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A Filha do Meu Inimigo.

Salvatore Marino

Lembro como se fosse ontem. A lembrança é nítida demais para alguém que só tinha seis anos, dolorosa demais para quem só era uma criança que ainda se espelhava no pai.

O sangue no chão. O cheiro de pólvora. O som do corpo do meu pai caindo, meus tios caindo antes dele, seu olhar de desespero, desespero vivo, pesado e o tiro final.

Impossível esquecer a cara deles, a voz dele.

Giovanni Rossi, ele e cada maldito Rossi.

Olhava para nossa família de forma fria. Tranquila demais para quem acabava de matar alguém.

— Você e ele podem ir, mas vão embora daqui para sempre. E nunca se esqueçam do que aconteceu, ninguém trai um Rossi e sai vivo. — ele disse para minha mãe como quem faz um favor, e fez... alimentou minha fúria.

Eu não chorei. Não tremi. Só fiquei ali, parado. O gosto metálico da raiva na boca, os olhos queimando de ódio.

Me virei para ele, pequeno demais para fazer qualquer coisa, mas já carregando dentro de mim algo que nunca morreria.

— Um dia, vou matar o homem mau que matou meu pai.

Lembro do jeito que ele se abaixou, como se estivesse falando com um amigo, não com o filho do homem que ele acabara de executar.

— Vou esperar ansioso por esse dia, garoto. Quando você crescer, estarei aqui.

Aquela promessa dele... nunca saiu da minha cabeça.

Minha mãe me puxou pelo braço com força, mas suas mãos tremiam. Nós corremos. Corremos como se a vida dependesse disso — e dependia.

Quando chegamos à casa de uma amiga dela, nos esconderam no porão, ela falou que ia buscar nossas roupas, documentos e economias, joias e o que mais tivesse. Eu repetia, sem parar:

— Vou matar o homem mau. Eu vou matar o homem mau.

Minha mãe se ajoelhou diante de mim, me segurou pelos ombros, os olhos cheios d’água.

— Filho... o seu pai e seus tios fizeram escolhas ruins. Muito ruins. E nós... nós fomos abençoados por conseguirmos sair vivos. Isso é o que importa agora. Entende? O que eles achavam que estavam fazendo sequestrando a filha do Don? A lei da máfia é simples, sangue paga sangue, os Rossi não perdoam traição.

Eu olhei para ela. Vi o medo. Vi a dor. Vi as lágrimas.

E só por isso… fiquei quieto.

Mas nunca esqueci.

Vinte e dois anos depois...

Agora tenho 28 anos. O menino assombrado virou homem. Fui forjado na dor, no silêncio, na falta, não sou inocente, sei tudo da vida deles, cada menina que nasceu, cada novo membro daquela corja, cresci, criei meu império e vou voltar, eles não esperam e a surpresa será minha maior aliada.

Treinei cada parte do meu corpo e da minha mente para um único objetivo: voltar.

Passei anos observando. Aprendi a me infiltrar, a agir sem ser visto, a construir algo meu para depois destruir o que é dele.

Giovanni Rossi. Ainda está igual. Ainda vive como um rei. Um homem de negócios. Um patriarca. Um monstro.

E agora, mais do que nunca, vulnerável.

Porque ele tem algo que não tinha antes: duas filhas gêmeas.

A doce Martina Rossi, e a picante Helena Rossi, mas a doçura de Martina servira perfeitamente para meu plano.

A princesa perfeita. Linda, respeitada, aparentemente intocável.

Mas ninguém está fora do meu alcance.

Para chegar até ela, criei uma nova versão de mim mesmo. Um nome limpo, forte, respeitável.

Gael Salvatore. Empresário do ramo de construção civil, bem-sucedido, discreto. Um nome com bons contatos e nenhum passado. Um nome que abre portas, e seria assim que chegaria até ele.

Ainda naquela noite…

O apartamento era luxuoso, frio e sem alma — como tudo o que eu construí nos últimos anos. Um cenário funcional, disfarçado de conforto. O corpo nu de Luna ainda estava deitado entre os lençóis de linho egípcio, as costas voltadas para mim, mas sua voz veio arrastada, como se quisesse me prender ali por mais alguns minutos.

— Você podia ficar… pelo menos essa noite — ela murmurou, sem se virar. — Eu acho que se você for embora eu nunca mais te verei.

Parei no meio do quarto, vestindo apenas a calça social escura. A luz do abajur dourado delineava meus músculos, a tatuagem no lado esquerdo das costelas e o olhar que ela já devia ter aprendido a respeitar.

— Eu volto quando um império tiver caído, Luna. E se eu não voltar… é porque fiz o que prometi.

Ela se sentou, cobrindo os seios com o lençol, os olhos brilhando de lágrimas. Sua beleza era inegável, mas inútil para mim agora.

— Você fala como se fosse um maldito filme — sussurrou, irritada. — Ninguém derruba impérios sozinho, Salvatore. Você não é Deus.

A irritação latejou atrás dos meus olhos. Virei o rosto para ela, devagar.

— Cala a boca.

Minha voz cortou o ar como uma lâmina.

Ela estremeceu. E enfim se calou.

Voltei a me vestir, puxando a camisa preta de tecido leve, ajustando os botões com calma. Cada movimento era exato. O relógio. O cinto. Os sapatos italianos. Um uniforme de guerra para um homem que aprendeu a lutar no silêncio.

Deixei uma única coisa sobre a mesa de mármore ao sair: um passaporte para outro lugar e uma conta bancária fechada com mais do que ela precisaria por anos.

Não olhei para trás.

Horas depois, na pista privada do aeroporto já estava pronto, deixaria para trás a vergonha, e o túmulo de minha mãe.

O céu ainda estava escuro quando subi as escadas do jato. Nenhum outro passageiro. Nenhum ruído, além do ronco baixo dos motores sendo ativados. A comissária fez uma leve reverência quando passei.

Sentei-me sozinho na poltrona de couro. Um copo de uísque repousava à minha espera na bandeja. Não bebi.

Enquanto o jato ganhava velocidade, fechei os olhos por um segundo.

Estou voltando para casa.

Mas não para viver.

Para terminar o que começou naquela noite.

E então… talvez, descansar.

Hoje, estarei de volta à Itália.

Hoje, começa a última parte do meu plano.

E dessa vez… ninguém vai sair vivo.

Martina Rossi.

Dizem que quem nasce gêmea nunca está sozinha.

No meu caso… nascer gêmea significou também nascer diferente.

Helena e eu somos como o sol e a lua. Iguais por fora, opostas por dentro. Somos filhas do mesmo sangue — Giovanni e Julia Rossi —, herdeiras do nome, do império, das expectativas.

Mas enquanto eu sempre quis entender o mundo com calma… Helena queria acelerá-lo até o limite.

Ela quer ser piloto de moto. Acha graça quando papai diz que é arriscado, mas a incentiva dando mais peças modificadas para sua moto.

Eu?

Eu sonho em ser estilista, cercada de tecidos e sendo reconhecida pelo talento e não pelo nome.

— Você tá com a cabeça na Lua de novo, — resmunga Helena do meu lado, mastigando um pedaço de focaccia como se fosse a última refeição da vida dela. — Ou pensando no seu amor épico, imaginário, invisível?

— Amor de verdade existe, só não bate à porta como pizza — respondo, rindo, meu pai era o primo rebelde e esse espírito veio com ela, Helena é assim, não tem apego em beijar uma boca e fingir ao papai que está vivendo a espera.

Estamos na mesa da Nonna, uma daquelas noites em que a família toda se junta. E quando digo toda, falo de vozes por todos os lados, pratos sendo passados, cheiro de molho no ar e aquele caos organizado que só os Rossi entendem.

Aurora está de um lado, fazendo fotos da comida, ela ficou responsável pelas fotos do ano, um ritual que fazemos para o natal, momentos registrados fazem muita diferença.

Leonardo parece o tio Enrico, sério, centrado, o futuro Don é maravilhosamente igual o pai, e com certeza vai nos proteger muito bem.

Bella, sentada com postura perfeita, faz da dança a sua paixão.

Heitor, mais calado, observa tudo com olhos de quem já entendeu mais do que parece. Sempre foi o mais introspectivo entre nós.

— Então, Helena, me diga — pergunta Enrico, pai de Aurora e Leonardo —, o que vamos fazer com essa sua ideia maluca de correr como seu pai corria?

— Primeiro, vocês vão parar de achar que é maluquice. E depois, me ajudar a convencer minha mãe a me deixar treinar na pista da famíglia — responde ela, orgulhosa.

— Vai sonhando, filha — diz minha mãe seco, meu pai vai responder, provavelmente que não tinha perigo, que o sobrenome afastaria muitos, mas o olhar sério da minha mãe o calou.

— E você, Martina? — pergunta Lavinia, com a taça de vinho na mão. — Ainda quer levar a costura a sério?

— Quero — respondo, firme, mas com delicadeza. — mas por mim e não pelo meu sobrenome.

Estávamos na terceira rodada de sobremesa — panna cotta com calda de frutas vermelhas — quando papai levantou tirando o paletó escuro e afrouxando a gravata. A mesa se silenciou por um instante, não porque ele impusesse medo, mas porque Giovanni Rossi sempre trazia histórias maravilhosas.

Ele beijou minha testa, fez um toque de pulso com Helena e trocou um olhar rápido com Enrico e Luca,  então girou o corpo em direção a nós e começou a falar:

— Tenho uma notícia — disse, com um leve sorriso no canto da boca. — E envolve uma de vocês em especial.

Todos se viraram para mim e minha irmã ao mesmo tempo. Aurora já arregalava os olhos, Helena deixou o garfo cair no prato com um tilintar leve.

— Uma nova festa está sendo organizada com os investidores internacionais da vinícola e do grupo hoteleiro. E adivinhem? Todos querem conhecer de perto um modelo original de Martina Rossi.

— Ma che meraviglia! — exclamou Bella, batendo palmas. — Finalmente vão ver a artista que temos em casa!

— É sério? Eles querem mesmo as minhas roupas? Você não mexeu os pauzinhos né? — perguntei, surpresa de verdade, sentindo as bochechas esquentarem, não queria que fosse pelo nome, sempre me vinha isso em mente.

— Não minha filha, sei do seu talento e sua paixão — respondeu papai, agora se servindo de uma taça de vinho como se estivesse narrando um jogo de xadrez. — A lista de convidados inclui nomes da imprensa de moda, alguns empresários, estilistas da velha guarda e jovens influentes. Vai ser uma vitrine perfeita para sua marca.

Minha mão tremeu de leve no guardanapo. Senti o coração bater mais rápido — aquele tipo de excitação que me dava quando eu acertava um croqui ou via uma das minhas peças ganhando forma no manequim.

Helena me deu um leve empurrão com o ombro.

— Pronto, irmãzinha. Tá na hora da sua revolução de tecidos acontecer em grande estilo. Vai mostrar para esse mundo que nem só de armas e acordos vive um Rossi.

Aurora já estava abrindo o celular para ver datas. Bella fazia perguntas sobre paletas de cores e tecidos. Até Heitor, discreto, soltou um “parabéns, prima” com um sorriso de canto.

— E vai ter desfile? — perguntou nossa mãe, empolgada. — As meninas podiam desfilar suas criações, imagina que lindo?

— Vamos ver o que sua filha planeja, e ver a segurança em primeiro lugar — disse papai, me olhando com um orgulho nada discreto, ele nos criou com excelência e tem orgulho disso. — A festa é daqui a duas semanas. No palacete em Florença.

Florence. Arte, moda, luz dourada sobre mármore. Quase me perdi só de imaginar.

Mas então, a realidade me puxou de volta. Minha câmera na estante. Meus tecidos no ateliê. E o nome estampado em cada uma daquelas etiquetas:

Martina Rossi.

— Pai, ai meu Deus, preciso saber a decoração da festa, tema, tem tanto para resolver, criar uma peça para cada uma de nós seria perfeito, nem sei por onde começar. — falei quase gritando.

— Sua mãe vai te ajudar, fica calma, estamos com toda a organização preparada, nada é demais para o seu talento.

Era real. Estava acontecendo.

Eu ia mostrar quem eu era — não só como filha de Giovanni Rossi, mas como mulher, como artista, como marca.

Mamãe sorri de um jeito que só eu entendo. Aquele sorriso silencioso de quem vê as filhas crescerem do seu próprio jeito.

No fundo, sei que há muito mais por trás dos olhos dela. E nos de papai também. Eles sempre carregam uma tensão que não se fala… mas se sente. Como se o passado ainda morasse entre a gente, à espreita.

Mas hoje à noite, entre risos, pratos e sonhos lançados no ar como moedas em uma fonte, ninguém pensa em tragédia. Só em planos.

E eu, por mais que viva nesse castelo, nesse nome — Rossi —, ainda sonho com algo que nenhum dinheiro pode comprar:

Um amor verdadeiro. Um que me veja além do sobrenome e um futuro brilhante traçado por mim.

Olho no olho.

Estou a dois dias na Itália, comprei minha mansão na área montanhosa, pátio grande, quartos secretos, subsolo, perfeito para fazer uma masmorra e colocar Martina, a menina era linda, não posso negar, mas o único objetivo que tenho é me aproximar, ganhar a confiança dela e cumprir minha vingança.

Andar por esta cidade é assustador, lembrar do meu pai, da vida que tínhamos aqui, de cada luxo que abrimos mão para fugir, de sair como filho de traidor, mas isso ficou no passado de Salvatore Marino, que morreu ao sair daqui, Salvatore Gael está na cidade somente a negócios e vai pôr em prática seu plano no jantar de gala que vai exibir as peças dela, Martina sonha em ser estilista, e isso é a primeira coisa que vou tirar dela.

O escritório de Enrico Rossi ficava no último andar de um prédio discreto, fachada de mármore escuro, segurança reforçada em cada andar. A sala era ampla, mas sem exagero. O luxo dos Rossi sempre foi silencioso — o verdadeiro poder não precisa gritar.

Leonardo estava sentado à direita do pai, mãos entrelaçadas, relógio Rolex de ouro escovado à vista. Jovem, mas já com o olhar de quem carrega sangue nas mãos.

Enrico, como esperado, não perdeu tempo com cortesias.

— Então, Gael Salvatore, — disse ele, cruzando as pernas e sem sorrir — o que exatamente trouxe você para a Itália?

Eu mantive o olhar firme. Sabia que aquele era um teste, o primeiro de muitos. O que eu dissesse ali seria investigado linha por linha. Mas eu estava pronto. Cada peça no tabuleiro já tinha sido posicionada há anos.

— Cresci entre os cantos de Buenos Aires e Marselha. Meu pai era italiano, minha mãe argentina. Construção civil foi o caminho mais natural. Comecei como engenheiro de obra em zonas costeiras, mas entendi rápido que os grandes contratos exigem mais do que cálculo estrutural, exigem influência.

Leonardo soltou um “hmm” contido, analisando.

— Nos últimos anos, comandei projetos de alto padrão em Dubai, Nice e Porto Cervo. Hotéis, resorts, estruturas verticais privadas. Trabalhei com os Grimaldi, conheci gente dos Corsini no Mediterrâneo.

Mas agora… decidi voltar para onde tudo começou.

Enrico o encarou com olhos semicerrados.

— E por que exatamente nos procurar? A Itália está cheia de incorporadoras dispostas a pagar caro por cada centímetro de solo em cidades estratégicas.

Sorri, com calma.

— Porque eu não vim atrás de solo. Vim atrás de alianças, não alianças profissionais, alianças da famíglia. De onde eu venho, os que constroem melhor são também os que sabem destruir com precisão. E eu sou excelente em ambos.

Silêncio. Denso, mas respeitoso.

— Discrição, pulso firme e execução sem rastros — continuei. — A construção me ensinou isso. Cada fundação exige disciplina. Cada desabamento... exige coragem. Posso cuidar dos dois.

Leonardo cruzou os braços, mas pela primeira vez parecia intrigado.

— E suas referências?

— Ligue para quem quiser. — respondi. — Comecem com Claudio Baretto, no consórcio de Marselha. Ou com Elías Aguirre, do norte da Argentina — dono de três empreendimentos que jamais chegaram ao papel, mas viraram paraísos fiscais discretos.

Eles vão confirmar que onde piso… algo sólido nasce. Ou alguém desaparece.

Enrico apoiou o copo de cristal sobre o braço da poltrona.

— E se não confirmarem?

— Confirmarão.

Mas se tiverem dúvidas, já estou aqui. Não fujo de nada.

O que me diferencia dos que pedem favores… é que eu entrego primeiro. E cobro depois.

Mais silêncio.

Leonardo se inclinou um pouco à frente, com o semblante mais leve.

— Sabe lutar, Gael?

— Fui campeão de combate livre em Córdoba e Nice. Quebrei dois braços e perdi três dentes. Não me orgulho disso… mas me adaptei ao que o ambiente pedia.

Enrico se levantou. Andou até a janela, as mãos às costas.

— Temos um evento de prestígio nas próximas semanas. Talvez você venha como convidado. Observe.

Se ainda estiver por perto depois disso… falamos sobre obra, execução e impérios.

— Estarei. — respondi. E quando estiverem prontos para erguer algo que dure mais do que concreto... Estarei aqui também.

Sabia que eles investigariam cada nome, cada número, cada passo.

Mas também sabia quantos homens eu tinha nas mãos fora dali.

E quantos segredos enterrados sob cimento esperavam para ser usados.

O silêncio que pairava na sala não era incômodo. Era tenso, denso, respeitoso. Como todo bom negócio entre homens que sabem matar.

Inclinei levemente a cabeça, sem exageros. Apenas o suficiente para mostrar respeito.

— Será uma honra trabalhar com vocês.

Enrico se aproximou. Estendeu a mão.

Eu a apertei sem hesitar.

Foi um gesto simples. Mas para mim, carregado de simbolismo.

A mão que ele apertava era a do filho do homem que ele condenou à morte.

E ele nem fazia ideia.

— Seja discreto — disse Leonardo. — E esteja impecável. Nosso sobrenome atrai atenção, mesmo para quem ainda não o carrega.

— Impecável é o mínimo — respondi, permitindo um leve sorriso.

Eles acharam que estavam me aceitando como um aliado.

Mas era exatamente isso que eu queria.

O primeiro passo foi dado.

A confiança, firmada.

O convite, garantido.

E agora, eu estava oficialmente dentro da casa do meu inimigo.

Onde o império começou.

E onde, por minhas mãos, ele começaria a ruir.

Saí do escritório com a mesma calma com que entrei. O sol italiano tingia os corredores de dourado, mas nada ali parecia belo para mim. Eu estava focado. Frio. Ciente do que precisava ser feito.

Até vê-la.

Na frente da sala que deveria ser do pai.

E ao lado dela, a irmã.

As duas estavam abraçadas a Giovanni Rossi, rindo de algo que ele dizia, com a intimidade e o calor que só famílias muito unidas carregam. Mas o tempo pareceu parar — meu corpo paralisou.

Meu coração. Maldito traidor. Disparou.

Martina Rossi.

Cabelos ruivos presos de forma simples, elegante. Vestia uma calça clara de alfaiataria e uma blusa de tecido leve, como se tivesse saído de uma sessão de fotos por acidente.

Mas não era a beleza óbvia que me atingiu — era a leveza. A naturalidade. Ela era o oposto de tudo o que eu conhecia.

E ainda assim… ela era a filha do homem que destruiu a minha vida.

A irmã — Helena, reconheci de longe, vibrante, inquieta, cheia de vida nos gestos — parecia falar com todo mundo ao mesmo tempo. Mas Martina… levantou os olhos.

E me viu.

Foi só um segundo. Um olhar. Mas foi como se o chão sob meus pés tivesse mudado de textura.

Ela não desviou. Nem sorriu. Apenas me olhou.

Curiosa.

Calma.

Perfeitamente alheia ao fato de que estava sendo olhada pelo garoto que jurou destruir o pai dela.

Abaixei o olhar e ajustei o paletó.

Ainda não.

Ela não podia perceber.

Mas dentro do meu peito, uma guerra silenciosa começava.

Porque pela primeira vez em anos... eu não sabia se o plano era tão simples quanto parecia.

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