NovelToon NovelToon

O Filho do Cowboy

Autora + Capitulo 1

☺️ Se você for entrar no meu livro, só para apontar erros e me arrasar. Esse aviso aqui é para você 🫵 com todo carinho 👇

Kkkkkkkk… Brincadeira a parte, vamos começar!

Queridos leitores,

Esse livro carrega muito mais que palavras… ele traz emoção, reencontros, segredos, perdão e, acima de tudo, amor. Escrevi cada capítulo com o coração aberto, e espero que vocês sintam isso em cada linha.

Obrigada por estarem comigo em mais uma história. Vocês fazem tudo isso valer a pena!

Com carinho,

Naira Sousa

Me acompanhem também no Instagram: @nairasousaautora para novidades, bastidores e histórias exclusivas.

Quer entrar no grupo Damas da Leitura?

Vem papear, receber spoilers e viver de pertinho cada emoção das minhas histórias! Somos 55 participantes

Me chama no WhatsApp: (98) 98401-8528

...✧ Cristian Walker ✧...

...✧ Laura Campbell ✧...

...✧ Miguel Campbell ✧...

✧ Cristian Walker ✧

A manhã já queimava forte quando abri os olhos, o sol do Texas nunca teve piedade. Mas, como todos os dias, me levantei da cama com um certo ânimo que só quem ama a vida no campo entende. Aquele tipo de rotina que gruda na alma da gente — levantar cedo, tomar um café preto bem forte, vestir a camisa jeans, prender o cinto largo com fivela de rodeio e pisar na terra com as botas gastas de tantos quilômetros.

Meu nome é Cristian Walker. Filho de quem foi o maior criador de cavalos da região e herdeiro de uma fazenda que carrega mais orgulho do que riqueza. Aqui, todo mundo me conhece. Uns me admiram, outros me evitam. Carrego fama de ser duro, um homem de poucas palavras e muitos feitos — e talvez isso não seja só fama.

Após selar meus pensamentos, peguei meu chapéu de palha trançada e saí da casa principal, atravessando a varanda de madeira que estalava sob meus passos. Do lado de fora, a poeira já começava a subir com os primeiros cavalos correndo soltos no pasto.

Hoje era dia de leilão no Rancho Lone Star, o maior da região. Gente de longe vinha só para ver os cavalos de raça desfilarem com elegância e preço alto. Puro-sangue árabe, quarto de milha, paint horse... cavalos que custavam mais que uma caminhonete novinha.

Montei na minha caminhonete vermelha, antiga, mas forte como um touro, e segui estrada afora. Os quilômetros de terra vermelha engoliam os pneus enquanto a paisagem rural passava em um borrão de cercas, colinas secas e arbustos castigados pelo sol. Era uma beleza crua. Selvagem. Como tudo por aqui.

Ao chegar ao Rancho Lone Star, uma pequena multidão já se aglomerava diante do grande galpão onde acontecia o leilão. Os cavalos relinchavam nos currais, impacientes. Homens com fivelas enormes e mulheres de botas de cano alto circulavam com copos de refrigerante, chapéus bem firmes na cabeça e olhos atentos aos lances.

Desci do veículo, ajeitei meu chapéu e caminhei até o galpão. O cheiro de feno, suor de cavalo e perfume doce de algum laquê feminino me invadiu. Um leiloeiro de voz firme já ocupava o centro, empoleirado num pequeno palco improvisado, microfone na mão e entusiasmo escorrendo por cada palavra:

— Temos aqui um dos melhores garanhões quarto de milha do estado! Sangue campeão, linhagem premiada! Começamos com trinta mil dólares!

O cavalo, castanho-escuro com uma marca branca na testa, era uma pintura. Postura altiva, músculos definidos, olhos inteligentes. De dar inveja até em quem cria por paixão e não por lucro.

Fiquei parado por um momento, observando tudo com atenção, quando um movimento ao longe me fez virar o rosto.

Meu sangue gelou.

Ela estava ali. De cabelos castanhos, soltos, descendo pelos ombros como cachoeira de lembranças. Vestia uma calça jeans colada e uma blusa branca simples, mas nela tudo era diferente. Elegância natural. Forasteira e, ao mesmo tempo, parte da paisagem. Não havia dúvida. Era Laura.

Cinco anos.

Cinco malditos anos desde que ela sumiu da minha vida e me deixou com um papel dobrado em cima da cômoda. Nem um adeus. Só covardia.

Antes que eu pudesse reagir, alguém tocou meu ombro. Me virei. Ariana.

— Amigo — disse ela, com aquele sorrisinho de quem guarda segredos — não esperava te ver por aqui. Tinha me dito que talvez não viria.

— Mudei de ideia — respondi, tentando manter a voz firme, mesmo com o passado explodindo no peito.

Ariana me seguiu com o olhar e percebeu.

— Ah… então você já viu.

— Difícil não ver — falei, o maxilar travando. — Está diferente, e com uma criança.

Ariana soltou um suspiro.

— Pois é. Dizem ser mãe solteira. Engravidou e o sujeito caiu fora. Ninguém sabe quem é o pai. Só sei que ela voltou com a cara limpa e a criança na mão. E ninguém quis assumir. Nem o pai, nem homem nenhum.

Ela soltou uma risadinha seca.

— Teve gente que comentou que ela “viveu demais” na cidade. Saiu daqui toda apaixonada, voltou... bem mais vivida, digamos assim. Mas você sabe como é a língua do povo, né?

Senti o estômago embrulhar. Raiva e decepção se misturaram como gasolina e fogo.

— E agora? Veio fazer o quê aqui?

— Foi convidada. Disseram que ela quer tentar montar um negócio de consultoria com criadores, gente da cidade com dinheiro. Mas ninguém leva muito a sério não… Aqui, a fama corre rápido.

Fiquei em silêncio, com o olhar fixo nela.

A mulher que eu quase me casei.

A mulher que defendi contra tudo. Que amei como nunca amei mais ninguém. Que me jurou que seria minha... e depois desapareceu como quem joga fora uma carta velha.

E agora ali estava ela. Sozinha. Com um filho que nem nome de pai deve ter na certidão. Voltando com cara de quem quer recomeçar, como se nada tivesse acontecido.

Não sei o que me incomodava mais. O fato de ela estar ali, fingindo normalidade, ou o fato de que, mesmo depois de tudo, meu coração ainda reagia só de olhar para ela.

Ariana pousou a mão no meu braço, com suavidade.

— Cristian, não é da minha conta... mas você ainda sente alguma coisa por ela?

— Não é “alguma coisa”. É tudo — respondi, e vi o espanto silencioso em seus olhos. — Ela foi minha antes de ser de qualquer um. E eu nunca esqueci.

— Na real, amigo. Esquece, Cristian. Não vale a pena cavar o passado. Você já sofreu demais por essa mulher. Não deixe ela estragar mais nada.

Assenti, sem responder.

Capítulo 2

✧ Laura Campbell ✧

Eu pensei que possivelmente poderia ser feliz longe de Cristian. A verdade é que tentei. Juro por Deus, eu tentei.

Cinco anos atrás, deixei tudo para trás — nossa casa, nossos planos, nossa história. Abandonei Cristian, o homem que sempre foi meu refúgio, minha paz, meu lar, por causa da minha família.

Eles nunca fizeram parte desse mundo aqui. Moravam na cidade, num bairro caro, daqueles em que ninguém suja os sapatos, onde o dinheiro fala mais alto do que qualquer sentimento.

Sempre me trataram como uma boneca de vitrine, esperando que eu casasse com algum executivo engravatado e não com um vaqueiro de alma grande e mãos calejadas.

Minha mãe odiava Cristian desde o primeiro dia. Dizia que ele era um bruto, um homem simples demais para o meu futuro.

— Você merece mais do que um vaqueiro com terra debaixo das unhas e cheiro de cavalo no corpo — ela repetia, como se fosse uma oração.

Meu pai fingia aceitar, mas bastava uma contrariedade, uma vírgula fora do lugar, para ele jogar na minha cara que eu estava “jogando a vida fora”.

— Você foi criada para mais, Laura. Mais do que morar no meio do nada com um homem que vive de cuidar de animal.”

Mesmo assim, eu continuei com ele.

Escolhi Cristian todos os dias. Todos os olhares tortos. Todos os jantares em silêncio. Toda crítica velada. Até o dia em que não consegui sustentar o peso da escolha.

Era véspera do nosso casamento.

O vestido estava pronto, pendurado no guarda-roupa de casa. Um vestido simples, delicado, com detalhes de renda que eu mesma escolhi pensando nele. Estávamos felizes. Ansiosos.

Naquela noite, meu pai passou mal. Uma crise de pressão alta, dores no peito. Quase um infarto.

E no hospital, com as luzes frias e o cheiro de desinfetante, minha mãe me olhou nos olhos com toda a frieza que carregava e disse:

— Você tá matando seu pai. Se casar com aquele homem vai acabar com a sua família. É isso que você quer?

Aquela frase me cortou por dentro.

Passei a madrugada em uma cadeira dura, tremendo, culpada, quebrada.

Quando voltei para casa, já sabia o que ia fazer. Não conseguia respirar só de imaginar subir naquele altar com o peso de ser a causa da desgraça da minha família.

Subi as escadas com as pernas bambas. Entrei no quarto que era nosso pela última vez. Ele não estava, estava na cidade. Sentei na beirada da cama onde dormimos tantas vezes entrelaçados, e escrevi uma carta com as mãos trêmulas.

“Desculpa. Preciso ir. Não posso me casar com você. Se cuide”.

Dobrei o papel e deixei sobre a mesa de cabeceira.

E fui embora. Sem coragem de olhar para trás.

                                                                           ...✧ ✧ ✧ ✧ ✧ ...

Duas semanas depois, descobri que estava grávida. Era do Cristian. Só podia ser dele.

Meus pés fraquejaram quando vi o teste positivo. Sentei no chão frio do banheiro da casa dos meus pais na cidade grande, e chorei como uma criança.

Chorei por mim, por ele, pelo bebê e pelo amor que joguei fora.

Pensei em ligar. Escrever. Voltar.

Mas o orgulho…

Ah, o maldito orgulho me amarrou.

E como sempre, minha mãe fez questão de envenenar tudo:

— Esse filho vai ser só seu. Não precisa daquele homem. Ele ia te prender naquela vida pobre, naquela fazenda suja. Você merece mais. E se pensar em ligar para ele, vou tomar essa criança de você, e deixar em um orfanato por aí.

E mais uma vez fiquei calada, pelo bem do meu bebê.

Miguel nasceu nove meses depois.

Pequenininho, pele clara, olhos castanhos profundos. Tinha o mesmo jeitinho de franzir a testa quando algo incomodava, o mesmo silêncio teimoso. Ele era Cristian em miniatura.

E, ainda assim, eu escondi a verdade.

Não coloquei o nome do pai na certidão.

Não contei para ninguém.

Fingi força quando só existia medo.

E a cada vez que Miguel me olha, eu vejo o pai que ele não conhece.

O pai que tirei dele.

Agora, cinco anos depois, estou de volta.

De volta ao lugar onde tudo começou.

Com o meu filho ao lado, segurando minha mão com inocência, sem saber o quanto seu rostinho pode partir corações — especialmente o do homem que um dia foi meu.

Fui convidada para o leilão no Rancho Lone Star. Dizem ser o maior da região. Aceitei sem pensar muito. Talvez por impulso, por saudade. Talvez, no fundo, eu soubesse que ele estaria lá.

Me vesti com simplicidade. Calça jeans, blusa branca, cabelo solto.

Nada além da verdade.

E fui.

Assim que cheguei, senti tudo me invadir de uma vez: O cheiro de terra quente, o som dos cavalos, a poeira que dançava com o vento, as vozes arrastadas, os chapéus altos, as botas batendo firme no chão de cascalho.

E então… Eu o vi.

Cristian.

Meu coração falhou uma batida.

Não mudou nada. Ou melhor, mudou sim.

Está mais homem. Mais firme. Ombros mais largos. Olhar mais duro.

O tempo não o envelheceu. Lapidou. Mas os olhos… os olhos não tinham mais a mesma doçura. Não havia ternura. Não havia esperança. Somente frieza. Talvez fosse pela dor de ter perdido o pai há dois anos, ou pela minha partida.

Eu queria correr até ele. Dizer tudo.

Mas ele me olhou como se eu fosse nada.

Como se o amor que tivemos fosse só um borrão no passado dele. E aquilo doeu.

Segurei mais forte a mão de Miguel, tentando me manter firme. Ele nem percebeu. Brincava com o próprio chapeuzinho de brinquedo, distraído com os cavalos que relinchavam ao longe.

Mais tarde, já na pousada simples onde estou hospedada com Miguel, esperei ele dormir.

Depois de um banho morno e uma história mal contada, ele apagou.

Peguei meu celular. Abri a galeria.

Rolei as fotos até encontrar aquela.

Miguel com dois aninhos, em cima de um cavalo pônei, sorrindo de lado, segurando uma palha de grama na boca, do jeito que o pai fazia.

Toquei a tela. Uma lágrima caiu.

Cristian merece saber.

Miguel merece saber.

Mas… e se ele me odiar?

E se ele olhar para mim com aquele mesmo olhar de hoje, como se eu fosse só uma mulher qualquer?

Como se tudo o que vivemos não tivesse valido nada?

Meus dedos apertaram o celular com força.

A verdade é que estou com medo.

Medo do que causei.

Medo de não conseguir consertar.

Medo de ter passado tempo demais.

Medo de que ele esteja certo em me odiar.

Mas acima de tudo… Tenho medo de Miguel crescer e perguntar:

— Mamãe, quem é meu pai?

E eu não saber o que responder. Ou pior… Ter que mentir. Eu ainda o amo tanto, nunca deixei de amá-lo, nunca deixei outro homem entrar em minha vida, não por falta de opções, mas porque meu coração ainda pertence àquele homem que foi meu primeiro em tudo.

Capítulo 3

✧ Cristian Walker ✧

Não pude esquecer o passado. E vendo ela bem ali, a poucos metros de mim, só fez reforçar mais os sentimentos que tentei sufocar todos esses anos. O tipo de sentimento que não morre. Só se transforma em algo mais duro.

Eu estava com raiva dela, sim. E não vou negar.

É doloroso quando todo mundo sabe que você vai se casar no dia seguinte. Quando tudo está organizado para a festa, quando os convidados já estão na cidade, e de repente a noiva… some.

Sem aviso, sem explicação. Só deixa um bilhete em cima da cômoda como se estivesse indo embora da casa de veraneio e não da vida de alguém.

“Se cuide”

Essas palavras me assombraram por muito tempo.

Como se fosse fácil. Como se ela não tivesse arrancado meu coração com as próprias mãos.

A dor piorou com o tempo.

Principalmente quando precisei lidar com a doença do meu pai. A mesma semana em que ela me deixou foi a semana em que o velho piorou. Tive que engolir meu sofrimento e cuidar de tudo sozinho. Depois que ele partiu, eu enterrei não só meu pai — mas tudo o que um dia eu fui.

Usei a dor como combustível. Me fechei. Me tornei o homem que a região conhece hoje.

Não o mesmo de antes.

Mais duro.

Mais frio.

Mais… amargo.

Fechei os olhos por um segundo, apertei os dentes e sacudi a cabeça, tentando manter os pensamentos longe. Mas era inútil.

Ver Laura de novo, com aquele rosto marcado pela saudade — mesmo que ela fingisse estar tudo bem — foi como abrir um ferimento mal cicatrizado.

E então, mesmo com todo orgulho, com toda raiva, com todo o “tanto faz” que eu dizia sentir… Eu fui até ela, foi assim, no automático.

Sabia que ela estava hospedada numa pousada simples do outro lado da cidade, perto da estrada de terra que leva ao velho galpão dos MacAllister.

Não era lugar para a filha de gente rica.

Fiquei parado do lado de fora por alguns minutos, olhando a fachada descascada e os vasos de planta morrendo de sede. Levantei o punho e bati duas vezes na porta do quarto 6.

Ouvi passos leves. A maçaneta girou. E lá estava ela. Diferente de horas atrás, quando estava entre a multidão do leilão. Agora… estava a poucos centímetros. Os olhos vermelhos denunciavam o choro. A pele sem maquiagem, marcada de emoção. E por um instante, um instante muito breve, algo dentro de mim ameaçou ceder.

Mas não cedeu. Não ainda.

— Cristian, eu preciso mesmo falar com você. Eu…

— Não quero ouvir suas desculpas — cortei de imediato, com a voz mais fria que pretendia usar. — Nada que sair da sua boca me interessa.

Olhei diretamente nos olhos dela. — Pelo jeito estava chorando, não?

Ela engoliu em seco. A dor estava ali, visível. Mas eu não estava pronto para ter pena.

— Nada sobre mim te interessa? — ela rebateu, com a voz trêmula. — Então quer saber por que eu chorei? Vai, começa a rir da minha desgraça. É só o que me resta.

— Eu não costumo rir das desgraças dos outros — falei, cruzando os braços. — Só observo. Você está sozinha, não é?

— Sempre estive. Mas não é por falta de opção — ela disse, com o tom firme, mas o olhar ferido.

— Posso entrar?

Ela hesitou por dois segundos, então se afastou da porta.

— Claro. Quer beber algo?

— No momento só um chá… se tiver.

Ela assentiu e caminhou até a pequena cozinha, que mal dava dois passos.

Enquanto isso, eu entrei e me sentei no sofá velho da sala. A estrutura rangia a cada movimento.

Passei os olhos pelo cômodo.

Era um lugar simples. Pequeno. Limpo, mas claramente barato.

E isso me incomodou mais do que deveria.

Laura viera de uma família rica da cidade. Sempre teve tudo nas mãos. Escola particular, jantares chiques, vestidos caros, viagens de fim de semana. E agora estava ali… hospedada numa pousada que mal dava conforto básico. Na época quando eu a conheci, era metida, e com o tempo ela foi se adaptando a vida no campo. Mas como vou, tudo não passava de uma grande farsa.

— Não esperava te ver aqui — ela disse, voltando com duas xícaras fumegantes. Entregou uma para mim.

Tomei o chá sem responder. O silêncio era espesso.

— Eu só queria que você… me escutasse, pelo menos uma vez. Eu sei que demorei. Sei que te machuquei. Mas tem coisas que você não sabe, Cristian.

— E agora quer me contar? Depois de cinco anos?

Ela sentou na cadeira de frente para mim. As mãos seguravam a caneca com força, como se aquele calor fosse a última coisa segura no mundo.

— Não tinha forças antes. E sei que não mereço sua compreensão. — Fez uma pausa. — Mas… se você me ouvir, pelo menos uma vez, já vai ser mais do que eu esperava.

— Vai direto ao ponto, Laura.

Ela suspirou fundo. O som de quem carregava o peso do mundo sobre si.

— O que fiz com você foi imperdoável. Eu sei disso. Mas eu não fui embora porque quis… pelo menos não de verdade.

Revirei os olhos e larguei a caneca na mesinha de centro.

— Vai colocar a culpa em quem? Na chuva? No vento?

— Na minha família. — a voz dela saiu firme dessa vez. — Você sabe que eles nunca te aceitaram. Sempre te trataram como inferior. Como se você fosse só um passatempo de verão da filha mimada. Mas você nunca foi isso para mim, Cristian. Nunca.

Ela apertou os olhos, tentando conter as lágrimas.

— Na véspera do nosso casamento, meu pai quase morreu. Minha mãe me acusou de destruir a família. Me disseram que se eu casasse com você, eu seria responsável por tudo de ruim que acontecesse depois.

— E você acreditou? — falei, encarando. — Você acreditou nisso e achou que deixar um bilhete era o melhor jeito de terminar tudo? — Me levantei irritado, passando as mãos pelos cabelos negros.

Ela fechou os olhos por um segundo.

— Entrei em pânico. Me senti engolida. Sozinha. Fraca. E fiz a pior escolha da minha vida.

— Fez mesmo.

A voz saiu mais baixa do que eu esperava.

Por dentro, eu travava uma luta entre a raiva e a saudade.

— Eu só… — ela tentou se recompor — eu só queria que você soubesse que nunca te esqueci. Nunca. Que cada vez que acordei com a cama vazia, eu pensei em voltar. Mas eu achava que era tarde demais. E quando percebi… já tinha estragado tudo.

Caminhei até a janela.

— Tarde demais é o que você fez conosco. Comigo. Com tudo. — Respirei fundo. — Eu amei você com tudo o que tinha, Laura. E você jogou fora como se fosse pouco. E naquela época fosse pouco mesmo, diante dos seus olhos.

Quando olhei por cima do ombro, ela chorava em silêncio. Dessa vez… algo dentro de mim vacilou.

Mas eu não podia ceder. Não agora.

— Tem mais alguma coisa que precisa me contar?

Ela engoliu em seco.

— Tem… mas não agora.

— Como quiser.

Peguei o chapéu no braço do sofá, caminhei até a porta e me virei uma última vez.

— A vida ensina. E você me ensinou que amar demais também destrói.

Saí dali antes que qualquer fraqueza me puxasse de volta.

Para mais, baixe o APP de MangaToon!

novel PDF download
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!