Trisal da Praia: entre o Céu e as Águas
Introdução
Seis anos desde a última vez em que se olharam nos olhos sem a pressa do mundo, em que dividiram risos, segredos e tardes que pareciam infinitas. Thiago, Kayky e Darlex. Amigos de infância, cúmplices de juventude, separados pelo tempo e unidos pela memória
Cada um seguiu seu rumo — como tem que ser. Mas o que ninguém esperava era que seus caminhos se cruzassem de novo numa vila pequena, turística e quase escondida atrás de montanhas suaves, como se o mundo tivesse esquecido aquele pedacinho da Bahia. A vila era viva, colorida, e parecia viver em outro ritmo: o das ondas, do vento, da brisa salgada que entrava pelas janelas.
Tiago, agora professor universitário, recebeu uma proposta irrecusável para lecionar numa faculdade grande, moderna, cheia de salas, escadas, gente — contrastando com a tranquilidade da vila. Era a chance de voltar à Bahia, depois de tanto tempo longe, e quem sabe se reencontrar consigo mesmo.
Kayky, médico prático e focado, foi escalado para um projeto de saúde comunitária no local. Seu plano era simples: passar uma temporada, cumprir seu papel e seguir viagem. Mas o destino sorriu diferente. O projeto virou permanência. Ele virou o médico da vila — e, aos poucos, deixou de querer ir embora.
Já Darlex só queria férias. Nada de trabalho, nada de planos. Queria mar, descanso, comida boa e talvez um motivo novo pra sorrir. E foi vasculhando anúncios online, com o vento entrando pela janela da cozinha e o celular na mão engordurado de farinha, que ele encontrou a casa.
O anúncio era chamativo:
“Casa ampla de frente para o mar. Três quartos, varanda grande, cozinha completa, banheiro espaçoso e um terreno que é quase um convite para viver bem.”
Ele não pensou duas vezes. Clicou. Preencheu o formulário. Pagou o adiantamento. Só depois, ao confirmar os dados, notou uma curiosidade: a oferta já estava fechada. Três pessoas haviam confirmado. Ele era uma delas. As outras duas? Estranhos.
Ele desliga o celular e fica pensativo
Mas aquilo era uma forma de fazer novas amizades, ele pensou
Mas mau sabia que o destino tinha reservado algo para os três
Darlex já ansioso, arruma suas coisas, pois iria partir no outro dia
A Casa e o Vento
O sol já se preparava para se esconder atrás das montanhas quando Darlex finalmente chegou à vila. A luz dourada escorria pelas paredes coloridas das casas, refletia nas janelas e tingia o céu com um misto de laranja, rosa e azul profundo. Era como se o tempo ali andasse devagar, embalado pela brisa salgada que vinha do mar.
Darlex desceu do ônibus com uma mala em uma mão e uma bolsa atravessada no ombro. Usava uma camiseta fina, quase colada ao corpo pela viagem, e os cabelos curtos ainda cheiravam a shampoo barato de pousada.
Respirou fundo. A maresia bateu no rosto como um velho amigo.
— Que saudade de sentir isso — murmurou pra si mesmo, sem pressa.
Começou a caminhar pelas ruas de pedra batida, cercadas por casas baixas, algumas com portas abertas, outras com moradores sentados nas calçadas. A vila era pequena, mas viva. As vozes vinham de todos os cantos: risos, sons de panela, crianças correndo.
À medida que passava, Darlex notava olhares curiosos. Pessoas se entreolhavam, falavam baixo, disfarçavam mal.
— Deve ser coisa de vila — pensou. — Estranho novo sempre vira assunto.
Mas não era só ele. Ouviu alguém comentar, quase como quem deixa escapar sem querer:
— Esse aí deve ser o terceiro…
— O da casa que de aluguel
Darlex franziu o cenho. Aquilo soou estranho, mas seguiu andando. Os chinelos afundavam na areia da rua que levava direto até a casa. E quando finalmente a viu… sorriu.
Uma varanda larga, madeira envelhecida pelo sal e pelo tempo, três janelas na frente, um portãozinho de ferro meio torto. E ao fundo, depois do quintal espaçoso, o mar. Azul, calmo, infinito.
Uma varanda larga, madeira envelhecida pelo sal e pelo tempo, três janelas na frente, um portãozinho de ferro meio torto. E ao fundo, depois do quintal espaçoso, o mar. Azul, calmo, infinito.
Ele subiu os primeiros degraus da varanda e só então viu. Alguém estava ali
Um homem, de costas, mexendo no celular com a cabeça levemente inclinada. Não era alto — talvez um pouco mais baixo que ele —, o cabelo bagunçado pelo vento, a camiseta colada ao corpo revelando formas discretas, definidas.
O homem virou o rosto.
Os olhos se encontraram.
Foi como um pequeno tropeço no tempo.
A pausa durou só um segundo. Mas naquele segundo, o passado inteiro veio à tona. O último abraço. O último olhar. O que nunca foi dito. E agora… ali, os dois, de novo.
Na varanda de uma casa que os dois, sem saber, haviam escolhido ao mesmo tempo.
Darlex
Cara, quais as chances disso ter acontecido?
Darlex
Que saudade de você cara
Darlex vai até ele joga suas coisas no chão e dá uma abraço apertado nele
Kayky
Mas... você vai me esmagar assim
Kayky
O que veio fazer aqui?
Darlex
Ser cozinheiro em restaurantes da cidade é cansativo
Darlex
Resolvi dar um tempo
Kayky
Fins médicos, um projeto comunitário de saúde, me chamaram e eu vim
Kayky
Mas depois eu vou embora
Darlex da um olhar e respira fundo....
Darlex
E você teve notícia dele?
Eles falam como se suas mentes estivessem conectadas
Darlex
Ele simplesmente sumiu
Kayky
A mãe dele disse que ele saiu para trabalhar em outro estado
Darlex
Ele levou a sério a briga entre nós
Darlex
Não era isso que deveria acontecer
Kayky
Mas a gente falou cousas duras pra ele
Kayky
Ele só estava falando que queria sair para encontrar uma vida melhor
Darlex
Mas vida dele não estava boa com a gente?
Kayky
Sabe que ele não queria ter uma vida só assim
Kayky
mas ele queria ter sua estabilidade financeira
Darlex
Realmente, falamos coisas que não deveríamos
Darlex
Mas eu queria falar mais uma vez com ele
Kayky
Eu também quero o mesmo
A brisa da praia soprava nos rostos deles
O Terceiro
O fim de tarde tingia a vila com tons quentes de laranja e dourado. Na lateral da casa, a varanda pequena de madeira acolhia Darlex e Kayky, sentados lado a lado com garrafas de cerveja nas mãos. O som do mar ao fundo era constante, como uma respiração viva.
Darlex
Achei que só você ia morar aqui comigo
Darlex
*Da um gole na cerveja*
Kayky
Cheguei hoje e pensei que era coincidência te encontrar. Não sabia que tinha mais gente.
Darlex
Pois é… o anúncio dizia três. Mas vai ver o outro desistiu.
Kayky
Ou é um espírito que só aparece depois do pôr do sol
Kayky
*Brinca olhando para o quintal*
Darlex
Fantasma que divide aluguel? Só se for pra lavar a louça.
Nesse instante, algo os fez parar.
Do barranco que dava acesso à mata atrás da casa, uma figura começou a descer lentamente. A luz baixa desenhava o contorno do corpo, e o vento carregava o cabelo volumoso que balançava no alto da cabeça como uma coroa viva.
Kayky
*Sussurra com um tom mais sério*
Darlex
Tô. Mas não sei se é gente ou entidade.
Era um homem. Alto. Negro.
Cabelos black power ao vento. Corpo definido, mas não exagerado — a pele reluzente parecia absorver o último calor do dia. Usava apenas um short fino, com estampa floral, e a camisa caída sobre os ombros. Descia com passos lentos, como quem não tinha pressa pra chegar a lugar nenhum.
Quando alcançou o quintal, pendurou a camisa num giral de madeira e caminhou até o chuveiro ao ar livre.
Darlex
Esse chuveiro ainda funciona?
O homem girou o registro e a água caiu em um jato firme, estalando no piso de pedra. Ele passou as mãos pelo peito, inclinou a cabeça pra trás, deixando a água escorrer. Não olhava pra casa. Não olhava pra nada — como se estivesse em comunhão com o lugar.
Darlex
Isso tá parecendo cena de filme.
Kayky
Se for assombração, eu não me importo de ser possuído
kayky diz sorrindo de canto
Darlex quase engasgou de rir, mas manteve os olhos presos na cena.
O homem molhava o rosto, o pescoço, os braços. De tempos em tempos, o short colava ao corpo, revelando mais do que escondia.
Darlex
Porque eu já tô interessado.
Kayky
Vai ver ele é casado.
Darlex
Vai ver ele é perigoso.
Kayky
Vai ver… ele é só bonito demais pra ser real.
Do chuveiro, o homem desligou a água. Pegou a camisa de volta, mas não vestiu. Apenas enxugou os braços, passou a toalha no rosto e começou a andar lentamente na direção da casa.
Disse Kayky, quase em alerta.
Darlex
Como se a gente não tivesse encarando, né?
Aos poucos, o rosto dele se revelou.
E quando os olhos se encontraram…
O silêncio tomou conta.
Mas isso… era o começo de tudo.
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