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Um Contrato de Vingança

Prólogo — O Preço de um Nome

Nova York sempre teve duas faces: a das luzes que nunca se apagam… e a das sombras que ninguém ousa encarar. Foi nessa cidade de contrastes que Elena Vasquez aprendeu que nascer por último pode significar ser esquecida para sempre.

Ela cresceu longe dos holofotes da família Vasquez, em uma casa modesta no interior, sob os cuidados amorosos de Dona Isabela sua avó, seu refúgio, sua única certeza. Firme, sábia e doce, Isabela era feita de amor e coragem. Acolheu Elena como a filha que o mundo rejeitou.

O pai, Arturo Vasquez, jamais perdoou a filha por algo que ela nunca escolheu: ter sobrevivido ao parto que levou sua esposa. Frio, controlador e movido pela ambição, ele não via Elena como parte da família apenas como o erro que nunca deveria ter existido.

Enquanto Valentina, sua irmã gêmea, crescia envolta em luxo, maquiada com promessas, bajulada por todos, Elena era o oposto. Valentina era idêntica no rosto, mas carregava no olhar o brilho arrogante de quem sempre teve o mundo aos pés. Elegante, mimada e manipuladora, usava a beleza como escudo e a inteligência como arma.

Elena, por outro lado, tinha a alma marcada. Seus cabelos castanhos ondulados, os olhos cor de mel que pareciam enxergar a dor dos outros, os traços delicados e suaves — tudo nela era ternura. Mas a vida a havia moldado na dor, e embora gentil, sensível e leal, havia uma força silenciosa crescendo dentro dela. Uma força que ainda não sabia nomear.

(Elena Vasquez)

E então veio a doença. A pior de todas: aquela que destrói lentamente, que exige escolhas. Dona Isabela estava morrendo. E Elena, com apenas 22 anos, se viu implorando ajuda à família que a desprezava. A resposta foi o silêncio. O desprezo. E, por fim, uma oferta cruel disfarçada de salvação.

Um contrato.

Nas torres de concreto e silêncio da cidade, Dante Moretti reinava. Alto, de postura imponente, cabelos negros como promessas quebradas e olhos cinzentos como o inverno, ele era o nome que ninguém ousava contrariar. Com 28 anos, comandava negócios poderosos com a frieza de um general. Seu rosto raramente demonstrava emoção e quando o fazia, era sempre calculado.

(Dante Moretti)

Dante não queria amor. Nunca quis. A única pessoa que o havia amado de verdade estava morta — Alessia, sua irmã, frágil e doce, levada ao limite por um mundo que a esmagou. A elite que riu dela, que a rejeitou, tinha nome. E entre os culpados, estavam os Vasquez.

O contrato antigo, arranjado entre famílias, previa um casamento. Uma filha Vasquez por um nome Moretti. Dante não queria esposa. Queria vingança.

Valentina, temendo se tornar alvo da fúria do homem que chamavam de “o herdeiro sem alma”, fez o que sabia fazer melhor: enganou. Ofereceu a irmã como moeda de troca. Em troca, o pai prometeu pagar o tratamento da avó.

(Valentina Vasquez)

E Elena… aceitou.

Não por submissão. Mas por amor. Pela última chance de salvar quem lhe deu tudo.

No altar, com o coração em pedaços e um vestido que não era seu, Elena olhou para Dante e viu um homem feito de gelo e dor. Mas o que ele viu… o confundiu. Aquela mulher não era como esperava. Havia verdade em seu olhar. Havia silêncio, mas também tempestade.

No dia do casamento, a verdade caiu como um punhal: Dona Isabela estava morta. Sozinha. Esquecida. Traída.

Naquele instante, Elena Vasquez morreu com ela. Não o corpo, mas a menina doce, a filha ignorada. Em seu lugar, nasceu outra mulher. Uma que aprenderia a se mover entre feras.

Ao lado de Dante, ela aprenderia a guerrear.

Ao lado dela, ele descobriria que até o coração mais endurecido pode sangrar por alguém verdadeiro.

Entre eles, caminhava a sombra de Marcelo Guerra, o braço direito de Dante. Sarcástico, leal e inteligente, ele observava tudo com olhos atentos. Foi o primeiro a duvidar de Elena. E talvez, por isso mesmo, o primeiro a reconhecer sua força.

E havia os fantasmas.

Alessia, nos cadernos esquecidos e nas memórias que Dante jamais apagaria.

Dona Isabela, nos conselhos que ainda ecoariam em cada decisão de Elena.

Enquanto os salões dourados de Nova York escondem pactos sombrios e segredos enterrados sob diamantes, Elena veste o nome da irmã.

Mas ela não é Valentina.

E não será esquecida.

Porque este não é um conto de amor.

É um contrato de vingança.

E ela está disposta a pagar o preço.

Capítulo 1 – A vida com a avó

As Filhas do Silêncio

Duas meninas nasceram em uma manhã chuvosa, em um hospital privado de Manhattan. Gêmeas idênticas. Mesma cor de pele, mesmos olhos escuros, mesmos dedos pequenos e frágeis. Mas, para os braços que as receberam, elas nunca foram iguais.

A primeira, Valentina, foi envolta em um cobertor de linho bordado e acolhida com aplausos contidos e sorrisos de alívio. A segunda, Elena, foi entregue a uma mulher de mãos simples e olhar cansado, no saguão frio do hospital, como se fosse um erro que precisava ser apagado.

Sem explicações, sem cerimônias.

— Ela ficará melhor com a senhora — disse a enfermeira, desconfortável, evitando os olhos da idosa. — Eles… preferem não ter contato.

Dona Isabela, com o coração apertado, segurou o pacotinho frágil como quem segura o próprio destino. Sabia que aquela criança não era desejada. Mas também soube, no instante em que sentiu o calor do corpinho contra o peito, que ela seria amada.

Enquanto Valentina crescia cercada de luxo, colégios bilíngues e festas de aniversário com bolo de três andares, Elena aprendia a fazer bolos simples com a avó e a colher flores no campo. Uma era treinada para o mundo; a outra, ensinada a sobreviver a ele.

Valentina cresceu sob os holofotes. Elena, nas sombras do silêncio.

E ainda que tivessem nascido do mesmo ventre, seus destinos foram separados por escolhas que não eram suas.

Mas o sangue, mesmo rejeitado, não deixa de chamar. E quando o passado volta, ele cobra com juros cada lágrima não chorada, cada amor negado, cada injustiça enterrada.

Esta é a história da filha esquecida.

A que foi deixada.

A que ninguém esperava que sobrevivesse.

E que, no fim, será impossível ignorar.

Inicio do capítulo 1-

O sol despontava tímido por trás das colinas, tingindo o céu com tons dourados e lilases, como se pintasse a manhã a pinceladas delicadas. A brisa leve do campo balançava as cortinas de algodão da cozinha, enquanto o aroma do café recém-passado se espalhava pela pequena casa de madeira, aconchegante e silenciosa.

Elena mexia devagar a massa do bolo de milho, com a concentração de quem sabia que pequenos gestos carregam grandes afetos. A farinha branca manchava seu avental florido, e um sorriso discreto aparecia nos lábios enquanto ouvia os passos lentos da avó se aproximando pela varanda.

— Está com cheiro de carinho — disse Dona Isabela, se acomodando na cadeira de balanço próxima à janela.

— Está quase pronto — respondeu Elena, servindo uma xícara fumegante de café e se sentando ao lado da avó.

Aquela casa, simples e afastada da cidade, era o único mundo que conhecia. Crescera entre as árvores do quintal, os livros usados que herdara da avó e o carinho silencioso que preenchia cada canto da casa. Não havia festas, nem luxos, nem visitas ilustres. Mas havia paz. E havia amor.

Ainda assim, mesmo naquele cenário sereno, uma parte dela sempre carregava uma pergunta sem resposta: por quê?

Elena sabia que viera de outro lugar de uma família poderosa, influente, rica. O sobrenome Vasquez aparecia com frequência nas capas de revistas e nas colunas sociais. Fotos de mansões, festas e viagens internacionais. A imagem da “família perfeita” era exibida para o mundo como um troféu. E lá estava Valentina, sua irmã gêmea, sorrindo ao lado dos pais como se fosse a única filha.

Elena nunca conhecera o som da voz do pai. Nunca escutara um “feliz aniversário” vindo daquela casa luxuosa. Tudo o que sabia sobre eles vinha da televisão e dos jornais que Dona Isabela trazia do armazém. Às vezes, olhava as fotos de Valentina, tão parecida com ela, mas tão distante quanto uma estrela, e sentia um aperto que não sabia nomear.

A avó nunca escondera a verdade: fora abandonada ainda bebê, deixada nos braços de Isabela como um fardo silencioso. Sem carta, sem explicações, apenas o peso de um sobrenome recusado.

— Eles não te mereciam, minha menina — dizia Dona Isabela sempre que percebia o olhar distante da neta sobre alguma capa de revista.

Mas, por mais que quisesse acreditar, parte de Elena se perguntava o que teria feito de errado para ser deixada para trás. Talvez nunca houvesse uma resposta, e talvez fosse isso o que mais doía.

Naquele dia, depois do café, Elena foi cuidar do jardim. As mãos calejadas cavavam a terra úmida com delicadeza, como quem procura um sentido sob a superfície. As hortênsias estavam florindo, fortes, coloridas, vibrantes. Elas não sabiam de rejeições. Apenas floresciam, apesar de tudo.

— Hoje tem feira na cidade — avisou a avó, da varanda. — Se quiser, podemos passar no mercadinho e comprar aqueles doces de leite que você gosta.

Elena sorriu. O dia na cidadezinha era sempre uma quebra na rotina calma do campo. Gostava de observar as pessoas, escutar conversas e sentir-se, ao menos por algumas horas, parte de algo maior.

Ao fim da tarde, já em casa, enquanto o céu se tingia de laranja e o vento trazia o cheiro da lenha acesa, Elena e a avó sentaram-se no sofá para costurar e conversar. Era um ritual antigo, feito de pausas, risos e memórias.

— Lembra do primeiro livro que lemos juntas? — perguntou Dona Isabela, pegando o tecido nas mãos.

— “O Pequeno Príncipe” — respondeu Elena, com um brilho nos olhos. — Você dizia que eu era como ele. Perdida num mundo estranho.

— E ainda acho que é. Mas diferente do príncipe, você não está sozinha. Eu estou aqui. Sempre estive.

Elena abaixou os olhos, lutando contra a emoção. Às vezes, queria se sentir inteira apenas com aquilo. Mas não podia negar, havia um vazio em forma de pai, de irmã, de lugar de onde veio, que insistia em pulsar dentro dela.

Ela sabia que seu mundo era limitado. Sabia que o que via nas revistas era inalcançável. Mas também sabia que, um dia, de alguma forma, o passado bateria à sua porta. E que, quando isso acontecesse, precisaria estar pronta, mesmo que ainda não soubesse para quê.

Naquela noite, deitada ao lado da avó, escutando os grilos cantarem sob o luar, Elena deixou uma lágrima silenciosa escorrer pelo rosto. Não era tristeza. Era uma saudade do que nunca teve. Uma saudade que, de tão constante, já fazia parte de quem ela era.

E, sem saber, aquela seria uma das últimas noites de paz que viveria naquele lar.

Capítulo 2 – O Nome que Nunca Foi Chamado

Era uma tarde morna de primavera quando Elena encontrou, entre os livros antigos da avó, uma pequena caixa de madeira, trancada por uma fita gasta. Não havia nome, nem fechadura. Apenas a poeira do tempo e o silêncio de quem guarda coisas que não quer lembrar.

— Vó… isso aqui é seu? — perguntou, com cuidado, levando a caixa até a sala.

Dona Isabela parou por um momento. Seu olhar, antes sereno, escureceu com memórias antigas. Sentou-se devagar e pediu para que Elena a entregasse.

— Há coisas, minha menina… que o tempo tenta esconder, mas o coração não esquece — disse, abrindo com delicadeza a tampa da caixa.

Dentro, havia uma mantinha rosa desbotada, uma pulseirinha hospitalar com um nome impresso: Elena Vasquez, e um bilhete amarelado, com a tinta desbotada, mas cruelmente legível. Palavras curtas, escritas à mão com uma caligrafia firme e amarga:

“Não criarei uma assassina. Ela deveria ter morrido no lugar da mãe.”

Elena sentiu o estômago afundar. A leitura daquelas palavras foi como um tapa no peito. Nunca conhecera o pai, mas agora sentia que o conhecia bem demais.

A avó apertou sua mão com ternura, os olhos marejados.

— Foi assim que você me chegou… fria, frágil, com os olhos ainda fechados, mas o coração já rejeitado.

Seu pai… — ela respirou fundo — ...nunca quis saber de você. Disse que sua mãe morreu por sua culpa. A Valentina nasceu forte e saudável. Você veio depois, com dificuldades pra respirar. Uma enfermeira me ligou às pressas, e quando cheguei, te colocaram nos meus braços como quem se livra de um fardo.

Elena mal conseguia piscar. O bilhete ainda tremia entre seus dedos.

— Mas por que a senhora foi chamada? — sussurrou, a garganta apertada.

Dona Isabela abaixou os olhos, e sua voz saiu mais suave, carregada de dor e saudade.

— Porque eu era a única família da sua mãe.

Minha filha era tudo pra mim. A Mirian sempre foi uma menina doce, sensível… sonhava em sair daqui e construir algo melhor pra si.

Criamos uma vida simples, só nós duas. Eu trabalhava como costureira, fazia o possível pra dar a ela alguma estabilidade.

Ela cresceu determinada, e quando conseguiu um estágio como assistente administrativa na empresa Vasquez… fiquei tão orgulhosa.

Elena sentia o peito apertado. Aquilo não era só uma lembrança — era a origem de tudo.

— E foi lá que ela conheceu ele? — perguntou, quase sem voz.

— Sim. Arturo Vasquez.

Era um homem mais velho, muito respeitado, influente… e, ao que parecia, encantado por ela. No começo, ele parecia bom, atencioso.

Mas com o tempo, vi o brilho dela mudar. Ela se calava mais. Eu perguntei, insisti… mas ela dizia que estava tudo bem.

Quando me contou que estava grávida, senti medo.

Quando me disse que iam se casar… soube que estava indo embora pra um mundo que não era feito pra ela.

A avó se calou por um instante, o olhar perdido no passado.

— E ela morreu no parto?

— Sim. Complicações inesperadas. A Valentina nasceu primeiro, saudável, perfeita. Você veio depois, lutando pra respirar.

Foi naquele hospital frio, sob a chuva, que a vida da minha filha terminou… e a sua começou.

Ele culpou você no mesmo instante. Nem quis te ver. Disse que não criaria uma assassina. Que a filha que o importava já estava com ele.

Elena sentiu uma lágrima quente escorrer sem permissão. Não era surpresa, mas doía como se fosse.

— E a senhora… não pensou em me recusar?

Dona Isabela olhou para ela com uma doçura firme. Uma força que vinha de quem já perdeu tudo, menos o amor.

— Nunca.

Eu já tinha perdido a minha filha. Não ia perder você também.

Você era uma continuação dela. E era minha.

Cometi muitos erros quando nova, então nunca me casei, Elena. E depois que tive sua mãe nãopensei mas na hipótese. Quando segurei a minha menina em meus braços eu sabia que não precisava de mais ninguém. E esse sentimento se repetiu quando te segurei nos braços naquela noite quando perdi minha única razão de viver… foi como se a vida me desse um novo motivo pra existir.

Elena abraçou a caixa contra o peito, com o coração pesado e quente ao mesmo tempo. Ela nunca teve a chance de ouvir histórias de princesas nem dormir em lençóis caros. Mas teve isso. Teve amor. Verdadeiro.

E talvez… fosse isso que a mantivera viva. Mesmo sem saber.

Enquanto Valentina crescia em salões dourados, sendo penteada por babás e educada em francês, Elena brincava entre flores do campo e aprendia a cuidar da terra.

Enquanto Valentina aprendia a mentir com um sorriso, ela aprendia a suportar a verdade com silêncio.

E mesmo que feitas do mesmo sangue, nasceram em extremos opostos.

Mas o sangue… o sangue sempre cobra.

E naquele fim de tarde, ao fechar a caixa e guardar o bilhete, Elena entendeu. O nome que ninguém jamais pronunciou… seria, um dia, o nome que ninguém ousaria esquecer.

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