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¡Y˖࣪ATENÇÃO! ᰔ ִ ׄ
𝐄𝐬𝐭𝐚 𝐨𝐛𝐫𝐚 𝐟𝐨𝐢 𝐢𝐧𝐬𝐩𝐢𝐫𝐚𝐝𝐚 𝐧𝐚 𝐨𝐛𝐫𝐚 "ᴍᴇᴜ ɪɴᴛʀᴏᴠᴇʀᴛɪᴅᴏ" 𝐝𝐚 𝐚𝐮𝐭𝐮𝐫𝐚 "Semnnome" 𝐝𝐚 𝐨𝐛𝐫𝐚 " 𝙼𝙴𝚄 𝙼𝚄𝙽𝙳𝙸𝙽𝙷𝙾 𝙰𝚉𝚄𝙻" 𝐝𝐚 𝐚𝐮𝐭𝐨𝐫𝐚 "Bárbara Melo" . 𝐨𝐛𝐫𝐢𝐠𝐚𝐝𝐨 𝐩𝐞𝐥𝐚 𝐚𝐭𝐞𝐧𝐜̧𝐚̃𝐨. 𝚝𝚎𝚗𝚑𝚊𝚖 𝚞𝚖𝚊 𝚋𝚘𝚊 𝚕𝚎𝚒𝚝𝚞𝚛𝚊.
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Max estava com o coração disparado. Era difícil controlar os pensamentos quando se tratava de Ivan. Desde que se conheceram no clube de artes da escola, Max se viu encantado não apenas pelo jeito inteligente de Ivan, mas também por sua forma única de enxergar o mundo.
Ivan era um rapaz autista, alguém que gostava de rotinas, de conversas sinceras e de evitar situações muito barulhentas. Enquanto muitos o viam como alguém "diferente", Max enxergava nele algo incrível: sua sensibilidade, sua honestidade e sua capacidade de ser genuíno quando todos ao redor pareciam estar usando máscaras.
Naquela tarde, Max estava decidido. Tinha chamado Ivan para encontrá-lo atrás da escola, no velho jardim que quase ninguém visitava mais. O vento balançava as folhas, e o som dos pássaros era o único barulho que preenchia o espaço.
Ivan chegou pontualmente, como sempre. Usava seu moletom azul preferido, aquele que dizia ser confortável por causa da textura. Ao ver Max, seu rosto se iluminou com um sorriso tímido.
— Oi. — disse, ajeitando a mecha de cabelo que havia em seu rosto. — Você disse que queria conversar.
Max respirou fundo. Seu coração parecia querer pular do peito.
— É… Queria, sim. — Ele passou a mão nervosamente pelos cabelos. — Ivan, eu… eu gosto muito de você. Não só como amigo. Gosto de você de verdade. Acho que… acho que estou apaixonado por você.
Por alguns segundos, Ivan ficou em silêncio, olhando para o chão. Depois, levantou o olhar, direto nos olhos de Max — algo que raramente fazia, mas que, naquele momento, parecia necessário.
— entendo... — respondeu, com a voz calma.
— e eu queria saber se… Se poderíamos, sabe... Namorar.— Max murmurou, nervoso.
— podemos tentar... — Ivan respondeu, sem muita expressão.
Max piscou, surpreso. Por um instante, achou que talvez Ivan estivesse apenas sendo educado, sem entender totalmente o que aquilo significava.
— Sério? — perguntou, quase sem acreditar, buscando no olhar de Ivan algum sinal de que aquilo era real.
Ivan franziu um pouco a testa, como quem organiza mentalmente as informações antes de falar.
— Sim... podemos tentar... desde que... — fez uma pausa, olhando para as mãos — desde que você entenda que, às vezes, eu vou precisar de silêncio... ou de espaço. E que algumas coisas, como festas ou surpresas, são difíceis pra mim.
Max sorriu, aliviado, e se aproximou um pouco mais.
— Eu entendo, Ivan. A gente pode criar nossas próprias regras, não precisa ser como todo mundo.
Ivan respirou fundo, Max estava hesitante em se aproximar, sabia que o garoto grisalho em sua frente não gostava de toques. muito menos de carícias ou calores corporais. ⁶
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Ivan percebeu o movimento sutil de Max, aquele passo contido, quase simbólico, que não invadia seu espaço, mas que dizia muito. Aquilo fez com que seus ombros, que estavam levemente tensionados, relaxassem um pouco.
— Criar nossas próprias regras... — ivan repetiu, como se experimentasse a ideia pela primeira vez. — Gosto disso.
O vento soprou novamente, levantando algumas folhas secas que dançaram ao redor dos dois. Por alguns segundos, ficaram apenas observando, em silêncio — um silêncio que, para Ivan, não era desconfortável. Na verdade, era acolhedor.
— Então... o que exatamente significa namorar pra você? — Ivan perguntou, com a cabeça levemente inclinada, olhando para Max de um jeito curioso e genuíno. — Quero entender...
Max sorriu, surpreso pela pergunta, mas, ao mesmo tempo, encantado com aquela forma honesta de se comunicar.
— Acho que... significa estarmos juntos, sabe? Compartilhar momentos, conversar, apoiar um ao outro. — Ele coçou a nuca, pensativo. — Não precisa ter toque, nem coisas que te deixem desconfortável. A gente pode descobrir juntos como é, do nosso jeito.
Ivan assentiu, processando cada palavra.
— E... se eu quiser, às vezes, ficar sozinho... Isso não significa que eu goste menos de você.
— Eu sei. — Max respondeu, sem hesitar. — E se algum dia eu falar demais, ou fizer algo que te sobrecarregue, você pode me avisar. A gente vai ajustando, tudo bem?
Ivan respirou fundo novamente. Aquilo parecia seguro. Diferente. Tranquilo.
—Tudo bem... — Ivan respondeu, e, depois de uma breve pausa, completou, meio hesitante, mas sincero. — Eu preciso ir pra casa... até amanhã.. namorado... — Ele disse, num tom inocente e adorável.
— não precisa me chamar desse jeito. — Max ri baixo, respondendo com um sorriso doce
Ivan parou por um segundo, como se processasse as palavras de Max. Seu olhar ficou pensativo, e ele apertou um pouco a alça da mochila.
— Por quê? — perguntou, com a cabeça levemente inclinada, em um tom genuinamente curioso. — Você não gostou?
Max riu de novo, dessa vez um pouco mais desconcertado, levando a mão ao rosto, como quem tenta esconder o próprio sorriso.
— Não é isso... — respondeu, respirando fundo. — É que... você falando assim, tão de repente, me deixa meio... — fez um gesto vago com as mãos — meio bobo, sabe?
Ivan franziu levemente a testa, refletindo.
— Ah... — respondeu, entendendo. Depois de alguns segundos, seu rosto se suavizou, e um sorriso pequeno, quase envergonhado, surgiu no canto dos lábios. — Então... acho que vou continuar chamando assim... — disse baixinho, desviando o olhar. — Porque... é fofo te ver assim... meio bobo.
Max arregalou os olhos, completamente pego de surpresa.
— Ivan! — exclamou, segurando o riso. — Você não pode simplesmente falar essas coisas assim, do nada!
— Por quê? — repetiu Ivan, arqueando uma sobrancelha, mantendo aquele tom calmo, quase inocente, mas com uma pontinha de curiosisade escondida. — Eu só estou sendo honesto...
Max balançou a cabeça, sorrindo, completamente rendido.
— Tá... tá bom... até amanhã... namorado. — disse, deixando escapar, enfim, a palavra, como quem se entrega de vez. foi como uma forma zombeteiro de zoar com ivan
Ivan sorriu, satisfeito, acenou com a mão de forma contida e virou-se para ir embora, com passos ritmados, seguindo sua rotina.
Max ficou parado por alguns instantes, olhando o caminho por onde Ivan sumiu, e percebeu que o mundo parecia bem mais bonito agora, antes de ir embora saltitando, Max pulou de alegria.
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No dia seguinte, Ivan estava parado na frente da escola, segurando as alças da mochila com força. Seu corpo balançava levemente, de um pé para o outro, enquanto seus olhos varriam o portão, procurando uma única pessoa no meio da multidão que chegava.
Ele não costumava gostar daquele horário — muita gente, muitos sons, conversas altas, buzinas, passos apressados —, mas, por algum motivo, naquele dia, tudo parecia um pouco mais suportável. Talvez porque estivesse esperando por Max.
Ivan olhou para o relógio no pulso, conferindo se estava na hora certa. Estava, como sempre. Pontualidade fazia parte de sua rotina, e, internamente, ele esperava que Max também fosse.
Seus dedos tamborilaram na lateral da perna, um gesto automático quando estava ansioso. Seu cérebro já estava começando a criar cenários: E se Max não vier? E se ele mudar de ideia? E se ontem ele só estava sendo educado?
Ele balançou a cabeça, tentando afastar esses pensamentos. Respirou fundo. Não. Max disse que entende. Disse que quer tentar. Max não mente pra mim.
E foi então que, no meio da confusão, ele viu.
Max vinha caminhando, mochila nas costas, sorrindo assim que seus olhos encontraram os de Ivan. Seus passos eram tranquilos, como se todo o movimento ao redor não existisse.
Ivan apertou ainda mais as alças da mochila, sentindo seu coração acelerar de um jeito estranho, meio desconfortável, meio... bom.
Max parou a poucos passos, respeitando aquela distância confortável que já parecia fazer parte do contrato silencioso entre eles.
— Bom dia. — Max disse, com aquele sorriso que fazia os olhos dele se apertarem.
— Bom dia... — Ivan respondeu, olhando fixamente para ele por alguns segundos antes de desviar o olhar para o chão. — Eu... eu tava te esperando... namorado. — disse, num tom baixo, quase como um sussurro, mas que chegou aos ouvidos de Max como um trovão no peito.
Max segurou a vontade de rir — não de deboche, mas de pura felicidade, de nervoso bom, daquele tipo que faz o peito parecer pequeno demais pra tanta coisa boa.
— Você... você tá me chamando assim de novo? — perguntou, sorrindo, passando a mão no cabelo, meio sem saber onde enfiar as próprias mãos.
Ivan assentiu, ainda olhando pro chão, chutando de leve uma pedrinha invisível.
— Sim... eu pensei... que se somos namorados... é assim que devo te chamar, certo? — levantou o olhar, direto nos olhos de Max. — Ou... você prefere que eu não chame?
Max sentiu o rosto corar na hora. Levou alguns segundos para responder, mas quando o fez, sua voz saiu mais doce do que imaginava ser capaz:
— Não... eu... eu gosto. — respondeu, mordendo de leve o lábio inferior. — Eu gosto muito, pra falar a verdade.
Ivan respirou fundo, seus ombros relaxaram, e, por um breve segundo, ele deu aquele meio sorriso tímido que Max já começava a reconhecer como sinal de felicidade genuína.
— Então... podemos... entrar juntos hoje? — Ivan perguntou, ajeitando a alça da mochila de novo, os olhos brilhando, apesar da expressão ainda serena.
— Podemos, sim. — respondeu Max, sorrindo, como se aquilo fosse a coisa mais simples e, ao mesmo tempo, mais especial do mundo. — E... acho que deveríamos fazer isso sempre.
E, lado a lado, respeitando o espaço, mas compartilhando uma conexão que nem precisava de toque para ser forte, eles entraram na escola, prontos pra descobrir, juntos, o que mais o mundo podia oferecer.
O sinal tocou, e as aulas da manhã passaram mais rápidas do que o normal — pelo menos para Max, que mal conseguia se concentrar direito. Seu pensamento escapava toda hora para Ivan, que, mesmo sentado algumas fileiras à frente, parecia estar tão focado quanto sempre.
Quando finalmente chegou o intervalo, Max pegou sua garrafa de água, levantou e, sem precisar combinar, sabia exatamente onde Ivan estaria.
No cantinho do pátio, onde havia um banco debaixo de uma árvore, meio afastado do barulho. Um lugar tranquilo, seguro, onde eles costumavam ficar juntos desde antes de tudo isso começar a mudar.
E lá estava ele. Ivan, sentado, balançando a perna no ritmo de alguma melodia interna, com uma caixinha de suco ao lado e os olhos atentos no livro que segurava.
Max se aproximou com passos suaves, sem fazer barulho. Parou a uma distância confortável e, sorrindo, falou com a voz baixa:
— Ei... namorado.
Ivan olhou pra ele na mesma hora, e, por um segundo, seus olhos se arregalaram. Depois, um sorriso pequeno, quase envergonhado, surgiu no canto da boca.
— Você... tá começando a gostar de me chamar assim também, né? — disse, ajeitando uma mecha de cabelo que caía no rosto.
Max riu, abaixando-se um pouco para ficar mais na altura dele, sem se sentar ainda.
— Talvez... — respondeu, mordendo o lábio, fingindo pensar. — Acho que... é meio impossível não gostar.
Ivan fechou o livro com cuidado, colocou ao lado e respirou fundo, olhando em volta, como quem verifica se não tem muita gente perto.
— Eu... trouxe algo. — disse, meio hesitante, abrindo sua mochila e puxando um saquinho pequeno, embrulhado em papel azul. — Eu fiz... pra você.
Max piscou, surpreso, olhando pro presente.
— Pra mim? O que é?
Ivan estendeu o saquinho, sem encostar, deixando em cima do banco, próximo de Max.
— É... um chaveiro. Eu fiz ontem, depois que cheguei em casa. — falou, olhando pro chão. — É... do nosso jeito.
Max pegou com cuidado, desembrulhou, e quase ficou sem ar quando viu. Era um chaveirinho feito de miçangas e linha, com duas estrelas pequenas, entrelaçadas, e um cordão azul — da mesma cor do moletom preferido de Ivan.
— Ivan... — Max sussurrou, segurando o chaveiro como se fosse a coisa mais preciosa do mundo. — Isso é... incrível.
Ivan apertou as mãos no colo, claramente ansioso.
— Eu... pensei que... uma estrela é você... e a outra, sou eu. E... elas estão ligadas. Porque... agora estamos juntos, né?
Max sentiu os olhos arderem, segurando a emoção que veio de repente.
— Isso é... a coisa mais fofa e mais bonita que alguém já fez por mim. — falou, com a voz falhando um pouco. — De verdade, Ivan... muito obrigado.
Ivan desviou o olhar, encolhendo um pouco os ombros, mas sorrindo.
— Eu fico feliz que você gostou...
Max respirou fundo, segurando o chaveiro contra o peito.
— Eu adorei. E... prometo cuidar dele. Assim como eu quero cuidar de você... do nosso jeito, do nosso tempo.
Ivan olhou pra ele, mais sério agora, e assentiu lentamente.
— Do nosso jeito... sempre.
E ali, no banco debaixo da árvore, no meio de um pátio que parecia tão distante do mundo inteiro, eles compartilharam um momento que, sem precisar de toque, sem precisar de palavras grandes, era absolutamente perfeito.
O sinal do fim do intervalo soou, mas, por um momento, parecia que nenhum dos dois queria se levantar dali. Ivan olhou para o relógio no pulso, respirou fundo e ajeitou novamente a alça da mochila.
— A gente... se vê depois da aula? — perguntou, olhando rapidamente para Max, e depois desviando o olhar, como sempre fazia quando estava um pouco nervoso.
— Claro. — respondeu Max, sorrindo, enquanto prendia o chaveirinho recém-recebido no zíper da mochila, fazendo questão de deixar visível. — No jardim, como ontem?
Ivan assentiu, balançando a cabeça.
— No jardim... lá é tranquilo. — respondeu, com aquele tom calmo que Max começava a reconhecer como sinal de segurança, de conforto.
— Então combinado, namorado. — disse Max, meio provocando, meio encantado, só para ver a reação de Ivan.
Ivan corou instantaneamente, puxando o capuz do moletom pra cima, escondendo um pouco o rosto.
— Você tá... usando isso contra mim agora... — murmurou, apertando a barra do moletom entre os dedos.
Max deu uma risada baixa, se levantando.
— É só... justiça poética. — respondeu, piscando. — Até mais.
Ivan só balançou a cabeça, segurando o sorriso enquanto se levantava também. E, juntos, caminharam até a porta da escola, mantendo a distância confortável, mas sentindo, de um jeito silencioso, que algo entre eles estava diferente. Melhor. Mais bonito.
As aulas da tarde passaram, e, assim que o último sinal tocou, Ivan já estava de pé, guardando tudo rapidamente e organizando seus materiais da maneira meticulosa de sempre. Seu coração batia mais rápido, não porque estivesse desconfortável, mas porque a ansiedade agora vinha de algo... bom.
Ele foi direto pro jardim, chegando alguns minutos antes, como sempre fazia. O vento balançava as folhas, e o som dos pássaros preenchia aquele espaço escondido, que parecia ser só deles.
E não demorou muito até ouvir passos conhecidos.
Max surgiu, sorrindo, mochila no ombro e o chaveirinho das duas estrelas balançando no zíper. Quando viu, Ivan não conseguiu evitar que seus lábios se curvassem num sorriso pequeno, mas sincero.
— Você... tá usando. — comentou, apontando discretamente pro chaveiro.
— Claro que tô. — respondeu Max, se aproximando até aquela distância que já era natural entre eles. — Você acha que eu ia guardar uma coisa tão especial na gaveta? Nem pensar.
Ivan desviou o olhar, apertando o moletom nas mãos, mas estava visivelmente feliz.
— Eu... fiquei pensando... — começou, ajeitando uma mecha do cabelo, — se... você quiser... talvez... a gente possa... fazer coisas juntos. Tipo... não só aqui na escola.
Max arqueou as sobrancelhas, sorrindo ainda mais.
— Coisas juntos? Tipo o quê?
Ivan respirou fundo, organizando as ideias antes de falar.
— Tipo... ir num lugar tranquilo... talvez... uma livraria... ou... um parque... algum lugar sem muito barulho...
Max segurou um riso, não de deboche, mas de puro carinho.
— Isso soa... como um encontro? — perguntou, meio brincando, meio esperançoso.
Ivan piscou, processando a palavra.
— Acho que... sim. — respondeu, desviando o olhar, apertando os dedos uns contra os outros. — Nunca... nunca fiz isso antes. Então... não sei muito bem como funciona.
Max respirou fundo, com o coração batendo acelerado, mas de um jeito feliz.
— A gente descobre juntos. Do nosso jeito. Sem regras prontas, sem pressa.
Ivan levantou o olhar, encontrando o de Max, e, pela primeira vez, segurou aquele contato visual por mais tempo do que de costume.
— Do nosso jeito... — repetiu, com aquele sorriso tímido, porém cheio de significado. — Sempre.
E, ali, no velho jardim, onde o vento parecia saber segredos e os pássaros cantavam como trilha de fundo, eles selaram mais um capítulo da história que estavam construindo juntos.
O dia do encontro chegou mais rápido do que Max imaginava. Desde que combinaram, ele não parava de pensar em como poderia fazer tudo ser perfeito, mas, ao mesmo tempo, sabia que perfeito, pra eles, significava algo diferente. Não precisava ser cheio de surpresas ou planos mirabolantes — só precisava ser confortável, seguro e, acima de tudo, verdadeiro.
Ivan, por sua vez, havia passado os dois últimos dias pesquisando na internet: “Como funciona um encontro?”, “O que fazer no primeiro encontro?” e “Encontros para pessoas que não gostam de lugares barulhentos”. Ele até abriu um documento no computador e listou possibilidades.
No fim, escolheram juntos: uma livraria pequena, aconchegante, que também tinha uma cafeteria tranquila nos fundos, e, depois, um passeio no parque próximo, onde poderiam sentar na sombra, conversar e observar as nuvens.
Ivan chegou primeiro, como sempre, usando seu moletom azul favorito e segurando uma garrafa de água. Seus dedos apertavam levemente a alça da mochila enquanto seus olhos varriam o movimento da rua, procurando Max. Seu coração batia mais rápido que o normal, e ele tentava regular a respiração, repetindo mentalmente: Está tudo bem. Max entende. Vai ser do nosso jeito.
E então, lá estava ele. Max vinha andando com aquele jeito tranquilo, sorriso largo, o chaveirinho das duas estrelas balançando no zíper da mochila, exatamente onde Ivan tinha visto da última vez.
— Oi. — disse Max, quando parou a uma distância confortável, sorrindo, ajeitando a alça da própria mochila. — Tá lindo hoje, né?
Ivan olhou para o céu, como se precisasse confirmar.
— Tá... sim... céu azul... poucas nuvens... não muito quente. É... bom. — respondeu, balançando a cabeça, e depois voltou o olhar pra Max. — E... você também tá... bonito.
Max piscou, surpreso, e depois riu, levando a mão à nuca, meio sem saber onde enfiar toda aquela felicidade que parecia querer escapar pelo sorriso.
— Nossa... você me pegou de surpresa agora. — disse, rindo. — Obrigado, namorado.
Ivan apertou a barra do moletom entre os dedos, escondendo um sorrisinho.
— Só... sendo honesto. — respondeu, com aquele tom direto e fofo que fazia Max se derreter por dentro.
— Bora entrar? — perguntou Max, apontando pra livraria. — Parece bem tranquila.
Ivan assentiu, aliviado por Max entender seu ritmo. Eles entraram lado a lado, caminhando entre as estantes, cada um apontando livros, comentando capas, lendo contracapas em voz baixa. Às vezes, não diziam nada, só compartilhavam aquele silêncio confortável, onde nenhum dos dois se sentia pressionado a preencher o espaço com palavras desnecessárias.
Em determinado momento, Max puxou um livro de astronomia, abriu numa página com uma ilustração linda de duas estrelas binárias — duas estrelas que orbitam uma em torno da outra, ligadas gravitacionalmente para sempre.
Ele virou o livro discretamente pra Ivan e comentou, sorrindo:
— Olha... somos nós.
Ivan olhou, observou por alguns segundos, e depois deixou escapar aquele sorriso tímido, que só Max conseguia arrancar.
— Somos... sim... — respondeu, baixinho. — Ligados... do nosso jeito.
Max sentiu o coração apertar, daquele jeito bom, quente, confortável.
Depois de um tempo na livraria, seguiram pro parque. Encontraram uma árvore grande, onde a sombra formava um círculo perfeito, e sentaram lado a lado, respeitando a distância que já fazia parte do entendimento silencioso dos dois.
Ali, ficaram olhando as nuvens, brincando de imaginar formas, conversando sobre filmes, livros e até sobre coisas que só eles entendiam.
E, naquele momento, Max percebeu que não existia encontro mais perfeito no mundo do que aquele. Porque não precisava de nada além do que já tinham: compreensão, carinho, respeito... e aquele amor que crescia, simples e bonito, do jeitinho deles.
O tempo parecia ter parado ali, sob a sombra daquela árvore. A luz suave filtrava pelas folhas, desenhando padrões no chão, no moletom azul de Ivan e nos tênis de Max. O mundo, com seus barulhos e correria, parecia muito distante daquele espaço que, de alguma forma, agora pertencia só aos dois.
— Tá sendo... — Ivan começou, ajeitando uma mecha do cabelo, olhando para as próprias mãos — mais fácil do que eu imaginei.
Max sorriu, encostando levemente as costas no tronco da árvore.
— Fácil? — perguntou, curioso. — Tipo... estar aqui comigo?
Ivan assentiu.
— Sim... — respondeu, com sinceridade. — Eu achei que ia ser... desconfortável... estranho... muita informação. Mas... com você... não é assim. É... tranquilo. Seguro.
Max sentiu o peito se aquecer de um jeito que nenhuma palavra conseguia explicar completamente. Ele não queria assustar Ivan, não queria forçar nenhum gesto, então apenas respondeu com um sorriso sereno:
— Fico tão feliz de ouvir isso... porque, pra mim, estar com você é exatamente isso também. Um lugar seguro.
Ivan respirou fundo, olhou pro céu e depois virou-se um pouco mais na direção de Max.
— Eu tava pensando... — começou, ajeitando nervosamente a barra do moletom — se... você quiser... a gente pode... criar um sinal. Tipo... quando eu estiver desconfortável ou... precisar de espaço. Assim não preciso... explicar toda vez.
Max arregalou os olhos, genuinamente surpreso, e depois sorriu largo.
— Isso é... genial, Ivan. — respondeu, animado. — A gente pode sim!
— É sério? — Ivan piscou, surpreso com a reação tão positiva.
— É claro! — respondeu Max, ajeitando a mochila no colo, empolgado. — E, olha, não precisa ser nada complicado. Pode ser um gesto, uma palavra... algo só nosso.
Ivan levou a mão até o próprio moletom, apertando discretamente a barra entre os dedos, pensativo. Olhou pro chaveirinho que balançava no zíper da mochila de Max e, após alguns segundos, murmurou:
— Talvez... se eu... segurar no chaveirinho. — falou, quase como uma pergunta, olhando rapidamente e desviando o olhar em seguida. — Tipo... apertar ele por alguns segundos. Assim você... sabe.
Max seguiu o olhar de Ivan até o chaveiro e sorriu, genuinamente tocado, mas sem se mover, respeitando aquele espaço confortável que sempre mantinham.
— Eu adoro isso. — respondeu, com a voz mais baixa, tranquila. — Vai ser o nosso sinal, então. Sempre que você apertar, eu vou entender. A gente pode fazer uma pausa... respirar... ou só ficar quieto. Tudo bem, do jeitinho que for melhor pra você.
Ivan assentiu, ajeitando uma mecha do cabelo, visivelmente mais relaxado.
— Obrigado... — respondeu, quase num sussurro. — Isso... me ajuda muito. Saber que... não preciso... forçar palavras quando não consigo.
Max ajeitou a alça do moletom.
— …E nem precisa se explicar, tá? — completou, com aquele tom gentil que Ivan já começava a reconhecer como um abraço disfarçado em palavras. — Eu vou estar aqui. Sempre.
Por alguns segundos, ficaram em silêncio. Mas não era aquele silêncio desconfortável — pelo contrário. Era um silêncio macio, cheio de entendimento, onde nenhum dos dois sentia que precisava preenchê-lo à força.
Max então se levantou, ajeitando a mochila no ombro.
— Bora? — perguntou, estendendo a mão, não como quem puxa, mas como quem oferece um apoio, uma ponte segura.
Ivan olhou para a mão, depois para o chaveirinho que balançava suavemente, e então segurou — não a mão, ainda —, mas o chaveirinho. Apertou, só por alguns segundos. Max percebeu e, sem dizer nada, apenas assentiu, apertando de leve a alça da mochila, como se aquele gesto também fosse uma resposta silenciosa.
— Bora. — respondeu Ivan, com um meio sorriso, se levantando ao lado do amigo.
E assim, os dois seguiram, lado a lado, com um novo tipo de acordo selado. Invisível para o mundo, mas claro e forte entre eles.
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