— A Bênção do Inferno
São Petersburgo estava vestida de inverno, suas ruas cobertas por neve, e o céu, pesado e cinzento, parecia conspirar com o destino. No salão principal do Palácio Mikhailov, a opulência se misturava ao perigo. Lustres de cristal lançavam reflexos frios sobre as paredes de mármore negro, enquanto dezenas de homens poderosos assistiam, silenciosos, à cerimônia que uniria os dois impérios.
Katerina Volkova mantinha a cabeça erguida, os olhos de um verde cortante cravados no homem à sua frente. Ela não se curvava, não sorria, não tremia. Nem mesmo agora, quando Alekséi Mikhailov, o Dom da máfia russa, segurava sua mão com a mesma frieza com que apertaria o gatilho de uma arma.
— Aceita esta união? — perguntou o patriarca do Conselho, a voz grave ecoando no salão.
Alekséi a fitava, inexpressivo. Alto, imponente, vestindo um terno negro impecável, parecia feito de pedra. Sua mão envolvia a dela como uma sentença.
Katerina inspirou fundo, a raiva e o orgulho queimando sob a pele de porcelana. Não havia escolha. O Conselho decidira.
Então, com a mesma frieza dele, respondeu:
— Sim.
Um murmúrio percorreu o salão, mas logo foi silenciado pelo olhar cortante de Alekséi. Ele inclinou-se ligeiramente, os lábios roçando a bochecha dela em um beijo protocolar, gélido, que, para todos os presentes, selava o casamento. Para eles dois, era apenas o início de uma guerra.
Quando se afastaram, Alekséi murmurou próximo ao ouvido dela, a voz grave, carregada de ameaça e desejo contido:
— Agora é minha, malenkaia…
Katerina sorriu de canto, venenosa, provocante:
— Nunca fui de ninguém, Dom Mikhailov… e você não será o primeiro.
Ele apertou sua cintura com força suficiente para deixar marcas, mas soltou-a com elegância calculada, oferecendo-lhe o braço.
— Finja bem… ou esta cidade verá o seu sangue misturado ao meu.
Ela aceitou o braço, os saltos estalando no mármore, e caminhou ao lado dele para o brinde final, sob os aplausos falsos dos presentes e os olhares de inimigos disfarçados.
Lado a lado, pareciam o casal perfeito.
Mas dentro de cada um, o caos já estava armado.
E São Petersburgo, silenciosa, testemunhava o nascimento da tempestade.
FLASHBACK — O Dia em que o Destino foi Selado
Alekséi Mikhailov
O escritório cheirava a couro caro, e sangue seco. Alekséi estava recostado na poltrona de couro negro, olhando fixamente para a janela, onde a neve começava a cair sobre São Petersburgo. O telefone antigo de ferro fundido tocou, o som metálico quebrando o silêncio espesso.
Ele atendeu sem pressa, a mão grande e fria envolvendo o aparelho.
— Fale.
Do outro lado, a voz do patriarca do Conselho foi direta, sem espaço para negociações:
— O Conselho decidiu. Precisa se casar para garantir sua permanência como Dom. Sua noiva será Katerina Volkova.
Alekséi fechou os olhos por um segundo, sustentando a respiração como quem engole vidro. Katerina. A filha do falecido Ivan Volkova… a mulher que sempre foi indomável demais, perigosa demais.
— Quando? — perguntou, a voz arrastada, sem emoção.
— Em três semanas. É tempo suficiente para preparar tudo.
O Dom apertou o braço da poltrona com tanta força que o couro gemeu sob seus dedos. Não reclamou, não protestou. Não era do seu feitio. Apenas desligou o telefone e se serviu de vodca, bebendo de um gole só.
Olhou mais uma vez para a cidade adormecida sob a neve e murmurou, para ninguém ouvir:
— A partir de agora… não há saída.
Katerina Volkova
O cheiro de tinta e óleo ainda impregnava as pontas de seus dedos quando Katerina entrou no casarão dos Volkova, jogando sobretudo sobre uma poltrona. Havia passado a tarde no galpão, trabalhando em seu carro — sua fuga particular daquele mundo sujo.
Quando subia as escadas, ouviu a voz gelada da mãe chamando da biblioteca:
— Katerina. Entre.
Ela arqueou uma sobrancelha, desconfiada, mas obedeceu.
Sentados nas poltronas, três homens do Conselho aguardavam. A tensão pesava como chumbo. A mãe, impassível, segurava um envelope lacrado com o brasão da máfia.
— O que é isso? — perguntou Katerina, cruzando os braços, já em posição de defesa.
O conselheiro mais velho, Mikhail Petrov, inclinou-se levemente:
— O Conselho decidiu. Você se casará com Alekséi Mikhailov.
Katerina soltou uma risada amarga, debochada, e levou a mão ao peito, fingindo surpresa:
— Que adorável. Vão me vender como gado para selar mais uma aliança estúpida?
— Não é uma escolha, menina — rosnou outro conselheiro. — É uma ordem.
Katerina mordeu o lábio inferior, o sangue fervendo, o orgulho gritando.
— Nunca… — começou, mas a mãe a interrompeu:
— Você vai obedecer. Pelo nome Volkova.
Katerina fechou os olhos, inspirando fundo, como quem se prepara para o pior.
Depois, abriu-os, frios e afiados:
— Então, que seja.
Virou-se e saiu, batendo a porta atrás de si com uma força que fez as janelas tremerem. No corredor, apoiou-se na parede, os olhos ardendo, o coração acelerado.
Sabia que, a partir daquele instante, sua liberdade havia acabado.
E seu destino tinha o nome do homem mais frio de toda a Rússia.
Fim do flashback.
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— O Jogo Começou
A limousine cruzava as ruas silenciosas de São Petersburgo, deixando para trás o palácio e a cerimônia opulenta, rumo à mansão Mikhailov, onde Katerina passaria sua primeira noite como a nova senhora da máfia russa.
Sentada ao lado dele, Katerina mantinha o olhar firme, a coluna ereta, como se o vestido pesado de seda fosse uma armadura e não uma prisão. Alekséi, ao seu lado, permanecia impassível, a mão sobre a bengala de prata, o olhar perdido na janela, como se ela não estivesse ali.
O silêncio entre eles era denso, cortante.
Ela foi a primeira a romper:
— Acha mesmo que vai ser assim… tão fácil?
Alekséi sorriu de canto, sem sequer virar o rosto para ela:
— Não preciso forçar nada, Katerina. Você vai se entregar… cedo ou tarde.
Ela riu, um som suave e venenoso:
— Confiança demais para alguém que mal me conhece.
Ele então a olhou, finalmente, e havia naquele olhar uma mistura perigosa de ameaça e desejo contido.
— Você se engana… te conheço melhor do que imagina. Sei que mulheres como você… resistem, provocam, fingem indiferença. Mas, no fundo, desejam mais do que qualquer uma… desejam ser domadas.
Ela aproximou-se dele, apenas o suficiente para que o perfume dela preenchesse o espaço entre os dois, e sussurrou, os lábios roçando sua orelha:
— Eu não sou domável, Alekséi.
E recostou-se novamente, cruzando as pernas com provocação.
Ele sorriu, frio, calculista, e inclinou-se também, até que suas bocas estivessem perigosamente próximas:
— Então vamos ver… quem vai quebrar primeiro.
A limousine parou diante da mansão, uma construção imponente de pedra e ferro, onde criados os aguardavam com reverência e medo. Alekséi desceu primeiro, estendeu a mão para ela, e Katerina, mantendo a farsa, aceitou, mesmo que o toque dele fosse uma algema invisível.
Subiram as escadas até os aposentos reservados para a noite de núpcias. O quarto era luxuoso, com cortinas pesadas de veludo, lareira acesa, e a cama — símbolo maior da tradição — estava preparada, lençóis brancos imaculados, como a lei exigia.
Alekséi aproximou-se dela, retirando lentamente o paletó, os olhos fixos nela.
— Não se preocupe… — disse, a voz baixa e cortante. — Não sou um homem que força uma mulher a me ter. Não preciso disso.
Katerina manteve o queixo erguido, sem recuar.
— E acha que, só porque não força… eu vou me deitar, abrir as pernas e implorar?
Ele riu, seco, passando a mão pelo queixo.
— Não… mas vai desejar fazer isso. Vai se contorcer de desejo. E quando suplicar… vai ser real.
Ela se aproximou mais, o peito quase colado ao dele, e olhou nos olhos dele com desafio:
— Não me conhece, Alekséi… sou capaz de resistir até o inferno congelar.
Alekséi inclinou-se, os lábios a milímetros dos dela, a respiração quente, a tensão elétrica no ar… mas não a beijou. Se afastou, sorrindo, satisfeito com o jogo que havia começado.
— Vamos ver, Katerina…
Ele então foi até o criado-mudo, onde havia uma caixa de madeira escura. Abriu-a, retirando dela um pequeno frasco de vidro com tinta vermelha.
Ela franziu a testa, desconfiada.
Alekséi a olhou por cima do ombro, frio como sempre.
— A tradição exige sangue nos lençóis. A prova de que você agora é minha mulher… e a senhora da máfia.
Ela sorriu, irônica:
— E vai me forçar a isso… com tinta?
Ele girou o frasco entre os dedos, sem pressa, e respondeu:
— Não sou um bruto… sou um estrategista. E a cidade verá o sangue, a cama marcada, e o Conselho se curvará.
Fechou a caixa e virou-se completamente para ela:
— Mas não se engane… o sangue pode ser forjado, a cerimônia pode ser uma mentira. Mas nós dois sabemos que esse jogo está apenas começando.
Ela o olhou de cima a baixo, cheia de desprezo e desejo mal assumido.
— Não vai ser fácil, Alekséi…
Ele se aproximou, segurou o queixo dela entre os dedos, com firmeza, mas sem brutalidade:
— Não, Katerina… nunca é.
Soltou-a e saiu do quarto, deixando-a sozinha no centro da imensa cama, com o fogo crepitando na lareira e a tensão pairando no ar como uma maldição.
Naquela noite, os lençóis foram marcados como a tradição exigia.
Mas o corpo dela… continuava inviolado.
E a guerra silenciosa entre os dois, agora, era só deles.
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— A Prova do Lençol
O dia amanhecia tímido através das frestas das cortinas pesadas, deixando a penumbra repousar sobre o quarto luxuoso.
Katerina dormia, os cabelos espalhados sobre o travesseiro, a respiração lenta e profunda, usando uma camisola fina de cetim.
Do outro lado do quarto, Alekséi estava recostado em um dos sofás de couro, vestindo apenas uma calça de pijama, a arma ao alcance da mão, como de costume.
Ele não havia conseguido dormir.
Não era do tipo que se permitia tal luxo, ainda mais agora… com ela ali, sob seu teto, sob seu nome.
De repente, os passos pesados ecoaram no corredor…
E, logo depois, as vozes graves e impacientes:
— Está na hora de verificar a prova…
— O lençol… precisamos confirmar.
— A tradição deve ser respeitada…
Alekséi ergueu o rosto, os olhos estreitados. Levantou-se sem fazer ruído, caminhando até a cama com passos silenciosos e precisos.
Olhou para Katerina, adormecida, tão tranquila… e ao mesmo tempo tão feroz na essência.
Suspirou, então tirou a calça de pijama, ficando apenas de cueca.
Sentou-se na borda da cama e, com firmeza, puxou o lençol até cobrir parte do corpo dela.
Ela se mexeu, confusa, as pálpebras tremulando.
— Alekséi…? — murmurou, sonolenta, sem entender.
Ele inclinou-se sobre ela, sua voz baixa e cheia de comando:
— Fique quieta… e finja que está dormindo.
Sem tempo para mais, deitou-se ao lado dela e a puxou com força para seus braços, enlaçando a cintura dela com naturalidade, como um casal exausto depois da noite de núpcias.
A camisola dela deslizou ainda mais pela coxa, revelando pele demais…
E pelo quarto, o cenário era perfeito: as roupas do casamento jogadas ao chão, o vestido abandonado sobre a poltrona, a gravata dele amassada junto aos sapatos… vestígios da noite que nunca aconteceu.
A maçaneta girou.
Alekséi manteve os olhos semicerrados, fingindo um sono pesado, enquanto apertava Katerina contra seu peito nu.
Ela, confusa, entendeu a encenação e permaneceu imóvel, respirando suavemente.
Os velhos do Conselho entraram sem cerimônia, como exigia a tradição arcaica e brutal.
Seus olhares pairaram sobre o quarto: as roupas largadas, os corpos na cama, o lençol branco levemente amassado cobrindo-os parcialmente.
A cena falava por si.
Mas um deles, o mais velho, ousou abrir a boca:
— Precisamos ver a prova…
Nesse momento, Alekséi abriu os olhos devagar, como se tivesse acabado de ser acordado.
Soltou Katerina com delicadeza, sentou-se à beira da cama e, com o olhar de puro desprezo, disse, a voz grave e cortante:
— Vocês não têm o direito de entrar no quarto do chefe… muito menos com a esposa dele vestida desse jeito.
Os velhos recuaram, constrangidos, olhando de soslaio para Katerina, que se mantinha imóvel, fingindo sono, mas com o coração acelerado.
Alekséi se levantou, pegou o lençol com a marca ensaiada — a mancha vermelha discreta, no centro, como mandava a tradição — e o ergueu diante deles, com frieza absoluta.
— A prova que vocês querem… — disse, balançando levemente o tecido. — Está aqui. Agora, sumam da minha casa.
Os velhos assentiram, um a um, os olhos baixos, evitando cruzar com o olhar gélido do chefe.
Viraram-se e saíram rapidamente do quarto, murmurando bênçãos em russo arcaico, satisfeitos com o cumprimento da tradição.
Quando a porta se fechou, Alekséi soltou um suspiro discreto, passando a mão pelo rosto.
Virou-se para Katerina, que então abriu os olhos e o encarou, ainda deitada, com uma sobrancelha arqueada:
— Isso… foi o que eu acho que foi?
Ele soltou um sorriso de canto, cínico e satisfeito:
— Bem-vinda à máfia, Katerina Mikhailova… minha esposa…
Ela soltou um riso discreto, incrédula, sentando-se na cama e olhando o quarto, o cenário, o lençol…
— Você é mesmo um filho da puta frio e calculista…
Ele se aproximou, inclinou-se para ela, e sussurrou, a voz rouca e perigosa:
— E você… é oficialmente minha.
Por um segundo, o silêncio caiu, pesado.
O olhar de desafio dela enfrentava o dele…
E a tensão, ainda mais forte, ainda mais viva, ardia invisível entre os dois.
O jogo apenas começava.
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