Acordar era sempre um ato de sobrevivência.
Quando o alarme tocou às 06:30, Ginebra manteve os olhos fechados por mais alguns segundos, como quem deseja barganhar com o mundo. Só mais um minuto. Um minuto em que não precisava encarar os olhares da faculdade, os sussurros, os corredores que a faziam sentir como se estivesse sendo constantemente observada, despida, exposta.
Só mais um minuto sem precisar vestir a armadura de silêncio e apatia.
Quando finalmente se levantou, seus movimentos eram automáticos, quase mecânicos, como se o corpo já soubesse o caminho enquanto a mente se recusava a acompanhá-lo. Banho frio, café amargo, jeans escuros, blusa larga, cabelo preso em um coque apressado que deixava fios rebeldes caírem pelo rosto. No espelho, encarou a garota pálida de olhos fundos e expressão vazia. Uma versão opaca de si mesma.
Havia algo quebrado nela — trincado por dentro — que maquiagem nenhuma escondia. Algo que não podia ser descrito em palavras, mas que gritava nos olhos, no jeito de andar, no cansaço de existir.
O celular vibrou com uma notificação. Era uma mensagem da amiga de turma, Lari:
"Trabalho de História da Arte foi adiado. Aula vai até 22h. Força!"
Ela suspirou pesadamente. Tinha esperanças de sair mais cedo. Caminhar para casa tarde da noite mexia com seus nervos de um jeito que só ela compreendia. Já bastava o que enfrentava nos sonhos — os mesmos pesadelos que voltavam sempre, com precisão cruel.
"Princesinha... você vai gostar."
"Fica quietinha..."
Ginebra apertou os olhos, balançando a cabeça como se pudesse sacudir as lembranças para longe.
Não. Não agora. Não de manhã. Não antes de vestir o rosto neutro.
Saiu para a faculdade em meio à garoa, headphones nos ouvidos, tentando se isolar do mundo através da música. Estudava arte porque acreditava que, através das cores, talvez reencontrasse algo que tivesse perdido. Um pedaço de si. Algo que não conseguia nomear, mas cuja ausência fazia tudo doer.
Mas nem mesmo a arte era suficiente para silenciar os sussurros internos. Eles estavam sempre ali, rastejando pelas bordas da consciência.
Durante a aula, se esforçou para manter o foco. O professor falava sobre simbolismo nas pinturas renascentistas, sobre os segredos escondidos nas pinceladas, mas tudo o que ela via era a mão de Sandro — o monitor da turma — pousando disfarçadamente em seu ombro. O jeito que ele a olhava fazia sua pele se arrepiar de forma errada. Um olhar que não via uma pessoa, mas uma oportunidade.
Um brinquedo.
"Você devia sorrir mais."
"Tão caladinha... deve esconder coisas interessantes."
Às vezes ela imaginava gritar. Jogar tinta vermelha nas paredes da sala, ensanguentar tudo até que todos vissem que ela não era invisível — não era fraca. Fazer com que entendessem, sentissem, que ela não era um objeto decorativo, uma presença muda.
Mas tudo o que fazia era continuar ali, imóvel, como sempre fizera. Sobrevivendo. Fingindo.
Quando o relógio marcou 22h10, pegou sua mochila com pressa. Os corredores já estavam quase vazios, e a chuva engrossava do lado de fora.
O campus parecia deserto.
Mas havia algo errado.
No subterrâneo de Viena, onde o tempo escorria como poeira em criptas esquecidas, Eros despertava com a fome queimando sob a pele. Uma fome densa. Selvagem. Mas não era a sede habitual de sangue que o agitava. Era algo mais antigo. Mais obscuro.
Havia passado décadas evitando a superfície, vivendo à sombra dos conflitos, como um espectro entre mundos. Viajando em silêncio, alimentando-se com discrição. Afastado da guerra entre clãs e facções mágicas. Para o mundo dos vivos, ele estava morto. Para o mundo dos mortos... uma ameaça adormecida. Uma lembrança incômoda de tempos sombrios.
Mas naquela semana, tudo mudara.
Ele sonhava. Pela primeira vez em séculos.
Sempre o mesmo sonho: uma garota caminhando sob a chuva. Olhos assombrados. Um cheiro que o enlouquecia — sangue e dor misturados em um perfume único. Ela sangrava não só pelo corpo, mas pela alma. E isso o chamava. O atraía como uma âncora feita de sombra e luz.
Eros não sonhava. Vampiros da linhagem dele não sonhavam. Aquilo não era mero acaso. Era um chamado.
Subiu à superfície ao cair da noite, o sobretudo negro arrastando-se pelas calçadas úmidas. O ar da cidade estava carregado, como se o próprio destino prendesse a respiração. Seus olhos rubros varriam as ruas com a fome de um predador que há muito esquecera o sabor do inesperado.
Não sabia o que procurava — até sentir o cheiro.
Flor. Sangue. Cinza.
Dor. Alma partida.
Ela estava perto.
Parou. O coração, morto há séculos, quase pulsou.
Estava próximo. Muito próximo.
Ginebra apertava o casaco contra o corpo magro, as mãos geladas. A rua parecia mais escura do que o normal, os postes piscando como se prestes a apagar. As gotas frias da chuva escorriam por seu rosto, misturando-se às lágrimas que ela nem percebia que derramava.
Cada passo soava mais alto do que deveria.
E então, os passos atrás dela.
Ela acelerou.
Os passos também.
O medo, sempre presente, agora se materializava como uma faca cravada entre as costelas. Ela olhou para trás — nada. Mas o instinto gritava.
E antes que pudesse reagir, sentiu o braço ser puxado com brutalidade.
Sandro.
— Você achou que podia ficar me evitando, né? — disse ele, com o hálito quente e fétido roçando seu rosto. — Você me provoca, Ginebra. Você sabe disso.
Ela tentou lutar, empurrá-lo, gritar — mas ele era mais forte. A jogou contra a parede com violência. Um tapa seco cortou seus lábios, e o gosto de sangue invadiu sua boca. Ele a segurava pelos pulsos com uma das mãos, a outra puxando seu cabelo com força.
— Vai ser só um carinho, linda. Depois você vai até gostar.
Ela gritou. Um som desesperado, primal. Mas ninguém respondeu. Só a chuva.
E então, o mundo parou.
Uma presença chegou como uma maré invisível. O ar ficou pesado, sufocante. As sombras se dobraram, como se temessem o que se aproximava.
Sandro virou-se, confuso.
Eros.
Estava ali. Os olhos vermelhos ardiam na escuridão como brasas vivas.
— Solte-a — disse ele. A voz não era apenas som. Era comando. Era uma força que fazia a própria noite estremecer.
— Quem é você, maluco? Vai cuidar da tua vida!
Eros não respondeu. Seus olhos estavam cravados em Ginebra. No sangue escorrendo. No medo.
Ela era pequena. Tão frágil. E mesmo assim... uma tempestade viva.
Avançou num instante, atravessando a distância entre eles como um borrão. Agarrou Sandro pela garganta e o ergueu como se fosse feito de papel.
— Você tocou o que é meu.
— E-eu...! Aghhh!
Um estalo seco. A cabeça de Sandro pendia num ângulo impossível. O corpo caiu.
Silêncio.
Eros voltou-se para Ginebra. Ela estava caída, tremendo, tentando cobrir o corpo com mãos trêmulas. As roupas rasgadas. O sangue nos lábios.
— Você... — ele murmurou, ajoelhando-se. — Você não é comum.
Ela o olhou, os olhos arregalados em pânico. — O que você...?
Mas ele já estava tocando seu rosto com reverência. Limpando o sangue com os dedos frios.
Como se ela fosse algo sagrado.
— Seu cheiro... seu sangue... — os olhos dele se fecharam. — É como um canto antigo. Fogo e flor. Morte e renascimento.
— Não... por favor...
— Não tenha medo. Não de mim. — Mas seus olhos... eram de caçador.
E então ele a abraçou. E mordeu.
A dor foi lancinante. Um corte vivo, ardente. Mas o torpor veio rápido. Um calor anestésico se espalhando. Os pensamentos se dissolveram, os músculos relaxando. Era como morrer... e ao mesmo tempo flutuar.
Eros bebia.
E por um momento, ela se entregou.
Mas então, ele parou. Um rugido. Recuou como se tivesse sido queimado.
— Quase... quase a matei... — sussurrou, com horror nos olhos. — O que é você, mulher?
Ginebra não respondeu. Os olhos semicerrados. O corpo caindo.
Eros a pegou nos braços, o desespero crescendo.
— Não morra. Não agora. Não depois de me encontrar. Você é minha. Agora e sempre.
Eros desapareceu na tempestade com ela nos braços, deixando apenas o corpo inerte de Sandro, o cheiro de sangue e o prenúncio do que ainda estava por vir.
Do outro lado da cidade, Eros caminhava pelo submundo — um antigo templo sob a terra, onde os acordos mais perigosos eram feitos. Havia ali bruxas velhas, lycans cobertos de runas, e dhampirs com sorrisos traiçoeiros.
Um deles, alto e magro como uma sombra viva, se adiantou.
— Eros. Achei que estivesse morto ou apaixonado.
— Talvez os dois — respondeu, seco.
— Ouvi boatos. A menina com sangue raro. É verdade?
Eros ficou imóvel. Só os olhos se moveram, frios como gelo antigo.
— Se você ou qualquer um de vocês se aproximar dela, eu vou arrancar seus corações um por um.
O dhampir riu.
— Está apaixonado por uma humana. Quão patético.
— Não é amor. É guerra.
O clima mudou. A tensão tornou o ar mais pesado.
Uma bruxa sussurrou de um canto:
— Se ela é quem pensamos, não pode ser escondida por muito tempo. O Conselho vai descobrir. Os caçadores também.
Eros virou-se.
— Então deixem que venham. E descubram o que acontece quando tocam no que é meu.
---
De volta à mansão, Ginebra tomou banho para tentar afastar as visões que começavam a surgir mesmo desperta. Vultos passando pelo espelho. Vozes em idiomas esquecidos. E agora, uma marca surgindo em sua pele — um traço vermelho como se fosse queimado sob sua clavícula.
Um símbolo. A mesma chave com espinhos.
Ela tocou a marca e sentiu o calor pulsar. A respiração ficou difícil. O quarto girou.
No espelho, a mulher de olhos dourados voltou. Mas agora, sorria.
— Gin... você está acordando.
---
Quando Eros atravessou a porta da mansão, o cheiro de sangue e magia o atingiu como um soco. Ele correu pelas escadas, a visão se tornando vermelha.
Ginebra estava no chão do quarto, tremendo. A marca sob sua clavícula brilhava como ferro em brasa, pulsando com uma energia antiga e viva.
- Gin! - Ele a segurou nos braços, os olhos arregalados. - Fala comigo!
- Eu... não consigo respirar. Está... queimando!
- A marca... - ele rosnou entre os dentes. - Está despertando sua herança. Sua linhagem.
Ela arfava. O suor escorria por sua testa, o corpo arqueado como se estivesse entre o êxtase e a dor.
Eros não pensou. Rasgou o próprio pulso com os dentes e encostou-o aos lábios dela.
- Bebe. Agora.
- O quê...?
- Meu sangue vai estabilizar. Te ancorar.
Ela relutou, mas ao sentir o gosto dele - ferro, vinho e algo indescritível - sua garganta reagiu por instinto. Eros gemeu ao sentir os lábios dela sobre sua pele.
- Isso... é perigoso - murmurou ele. - Você vai sentir... tudo.
Ela bebeu até o corte se fechar, e então gritou.
Visões explodiram na mente de Ginebra. Campos de batalha. Rituais de sangue. Ela em outra vida, outra época - de mãos dadas com uma figura de olhos vermelhos. Não Eros. Outro.
- Eu... já vivi isso?
Eros a deitou devagar na cama, as mãos tremendo.
- O sangue despertou suas memórias ancestrais. Gin... você não é só uma humana marcada. Você é o fim de uma linhagem proibida. Um elo perdido.
Ela o encarou, ainda meio em transe.
- E você...?
Ele se aproximou. Tocou o rosto dela.
- Eu sou o predador que te mordeu. O louco que não consegue parar de pensar no gosto do seu sangue. E o idiota que te apelidou de Gin tônica porque ficou bêbado com você.
Ela riu fraco, mas os olhos estavam cheios.
- Você é meu primeiro abrigo. Mesmo sendo... um monstro.
- Eu sou o monstro que te protege de monstros piores.
Os dois se encararam. E naquele silêncio pesado e mágico, houve entendimento. Havia desejo - sim. Mas também dor, trauma, conexão. Um começo torto, mas inevitável.
Eros se aproximou, roçando os lábios nos dela.
- Se me deixar, eu te mostro tudo. Mas uma vez que cruzarmos essa linha, não vai ter volta. Você vai ser minha. E eu seu.
Ginebra o puxou pela nuca.
- Já sou, Eros. Já sou.
O beijo veio como fogo e gelo. Ardente e gelado. Uma união de dois mundos quebrados que finalmente se encontravam no caos.
---
Enquanto os dois se entregavam à conexão que crescia entre eles, no subsolo do mundo, sinos antigos soaram. Figuras encapuzadas se reuniam sob luzes frias.
- A chave despertou - disse um deles. - O Portão está rachando.
- A linhagem vive - sibilou outra. - E o vampiro a marcou.
- Então chegou a hora.
Silêncio mortal.
- Que comecem a caça. Gin deve morrer... ou abrir o caminho.
---
O sussurro de vozes antigas ainda ecoava na mente de Ginebra quando Eros fechou a porta do quarto. Ela estava sentada na cama, com as pernas cruzadas, observando a marca que ainda queimava sob sua clavícula. A dor já tinha passado, mas agora havia algo mais — uma presença dentro dela. Uma agitação silenciosa sob a pele.
Eros se aproximou devagar, sem a intensidade habitual. Como se ela fosse feita de vidro.
— Como se sente? — A voz dele era baixa, quase reverente.
— Como se tivesse acordado de um sonho... e agora estou presa em outro. — Ela o olhou. — O que eu sou, Eros?
Ele se sentou à sua frente. Seus olhos vermelhos estavam calmos, mas havia uma tempestade por trás deles.
— Você é a junção de linhagens que nunca deveriam ter se cruzado. Bruxa por parte de mãe. Algo mais sombrio por parte de pai. E humana no meio, tentando sobreviver ao que nasceu para destruir.
Ela riu fraco, sem humor.
— Que romântico.
— É trágico. — Ele tocou a marca com a ponta dos dedos, devagar. — E inevitável.
Ginebra estremeceu ao toque. Não era apenas físico. Era como se ele mexesse dentro dela, com o sangue, com a essência.
— Por que... eu?
— Porque seu sangue me encontrou. E o meu reconheceu.
Ela segurou o pulso dele, os olhos fixos nos seus.
— O que você viu em mim, Eros? Quando me mordeu?
Silêncio.
Depois ele respondeu, com a voz rouca.
— Vi luz. Num mundo que me ensinou a amar a escuridão. Vi algo que me lembrou do que fui antes de me tornar isso. E vi vício. Um veneno que nunca vou querer curar.
Ela respirou fundo, sentindo algo inflar dentro do peito. Algo perigoso e antigo. Algo que dizia: Você é dele. Ele é seu.
Ela se inclinou, roçando os lábios nos dele, um convite e um desafio ao mesmo tempo.
— Então prova.
Eros a puxou para o colo dele com brutal delicadeza, como se a urgência fosse mais forte que a razão. O beijo foi faminto, desesperado, cheio de promessas e pecados não ditos.
— Que delícia — rosnou ele contra a boca dela, totalmente sem controle.
Voltando a sí, Eros a afastou finalizando o beijo e a colocando na cama novamente.
— Desculpe meu doce, quase não consegui me controlar...
— Está tudo bem, eu estou bem... eu...
— Se eu perdesse o controle mais um pouco, poderia ter lhe machucado! — Exclamou após perceber as marcas roxas que havia deixado nos braços dela.
— Ei.. Mas não perdeu, eu juro... Estou bem, eu estava gostando... por favor — Ginebra não sabia mais o que falar para que aquele beijo prosseguisse.
Eros nada disse, apenas encarou a porta, enquanto ela ficava inquieta, Ginebra entendia o medo dele de machucá-la novamente.
O silêncio após o beijo não era vazio. Era um abismo cheio de significados. O quarto escurecido pela penumbra da madrugada parecia vibrar com a energia entre os dois. Eros voltava a encara-la como se estivesse tentando memorizar cada traço do rosto de Ginebra. Como se ela fosse algo que poderia desaparecer a qualquer momento.
Ginebra, ainda sentindo o gosto dele nos lábios, tentava entender o que era aquela combustão interna. Desejo, sim. Mas também algo mais... como se tivesse sido acesa por dentro.
— Você está me olhando como se fosse me quebrar — sussurrou ela.
— Porque eu posso. — A voz de Eros era rouca. Quente. Aveludada com uma ameaça de prazer. — Mas não quero.
Ela levantou-se da cama e se aproximou. Seus dedos deslizaram pelo peito dele, sentindo a pele fria sob a camisa de linho negro. Eros respirou fundo — um ato quase desnecessário, mas que denunciava o autocontrole estilhaçado.
— Então me mostra, Eros. Mostra como um monstro toca alguém como eu.
Ele a empurrou contra a parede com gentileza, mas havia urgência em seu toque. Os olhos vermelhos faiscavam como brasas prestes a consumir. Ele segurou seu queixo com firmeza, os lábios quase encostando nos dela.
— Tem certeza?
— Não. Mas quero mesmo assim.
Foi o suficiente.
O beijo veio como uma onda de calor e destruição. Eros a ergueu como se ela não pesasse nada, levando-a até a cama com um rosnado baixo e primal. Ele arrancou a própria camisa com uma velocidade sobrenatural e ficou sobre ela, os músculos definidos como mármore vivo.
Ginebra passou as mãos por seu peito, descendo pela linha do abdômen até o cós da calça. Ele fechou os olhos, como se sentisse dor ao mesmo tempo em que se rendia ao prazer.
— Você é quente demais — murmurou ele. — Seu sangue canta pra mim. É embriagante. Como uma droga.
Ela sorriu, mesmo ofegante.
— Gin tônica. Lembra?
— Eu bebo você. E nunca fico sóbrio.
Eros a despiu devagar, reverente, como se cada parte de sua pele fosse sagrada. Os olhos dele não deixavam os dela, atentos a cada reação, cada tremor. Quando sua boca desceu pelo pescoço até os seios, Ginebra arqueou o corpo, mordendo os lábios para não gemer alto.
Mas ele queria ouvir.
Queria os sons dela.
— Não se reprima, Gin. Quero tudo de você. O som. O gosto. O calor.
Os dedos dele desceram por sua barriga, traçando círculos até chegarem entre suas pernas. Ginebra se contorceu, arfando, enquanto ele a explorava com precisão quase cruel. Ele sabia exatamente onde tocá-la. Como tocá-la. Como se a conhecesse desde sempre.
Quando a penetrou com os dedos, ela gemeu alto, se agarrando aos ombros dele.
— Você é perfeita — sussurrou contra sua pele. — E minha.
— Sim... — ela disse sem pensar, sem medo. — Tua.
Eros a penetrou com força e lentidão, como se quisesse saborear cada segundo. Os dois ofegavam, corpos se encontrando em um ritmo quente e voraz. Não havia espaço para dúvidas ali. Nem para o passado. Nem para o futuro.
Só o agora.
Só o vício.
Só o vermelho.
Ginebra cravou as unhas nas costas dele, marcando-o. Ele rosnou baixo, quase selvagem, e a mordeu no ombro — não para beber, mas para sentir a pele dela sob seus dentes. Ela explodiu em prazer, os músculos se contraindo ao redor dele, levando Eros junto num clímax que parecia arrastar os dois para fora da realidade.
Quando os corpos desabaram lado a lado, suados e entrelaçados, a respiração era a única linguagem.
— Eu deveria fugir de você — sussurrou Ginebra, ainda com o coração disparado.
— Mas não consegue.
— Nem quero.
Eros sorriu contra sua pele.
— Boa garota. Fica comigo. Pelo tempo que o mundo nos permitir.
Do outro lado da cidade, Eros caminhava pelo submundo - um antigo templo sob a terra, onde os acordos mais perigosos eram feitos. Havia ali bruxas velhas, lycans cobertos de runas, e dhampirs com sorrisos traiçoeiros.
Um deles, alto e magro como uma sombra viva, se adiantou.
- Eros. Achei que estivesse morto ou apaixonado.
- Talvez os dois - respondeu, seco.
- Ouvi boatos. A menina com sangue raro. É verdade?
Eros ficou imóvel. Só os olhos se moveram, frios como gelo antigo.
- Se você ou qualquer um de vocês se aproximar dela, eu vou arrancar seus corações um por um.
O dhampir riu.
- Está apaixonado por uma humana. Quão patético.
- Não é amor. É guerra.
O clima mudou. A tensão tornou o ar mais pesado.
Uma bruxa sussurrou de um canto:
- Se ela é quem pensamos, não pode ser escondida por muito tempo. O Conselho vai descobrir. Os caçadores também.
Eros virou-se.
- Então deixem que venham. E descubram o que acontece quando tocam no que é meu.
De volta à mansão, Ginebra tomou banho para tentar afastar as visões que começavam a surgir mesmo desperta. Vultos passando pelo espelho. Vozes em idiomas esquecidos. E agora, uma marca surgindo em sua pele - um traço vermelho como se fosse queimado sob sua clavícula.
Um símbolo. A mesma chave com espinhos.
Ela tocou a marca e sentiu o calor pulsar. A respiração ficou difícil. O quarto girou.
No espelho, a mulher de olhos dourados voltou. Mas agora, sorria.
- Gin... você está acordando.
Quando Eros atravessou a porta da mansão, o cheiro de sangue e magia o atingiu como um soco. Ele correu pelas escadas, a visão se tornando vermelha.
Ginebra estava no chão do quarto, tremendo. A marca sob sua clavícula brilhava como ferro em brasa, pulsando com uma energia antiga e viva.
- Gin! - Ele a segurou nos braços, os olhos arregalados. - Fala comigo!
- Eu... não consigo respirar. Está... queimando!
- A marca... - ele rosnou entre os dentes. - Está despertando sua herança. Sua linhagem.
Ela arfava. O suor escorria por sua testa, o corpo arqueado como se estivesse entre o êxtase e a dor.
Eros não pensou. Rasgou o próprio pulso com os dentes e encostou-o aos lábios dela.
- Bebe. Agora.
- O quê...?
- Meu sangue vai estabilizar. Te ancorar.
Ela relutou, mas ao sentir o gosto dele - ferro, vinho e algo indescritível - sua garganta reagiu por instinto. Eros gemeu ao sentir os lábios dela sobre sua pele.
- Isso... é perigoso - murmurou ele. - Você vai sentir... tudo.
Ela bebeu até o corte se fechar, e então gritou.
Visões explodiram na mente de Ginebra. Campos de batalha. Rituais de sangue. Ela em outra vida, outra época - de mãos dadas com uma figura de olhos vermelhos. Não Eros. Outro.
- Eu... já vivi isso?
Eros a deitou devagar na cama, as mãos tremendo.
- O sangue despertou suas memórias ancestrais. Gin... você não é só uma humana marcada. Você é o fim de uma linhagem proibida. Um elo perdido.
Ela o encarou, ainda meio em transe.
- E você...?
Ele se aproximou. Tocou o rosto dela.
- Eu sou o predador que te mordeu. O louco que não consegue parar de pensar no gosto do seu sangue. E o idiota que te apelidou de Gin tônica porque ficou bêbado com você.
Ela riu fraco, mas os olhos estavam cheios.
- Você é meu primeiro abrigo. Mesmo sendo... um monstro.
- Eu sou o monstro que te protege de monstros piores.
Os dois se encararam. E naquele silêncio pesado e mágico, houve entendimento. Havia desejo - sim. Mas também dor, trauma, conexão. Um começo torto, mas inevitável.
Eros se aproximou, roçando os lábios nos dela.
- Se me deixar, eu te mostro tudo. Mas uma vez que cruzarmos essa linha, não vai ter volta. Você vai ser minha. E eu seu.
Ginebra o puxou pela nuca.
- Já sou, Eros. Já sou.
O beijo veio como fogo e gelo. Ardente e gelado. Uma união de dois mundos quebrados que finalmente se encontravam no caos.
Enquanto os dois se entregavam à conexão que crescia entre eles, no subsolo do mundo, sinos antigos soaram. Figuras encapuzadas se reuniam sob luzes frias.
- A chave despertou - disse um deles. - O Portão está rachando.
- A linhagem vive - sibilou outra. - E o vampiro a marcou.
- Então chegou a hora.
Silêncio mortal.
- Que comecem a caça. Ginebra deve morrer... ou abrir o caminho.
O sussurro de vozes antigas ainda ecoava na mente de Ginebra quando Eros fechou a porta do quarto. Ela estava sentada na cama, com as pernas cruzadas, observando a marca que ainda queimava sob sua clavícula. A dor já tinha passado, mas agora havia algo mais - uma presença dentro dela. Uma agitação silenciosa sob a pele.
Eros se aproximou devagar, sem a intensidade habitual. Como se ela fosse feita de vidro.
- Como se sente? - A voz dele era baixa, quase reverente.
- Como se tivesse acordado de um sonho... e agora estou presa em outro. - Ela o olhou. - O que eu sou, Eros?
Ele se sentou à sua frente. Seus olhos vermelhos estavam calmos, mas havia uma tempestade por trás deles.
- Você é a junção de linhagens que nunca deveriam ter se cruzado. Bruxa por parte de mãe. Algo mais sombrio por parte de pai. E humana no meio, tentando sobreviver ao que nasceu para destruir.
Ela riu fraco, sem humor.
- Que romântico.
- É trágico. - Ele tocou a marca com a ponta dos dedos, devagar. - E inevitável.
Ginebra estremeceu ao toque. Não era apenas físico. Era como se ele mexesse dentro dela, com o sangue, com a essência.
- Por que... eu?
- Porque seu sangue me encontrou. E o meu reconheceu.
Ela segurou o pulso dele, os olhos fixos nos seus.
- O que você viu em mim, Eros? Quando me mordeu?
Silêncio.
Depois ele respondeu, com a voz rouca.
- Vi luz. Num mundo que me ensinou a amar a escuridão. Vi algo que me lembrou do que fui antes de me tornar isso. E vi vício. Um veneno que nunca vou querer curar.
Ela respirou fundo, sentindo algo inflar dentro do peito. Algo perigoso e antigo. Algo que dizia: Você é dele. Ele é seu.
Ela se inclinou, roçando os lábios nos dele, um convite e um desafio ao mesmo tempo.
- Então prova.
Eros a puxou para o colo dele com brutal delicadeza, como se a urgência fosse mais forte que a razão. O beijo foi faminto, desesperado, cheio de promessas e pecados não ditos.
- Que delícia - rosnou ele contra a boca dela, totalmente sem controle.
Voltando a sí, Eros a afastou finalizando o beijo e a colocando na cama novamente.
- Desculpe meu doce, quase não consegui me controlar...
- Está tudo bem, eu estou bem... eu...
- Se eu perdesse o controle mais um pouco, poderia ter lhe machucado! - Exclamou após perceber as marcas roxas que havia deixado nos braços dela.
- Ei.. Mas não perdeu, eu juro... Estou bem, eu estava gostando... por favor - Ginebra não sabia mais o que falar para que aquele beijo prosseguisse.
Eros nada disse, apenas encarou a porta, enquanto ela ficava inquieta, Ginebra entendia o medo dele de machucá-la novamente.
O silêncio após o beijo não era vazio. Era um abismo cheio de significados. O quarto escurecido pela penumbra da madrugada parecia vibrar com a energia entre os dois. Eros voltava a encara-la como se estivesse tentando memorizar cada traço do rosto de Ginebra. Como se ela fosse algo que poderia desaparecer a qualquer momento.
Ginebra, ainda sentindo o gosto dele nos lábios, tentava entender o que era aquela combustão interna. Desejo, sim. Mas também algo mais... como se tivesse sido acesa por dentro.
- Você está me olhando como se fosse me quebrar - sussurrou ela.
- Porque eu posso. - A voz de Eros era rouca. Quente. Aveludada com uma ameaça de prazer. - Mas não quero.
Ela levantou-se da cama e se aproximou. Seus dedos deslizaram pelo peito dele, sentindo a pele fria sob a camisa de linho negro. Eros respirou fundo - um ato quase desnecessário, mas que denunciava o autocontrole estilhaçado.
- Então me mostra, Eros. Mostra como um monstro toca alguém como eu.
Ele a empurrou contra a parede com gentileza, mas havia urgência em seu toque. Os olhos vermelhos faiscavam como brasas prestes a consumir. Ele segurou seu queixo com firmeza, os lábios quase encostando nos dela.
- Tem certeza?
- Não. Mas quero mesmo assim.
Foi o suficiente.
O beijo veio como uma onda de calor e destruição. Eros a ergueu como se ela não pesasse nada, levando-a até a cama com um rosnado baixo e primal. Ele arrancou a própria camisa com uma velocidade sobrenatural e ficou sobre ela, os músculos definidos como mármore vivo.
Ginebra passou as mãos por seu peito, descendo pela linha do abdômen até o cós da calça. Ele fechou os olhos, como se sentisse dor ao mesmo tempo em que se rendia ao prazer. Eros a parou por um momento para alerta-la
— Eu sou o monstro que te mordeu, o louco que não para de pensar como deve ser o gosto quente da sua buceta, Amor.
Ela sorriu timidamente, mordendo o lábio, olhos brilhantes e safados.
— Você esta me provocando sabia, tão devasso... para um monstro.
— Sou o monstro que vai encher todos os seus buracos de prazer... e proteger você de monstros piores, já disse.
No silêncio carregado, houve entendimento. Desejo. Dor. Trauma. Conexão.
Eros se voltou, roçando os lábios nos dela.
— Se me deixar, vou te mostrar tudo. Mas depois que cruzar essa linha, não tem volta, Gin. Você será minha. E eu seu.
Ela agarrou a nuca dele.
— Já sou, Eros. Já sou.
O beijo veio mais ardente que os anteriores, voraz, uma mistura de fogo e gelo. Dois mundos quebrados se unindo no caos.
Ele a puxou para o colo, segurando seu corpo contra o dele e inserindo dois dedos em sua intimidade.
— Que delícia essa sua buceta, Amor. Eu quero sentir cada centímetro dela, cada gota do seu desejo.
— Quero seu pau, Eros. Quero sentir ele estocando dentro de mim, cheio, quente, me preenchendo.
Ele riu rouco, mordendo o pescoço dela.
— Você é uma safada, Gin tônica. Me deixa louco.
Despiu-a com reverência e fome, os dedos deslizando pela pele, chegando ao centro quente entre as pernas dela. Ele a explorou com uma precisão cruel, mexendo seu clitóris até ela gemer alto, agarrando os ombros dele.
— Você é perfeita — sussurrou contra a pele dela. — E minha.
— Sim... — ela gemeu sem medo. — Tua.
Ele enfiou o pau dentro dela, devagar e profundo, sentindo o calor da vagina apertando o eixo grosso e quente.
Eros a fudeu em todas as posições possíveis ate despejar todo seu ser dentro dela, os dois arfavam sorrindo, até ele partir para o outro buraco de Ginebra. Corpos colados num ritmo voraz.
— Seu cu quer mais, Amor? — provocou ele, com voz rouca.
— Quero... quero seu pau no meu cu, Eros... me fode, me destrói.
Eros cravou as unhas nas costas dela, rosnando. Enterrou o pau até o fim, fazendo ela gritar de prazer e dor.
Ela apertou as pernas ao redor dele, o corpo tremendo enquanto o prazer explodia.
Quando chegaram ao ápice, corpos se misturaram, suor, gemidos e respirações ofegantes.
Ela sussurrou, coração disparado:
— Eu deveria fugir de você.
Ele lambeu o pescoço dela.
— Mas você não consegue.
— Nem quero.
— Boa garota. Fica comigo, Gin tônica. Pelo tempo que o mundo permitir.
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