadas discretas. Gabriel falava mais agora. Ainda não era o tipo extrovertido, mas suas palavras vinham com mais fluidez, menos freio.
Quando a tarde já começava a virar sombra no chão, ela apoiou o queixo na mão e perguntou:
— O que você acha que a gente tá fazendo?
— Comendo pão de queijo.
— Não. Tipo... a gente.
Ele parou por um instante. Respirou fundo. Olhou pra ela.
— Acho que a gente tá construindo alguma coisa. Ainda não sei o quê. Mas... gosto da base.
Ela riu baixinho.
— Isso foi muito “arquiteto”.
— E foi sincero também.
Ela assentiu. Depois, se levantou.
— Então, arquiteto, vamos continuar construindo. Próxima parada: livraria, ou vai correr?
Ele pegou o tubo de projetos, agora com mais segurança no gesto.
— Se tiver café, livros e você, eu não corro. Eu fico.
Anna Júlia sorriu. E, sem dizer mais nada, saiu andando. Ele a seguiu.
Talvez ele ainda tivesse medo. Mas naquele dia, ele escolheu ir mesmo assim.
...[Continua]...
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