...Entre o Amor e a vingança, só um vai sobreviver ...
Camila Vasconcellos
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O barulho do despertador me fez odiar a vida por exatamente cinco segundos. Depois lembrei que era meu primeiro dia como secretária executiva na Moretti Holdings, e que tudo podia mudar a partir dali.
Me estiquei na cama pequena pro meu quarto grande, O sol entrava devagar pelas frestas da cortina bege, e o cheiro do café da manhã invadia o corredor. Meu pai sempre acordava antes de mim. Sempre tão pontual, tão... político.
Levantei, prendi o cabelo num coque alto e fui direto pra cozinha. Lá estava ele. Eduardo Vasconcellos. O homem que todos respeitavam, e que eu, às vezes, temia sem saber por quê.
— Bom dia, minha filha.
— disse ele, sem desviar os olhos do jornal.
Camila-Bom dia, pai.
— respondi, pegando uma fatia de pão e me servindo de café.
Nosso café da manhã era silencioso, como sempre. Mas naquela manhã, eu sentia um peso diferente no ar. Talvez fosse o fato de que eu estaria trabalhando dentro da empresa do maior rival de negócios dele. Ou talvez fosse só paranoia minha.
— Vai estar na empresa às nove, certo?
Camila- Sim. A Letícia vai me levar.
— Lembre-se de manter o foco, Camila. Nada de amizades desnecessárias. Essa vaga foi uma oportunidade. Confiança é algo raro.
Camila- Eu sei, pai. Não vou decepcionar você.
Ele finalmente me olhou por cima dos óculos. O olhar firme, calculado. O mesmo olhar que usava em discursos, campanhas, entrevistas. Só que ali, dentro de casa, parecia ainda mais afiado.
— E principalmente... mantenha distância de Enzo Moretti.
Pronto. A faísca. A tensão no ar.
Camila- Pai, nem conheço o homem.
— Melhor assim.
Engoli o café e fingi que estava tudo bem. Mas alguma coisa naquele aviso me deixou curiosa. Por que tanto receio? Por que tanto controle?
Terminei o café, dei um beijo no rosto dele e fui.
9:00 PM
A fachada da Moretti Holdings era imponente. Vidro espelhado, carros de luxo, seguranças em ternos pretos. Um outro mundo. E eu, com minha pasta em mãos e salto médio, sentia que pisava num campo minado.
— Vai dar tudo certo
— disse Letícia, me apertando a mão antes de ir embora.
Camila- Se não der, pelo menos vou sair com currículo chique
— brinquei, rindo nervosa.
Entrei. O saguão era gigante, o chão de mármore branco refletia as luzes como espelho. Tudo era tão... milimetricamente elegante.
A recepcionista me guiou até o elevador, e lá em cima, fui recebida por uma mulher de salto 12, olhar afiado e batom vermelho.
— Camila Vasconcellos? Sou Bianca, chefe de RH. Vou te apresentar seu espaço.
Fui andando atrás dela, tentando parecer segura. Meu blazer colado nas curvas, cabelo solto agora, e batom nude. Profissional, mas com presença. Letícia dizia que eu tinha "cara de CEO" e "corpo de deusa egípcia", mas naquele ambiente, eu me sentia quase invisível.
Quase.
Até ele entrar.
A porta da sala envidraçada se abriu e, por um instante, o ar ficou mais pesado. Alto, terno cinza escuro impecável, cabelo levemente penteado pra trás, barba bem feita, e os olhos... os olhos mais intensos que já vi. Cinza como tempestade.
Enzo Moretti.
Ele passou devagar, olhando pro celular, depois ergueu o rosto. Os olhos cruzaram com os meus por exatamente dois segundos.
Mas foi como se ele tivesse me atravessado inteira.
Um arrepio correu pelas minhas costas. Eu não consegui desviar. Nem ele.
Seu olhar não era gentil. Era afiado. Cruel.
Como se dissesse: “Você não deveria estar aqui.”
E ainda assim, eu quis ficar. Por ele.
— Camila Vasconcellos.
— ele disse, como quem repete o nome pra saborear.
Camila- Senhor Moretti.
— respondi firme, sem piscar.
Bianca sorriu sem jeito.
— Ela é a nova assistente executiva, senhor.
— Hm.
— foi só o que ele respondeu, antes de entrar na sala e bater a porta atrás de si.
Bianca tentou disfarçar o climão.
— Ele é sempre assim. Vai por mim, com o tempo a gente se acostuma.
Mas eu não queria me acostumar.
Eu queria entender por que, com um único olhar, aquele homem fez meu coração acelerar de um jeito que nem meu ex conseguiu em um ano inteiro de namoro.
Enzo moretti
O dia na empresa começou com aquela energia estranha no ar, como se cada passo que eu desse me levasse mais perto de um perigo que eu ainda não conseguia nomear. A Moretti Holdings parecia um lugar impecável: vidro, aço e silêncio. Mas por trás dos ternos bem passados e das palavras formais, eu sentia algo... bruto. Selvagem.
Enzo Moretti não me dirigiu mais que duas palavras pela manhã, mas o jeito que ele me olhou... meu corpo ainda sentia. Frio, intenso, como se me despisse com os olhos sem vergonha nenhuma.
"Senhorita Vasconcellos, preciso da sua assinatura nesses relatórios."
Foi só isso que ele disse. Mas meu nome saiu da boca dele como uma promessa. Ou uma ameaça.
Letícia, minha melhor amiga desde a faculdade, passou mais tarde na minha sala e me deu um sorrisinho safado.
— E aí, cê vai ficar presa nesse salto o dia todo? Vamo pra rua, mulher. Hoje é sexta, e eu tô precisando me sentir viva!
Dei risada.
Camila- Balada?
— Balada. E você não vai me dar desculpa. Bora usar aquele vestido que eu sei que você trouxe de Paris e nunca teve coragem de usar.
Bufei, fingindo resistência, mas meu coração já tava querendo dançar.
Em casa, horas depois, eu me olhei no espelho. Vestido preto colado, costas nuas, cabelo solto com volume, batom vinho. Me senti uma arma. Letícia me olhou com um sorriso vitorioso.
— Pronta pra matar geral, amor.
O lugar escolhido era um clube exclusivo no centro da cidade, luzes baixas, música que batia no peito, gente bonita por todos os lados. Me soltei. Dancei. Ri. Bebi um drink rosado com gosto de pimenta. Letícia dançava com um carinha alto que ela jurava ser modelo.
Foi quando eu o vi.
No camarote reservado. Camisa preta aberta no peito, terno jogado sobre o banco, olhar preguiçoso e atento ao mesmo tempo. Enzo Moretti. Sentado como se fosse dono do lugar. Talvez fosse.
Ele também me viu. E sorriu. Não um sorriso simpático. Um sorriso que dizia: "eu te reconheceria em qualquer lugar... e você sabe o efeito que tem em mim".
Meu coração pulou.
Continuei dançando, mas de um jeito diferente. Mais consciente. Mais provocante. Senti o olhar dele grudado em mim.
Minutos depois, ele desceu.
Veio até mim sem pressa. Como um caçador que sabe que a presa não vai fugir.
Se aproximou pelo meu lado, colou a boca no meu ouvido e falou com a voz baixa e rouca:
— Senhorita Vasconcellos... você sempre mexe assim os quadris quando tá fora do expediente?
Meu corpo arrepiou dos pés à cabeça. Olhei pra ele. Perto demais. Alto. Quente.
Camila- Só quando eu sei que tem alguém observando.
Ele sorriu de canto. Aquilo não era um flerte comum. Era um desafio. Um aviso.
— Cuidado, Camila. Olhares assim podem causar efeitos colaterais...
Camila- Tipo?
— Vontade.
Ficamos em silêncio por alguns segundos. A respiração dele encostava na minha pele. Eu podia sentir o perfume, o calor, a energia. Era perigoso. Mas tão... viciante.
Letícia voltou no momento certo, puxando meu braço.
— Bora dançar, mulher!
Me afastei. Enzo não tentou impedir. Só ficou me olhando, com aquela expressão de que já sabia que isso era só o começo.
E eu sabia também.
Aquela noite mudou tudo. Ele entrou no meu mundo sem pedir licença. E eu deixei.
Acordei com a cabeça latejando, como se a balada ainda ecoasse dentro do meu crânio. Mas não era a música, nem o álcool. Era ele.
Aquele olhar cinza me perseguia desde que voltei pra casa. Frio, calculado… e perigoso. Do tipo que você sente no meio das pernas, mesmo sem ser tocada.
Enzo Moretti.
Até o nome era carregado de arrogância. O CEO da porra toda. O homem que todos na empresa falavam com uma mistura de admiração e medo. E eu? Dei de cara com ele na pista de dança, com meu vestido colado, minha pele exposta e meu coração acelerado.
Que merda.
Desci pro café da manhã com a cara mais normal que consegui fingir. Meu pai já tava sentado na cabeceira da mesa, lendo o jornal como sempre. Terno e gravata às sete da manhã, como se estivesse pronto pra discursar no Congresso.
— Dormiu bem?
— ele perguntou, sem levantar os olhos.
Camila- Aham
— menti, pegando uma fatia de pão e passando manteiga de forma automática.
Camila- A Letícia me arrastou pra uma balada ontem.
Ele levantou os olhos devagar. Um sorriso quase imperceptível apareceu no canto da boca.
— E se divertiu?
Camila- Até demais
— murmurei, bebendo o café.
O silêncio dele me incomodou. Não era um silêncio neutro, era de quem observa e avalia. E do nada, ele solta:
— Evite se aproximar demais de gente do alto escalão da empresa. Às vezes, é melhor manter distância.
Minha mão congelou no meio do movimento. Ele sabia? Impossível. Não tinha como ele saber que Enzo estava lá. Ou tinha?
Camila- Tá falando de quem exatamente?
— perguntei, tentando parecer desinteressada.
Ele deu de ombros.
— Só um aviso. Tem gente com mais poder do que parece. E nem sempre usam isso pro bem.
Não respondi. Engoli o resto do café como se fosse ácido. Cada vez mais eu sentia que tinha algo por trás dessa empresa, desse homem… e do meu pai.
Na Empresa!..
O escritório da Moretti Holdings tinha aquele clima de luxo silencioso. Tapetes caros, paredes de vidro, gente vestida como se saísse direto de uma revista de moda executiva.
Mas mesmo com todo mundo impecável, bastou ele entrar no corredor pra tudo congelar.
Enzo Moretti.
Terno preto sob medida, a gravata afrouxada com descuido intencional, e aquele olhar que parecia despir, analisar e mandar você calar a boca ao mesmo tempo.
Quando nossos olhos se encontraram, o tempo pareceu vacilar. Ele não sorriu. Só ergueu o queixo como quem reconhece o território e me reconhece dentro dele.
— Senhorita Vasconcellos
— ele disse, a voz rouca demais pra ser profissional.
Camila- Senhor Moretti
— respondi, tentando manter o tom neutro, mesmo sentindo meu corpo reagir como se alguém tivesse ligado um interruptor interno.
Ele se aproximou mais do que o necessário. O suficiente pra que eu sentisse o perfume caro, amadeirado, e a tensão que vinha junto com ele. A gente tava no meio do corredor. Mas naquele instante, era como se fosse só eu e ele.
— Pode me acompanhar até minha sala? Temos uma pauta pra resolver
— ele disse, olhando fixamente.
Eu podia ter mandado um e-mail. Podia ter resolvido com o setor de RH. Mas alguma coisa em mim quis dizer sim.
Quis ver onde aquilo ia dar.
A sala dele era um templo minimalista de poder. Vidros fumês, móveis escuros, arte moderna nas paredes. Tudo caro. Tudo calculado.
Ele se sentou na poltrona de couro e me indicou a cadeira à frente. Mas, ao invés de sentar, fiquei em pé, cruzando os braços.
Camila- Qual pauta é essa, exatamente?
Ele sorriu de lado. Lento. Perigoso.
— Queria entender seu comprometimento com a empresa. Saber se veio por mérito... ou por influência paterna.
Camila- Achei que estivesse claro no meu currículo
— rebati.
Ele riu baixo.
— Seu currículo é impecável. Mas é a forma como você reage que me interessa.
Camila- Reajo ao quê?
Ele se levantou devagar, vindo até mim. Meus instintos gritaram pra recuar, mas minhas pernas não obedeceram.
— A mim
— ele sussurrou.
A tensão era quase física. O silêncio entre nós carregado. E então, num movimento rápido, ele passou por trás de mim, com o corpo roçando levemente meu braço. Só o suficiente pra me deixar arrepiada da nuca até os pés.
— Pode voltar pro seu setor
— ele disse por fim, já de costas, olhando pela janela.
— Só quis te olhar nos olhos hoje. Gosto de saber com quem estou lidando.
Saí da sala como se tivesse atravessado um campo minado. As pernas trêmulas, o coração disparado.
Horas depois, Letícia me mandou mensagem:
...📲"Hoje tem de novo, amiga. Baladinha top. Vem comigo!"...
Eu devia dizer não. Depois da merda de ontem, depois daquele encontro no corredor… mas alguma coisa em mim queria mais.
Queria brincar com o fogo.
Quando entrei no carro, meu coração já batia acelerado.
NA BOATE...
A boate estava lotada. Luzes piscando, música vibrando nos ossos. E então, no bar, como se fosse um déjà-vu cruel, lá estava ele. Enzo. De novo. Camisa preta, braços à mostra, o olhar cravado em mim como se tivesse me esperado.
Um sorriso de canto. Um gole no uísque. E aquele maldito olhar que dizia sem palavras:
“A gente ainda vai se queimar junto.”
E eu sabia.
Ia mesmo.
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