O Primeiro Sol de João Pessoa
A mudança
O sol em Fortaleza sempre foi meu amigo, sabe? A Praia do Futuro, com aquele cheiro de peixe frito, era meu quintal. Eu jogava bola na rua com meus amigos, mergulhava no mar sem parar, e a vida era só alegria. Eu tinha 18 anos e um sorriso que não descolava do rosto.
Aí, meu pai chegou com a notícia.
Roberto
João, vamos nos mudar para João Pessoa.
Ele tentou soar animado, mas eu senti um frio na barriga. João Pessoa? Onde era isso? Eu nunca tinha saído do Ceará. A ideia de largar tudo o que eu conhecia me deu um aperto no peito. Aos poucos, aquela alegria toda foi sumindo e dando lugar a uma tristeza que eu não entendia direito.
A viagem de carro foi um borrão de paisagens que eu não conhecia. Cada quilômetro era mais longe da minha vida. Quando chegamos, o apartamento novo parecia tão frio e quieto. As paredes brancas, vazias, ecoavam o vazio que eu sentia por dentro. Não tinha o barulho das ondas, nem a agitação da cidade que eu tanto amava.
Nos primeiros dias, eu só me arrastava pela casa, com a cara fechada. Meu pai tentava me animar, mostrava a faculdade nova, o parque perto de casa, mas nada me interessava. Eu sentia tanta falta dos meus amigos, das risadas, da liberdade de ser só o João, o menino do Ceará. Cada vez que ele tentava, eu só encolhia os ombros, olhava para o nada. A mudança para João Pessoa não foi só de endereço; foi uma mudança em mim. E eu me pergunto se um dia vou achar o sol que deixei para trás.
João Francisco
Será que algum dia eu vou rir de novo como eu ria lá? Será que vou conseguir achar alguém para me fazer companhia…
Roberto
João meu filho, não seja tão pessimista é claro que vai ter alguém, você logo começará sua faculdade de medicina e poderá fazer novos amigos.
João Francisco
Tudo bem… onde eu irei estudar mesmo?
Roberto
UNIPÊ, lá tem vários outros cursos e o campo é bem grande você poderá se divertir com seus amigos no tempo livre.
João Francisco
Pai, essa faculdade é bem cara mesmo eu sendo bolsista… você quer mesmo que eu estude lá?
Roberto
Já falamos sobre isso meu filho, vou dar tudo de mim para que você possa ter um futuro melhor que o meu, uma vida, uma casa tudo de bom para te ver sorrir.
O meu pai sempre foi o melhor homem do mundo, me criou sozinho desde que minha mãe faleceu no meu nascimento.
Sempre deu tudo de si para que eu pudesse ter o que comer, vestir e a melhor educação que eu ele poderia me dar. Eu amo o meu pai e faria de tudo por ele.
primeiro dia
Amanheci o com um bom humor, acordei com o despertador às 6h, mas já estava meio que acordado desde as 5h, a cabeça a mil com a expectativa. Primeiro dia de faculdade em João Pessoa! Levantei, fiz um café forte do jeito que meu pai me ensinou – preto e sem açúcar, pra espantar qualquer resquício de sono. Peguei um pãozinho na padaria aqui perto, que já virou meu ponto de apoio, e um suco de laranja. Café da manhã rápido, mas revigorante.
Saí de casa umas 7h20, mochila nas costas, protetor solar já na pele (afinal, é João Pessoa!). O sol já estava dando as caras, prometendo um dia quente, e a brisa que vinha do mar ajudava a refrescar. Peguei um ônibus lotado, daqueles que você vai espremido, mas todo mundo sorrindo, acho que a energia daqui é contagiante. Cheguei na faculdade e, uau, o lugar é enorme! Vi alguns rostos apreensivos, como o meu, e outros que pareciam já ser veteranos.
A primeira aula era de Anatomia Humana, e o professor, um senhor com barba branca e voz mansa, já chegou falando sobre a complexidade do corpo e a responsabilidade que teremos. Fiquei meio nervoso no começo, mas depois fui relaxando. A sala estava cheia, e era engraçado ver a mistura de gente de todo lugar, alguns com sotaques que eu nunca tinha ouvido antes. No intervalo, comprei um bolo de rolo – uma delícia, nunca tinha comido! – e fiquei observando o movimento no pátio. Tinha gente estudando em grupos, outros rindo alto, o burburinho de uma nova fase começando. Vi uns grupos de veteranos com jalecos, e já me imaginei usando o meu.
Mas logo me vi acordando ao ver o meu professor de anatomia se aproximando.
Danilo
O senhor é o João Francisco, estou certo?
João Francisco
Sim senhor, o que o senhor gostaria de falar comigo professor?
Danilo
Te vi muito sozinho enquanto me direcionava para a outra turma, porque não tenta socializar um pouco no campo?
João Francisco
Não sei… acho que não estou muito no clima, há tantas panelinhas já formadas não sei se me encaixo em alguma.
Danilo
Claro que se encaixa, se não achar ninguém de seu curso procure de outros, soube que o tempo livre de medicina é o mesmo de arquitetura e direito, você poderia se enturmar com algum desses.
Não estava com nem um pingo de entusiasmo de me socializar agora mas o professor estava sendo tão gentil e educado que não tive como dizer não.
João Francisco
Ok, talvez eu vou tentar falar com alguém de arquitetura, o senhor conhece algum aluno de lá?
Danilo
Bom na sala dos professores o professor Elvis estava falando muito bem de um aluno chamado João Gustavo de acordo com ele João é um garoto muito inteligente e gentil, que tal falar com ele? Ele está bem ali na arquibancada lendo um livro.
Logo me virei para ver para onde ele apontava e logo avistei um garoto de cabelos loiros ondulados lendo um livro enquanto enrolava suas pequenas ondas.
Duas faces
Logo fui em direção a ele junto com o professor, fui reparando em tudo nele para ter a minha primeira impressão, reparei em sua camisa polo azul, seus mocassins marrons sua calça de cor caqui, em primeira vista ele parecia que tinha acabado de sair da igreja
Mas o que mais me surpreendeu nele foi ele estar lendo um livro de machado de Assis ele estava com “dom Casmurro” em suas mãos. Este livro conta sobre a história de Bentinho, que se apaixona por Capitu na adolescência e, com o passar do tempo, desenvolve uma forte desconfiança em relação à sua esposa. Ele relata sua vida, desde a infância no Rio de Janeiro, passando pelo seminário, pelo casamento com Capitu e até a morte do filho, Ezequiel. A narrativa é marcada pela ironia e pela ambiguidade, deixando a dúvida sobre a possível traição de Capitu e sobre a legitimidade de Ezequiel. Intrigante não é?
Danilo logo que paramos na frente dele já me apresentou com um sorriso amigável em seu rostinho minimamente enrugado.
Danilo
O senhor é o aluno do professor Elvis de arquitetura não é mesmo?
João Gustavo
Claro senhor, me chamo João Gustavo é um prazer em conhecer vossa pessoa.
Danilo
Menino educado, gostaria de lhe apresentar o Francisco ele está um pouco deslocado pensei que vocês poderiam se tornar amigos.
Deslocado, é sério? Senti meu rosto queimar de vergonha por ser chamado desse jeito na frente de um desconhecido.
João Gustavo
Mas é claro senhor, ficaria honrado de me tornar amigo de Francisco.
Percebi uma certa ironia na fala desse garoto mas decidi ignorar para não criar problemas.
Danilo
Ótimo, muito obrigado mesmo meu querido mas tenho que ir já estou atrasado foi muito bom conhecer melhor os dois.
Virei o rosto para ver Danilo indo para a sua sala de aula e quando eu voltei a me virar vi uma feição de nojo e raiva na cara de Gustavo.
João Gustavo
Sinto lhe dizer mas não seremos amigos, apenas disse isso para que este velho fosse embora logo.
Fiquei incrédulo ao ouvir essas palavras, ele não era o aluno gentil que o professor Elvis estava elogiando horrores? Porque ele estava agindo daquela maneira?
João Gustavo
Sinto muito mas não me junto com o teu tipo de gente mas acredito que você possa se juntar com aqueles dali.
Quando eu vi para onde ele apontou eu entendi com o que ele quis dizer com “teu tipo de gente” ele não queria saber de mim por conta da minha cor, ele apontou para uma mesa cheia de pessoas pretas igual à mim.
João Francisco
Perdão mas não me lembro de te dar tal liberdade de me tratar assim com tanta grosseria.
Logo ele virou para mim novamente com uma expressão de repulsa.
João Gustavo
Trato as pessoas como elas merecem ser tratadas e nada mais, agora se me der licença eu tenho mais o que fazer do que ficar falando com pessoas como você.
Ele andou sem nem olhar pra trás, nunca senti tanta raiva em minha vida por conta de um mauricinho filhinho de papai na vida
Mas não deixaria ele estragar meu dia, fiquei o resto do tempo livre procurando alguém que pudesse conversar até achar um.
Seu nome era Lucca um garoto um pouco menor doque eu mas esse sim era gentil de verdade. Ficamos falando sobre várias coisas como jogos, livros e músicas até chegar no assunto em questão.
João Francisco
Lucca, você faz arquitetura com o professor Elvis não é?
Lucca
Claro, ele é um ótimo professor.
João Francisco
Bom eu queria saber se existe algum garoto chamado João Gustavo em sua sala.
Lucca
Tem sim ele é bastante inteligente mas não tive ainda a oportunidade de conhecer ele melhor, porque a curiosidade nele?
Logo expliquei toda a situação para Lucca para que ele pudesse saber a verdadeira face daquela cobra.
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