✍️ Recadinho da Autora
Oi, gente linda! Antes de começarmos, queria só bater um papinho rápido com vocês:
🔹 Essa fanfic surgiu a partir da minha one-shot "Foi por Conveniência" (que tá disponível aqui no meu perfil, se alguém quiser dar uma olhadinha). Mas aqui ela acabou crescendo, ganhou capítulos extras e se transformou bastante em relação à versão original.
🔹 Não é uma história super desenvolvida ou cheia de camadas profundas – eu sei que dava pra desenvolver mais, sim. Mas às vezes, tudo que a gente quer é escrever histórias sem muitas espectativas, sabe? (E sejamos sinceros: eu sou melhor leitora do que escritora, então peguem leve comigo, tá? Haha. Eu prefiro não me aprofundar tanto, porque tem menos chances de eu desistir da fanfic.)
🔹 É uma short fic! Ou seja, nada de 50 capítulos e mil reviravoltas. É só uma história leve, feita pra ser sentida e aproveitada sem pressa ou pressão.
⚠️ AVISOS (CONTENT WARNINGS):
1. Homofobia internalizada (personagens lutando contra seus próprios sentimentos devido à pressão social/familiar)
2. Relacionamento baseado em Mentiras (Jimin e Jieun - sem amor verdadeiro, apenas por conveniência)
3. Angústia emocional (sofrimento prolongado, culpa, negação dos sentimentos)
4. Traição emocional (Jimin envolvido com Jieun enquanto ama Jungkook)
5. Pressão familiar (expectativas hetero normativas sobre casamento)
6. Final Feliz
💖 Dito isso, espero de coração que vocês gostem! Foi escrita com muito carinho (e umas boas madrugadas de insônia, confesso kkk). Comentários, opiniões, críticas construtivas – tudo é bem-vindo, viu? Amo saber o que vocês acham!
O Primeiro Verão
O telhado do prédio abandonado na Rua das Amendoeiras era o lugar mais alto que Jungkook já tinha alcançado na vida. Com seus nove anos mal completos, subir até lá era como chegar ao topo do mundo – o cimento áspero sob seus pés, seus joelhos arranhados, o vento quente do verão soprando em seus cabelos desalinhados, a vista de toda a vizinhança se estendia diante dele como um mapa de tesouro.
Foi lá que ele encontrou Jimin pela primeira vez.
O garoto estava sentado na beirada do terraço, as pernas balançando no vazio como se o abismo de três andares abaixo não lhe dissesse respeito. Usava uma camiseta listrada vermelha e branca, tão larga que deixava um ombro à mostra, e tinha no colo um pacote de bolinhas de goma que ele mastigava com dedos sujos de terra.
— Você vai cair — Jungkook disse, parado a três passos de distância, as mãos suadas enfiadas nos bolsos do shorts.
Jimin virou-se devagar, como se já soubesse que ele estava lá. Seus olhos eram estreitos e brilhantes, como os de um gato observando algo interessante.
— Eu não caio — respondeu, como se fosse o fato mais óbvio do mundo. E então, esticando o pacote de gomas: — Quer uma?
Jungkook hesitou. Sua mãe sempre dizia para não aceitar doces de estranhos. Mas Jimin não parecia um estranho – parecia alguém que ele já devia conhecer há muito tempo.
Jungkook se aproximou e sentou-se ao lado dele, seus tênis encostando no vazio, e pegou uma bolinha vermelha. Era doce e azeda ao mesmo tempo, o gosto explodia em sua língua como uma festa.
— Eu sou Jungkook.
— Eu sei — Jimin respondeu, jogando uma goma para cima e pegando com a boca. — Você mora na minha rua. Eu te vejo andando de skate todo dia.
Jungkook arregalou os olhos.
— Você me observa?
Jimin riu, um som claro que se misturou com o barulho dos pássaros no céu da tarde, e os sons de carros buzinando lá embaixo.
— Todo mundo te observa. Você é o único que cai do skate três vezes e levanta quatro.
Era verdade. Jungkook tinha os joelhos ralados para provar. Mas ninguém nunca tinha reparado antes.
— Eu sou Jimin — o garoto disse finalmente, esticando a mão como um adulto faz quando quer parecer sério. Tinha terra sob as unhas e um Band-Aid no dedo indicador. — Se você quiser, a gente pode ser amigos, e virmos aqui todo dia.
Jungkook olhou para aquela mão estendida, depois para o sorriso de Jimin – faltava um dente, o que o fazia parecer ainda mais jovem do que era.
— Todo dia?
— Todo dia — Jimin confirmou, balançando os pés novamente. — Até o verão acabar.
Jungkook apertou sua mão. Era menor que a dele, mas mais áspera, como se já tivesse vivido mais coisas.
— E quando o verão acabar?
Jimin pensou por um momento, os olhos seguindo o voo de um pombo que passava sobre eles.
— Aí a gente inventa outra coisa.
O sol da tarde pintou o telhado de dourado naquele momento, e Jungkook soube, com a certeza absoluta que só as crianças têm, que aquele era o começo de algo importante.
E foi.
Porque no dia seguinte, ele voltou. E no outro. E no outro.
E o verão nunca acabou.
O verão de 2012 não era só quente — era insuportável. Um calor que parecia castigar a pele, o tempo, os pensamentos. O ventilador girava lento no teto, como se também estivesse cansado da própria existência.
Jimin estava no chão, com as costas coladas ao tapete, com um mangá aberto sobre o peito. Lia, mas não lia. Escutava a respiração de Jungkook acima de si, sentia cada som, cada silêncio.
Até que Jungkook se mexeu na cama, fazendo o colchão ranger levemente.
— Você não tá com calor aí embaixo? — a voz veio preguiçosa.
Jimin sorriu, tentando aliviar a tensão que tomou seu corpo, aquilo sempre acontecia quando Jungkook estava perto dele , ou falava com ele. Eles eram melhores amigos há tanto tempo, mas ainda sim, sentia frio na barriga, e sentia seu corpo tencionar.
— Tá tudo quente. O chão, o ar, minha alma. Não faz diferença. — Jimin diz.
Um dia se instaura por breves segundos, até a cama ranger de novo. Jimin soube, sem precisar olhar, que Jungkook tinha se virado.
— Você tá estranho hoje. — Jungkook comentou, e Jimin desviou os olhos para o teto.
— Eu tô sempre estranho, Jungkook. Não é novidade.
— Não desse jeito.
Ele ouviu o som dos pés descendo da cama.
Jungkook andou até ele e, sem cerimônia, ajoelhou-se à sua frente. Jimin sentou-se devagar, o mangá escorregando do colo para o chão.
— O que foi? — perguntou, forçando um sorriso. — Além de calor, tá com tédio existencial também?
Jungkook inclinou a cabeça, analisando-o. Seu rosto ainda tinha traços de garoto, mas os olhos... os olhos estavam diferentes. Mais maduros. Profundos. Quase tristes.
— Eu fico pensando… — começou ele, hesitante. — Que a gente tá sempre aqui. Fazendo as mesmas coisas. Passando o verão juntos. Rindo das mesmas piadas idiotas. Mas...
— Mas...? — Jimin segurava a respiração.
— E se isso tudo acabar? Tipo... de repente. Você já pensou nisso? Que um dia a gente pode acordar e... não estar mais aqui? Não ter mais isso?
Jimin engoliu em seco.
— Eu penso nisso o tempo todo.
Jungkook se aproximou um pouco mais de Jimin.
— E o que você faz quando pensa nisso?
Jimin riu, mas era um riso nervoso, sem graça.
— Finjo que não é comigo.
— Eu não quero fingir. Não mais. — Afirmou. Ele estava certo das atitudes que tomaria dali para frente, decidiu que não iria mais fingir.
Jimin ficou em silêncio, podia ouvir o som de ambos respirando — rápido demais, irregular demais.
— Você não sabe o que tá dizendo. Deve ser o calor do verão te afetando, ele faz tudo parecer mais urgente — Jimin murmurou, desviando o olhar. — Isso vai passar.
— E se eu não quiser que passe?
Ele sentiu o toque. Leve. Os dedos de Jungkook, hesitantes, encostando nos dele.
— Me diz uma coisa, Jimin. Só uma. E eu juro que nunca mais toco no assunto.
Jimin não respondeu. Apenas olhou para ele, com o coração disparado.
— Alguma vez você... pensou na gente? Tipo... de verdade? Não como amigos.
Jimin ficou imóvel. O mundo pareceu parar ao redor deles.
— Todo dia — confessou, por fim, a voz falhando. — Mas pensar não muda nada.
Jungkook aproximou-se mais. Agora os rostos estavam a centímetros de distância.
— E se eu quiser mudar?
— Não dá, Jungkook. A gente...
— Me deixa tentar. Só uma vez.
Jimin sentiu o corpo inteiro tremer. Os olhos de Jungkook estavam nos seus, intensos, honestos, e havia algo neles que implorava por permissão.
E ele deu. Sem dizer nada. Apenas fechou os olhos.
O beijo aconteceu com a hesitação de quem toca algo sagrado pela primeira vez. Não foi urgente, nem desajeitado — foi cuidadoso, como se Jungkook estivesse pedindo permissão com os lábios antes de se permitir sentir de verdade.
O toque foi leve, apenas o suficiente para fazer o estômago de Jimin virar do avesso.
Por um segundo, ele esqueceu do mundo.
Do calor.
Do medo.
Da culpa.
Tudo desapareceu, exceto a maciez dos lábios de Jungkook encostando nos seus, tímidos e quentes.
Foi como cair. Como perder o chão.
A respiração entrecortada. Os olhos fechados. pela primeira vez, Jimin não lutou contra o que sentia.
O beijo era exatamente o que imaginava — Doce com um toque de chiclete, tão familiar que parecia casa. Mas tinha algo novo ali. Algo proibido, elétrico, incontrolável.
E então, o beijo se tornou mais firme. Jungkook inclinou-se, encurtando qualquer distância que restava entre eles, e Jimin sentiu seu corpo inteiro reagir. As mãos, trêmulas, subiram até os ombros do outro, agarrando o tecido da camiseta.
Jimin arfou contra a boca de Jungkook, em uma mistura de medo e desejo apertando seu peito.
Não devia.
Mas como parar agora?
Ele sentia tudo — o suor escorrendo entre as têmporas, o coração pulando no pescoço, a pele em brasa. Era como se o verão tivesse se tornado uma pessoa, e ela estivesse ali, entre eles.
Jungkook se afastou um pouco, seus olhos escuros de corça, pareciam meio incertos.
— Você tá bem...? — murmurou, a voz baixa, rouca.
Jimin demorou para responder. Seus lábios ainda estavam entreabertos, o rosto quente, as palavras presas na garganta.
— Eu... eu não sei.
E essa era a verdade mais honesta que podia dar.
Porque ao mesmo tempo que seu coração doía de medo, ele também se sentia inteiro pela primeira vez. Como se tivesse vivido até ali pela metade.
Ele olhou para Jungkook, e tudo o que viu foi carinho. Nenhuma cobrança, nenhum orgulho. Apenas a versão mais crua e vulnerável do amigo que ele conhecia há anos.
— Isso muda tudo — Jimin sussurrou, quase para si mesmo.
— Talvez — Jungkook respondeu, com um sorriso pequeno — mas talvez só mude pra melhor.
E naquele momento, apesar de tudo que viria depois — o silêncio, a dúvida, o peso das escolhas —, os dois sabiam que algo verdadeiro havia nascido ali. Entre o medo e a coragem.
Mas então… a culpa veio como uma onda fria em Jimin, varrendo o calor daquele beijo.
Ele sentiu que o quarto parecia encolher ao seu redor, sufocante como o próprio verão.
O que haviam acabado de fazer — o que ele deixou acontecer — não podia ser real.
Ele passou a mão pelos cabelos, tentando ordenar os pensamentos, mas tudo que conseguia sentir era o gosto de Jungkook em sua boca. Doce. Quente. Inesquecível.
— Isso… — sua voz falhou, quase como um sussurro — Isso não devia ter acontecido.
Jungkook franziu a testa. Ainda ajoelhado à sua frente, ele parecia confuso e vulnerável. Seu coração batia rápido demais, como se esperasse que Jimin dissesse o contrário. Que sorrisse e dissesse “brincadeira”. Mas não foi isso que ouviu.
— Jimin... — começou, tentando entender — Por quê?
Jimin desviou o olhar, como se encarar os olhos de Jungkook fosse o mesmo que cair de novo. Seu peito doía. Não pelo beijo em si, mas por tudo que aquele beijo significava.
— Porque é errado — murmurou, como se dissesse algo que vinha ensaiando há muito tempo. — Dois garotos... Isso não... não pode.
Aquelas palavras foram como um tapa.
Jungkook sentiu o coração apertar de um jeito que nunca havia sentido antes. Como se estivesse perdendo algo que nem chegou a ter de verdade. Ele piscou algumas vezes, tentando afastar a ardência que crescia nos olhos. Engoliu em seco.
— Errado pra quem?
Jimin não respondeu. Não tinha forças. Na cabeça, ouvia a voz dos pais. Do pastor. Dos vizinhos. O riso cruel de colegas de escola. O medo de ser descoberto. O medo de perder tudo. Era demais.
— Me desculpa, Jungkook — ele sussurrou. — Só… esquece isso. Nunca aconteceu.
Esquece. Como se fosse fácil.
Mas não era.
Porque para Jungkook, aquilo foi tudo. A realização silenciosa de um sentimento guardado por anos. A resposta que ele sempre quis, ainda que breve. Jimin tinha sido seu primeiro beijo — e Jungkook queria que fosse seu primeiro tudo. Seu primeiro amor, seu primeiro “pra sempre”.
Ele não sabia exatamente quando havia começado a se apaixonar pelo melhor amigo. Talvez fosse naquela tarde em que Jimin apareceu com um lanche extra só porque achou que ele parecia cansado. Ou quando o viu dançar pela primeira vez, completamente entregue, como se o mundo desaparecesse. Talvez fosse desde sempre, desde que Jimin entrou em sua vida com aquele sorriso gentil e os olhos cheios de cuidado.
Mas agora, tudo parecia desmoronar.
Jungkook assentiu lentamente, tentando sorrir, tentando esconder o buraco que se abrira em seu peito. Mas o sorriso não alcançou os olhos.
— Tudo bem... — disse, mesmo não estando.
Levantou-se devagar, evitando olhar Jimin por muito tempo, com medo de não conseguir se controlar. O calor parecia mais forte de repente, mas não era só o verão — era o vazio. Era o fim de um sonho.
Jungkook queria ser aquele que tivesse sorte. Queria que o mundo fosse diferente. Queria que amar Jimin fosse simples.
Mas ali, naquele momento, entendeu que talvez amar fosse, sim, uma sorte — e o azar era não poder viver esse amor.
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