Noiva Das Trevas
1. O Jantar Chegou
A paisagem era semelhante a um borrão—ou talvez fosse assim que minha mente estivesse agora...
Eu gostaria de chorar, apenas para sentir o alívio interno dentro do peito, mas nem isso eu estava sendo capaz de fazer
Havia sendo vendida. Como uma moeda de troca qualquer.
Uma peça descartável no enorme tabuleiro de xadrez meticulosamente pensado da minha madrasta. Aquela mulher me odiava, e nem quando papai estava perto ela fazia questão de esconder.
A limosine parou em frente a uma mansão enorme, os portões eram altos e dourados, e no centro, se encontrava um brasão—provavelmente da família.
Imersa em meu próprio consciente, não conseguia ouvir os barulhos externos, até que sinto uma mão em meu ombro
Motorista
— Senhorita Tsukimura, chegamos — Seu semblante era sério, mas havia algo em seus olhos que eu não conseguia perceber
E se eu apenas saísse correndo? Voltasse para casa e tentasse arranjar um jeito de ajudar com a falência da família?
Abro a porta do carro, e saio, a brisa suave do entardecer bagunça levemente meu cabelo
O motorista me entrega minha mala, faço uma saudação como agradecimento. O choque era tão grande que eu sequer conseguia falar direito
Ele entra na limosine novamente, o motor ronca quando ele vira a pequena chave, e os pneus deslizam sobre o asfalto
Meus olhos acompanham o veículo até que ele suma na esquina mais próxima.
Juntando força e coragem— E ignorando minhas pernas trêmulas, vou em direção até a mansão
Lysandra
"Eu vou sobreviver" — Pensei, com um olhar determinado direcionado para a casa.
O jardim exterior era enorme, e tudo parecia ter saído de uma ilustração gótica vitoriana.
Era estranhamente bonito, e até encantador
Minhas mãos ameaçam tocar as maçaneta suspensas, quando a porta abre-se sozinha, me deixando desconfiada
Franzo o cenho e meu corpo encolhe involuntariamente
Lysandra
— Olá? — Minha voz ecoa por todo hall de entrada
Lysandra
— Que estranho... está vazia
Meus olhos percorrem o lugar a procura de alguém, mas nada. Será que até meu "futuro noivo" teria desistido de mim?
Pego meu telefone e começo a discar o número do motorista, minha madrasta ficaria tão feliz ao saber que a enteada dela voltará para casa de mãos abanando.
A linha começa a chamar por alguns minutos, mas logo depois cai na caixa postal
Repito a ação 3x até que desisto.
Lysandra
— Maravilha, terei que me virar sozinha! — Entristecida, pego minha mala e sigo para o corredor a minha direita
Haviam diversas pinturas nas paredes, mas a pouca iluminação me impedia de as ver com clareza
O sentimento era estar dentro de um filme de terror
Minha atenção é atraída para uma porta entreaberta com a luz acesa
Olho para os lados me certificando que estava sozinha, e um sorriso curioso se abre em meu rosto
Lysandra
— Não faz mal a ninguém dar uma olhadinha
Empurro a porta e me deparo com uma biblioteca coberta com os mais variados livros
Meu coração enche-se de felicidade. Talvez não será tão ruim morar aqui
Começo a vasculhar as prateleiras atrás de romances ou fantasias, e a lombada de um deles me chama a atenção
Pego o livro, seus detalhes parecem ter sido feitos a mão. O título era o mesmo tom brilhante de dourado das bordas. "Promessa Sob o Véu da Meia-Noite"
Folheio algumas páginas e me pego presa na obra, que mal percebo o tempo ao meu redor passar
O que me trás de volta é uma voz masculina nada gentil
Reiji
— Senhorita, não é nada educado entrar em lugares que não foi convidada.
Meu corpo estremece com o susto e quase deixo o livro cair de minhas mãos, por sorte, consigo segura-lo
Na porta estava parado um homem alto, de roupa social, óculos e olhos intensos que pareciam me atravessar.
As palavras ficaram presas em minha garganta quando tentei justificar o por que de eu estar ali
O homem me analisa de cima a baixo antes de limpar a garganta e ajeitar seus óculos
Reiji
— Devo supor que você seja a senhorita Tsukimura, estou certo? — Sua voz era ríspida.
Lysandra
— Sim..eu me chamo Lysandra.. — Minha voz saí trêmula, eu definitivamente estava com medo
Reiji
— Meu nome é Reiji Sakamaki — Ele ajeita os óculos novamente — Fui encarregado para ser seu guia, mas parece que a senhorita sabe se virar sozinha — Ela sorri falsamente
Ele estava debochando de mim.
Lysandra
— Para falar a verdade, não. A biblioteca foi o único lugar que achei.
Lysandra
— E peço desculpas por minha intromissão, é que... sempre fui apaixonada em livros — Um sorriso discreto se forma em meu rosto ao lembrar das histórias para dormir que eu ouvia antes de ir para a cama quando criança
Reiji suspira e revira os olhos
Reiji
— Peço que me acompanhe, tem que conhecer os outros moradores da casa. Mas não ache serão gentis como eu. — Ele para na porta e vira sua cabeça para minha direção, seu sorriso era medonho
Lysandra
"Espere outros...? Mas não era apenas 'um' noivo?"
Reiji sai pela porta, e eu o acompanho, meu coração estava descompassado
Para onde minha madrasta realmente tinha me mandado...?
2. Sorrisos que Mordem
Depois de um breve tour por meu novo 'lar', Reiji me leva até a sala de estar da mansão, ele para no centro e fica ali
Confusa, decido perguntar o que estava acontecendo
Lysandra
— O que estamos esperando..?
Reiji
— Seja paciente. — Ele sequer olha para mim
Algo dentro de mim dizia para sair correndo dali, e não esperar o que viria em seguida, mas minha tolice inocente falou mais alto
Meus olhos admiravam cada detalhe do cômodo, tudo estava limpo e perfeitamente arrumado, olho de relance para Reiji; ele com certeza tinha manias de limpeza.
Desprevenida, sinto uma respiração em meu pescoço.
Meu corpo congela, e eu não consigo me mover, até minha respiração some
Ayato
— O que temos aqui...? Carne nova?
A voz do desconhecido era extremamente arrogante
Lysandra
— Perdão? — Digo estupefata com a falta de respeito
O garoto tinha cabelos cor de carmesim, e olhos mais brilhantes que jade
Ele usava roupas desleixadas, o total oposto de Reiji
Ayato
— Que sotaque é esse? — Ele disse surpreso
Ayato
— Reiji, você trouxe uma caipira? — O garoto riu alto, como se tivesse visto um palhaço bem na sua frente
Minhas bochechas esquentaram de raiva.
Lysandra
— Com você ousa. — Fechei meus punhos com a maior força que pude e rangi os dentes. — Eu NÃO sou uma caipira.
Reiji suspirou decepcionado
Reiji
— Você já ouviu falar sobre erros genéticos? Pois bem, aqui está um exemplo. Lysandra esse é Ayato, um dos irmãos. — Ele lançou um olhar de repreensão para o garoto ruivo
Ayato
— É, tirando o sotaque engraçado, você é bem bonitinha... — Ele sorriu maliciosamente e segurou meu queixo, me fazendo olhar pra ele
Ayato
— E tem...curvas maravilhosas.
Senti meu pescoço esquecentar, e como uma ação automática, lhe dei um tapa no rosto
De fundo, pude ouvir uma risada abafada por Reiji. Enquanto isso, Ayato esfregava a bochecha
Ayato
— Você é nervosinha em? — Ele me olhou com leve desprezo, mas o tom zombeteiro não desapareceu
Fechei os olhos e respirei fundo
Lysandra
— Peço desculpas, fui impulsiva no agir. Mas peço educadamente que não se refira a mim dessa forma novamente. — Ergui uma sobrancelha
Ayato fez uma careta assustada, mas ao mesmo tempo irônica
Ayato
— Ótimo, mais uma certinha com vocabulário difícil na casa — Ele esfregou o rosto com ambas as mãos
Pouco a pouco, o que eu achava ser um mito aconteceu, a história de terem seis irmãos era verdadeira
Todos tinham suas respectivas características, algumas eu nunca tinha visto antes na vida
Eu me sentia um ratinho em meio a felinos prestes a me devorar
O que mais me aterrorizava, é que eu moraria na mesma casa que seis homens desconhecidos
Isso não podia estar sendo verdade, deve ter havido algum engano
Por favor, que seja um engano.
Lysandra
— Com licença... — Nenhum dos irmãos me ouviu
Lysandra
— Agora, algum de vocês pode me explicar o que está acontecendo? O acordo era, um casamento arranjado, mas... há seis, e, eu não sou poligamica — Franzi o cenho
Kanato
— Ela ainda não entendeu? — Kanato me analisou com tédio
Laito
— Acho que não — Ele sorriu maliciosamente
Ayato
— Que tal mostrarmos a nossa querida caipirinha como as coisas funcionam aqui?
Os gêmeos Laito e Ayato se entreolharam.
O clima estava denso, tão denso que podia ser tocado se eu tentasse
Meus pés começaram a recuar
O que estava acontecendo ali?
Reiji
— Parem vocês três. — Reiji se pronunciou com rigidez
Reiji
— Está tarde, e nossa hóspede precisa descansar.
Reiji deu um sorriso sombrio. Eu me sentia mais confortável quando ele não sorria.
Reiji
Ele ajeitou os óculos — Seu quarto é no andar de cima. Subaru, leve a senhorita Tsukimura para os aposentos dela. — Ele encarou diretamente o garoto de cabelo esbranquiçado
Subaru
— Por que eu? Ela tem pernas. Sabe andar muito bem sozinha. — Ele revirou os olhos e usou sua mão esquerda para apoiar a cabeça
Reiji
— Vocês são lamentáveis, sinceramente.
Lysandra
— Subaru tem razão, sei me virar — Disse determinada — E eu me lembro onde fica meu quarto, quando me mostrou a casa Reiji
Lysandra
— Bem, boa noite a todos vocês — Fiz uma saudação, mas antes de subir as escadas amarrei o casaco que estava usando em minha cintura. Precauções nunca são demais.
Quando estava no 6° degrau, Reiji me chamou novamente
Reiji
— Esqueci de avisar, nossa jantar é as 23:30. Não se atrase.
Lysandra
— Sim senhor — Sorri e fiz uma continência
Quando cheguei ao corredor, parei para ouvir os murmúrios no andar de baixo
Laito
— Eu gostei dela. — Laito afirmou com uma voz sedutora
Shu
— Laito. Você gosta de qualquer coisa que use saia.
Ao ouvir isso, segurei o riso, e fui rapidamente para o meu quarto
3. Degustação de Sangue
A sensação era estar deitada sob uma nuvem
Nunca em minha vida tinha deitado em um colchão tão macio
O relógio marcava 23:15 a última vez que olhei
O jantar seria daqui a 15min.
Levanto da cama e meu corpo arrepia ao sentir o mármore gelado na sola dos meus pés
Por mais que estivesse cansada da viajem, seria falta de educação vinda da minha parte, não comparecer ao jantar
Tanto o quarto quanto o banheiro eram dignos de alguém da realeza, uma princesa possivelmente
Se isso fosse um sonho, estava pedindo que não me acordassem
O banho foi rápido, mas foi suficiente para tirar a tensão rígida dos músculos
Vesti a maior e menos indecente camisola que achei na minha bagagem, minha madrasta insistiu que fossem compradas novas, e que eu parasse de me vestir como uma mulher velha
Mas consegui trazer a camisola da mamãe com sucesso—ainda tinha o cheiro do perfume dela...
Parei em frente ao espelho e dei um rodopio, era confortável, mas algo ainda me incomodava profundamente.
Mordi o lábio inferior, insatisfeita, mas quando olhei para o relógio em minha cabeceira, ele marcava 23:32
E Reiji não parecia alguém que tolera atrasos
Saí apressada do quarto, esquecendo até meus sapatos.
O tecido da camisola me dava uma aparência fantasmagórica ao descer a enorme mas ingrime escadaria
Os seis irmãos já estavam sentados a mesa, e comendo quando cheguei a sala de jantar
E para o meu azar a única cadeira vazia estava na ponta da mesa, talvez nem fossem ligar pra mim, isso não seria tão ruim
Cabeça baixa, sem contato visual, eu fingi não os ver
E no fim deu "certo", o problema? Tinha um ursinho de pelúcia ocupando a cadeira.
Lysandra
— Mas o que é isso..? — Murmurei confusa
Kanato
— Não pode sentar aí.
Kanato me encarava com desprezo—deveria ser a única expressão que ele tinha.
Lysandra
— Por que não? — Pisquei
Kanato
— Chegou atrasada, Teddy ocupou o lugar.
Lysandra
— Você o colocou aqui? — Apontei para a pelúcia
Lysandra
Bufei baixinho — O que eu tenho que fazer para poder me sentar?
Já estava começando a me irritar, ele parecia meus irmãos mais novos.
Teria que tirar o ursinho eu mesma.
Puxei a cadeira e toquei a cabeça do urso, mas Kanato levantou-se de uma forma brusca
Kanato
— Não toca nele! — Sua voz estava alterada
Lysandra
— Por que está gritando? Eu nem o toquei direito. — Franzi o cenho
Lysandra
— Eu preciso comer também
O corpo de Kanato começou a tremer, ele estava com raiva por causa de ursinho?
Só poderia ser brincadeira.
Meu olhar cresceu de pavor
Lysandra
— Isso já é demais. Por que está agindo assim por causa de um brinquedo de criança?
Mal sabia eu, que tinha acabado de cometer o pior erro da minha vida.
Os olhos sem vida e opacos de Kanato transbordavam raiva, sua mão que segurava uma taça de vidro começou a tremer
Kanato
— Eu... não sou... CRIANÇA
Em um piscar de olhos a taça explodiu em mil pedaços.
Me abaixei e protegi a cabeça, tinha algo de errado... Ele era magro, não teria força pra quebrar um copo de vidro só com uma mão.
Levantei horrorizada. O líquido vermelho descia por todo braço de Kanato e pingava no carpete.
Olhei para os outros irmãos que estavam alheios a situação, nenhum deles levantou para ajudar.
A respiração de Kanato estava fraca, tinha um caco de vidro fincado em sua mão e ele sequer gritou de dor.
Lysandra
— Não está doendo...? — Disse preocupada
Ele olhou para a própria mão e riu. Uma risada sombria, amarga, que fazia todos os pelos do corpo arrepiarem.
Quando me encarou novamente, me encolhi
Kanato
— Você... é tão idiota garota.
Meus lábios secaram e em minha garganta formou-se um nó
Kanato pegou seu ursinho de pelúcia e eu cheguei para trás
Pouco a pouco, todos saíram da mesa com uma desculpa, fosse falta de apetite ou cansaço
O último a sair foi Ayato, havia um sorriso largo em seu rosto pálido
Ayato
— Meus parabéns caipirinha, pro seu primeiro dia você se saiu muito bem. — Ele disse com escárnio
Ele saiu assobiando do salão e meus ombros cairam
Estava cansada, e não tinha comido absolutamente nada.
Mas depois da adrenalina, minha fome tinha desaparecido por completo.
Eu virava de um lado para o outro na cama, várias perguntas se formavam em minha mente e não me deixavam dormir..
Essa família a qual me "adotaram" tinha um segredo, eu só não sabia qual.
Ou talvez soubesse, mas não queria admitir, era maluquice, uma fantasia.
Pele pálida... força sobrehumana, e por fim...
E não demoraria muito para me tornar o jantar.
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