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Entre o Poder e o Amor

Cláusulas do Destino

O som dos saltos ecoava pelo hall de mármore da Monteiro Global Holdings, tão elegante quanto intimidador. Clara apertou a pasta em mãos, ignorando os olhares curiosos e julgadores que cruzavam seu caminho. Trajava um blazer branco impecável, calça alfaiatada e a determinação de quem sabia exatamente o que queria — mesmo que sua vida estivesse prestes a mudar de forma drástica.

Por dentro, sua mente fervilhava.

“Você não precisa dele. Não precisa de ninguém. Só está aqui para proteger o legado da sua família.”

O recepcionista indicou o elevador privativo que levava direto ao último andar, onde o homem que ela sempre considerou arrogante, insuportável e controlador a esperava.

Gabriel Monteiro.

O nome mais temido — e desejado — de Auriville. CEO, bilionário, dominador e incapaz de sorrir sem que fosse por pura ironia. Ela sabia que aceitar aquela reunião significava cruzar uma linha sem volta.

Quando as portas do elevador se abriram, foi recebida pelo silêncio absoluto, quebrado apenas pelo som de teclas e do relógio analógico cravado na parede. A assistente lhe fez um sinal breve antes de abrir a porta de vidro fosco.

— Ele está te esperando, senhorita Antunes.

Clara respirou fundo, ergueu o queixo e entrou.

O escritório era um reflexo dele. Linhas retas, minimalista, móveis pretos e madeira nobre. De pé, à frente da janela panorâmica, Gabriel observava a cidade como se ela lhe pertencesse — e, de certa forma, pertencia. Auriville estava aos seus pés.

Ele se virou lentamente, as mãos nos bolsos do terno sob medida, olhar cortante, expressão inquebrantável. O tipo de homem que não pedia. Ordenava.

— Você não é nada do que eu esperava — disse, a voz grave, baixa e levemente provocativa. — E isso... não sei se é um problema ou uma solução.

Clara arqueou uma sobrancelha, cruzando os braços.

— Acredite, eu também não estou exatamente encantada por estar aqui. — Ela o enfrentou sem piscar. — Vamos ser práticos. Sabemos o que cada um quer. Eu vim ouvir sua proposta. Só isso.

Os lábios dele curvaram-se num sorriso enviesado, frio.

— Direta. Gosto disso. — Gabriel caminhou até a mesa, pegando um contrato já impresso. — O acordo é simples. Precisamos nos casar. Por dois anos. Nem mais, nem menos. Você ganha... — ele deslizou o contrato na direção dela — o suficiente para resolver todos os seus problemas. E eu, meu trono.

Ela segurou o papel, mas não o olhou de imediato. Manteve os olhos nele.

— E quais são as regras do rei? — disparou, sem esconder o tom desafiador.

Gabriel recostou-se na cadeira, entrelaçando os dedos sobre a mesa.

— Aparências impecáveis. Participar de eventos. Fingir que somos um casal perfeito. E, acima de tudo, você deve me obedecer. — Seus olhos escureceram, frios. — Sem escândalos. Sem questionamentos. Sem... surpresas.

Por um segundo, o silêncio foi tão pesado que parecia ocupar cada centímetro do cômodo.

Mas então Clara riu. Um riso curto, descrente, quase sarcástico.

— Obedecer? — Ela largou o contrato sobre a mesa como se fosse algo contaminado. — Gabriel, eu vim aqui fazer um acordo, não me vender. Se você quer uma esposa de aluguel, ótimo. Mas se quer uma marionete, está olhando para a mulher errada.

Ele se inclinou, os olhos faiscando.

— Você não tem muitas opções, Clara.

Ela se inclinou também, sem recuar um milímetro.

— E você menos ainda.

Os dois se encararam, em uma guerra silenciosa, onde nenhum dos dois estava disposto a recuar primeiro.

E, naquele instante, ambos perceberam algo. Esse casamento seria qualquer coisa… menos simples.

— Sente-se, Clara — ele ordenou, com uma voz tão firme que parecia mover o próprio ar.

Ela permaneceu de pé, braços cruzados, como se aceitar aquele comando fosse perder uma batalha.

— Eu fico bem assim — respondeu, sustentando o olhar dele.

Por um segundo, um brilho de diversão cruzou os olhos de Gabriel, mas desapareceu tão rápido quanto surgiu. Ele abriu o contrato, folheando as páginas lentamente, como se quisesse que ela ouvisse cada folha sendo virada.

— As cláusulas estão bem claras. — Ele puxou uma caneta, girando-a entre os dedos. — Casamento civil e religioso. Contrato de dois anos. Nenhum dos dois pode pedir o divórcio antes do prazo, exceto em casos de quebra de cláusulas. E, para deixar claro... — Gabriel ergueu os olhos, mirando-a — infidelidade não será tolerada.

Clara ergueu uma sobrancelha, cruzando os braços ainda mais apertados contra o peito.

— Que alívio saber que não precisarei dividir meu marido de mentirinha com suas... — ela fez uma pausa, olhando-o de cima a baixo, com ironia —... acompanhantes habituais.

O maxilar dele enrijeceu. Ela acertou em cheio.

— Isso não será um problema — ele respondeu, frio. — Uma vez casado, não terei... distrações.

Ela se aproximou lentamente da mesa, apoiando as mãos na borda de vidro.

— E eu espero o mesmo. A diferença é que... — Clara inclinou-se levemente, desafiadora —... eu não sou sua posse, Gabriel. Eu entro nisso com minhas próprias condições.

Ele se recostou na cadeira, cruzando os braços. Um sorriso enviesado curvou seus lábios.

— Estou ouvindo.

Ela respirou fundo. Sabia que aquele era o momento de cravar suas próprias regras.

— Liberdade profissional. — Ela contou nos dedos. — Não abro mão da minha empresa, dos meus projetos, nem das minhas escolhas. Nenhuma interferência sua.

Gabriel assentiu, lentamente.

— Aceitável... desde que sua agenda se ajuste aos compromissos sociais que exigem a presença da senhora Monteiro.

Ela ignorou a forma como ele pronunciou aquele título — como se já fosse uma realidade inevitável.

— Segundo. — Clara ergueu mais um dedo. — Nada de exigências sobre a minha vida pessoal. Você quer um contrato, não uma esposa real. Portanto, você não dita o que eu visto, com quem falo, nem onde estou... desde que, claro, isso não prejudique nossa imagem pública.

Gabriel apertou os lábios, como se estivesse avaliando cada palavra. Então respondeu:

— Desde que você compreenda que, em público, somos um casal. E um casal perfeito não dá margem para fofocas, nem para escândalos. Se houver... o contrato se quebra. — Ele a olhou nos olhos, firme. — Está disposta a sustentar essa fachada?

Ela segurou o queixo, olhando-o de volta.

— Perfeitamente.

— Então falta só uma coisa — Gabriel se levantou, contornando a mesa até parar a poucos centímetros dela. Alto, imponente, o cheiro amadeirado do seu perfume a envolvia, mas Clara não recuou. — Você precisa dizer sim. Aqui. Agora.

Ela apertou os olhos, lutando contra o turbilhão que se formava dentro dela.

Seu pai tinha destruído as finanças da família. Se ela não aceitasse, sua empresa, seus funcionários e até mesmo o nome da família Antunes iriam para o fundo do poço. Essa não era uma escolha. Era uma rendição... estratégica.

— Antes de eu dar qualquer resposta, Gabriel... — Ela ergueu o queixo. — Me responda uma coisa.

— Pergunte.

— Por que eu? — Sua voz não tremulou. — Entre tantas mulheres dispostas a te venerar, a te obedecer... por que escolher alguém que você sabe que não vai se curvar?

Ele sorriu. E, pela primeira vez, aquele sorriso não era apenas frio. Era... perigoso.

— Porque, Clara... — seus olhos deslizaram sobre ela, como se desnudassem mais do que sua aparência — mulheres que obedecem... me entediam.

Seu coração disparou.

Mas ela segurou o impacto. Respirou fundo. E, com toda a firmeza que ainda tinha, estendeu a mão.

— Então temos um acordo, senhor Monteiro.

Ele apertou sua mão, firme, olhando diretamente em seus olhos.

— Temos um acordo, senhorita Antunes.

O aperto de mãos que selou aquele contrato também selou um destino do qual nenhum dos dois sairia ileso.

Uma Aliança Perigosa

O silêncio dentro do carro contrastava brutalmente com o turbilhão que tomava conta da mente de Clara. Ela olhava pela janela enquanto os prédios luxuosos de Auriville deslizavam, refletindo o sol na vidraça, tão perfeitos e inatingíveis quanto o homem com quem acabara de assinar um contrato de casamento.

Seu telefone vibrou no colo.

“Bianca”, piscava na tela.

Ela respirou fundo antes de atender.

— E então? — a voz da melhor amiga soou do outro lado, ansiosa. — Você me deixou plantada a manhã inteira esperando. O que ele disse?

Clara fechou os olhos por um segundo, como se dissesse aquilo em voz alta tornasse tudo ainda mais real.

— Eu disse sim.

O silêncio do outro lado foi imediato. Depois, uma explosão:

— O quê? — Bianca quase gritou. — Você tá maluca, Clara? Por favor, me diz que é uma piada! Você… você aceitou casar com aquele... aquele... tirano de gravata?

Clara esfregou o rosto com a mão livre, exausta.

— Não é piada. É... necessário.

— Necessário é você respirar, pagar boletos, tomar café. Casar com o Gabriel Monteiro não é necessário, é insanidade! — Bianca parecia à beira de uma síncope. — Me explica, agora, como isso aconteceu.

— Se eu não fizesse isso, Bianca, perderíamos tudo. Meu pai quase destruiu os negócios da família. As dívidas são muito maiores do que eu imaginava. O banco já começou os processos. Isso não é só sobre mim. São meus funcionários, são as famílias que dependem da empresa...

— Você é incrível, Clara, mas às vezes me dá nos nervos esse seu senso de responsabilidade nível mártir. — Ela suspirou, mais calma. — E ele? Quais são as condições?

Clara fechou os olhos, a voz saindo amarga.

— Dois anos. Fingindo ser a esposa perfeita. Eventos sociais, aparências, nada de escândalos. E, claro, obediência, segundo o dicionário Gabriel Monteiro.

— Obediência? — Bianca arfou. — Ele só pode estar sonhando.

— Ah, ele vai aprender rápido que eu não sou mulher de coleira — respondeu, firme. — Eu impus as minhas cláusulas também. Liberdade profissional, vida pessoal fora do contrato e nada de interferências nas minhas escolhas.

— Isso é uma bomba-relógio. — Bianca resmungou. — Quando é que esse... casamento vai acontecer?

Clara mordeu o lábio inferior.

— Em duas semanas.

— Duas semanas?! — Bianca praticamente berrou. — Meu Deus... é sério que você vai ser a senhora Monteiro?

Ela olhou para sua própria mão, imaginando o peso que aquela aliança teria. Não era só ouro. Era uma corrente invisível.

— Sim... parece que sim.

◾ ◾ ◾

Do outro lado da cidade, na cobertura mais luxuosa de Auriville, Gabriel Monteiro servia-se de uísque, observando a linha do horizonte.

A porta se abriu sem cerimônia.

— Você só pode estar de brincadeira, Gabriel — Caio Torres, seu melhor amigo e sócio, jogou uma pasta sobre a mesa de vidro. — Casamento? Você ficou louco?

Gabriel levou o copo aos lábios, indiferente.

— Não é brincadeira. É estratégia.

— Você não acredita nem em namoro, cara. — Caio passou a mão nos cabelos, rindo sem humor. — E agora, do nada, me aparece com um contrato de casamento? Com a Clara Antunes, ainda por cima?

— Exatamente — respondeu, impassível.

Caio o encarou por alguns segundos, depois balançou a cabeça, rindo.

— É oficial. Você enlouqueceu. Ela te odeia, e você sabe disso.

Gabriel se virou, apoiando-se na bancada.

— E é exatamente por isso que vai funcionar. — Um meio sorriso frio apareceu nos lábios dele. — Clara é inteligente. Orgulhosa. Incapaz de fingir onde não quer. Se ela aceitou, é porque precisava tanto quanto eu. Isso a torna... previsível.

— Ou totalmente imprevisível. — Caio cruzou os braços, olhando o amigo com uma mistura de incredulidade e fascínio. — Isso vai explodir na sua cara, irmão. E vou estar aqui pra assistir.

Gabriel girou o copo nas mãos, olhando o reflexo âmbar do líquido.

— Eu não perco, Caio. Eu nunca perco.

Mas, no fundo, uma parte dele sabia que, dessa vez, o jogo era diferente.

E ela... era diferente.

A Primeira Aparição

Os flashes explodiam como fogos de artifício assim que Clara desceu do carro. O vestido branco — não de noiva, mas elegante, justo na medida certa, com fenda lateral — marcava seu corpo esguio. O salto alto fazia eco no piso de mármore da entrada do hotel mais luxuoso de Auriville.

Seu queixo erguido, a expressão inabalável e os olhos frios denunciavam uma verdade simples: Clara Antunes podia estar se vendendo, mas nunca se submeteria.

Ao lado dela, Gabriel Monteiro caminhava como um rei em seu próprio império. O terno preto sob medida realçava os ombros largos, a postura arrogante e aquela aura de domínio que fazia metade da cidade querer ser ele — e a outra metade, estar com ele.

Assim que chegaram à entrada do salão, as portas se abriram, revelando a alta sociedade de Auriville. Empresários, investidores, socialites, herdeiros... todos, absolutamente todos, pararam para olhar.

— Perfeitos demais para serem reais — sussurrou alguém no fundo.

— Ou perfeitos demais justamente porque é mentira — respondeu outra voz.

Clara ignorou. Ela estava acostumada com julgamentos. Mas agora... agora eles vinham em dobro.

Sentiu a mão de Gabriel pousar firme em sua cintura, como se quisesse lembrá-la — e lembrar a todos — que ela, a partir daquele momento, pertencia a ele. Pelo menos, aos olhos do mundo.

— Relaxe — ele disse em tom baixo, rouco, próximo ao ouvido dela. — Está se saindo melhor do que eu imaginei.

Ela virou o rosto, mantendo o sorriso social, mas seus olhos eram navalhas.

— Tire a mão, Gabriel — respondeu entre dentes. — Antes que eu quebre seus dedos. Isso não estava no contrato.

Ele sorriu, perigosamente.

— Está sim. Na cláusula invisível chamada "aparências impecáveis".

— Eu disse que fingiria ser sua esposa. Não sua propriedade.

— Então finja direito — retrucou, apertando levemente a cintura dela. — E sorria. Eles estão olhando.

Clara forçou um sorriso que, para qualquer um, parecia natural, mas por dentro queimava de raiva.

Gabriel conduziu-a até a mesa principal, cumprimentando aliados, investidores e algumas pessoas que ela conhecia de vista — e outras que ela preferia nunca ter visto.

Entre elas... Sabrina.

— Ora, ora — a voz doce, quase melosa, surgiu como um espinho na carne. — Que surpresa, Clara. Nunca imaginei que você fosse do tipo... submissa.

Clara virou-se lentamente, encontrando o sorriso venenoso da meia-irmã. Sabrina vestia um vestido vermelho justo demais, curto demais, claramente calculado para chamar atenção.

— E eu nunca imaginei que você fosse do tipo que é convidada — rebateu, seca.

Gabriel arqueou uma sobrancelha, mas não interferiu. Observava em silêncio, como quem assiste a uma luta prestes a começar.

— Achei que viesse parabenizar o casal — Sabrina piscou, falsa. — Mas sabe como é... certas alianças me surpreendem. Principalmente quando envolvem pessoas que, até ontem, diziam que jamais se curvariam a ninguém.

Clara sorriu, doce como veneno.

— E eu achei que você viesse parabenizar também. Afinal, alguém aqui precisa ensinar você o que é ser desejada de verdade, e não só... descartada depois.

O sorriso de Sabrina vacilou. Por um segundo, seus olhos faiscaram ódio.

Gabriel, até então calado, interveio, segurando Clara pela cintura, apertando de leve, como se a lembrasse do papel.

— Clara — sua voz era baixa, quase uma ordem velada —, não se rebaixe.

Ela apertou os olhos, respirou fundo e voltou a sorrir.

— Claro, querido — respondeu, irônica. — Afinal, estamos em uma noite... especial.

Eles se afastaram, deixando Sabrina com a expressão amarga.

Assim que chegaram a um canto mais reservado, Gabriel inclinou-se levemente, com aquele meio sorriso cínico.

— Você é uma caixinha de surpresas, Clara Antunes.

— E você, uma caixa cheia de problemas — rebateu, seca. — Mas fique tranquilo. Eu sei jogar esse jogo tão bem quanto você.

— Ótimo. Porque estamos só começando.

Os dois se encararam, e naquele olhar havia tudo — guerra, desejo, raiva e... talvez, só talvez, uma faísca de algo que nenhum dos dois estava preparado para enfrentar.

— Estamos só começando, é? — Clara cruzou os braços, levantando o queixo em desafio. — Pois saiba, Gabriel, que eu não sou uma peça do seu tabuleiro.

Ele deu um passo para mais perto, tão perto que ela quase sentiu o calor do corpo dele. Seus olhos escuros desceram dos olhos dela para os lábios, por apenas um segundo, antes de voltar a encará-la com aquele olhar carregado de domínio.

— Não é? — Sua voz ficou rouca, baixa, perigosa. — Então me diga, Clara... o que exatamente você acha que é, nesse jogo?

Ela apertou os punhos, respirando fundo.

— Eu sou a única peça que você não consegue controlar. — Seus olhos queimavam. — E sugiro que se acostume com isso.

Gabriel sorriu, lento, inclinado para ela como quem aprecia um bom desafio.

— Veremos.

Antes que Clara pudesse responder, foram interrompidos por um fotógrafo da imprensa, acompanhado de uma repórter empolgada.

— Sr. Monteiro! Srta. Antunes! Uma foto, por favor! — Ela praticamente se jogou na frente dos dois, com o microfone já preparado. — O casal mais comentado de Auriville esta noite. Podemos fazer algumas perguntas rápidas?

Gabriel assumiu o comando instantaneamente, o sorriso perfeitamente calculado no rosto.

— Claro. — Ele passou novamente o braço na cintura de Clara, que respirou fundo, lutando contra o impulso de se afastar. — Estamos felizes em compartilhar esse momento com vocês.

— Que notícia surpreendente! — A repórter sorriu. — Afinal, até poucos meses atrás, vocês nem eram vistos juntos. Como... aconteceu?

Clara abriu a boca para responder, mas Gabriel foi mais rápido.

— O amor, às vezes, acontece onde menos esperamos — disse ele, olhando diretamente para Clara, com aquele olhar tão intenso que poderia queimar. — A vida tem formas curiosas de nos surpreender.

Ela mordeu a língua para não revirar os olhos. Amor, é? Hipócrita.

— De fato — completou, forçando um sorriso doce, embora venenoso. — E às vezes, o destino coloca no nosso caminho exatamente aquilo que não sabíamos que precisávamos.

Gabriel apertou um pouco mais sua cintura, dessa vez sem aviso, como se dissesse: jogue o jogo, Clara, ou será engolida por ele.

— E os planos para o casamento? — perguntou a repórter. — Já temos uma data?

— Duas semanas — respondeu Gabriel, sorrindo. — Estamos ansiosos para celebrar esse momento com todos que fazem parte da nossa história.

Clara apertou os dentes. A naturalidade com que ele mentia era assustadora. Ou talvez... ela que precisasse aprender a mentir tão bem quanto.

— E sobre filhos? — A repórter sorriu, atrevida. — Está nos planos?

Gabriel respondeu imediatamente, com aquele tom controlado e calculado:

— Cada coisa no seu tempo.

Clara, por sua vez, sorriu com mais malícia do que pretendia:

— Afinal, ele ainda está em fase de treinamento — respondeu, olhando diretamente para o CEO como quem lança um desafio público.

O fotógrafo riu, a repórter também, achando que era uma brincadeira de casal apaixonado. Gabriel, porém, apertou ainda mais sua cintura, dessa vez não havia mais só domínio... havia fogo. Perigo. E algo que nem ele conseguia mais fingir que não estava ali.

— Você adora brincar com fogo, não é? — sussurrou ele, baixo, junto ao ouvido dela, enquanto os flashes seguiam.

— E você adora achar que pode apagar — respondeu, mantendo o sorriso para as câmeras.

Assim que os jornalistas se afastaram, Clara tentou soltar-se, mas Gabriel segurou seu braço com firmeza, puxando-a para um canto mais reservado, longe dos olhares.

— Deixe uma coisa muito clara, Clara — sua voz estava mais rouca, mais grave. — Quando aceitei esse contrato, não estava preparado para lidar com sua língua afiada.

Ela ergueu uma sobrancelha, desafiadora.

— E eu não estava preparada para lidar com sua arrogância. — Deu um passo para mais perto, ficando tão próxima que podia sentir o cheiro amadeirado do perfume dele, forte, viciante, irritantemente sedutor. — Mas aqui estamos.

Por um segundo, o ar entre eles ficou pesado. As palavras sumiram. Havia apenas aquele silêncio carregado, onde qualquer movimento poderia resultar em... guerra.

Ou em algo muito mais perigoso.

Gabriel olhou para ela, para a boca dela, depois para os olhos novamente, como se estivesse lutando contra algo dentro de si. E, pela primeira vez, Clara percebeu que ele não era tão impenetrável quanto gostava de fingir.

— Cuide-se, Clara — disse, finalmente, em tom baixo, quase uma ameaça. — Porque você não faz ideia do que começou.

Ele então soltou seu braço, deixando-a ali, sozinha, tentando controlar o próprio coração que, traidoramente, batia mais rápido do que deveria.

E ela odiava isso.

Odiava com cada célula do seu corpo.

Mas, talvez... só talvez... já fosse tarde demais para voltar atrás.

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