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Entre Sombras E Trono

capítulo 1

Em um mundo pós-colapso, onde as Nações Unidas deram lugar a coalizões militares autônomas, a Base Alfa-17 é uma fortaleza remanescente do antigo mundo. Lá, liderando o esquadrão mais temido da região, está Coronel Helena Voss, 30 anos, exímia estrategista, ruiva de presença dominante e olhos verdes que enxergam antes mesmo do inimigo pensar em atacar.

Helena é uma força bruta de precisão. Domina armas como quem respira — de punhais curvos a fuzis de longo alcance. Na linha de frente ou na sala de comando, ela é imbatível. Inteligente, metódica, e fechada emocionalmente, vive para o dever.

Sua única brecha no escudo é Tenente Camila Rojas, segunda no comando e sua amiga mais leal. Camila é o oposto: desbocada, destemida, cheia de vida. Está sempre tentando “destravar” Helena, seja empurrando-a para festas clandestinas, seja jogando um soldado bonito no caminho dela.

Quando não está se agarrando com algum soldado no alojamento ou arrastando Helena para “ver o mundo fora da base”, Camila a encontra mergulhada em romances de banca — do tipo que Helena lê escondida, mas nunca admite gostar.

> "Você comanda tropas como uma deusa da guerra," Camila diz, jogada no sofá do alojamento com uma cerveja quente na mão. "Mas seu coração... tá preso num livro de romance barato. Vive, porra."

Helena ergue os olhos do livro, seca.

> “Se eu quiser drama e sofrimento gratuito, converso contigo.”

Camila sorri.

> “Só vou parar quando te ver rindo de verdade. Ou gemendo, tanto faz.”

Quarto de Oficial – Base Alfa-17 | 03h12

O livro não estava ali ontem. Helena tinha certeza. A capa era de couro envelhecido, com símbolos dourados que brilhavam sob a luz fraca da luminária. Papel gasto, cheiro de mofo antigo e um título em mandarim que ela mal conseguiu traduzir: “A Dama Que Desafiou o Céu”.

Virou página após página até se perder completamente na história. Era sobre uma mulher chamada Xu Lian, filha de um dos clãs mais poderosos de um império mágico, herdeira de dons que fariam deuses se curvarem. Xu Lian era tudo: linda, letal, genial. Mas vivia correndo atrás do maldito príncipe herdeiro que não dava a mínima pra ela.

Helena bufou, jogada de lado na cama, uniforme ainda semi-aberto.

> “Idiota…” murmurou, pela décima vez naquela hora. “Você podia dominar reinos com um estalar de dedos e tá aqui se humilhando por esse moleque?”

Xu Lian conjurava tempestades, selava pactos com dragões, salvava o império de invasões demoníacas — tudo com uma pose impecável. E o príncipe? Só tinha olhos pra Yin Mei, uma camponesa boca-mole que tropeçou no trono e virou favorita da corte da noite pro dia.

> “Ela treinou quinze anos com espada espiritual e perdeu pra uma que caiu de escada e ganhou poder com um amuleto… incrível,” Helena resmungou, fechando o livro com força.

E o final? Um desastre. Xu Lian, quebrada, exilada, virou lenda trágica. Yin Mei casou com o príncipe, foi coroada, e todos viveram felizes. Helena olhou pro teto com desprezo.

> “Você podia ter sido imperatriz. Rica. Livre. Mas se perdeu por um idiota com coroa.”

Antes que pudesse mergulhar de novo na revolta literária, a porta do quarto se abriu sem cerimônia.

Camila Rojas entrou já falando:

> “Levanta, chefe. Mandaram a gente pro inferno.”

“Defina ‘inferno’.”

“Afeganistão. Montanhas. Hostis. Provável base de cativeiro. E claro… missão de resgate.”

“Alvo?”

“Dois diplomatas da coalizão. Vivos, preferencialmente.”

Helena se levantou, já com a postura fria de coronel. Dobrou a manta da cama, pegou o coldre com precisão cirúrgica. Sem hesitar.

Camila, encostada na porta, riu:

> “Depois dessa missão, eu juro por Deus, quero uma foda que me apague da realidade. Nada menos.”

“Você sempre sonhando alto.”

“E você sempre com a cara enfiada em dramas alheios. Vai dizer que não tava lendo romance de novo?”

“Era uma história idiota sobre uma mulher poderosa que escolheu sofrer por amor em vez de dominar o mundo.”

“Soa familiar…”

“Camila.”

“Tô só dizendo.”

Helena puxou o tablet, abriu o mapa tático e ativou o projetor.

> “Missão começa às 0500. Revisão do plano em 20 minutos. Sem margem pra erro.”

Camila suspirou.

> “Você devia ser vilã de um desses livros, sabia? Ia conquistar tudo.”

“Só se eu não me apaixonasse por um príncipe idiota.”

“Você? Apaixonada?”

“É. Improvável.”

Mas por um segundo, Helena olhou de canto pro livro em cima da cama — e sorriu.

capítulo 2

Hangar Militar – 04h56

Helena travou a última trava do fuzil com um clique seco. Carregadores checados, facas embainhadas, pistola no coldre. Tudo em ordem. Mas antes de fechar a mochila, ela olhou de novo pro livro em cima da mesa de metal. A capa parecia chamá-la.

Por um instante, hesitou. Suspirou.

> “Vai que sobra cinco minutos pra idiotice,” murmurou, enfiando o volume no fundo da bolsa tática, entre o kit de primeiros socorros e uma granada de fumaça.

O esquadrão já estava reunido na pista, prontos para embarcar no cargueiro. Clima tenso, mas com aquele humor forçado que soldados usam pra driblar o medo. Uns cantavam trechos de músicas velhas, outros discutiam finais de filmes como se o mundo dependesse disso.

Camila estava sentada no fundo do avião, rindo alto de uma história envolvendo um sargento bêbado, uma galinha e uma granada sem pino.

Helena, silenciosa, sentou no canto, encostada na parede da fuselagem. Tirou o livro e voltou à leitura.

> “Xu Lian, sua burra. Você literalmente cavalga um dragão de cristal, e ainda tá chorando por um homem que não sabe nem conjurar um escudo decente?”

Ela virou a página.

“E agora você quer se matar pra salvar ele? Por quê? BURRA.”

“Falando com a heroína do livro de novo?” Camila gritou do outro lado da cabine.

Helena não respondeu. Apenas ergueu o dedo do meio sem tirar os olhos da página.

O avião sacudiu levemente com o aviso do piloto.

> “Aqui é Águia Sete. Vamos pousar a 1.5 km do alvo, área montanhosa. Preparem-se para saltar em cinco.”

Camila bufou.

> “Maravilha. Pular, rastejar, escalar, atirar. E tudo isso sem nem um café decente.”

Ela cutucou o ombro de Carlos, um dos soldados mais convencidos da base. Bonito, cafajeste, e dono de um ego do tamanho de um helicóptero.

“Depois dessa, vou cobrar em carne, hein.”

Carlos deu aquele sorriso cretino:

“Só vem em mim, gata. Dou conta de você e da missão.”

Helena levantou o olhar, fria.

> “Vocês dois. Guardem a testosterona pra depois. Agora foco total.”

Ela se ergueu, já puxando o arnês, verificando o rádio no ombro, fixando os óculos noturnos. Sua voz cortou o barulho do motor como faca afiada:

> “Quero todos com atenção máxima. Isso é zona hostil. Um erro, e a gente não volta. Saltamos, avançamos rápido e silenciosos. Resgate e evacuação em menos de quarenta minutos. Entendido?”

Coros de “Sim, senhora” ecoaram.

Helena ajustou o capacete, mas não antes de lançar um último olhar pro livro guardado na mochila.

> “Pelo menos você é só um desastre fictício,” pensou, antes de caminhar em direção à rampa.

A luz vermelha acendeu.

Contagem regressiva.

5… 4… 3…

A coronel Helena Voss saltou primeiro.

---

Montanhas de Darband – Afeganistão | 06h02

O salto foi limpo. Pousaram no silêncio das pedras, como sombras. Nem os ventos frios das encostas quebravam o foco deles.

Avançaram em formação tática, cortando o terreno montanhoso como fantasmas. Pararam duas vezes — uma para hidratar, outra para dividir barras de proteína sem nem trocar palavras. O tempo era o inimigo, e o terreno não perdoava erro.

06h39 – A vegetação rareava. À frente, um barraco de concreto velho e rachado encravado entre duas elevações rochosas. Era o alvo.

Helena deitou no topo de uma crista e observou com binóculo térmico.

Dois armados no telhado, três fazendo ronda no perímetro. O prédio não parecia ativo… demais até.

> “Cadê o calor? Cadê os movimentos lá dentro?” — pensou, franzindo a testa. “Dois reféns vivos deviam gerar sinal. Isso tá errado.”

Camila rastejou até ela, arfando levemente.

> “Tudo calmo demais.”

“Calmo é ruim,” Helena disse seca. “Parece armadilha.”

Ela apontou para Ivan, o sniper, que já montava posição num afloramento rochoso.

> “Ivan, cobertura norte e telhado. Se alguém erguer arma, derruba.”

“Entendido,” ele respondeu, já mirando.

Helena ativou o comunicador.

> “Equipes Alpha e Beta, formação de pinça. Entramos silenciosos. Nada de tiroteio se der pra evitar. Os reféns são prioridade.”

As unidades se espalharam como névoa, contornando o local.

Helena liderou o avanço com Camila ao lado, ambos rastejando até a lateral do barraco. A pintura descascada, o cheiro de óleo velho e o silêncio morto criavam uma tensão espessa.

Ela encostou o ouvido na parede. Nada.

> “Barulho zero. Não é normal,” ela disse, quase num sussurro.

Camila assentiu.

> “Se for isca, vamos descobrir logo.”

capítulo 3

Helena sinalizou com a mão: invasão.

Dois soldados estouraram a porta dos fundos com uma alavanca de pressão. Helena entrou primeiro, arma empunhada, vasculhando cada canto. Corredores vazios. Cômodos desertos. Uma cadeira caída, uma corda solta, nada de reféns.

Até que… uma mesa no centro, com um rádio ligado em loop. Uma mensagem em árabe: "Vocês chegaram tarde."

Helena congelou por meio segundo.

> “Armadilha confirmada.”

Ivan, no rádio:

> “Movimento ao sul. Comboio vindo pela estrada. Seis veículos. Heavily armed.”

Helena puxou o rádio, fria:

> “Todos em posição defensiva. Vamos sair vivos dessa. Camila, comigo. Vamos quebrar esse jogo antes que eles fechem o cerco.”

Ela já analisava as rotas de saída mentalmente, como num tabuleiro.

Mas no fundo da mochila, entre pentes de munição e kits médicos, o livro parecia pulsar. Como se soubesse que o real estava prestes a ficar tão caótico quanto a fantasia.

Barraco nas Montanhas – 06h57

O rádio chiava em todos os canais. O comboio inimigo avançava rápido demais. Eles não tinham chance de conter aquilo sem virar pó.

Helena analisou o espaço com precisão cirúrgica.

Três entradas, duas rotas de fuga, um esconderijo no flanco leste — e só um jeito de dar tempo pro esquadrão escapar.

> “Retirada total. Equipe Alpha, para o ponto de extração Sierra. Beta, contorno pela crista norte. Ivan, cobertura até o último segundo. Repito: recuo imediato!”

Camila segurou o braço dela.

> “Não. Eu fico com você. A gente segura juntos.”

“Não, Camila. Isso é ordem direta.”

Helena já armava explosivos nos pilares internos, programando o temporizador.

> “Se alguém ficar aqui, morre. E não vão ser todos. Vão ser só eu. É a única saída.”

Camila balançou a cabeça, olhos vermelhos.

> “Vai se foder, Helena. Eu não te deixo aqui.”

Antes que ela reagisse, Helena deu a ordem final.

> “Kael, leva ela. Agora. Carregue se precisar.”

Kael hesitou, mas obedeceu. Pegou Camila pelos braços enquanto ela chutava, se debatia, chorando.

> “NÃO! ELA VAI FICAR PRESA AQUI! ME SOLTA, SEU MERDA! HELENA!!”

Helena ativou o canal do rádio.

> “Cuidem-se. Sejam fantasmas. Não deixem eles pegarem nenhum de vocês.”

Silêncio.

“Eu amo essa equipe. Vão.”

Kael correu com Camila pelos flancos da montanha. O barraco ficou para trás, pequeno, velho… e prestes a virar fumaça.

Os veículos inimigos pararam em frente. Homens armados desceram. Camila, à distância, com os binóculos, assistia impotente.

E então — BOOM.

A explosão sacudiu a terra. Chamas engoliram o prédio inteiro. Camila gritou, um grito que rasgou a garganta, mas uma mão tampou sua boca.

> “Ela sabia o que fazia,” murmurou Kael.

Mas ninguém viu o que realmente aconteceu lá dentro.

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Algum Lugar Entre Mundos – Escuridão Total

A alma de Helena se desprendeu do corpo no exato momento da explosão.

Luz. Trovões. E depois… palavras em mandarim sussurradas por uma voz antiga.

> “Toda vilã tem direito a uma segunda história…”

O livro, no fundo da mochila, pulsou uma última vez — depois explodiu em luz branca, engolindo Helena.

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Império de Jiànlóng – Palácio Dourado

Helena acorda em uma cama luxuosa, vestida com seda negra bordada com serpentes douradas. Um espelho à frente revela um rosto diferente, mas familiar: olhos ferozes, pele impecável, cabelos negros trançados com joias. O corpo é de Xu Lian.

Um servo entra apressado.

> “Ministra Xu, o Conselho a espera. O príncipe herdeiro irá discursar. A senhorita foi... excluída da cerimônia.”

Ela levanta lentamente. Vê seu reflexo e sente o poder pulsar nas veias — magia, pura e violenta. Um dragão espiritual dorme em sua sombra.

Helena, agora Xu Lian, sorri com frieza.

> “Ele quer me excluir? Vamos ver quem exclui quem.”

Seu passado de coronel não desapareceu. E agora ela está num mundo onde poder mágico reina, intrigas dominam — e ela tem a chance de reescrever a história da mulher que considerava uma tola.

> “Eu não sou mais a vilã dessa história. Sou a nova imperatriz. E vou tomar esse império pra mim.”

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