Alice era doce como o som delicado da pronúncia de seu nome, tinha olhos azuis como o céu e a aparência de um anjo em sua forma mais bela, quando chegou a vida dos Collin's tinha pouco menos de três semanas de vida, era miúda, franzina e sequer trazia indícios de que vingaria, Alice era a filha de um dos líderes mais implacáveis da máfia Russa, foi tirada de seus pais no dia de seu nascimento e entregue aos colins por sua tia, uma mulher doentia, vingativa e que assumiria a indentidade de " Dora".
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Bento sempre sonhou em ser pai, a esposa de quem era companheiro desde a adolescência não podia ter filhos e por amá-la ele abriu mão, na noite em que joselin trouxe para casa a pequena criança ele estava a serviço, coronel da polícia em Helsínquia na Finlândia trabalhava por dias em vilarejos afastados da civilização, foi amor a primeira vista, a história contada pela esposa de que a pequena havia sido abandonada pela família ainda o deixava em cóleras, pensar que o pequeno anjo que havia chegado para alegrar sua vida podia ter sido rejeitada por aqueles que deviam cuidar e zelar por ela o deixavam repleto de amargura.
Joselin tinha saúde frágil, enfermeira em uma renomada clínica na capital lutava pela segunda vez contra um câncer agressivo nos pulmões, Bento que sempre foi um bom marido esteve ao seu lado, se revezando nos cuidados da esposa e da filha que só depois da morte da esposa descobriu ser um presente de despedida, Alice que já era amada se tornou então o ponto de equilíbrio do coronel da polícia, acompanhava o pai em viagens de trabalho ao redor do mundo e aos doze anos de idade ja tinha domínio de dois outros idiomas além dos que eram falados em seu país, Alice era inteligente, era esperta e arrancava sorrisos por onde andava, tinha língua afiada e sabia exatamente o que queria, era boa com as palavras e isso encantava quem a conhecia , a vida perfeita virou de cabeça para baixo com a chegada de uma mulher em sua vida, cabelos vermelhos até a altura da cintura, olhos claros que estranhamente se assemelhavam aos seus e uma maldade no sorriso que parecia ter passado desapercebido pelo pai e homem honrado de nome Bento.
"Dora" que se aproximou da família em uma viagem onde o coronel teve um mal estar noturno nunca mais saiu de suas vidas, o homem forte que sequer tinha episódios de gripe caiu em uma cama impossibilitado de andar nos anos seguintes, Bento adquiriu com o tempo um sério problema cardíaco, após se casar com a misteriosa Dora Bianchi tudo se seguiu em declínio, definhou ao ponto de precisar ser cuidado e isso era feito exclusivamente pela esposa já que o acesso de qualquer médico ou especialista na mansão dos Collin's era proibido, Alice passava meses sem ver o pai e isso passou a ser ainda mais raro quando Dora decidiu por adotar uma jovem garotinha apenas um ano mais jovem que Alice, fazia questão que a atenção do marido fosse unicamente para criança de nome Suzi a quem covardemente manipulava, Bento conviveu pouco com a menina, poucos meses depois de sua chegada foi levado para um chalé de sua posse não muito longe dali, nem um quilómetro de distancia os separava mais era como se um verdadeiro precipício tivesse se abrido entre Bento e as meninas, proibida de sair da mansão Alice se apegou a irmãzinha, Dora não estava satisfeita,parecia empenhada em arranca seu último resquício de alegria, mandou Suzi para o outro lado do mundo e o que um dia foi uma casa repleta de risos se tornou definitivamente uma masmorra de sofrimentos, torturas e gritos, a pequena Alice chorava por horas nos castigos que sem qualquer merecimento lhe eram aplicados, estava na maioria das vezes com os joelhos e cotovelos em carne viva e Dora parecia se divertir com sua angustia, com suas dores, Alice ainda muito jovem para compreender a maldade humana se perguntava o porquê de tudo isso, implorava para ser apenas um sonho, que o pai se recuperasse e que viesse salva-la do pesadelo em que estava presa mesmo que não estivesse dormindo.
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Alice Collins.
Sabe as histórias infantis que sua mãe lhe contava quando criança? Onde os reis e rainhas venciam o mal e em seu castelo viviam felizes para sempre? Pois bem, venho contar-lhes que na vida real nem sempre é o lado bom quem vence.
Alice sempre foi uma garota doce, amava seus livros e mesmo sem um único motivo trazia em seu rosto o mais belo sorriso, presa em seu quarto no sótão da mansão que um dia foi palco de risos e gargalhadas aprendeu da forma mais dura que o vilão também pode ter nas mãos o poder de decidir o rumo da história.
Ela não se lembrava mais do rosto do pai, se culpava por ter esquecido as feições e a voz daquele que lhe havia dado o único afeto que conhecia, por muitas vezes chorava ao pensar que o homem que um dia foi seu porto seguro começava a desaparecer de suas lembranças como havia feito de sua vida, Bento o pai que a muito enxergava como herói partirá a deixando ainda criança sob os cuidados da madrasta que tanto lhe odiava, Alice sabia que Bento não havia ido por conta própria, assim que se casou com Dora adotaram juntos uma menina quase da mesma idade que ela e ele não as deixaria sozinhas se não fosse a doença em seu coração que já o consumia, Alice tinha plena consciência da situação frágil do pai, sabia também que a irmã mais nova havia sido levada a um colégio fora do país junto a partida do pai, a pergunta era se a morte não veio para o patriarca dos Collin's porque em dez anos nem uma só ligação ou notícia?nem dele nem da irmã, Suzane ou suze, como era chamada a menina.
Naquele dia como em todos os outros Alice se levantou muito cedo, fazia isso rotineiramente com o cantar do galo, o despertador para mais um dia árduo de trabalho, a garota jovem com seus dezessete anos recém completados não tinha nas pequenas mãos um único lugar que não estivesse enfeitado por calos.
Alice calçou as botas gastas, os calçados dados a ela por sua madrasta haviam sido usados por anos e quando já não serviam foram entregues a ela, dois números maiores do que o tamanho da jovem faziam o atrito lhe ferir os pés em chagas tão profundas que a cada passo dado podia ser sentindo a pele sendo rasgada, Alice se vestiu com o velho vestido cinza, a única peça minimamente descente de seu guarda roupas era desbotada e já havia sido remendada tantas e tantas vezes que não haviam mais lugares a serem costurados, cuidar dos animais da luxuosa fazenda, dos afazeres da casa, da horta onde eram colhidas diariamente os frutos e folhas para as refeições que ela mesma fazia eram trabalhos atribuídos a ela, o lugar enorme que necessitava de pelo menos uma dúzia de funcionários era cuidado exclusivamente pela pequena de corpo esguio e aparência frágil, Alice entrou em casa trazendo consigo uma sexta grande de tomates, a madrasta de nome Dora estava sempre em busca do corpo perfeito, da melhor aparência e não comia muito mais que uma infinidade seletiva de peixes e saladas, quando aprontou toda a comida Alice voltou ao trabalho, terminava de varrer toda a parte externa da sede quando ouviu os gritos de Dora.
— Infernooooo, Aliceeeee.
Correu trêmula para dentro, sabia que algo muito ruim lhe aguardava, era proibida de se aproximar da mesa enquanto Dora comia e eram os restos o que sobravam para ela, Alice não pesava muito mais que quarenta e poucos quilos e não eram raras as vezes que pela fome desmaiava.
— Sim mamãe.
Falou no exato momento em que cruzou a porta, sabia bem que a mulher diante dela não tinha seu sangue mais mesmo assim era obrigada a dirigir tal tratamento a ela.
— O que é isso?
Dora apontou o prato a sua frente com uma expressão de indignação e raiva.
— Algum problema com a comida?
— Isso está horrível, a salada não está fresca e o peixe não tem gosto de nada.
Alice a olhou confusa, tudo havia sido feito naquela manhã e as folhas e frutos da salada haviam sido colhidas por ela.
— Eu fiz tudo exatamente como estava na receita mamãe, tudo é fresco e bom eu provei.
As palavras foram como uma bofetada para madrasta e só ao dize-las Alice se deu conta da burrada, Dora lançou o prato de peixe ensopado ainda quente sobre Alice, o caldo da refeição que cobriu todo cabelo e rosto escorreu pelo vestido cinza.
— Experimentou? Se servir antes de mim? Quem acha que sou? Um cachorro para comer de suas sobras?
Alice deu um passo para trás, sabia que a fúria das palavras de Dora nunca vinham sozinhas, quando a mulher andou em sua direção ela já chorava, Alice foi agarrada pelos cabelos e arrastada pelas escadas.
— O quartinho não, o quartinho não mamãe.
Implorava, das punições que sempre recebia merecendo ou não era o comôdo apertado,escuro e úmido o que lhe deixava em pânico, Alice tinha medo da penumbra e todas as noites quando as luzes se apagavam levava horas para pegar no sono, em agonia e desespero era o cansaço o que lhe nocauteava, Dora abriu a porta a jogou para dentro enquanto gritava.
— Mamãe, mamãe.
Se agarrou a ela sendo esbofeteada, uma duas vezes, a pele branca ficou marcada.
— Cale a boca sua imunda, isso é para aprender a não roubar comida.
Bateu a porta rindo alto, o desespero, os gritos de Alice eram como uma canção para Dora, em pé sem poder se sentar no pequeno espaço que mal lhe cabia chorou, por horas, talvez dias, sendo permitida a ela não mais que um copo de água ou morreria, quando já fraca em meio aos seus dejetos, a sujeira que ela mesmo limparia, acordou sendo arrastada para fora, quase inconsciente foi posta embaixo do chuveiro e enquanto se afogava pela água que inundava seu rosto pôde fitar o sorriso maligno de Dora.
— Hô minha querida eu sinto tanto por dar-te essa notícia.
Alice tentava se manter acordada.
— Enquanto estava no castigo que óbvio era mais que merecido Bento partiu, seu paizinho deve estar ardendo no inferno agora.
A mansão dos Collins se encheu para o cortejo de Bento, o coronel aposentado da polícia não era visto a anos por seus familiares e amigos mais isto não impediu que uma verdadeira comoção girasse em torno de sua morte, Alice foi vestida como uma boneca por Dora, a menina que em dez anos sequer soube o que era um calçado ou roupa nova foi coberta por luxo de forma que qualquer um que a visse tivesse a certeza que a mesma era tratada como uma princesa pela madrasta.
Alice não havia dito uma única palavra desde o momento em que foi comunicada da morte do pai, quando o caixão com o corpo do mesmo foi posto junto as inúmeras coroas de flores e homenagens simplesmente chorou, não reconhecia o homem deitado na urna, bem mais velho, com a aparência cansada, sem a barba que dás lembranças que ainda tinha era a de maior força, Alice se debruçou sobre o caixão, enquanto sussurrava a canção de ninar que o pai cantarolava quando criança adormeceu, estava exausta, não havia se recuperado completamente do último castigo que recebeu e o seu corpo que havia sucumbido aos poucos cedeu, Alice acordou nos bracos de um jovem rapaz, assustada encarou com atenção os olhos azuis em um tom tão profundo quanto os seus.
— Quem é você?
— Durma, vai ficar tudo bem.
Ele disse baixinho, o corpo coberto por tatuagens coloridas chamou atenção de Alice, apesar de jovem ele era forte, tinha um sorriso bonito, ao abrir a porta do quarto de Dora a deitando sobre a cama a fez entrar em pânico, se provar a comida lhe rendeu um castigo que quase a matou o que a madrasta faria ao vê-la deitada sobre os mesmos lençóis em que dormia?
— Não posso ficar aqui, é o quarto da mamãe, ela vai brigar comigo.
Saltou ao chão caindo de joelhos, o rapaz a encarou com atenção, olhou com pena.
— Ela pediu que a trouxesse para cá.
Alice se encolheu contra a parede, abraçada as próprias pernas fitava o rapaz como um bicho acuado, somente quando ele saiu se levantou, se sentou no chão ao lado do criado, o homem que deixou a suíte encarou firmemente Dora que naquele segundo ja ia ao seu encontro.
— Pobre garota, tão bonita é mesmo louca?
Perguntou de um jeito desconfiado, Dora sorriu.
Dora Collins
— Já menti para você amorzinho?
Beijou sua boca, sequer respeitou o velório do marido que na parte de baixo da casa ainda acontecia.
— Dora, seu marido.
— Não estou entendendo todos esses pudores agora Oliver.
Oliver Ivanov.
O encarou de forma sexy.
— Transamos na frente dele enquanto vegetava naquele quarto.
Oliver a olhou com receio,passou as mãos pelos cabelos.
— Quer saber, que se foda, o velho morreu mesmo.
A beijou na boca, as mãos firmes entraram por baixo de seu vestido afastando a calcinha que ela vestia, Dora gemeu na boca do garoto, Oliver tinha exatamente a mesma idade que Alice, 17 anos recém completados.
— Porra, você é tão gostosa.
Praguejou enquanto vestia o preservativo, no meio do corredor entrou firme em sua intimidade, metia com força quando um barulho de tosse Chegou aos seus ouvidos.
— Senhora.
Oliver abotoou imediatamente a calça, saiu rapidamente de Dora que desceu o vestido desconcertada, havia sido pega no flagra pelo advogado de seu falecido marido.
— Obrigada pela ajuda Oliver, pode ir agora.
— Com licença.
O rapaz andou pelo corredor em silêncio, Dora sorriu de forma falsa.
— Havia algo incomodando em meu olho, Oliver é amigo da minha enteada, ajudou que eu retirasse um cisco que me arranhava.
O advogado não escondeu a repulsa, pensou, será que ela o achava idiota?
— É claro senhora, espero que esteja melhor agora.
Dora arrumou o vestido, alinhou os cabelos.
— O cortejo acaba de sair para o crematório, como já havia deixado explícito que não tinha interesse de estar presente durante a incineração vim informa-la da remoção do corpo.
— Está bem, pode ir agora.
Já dava as costas ao homem que lhe interrompeu.
— Só um momento senhora, antes de ir quero deixá-la a par do horário em que será aberto o testamento do senhor Bento Collin's.
— Testamento?
Dora o encarou confusa, não sabia de nenhum testamento.
— Sim, antes de Bento deixar a mansão e ser levado ao chalé ele me procurou em meu escritório, ainda não entendo como em um dia ele estava tão bem e em outro vegetando em uma cama.
Dora sorriu, quase engasgada com seu próprio veneno.
— Não sabia de nenhum testamento, não entendo a necessidade de um já que somos apenas eu, Suzi nossa filha adotiva e minha enteada, certamente serei a tutora
— Sigo apenas ordens, Bento era um homem muito rico, inteligente, de certo queria apenas se certificar de que a senhora e as filhas ficariam amparadas.
Dora andou até ele, sorrateiramente sexy, tocou a gravata do homem que a encarou sério.
— Pode me adiantar o conteúdo do documento?
Ele a afastou, era um homem casado, justo e que respeitava a memória do amigo que acabava de velar.
— Saberá na terça, é extremamente importante que as meninas estejam presentes, os papéis que trouxe para Alice assinar a alguns dias já foram levados ao cartório e autenticados pela juíza, também comuniquei no internato que Suzi deve ser liberada para estar presente na abertura do testamento, não entendo porque não está aqui velando o pai
— Ainda não me disse o que eram aqueles papéis.
— Apenas um dos desejos anexados ao testamento, a última vontade do pai delas.
Dora o encarou com ódio, raiva.
— Passar bem senhora.
Saiu a deixando sozinha, não continha sua irá, Dora abriu a porta, Alice que dormia encolhida no chão foi arrastada pelos cabelos por ela.
— Mamãe, mamãe.
Chorava, trancada no sótão implorava para não ser deixada no escuro, tinha medo e Dora usava isso contra ela.
— O que tinha nos papéis?
Gritava.
— Eu não sei mamãe, não tive tempo de ler, o advogado disse que não precisava.
Chorava ainda mais desesperada.
— Por favor me tire daqui, está escuro, tenho medo.
Dora sorriu.
— Que seja devorada pelos demônios nesse sótão Maldita.
Alice gritou em desespero até que a voz lhe abandonasse, quando finalmente dormiu já era quase dia, o estômago doía e a garganta arranhava, Dora andava pela casa em sua linda camisola de seda, o telefone foi pego por ela.
— Oliver.
Disse com um sorriso no rosto, a sedução de seu tom ecoou pelo quarto.
— Estou sozinha, usando uma camisola vermelha e com aquele perfume importado que você adora.
O rapaz disse algo obsceno do outro lado.
— Sempre trep@ gostoso amorzinho não demora, sua pantera te espera .
Ela desligou, se deitou sobre a cama com um olhar satisfeito na face, não via a hora de saber o que tinha no tal testamento pois junto dele viria o desfecho que tanto esperava, não havia nada que Bento pudesse fazer, pensou, ela era a única com amparo jurídico para cuidar das garotas, os bens e todo dinheiro indiretamente estariam a sua disposição e o teria, mesmo que para isso tivesse que se livrar definitivamente de Alice e da irmã herdando sozinha a fortuna dos Collin's.
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