SOBRE A AUTORA
Keitlin Raiane, sob o pseudônimo de Angelinna Fagundes, encanta com suas histórias sensíveis e cheias de imaginação. Escritora, esposa e mãe de uma filha, Keitlin nasceu em Palmeira – Paraná e, desde 2015, vive na zona rural de São João do Triunfo, na comunidade de Boa Vista, onde encontrou paz para dar vida às suas ideias.
Angelinna e Keitlin são duas facetas de uma mesma autora apaixonada por criar mundos. Escrevendo há anos, agora decidiu compartilhar seus plots com o mundo. Apaixonada por histórias com suspense, ação, romance e emoção, ela escreve com o coração. E quando não está com o caderno ou o computador na mão, está cuidando com doçura da família que tanto ama.
Sinopse:
Isadora sempre foi o retrato da obediência e da discrição. Criada numa fazenda tradicionalista do interior do Rio Grande do Sul, aprendeu cedo que amor era sacrifício e silêncio. Mas tudo muda quando três homens cruzam seu caminho — cada um trazendo uma nova forma de sentir, desejar e desafiar. Enquanto vive intensas relações com eles, Isadora precisa enfrentar o preconceito da comunidade, os segredos enterrados da sua família e, acima de tudo, suas próprias amarras.
Entre o estábulo, os campos e as noites quentes do Sul, ela descobrirá que o amor não cabe em moldes antigos — e nem ela.
Prólogo — A Maldição do Desejo
Dizem que certas mulheres nascem para obedecer. Outras, para seduzir.
Eu nasci para destruir tudo que tocar.
Meu nome é Isadora Valente. Herdeira de uma tradição podre, onde honra era sinônimo de silêncio e vergonha era passada como herança. Cresci em meio ao cheiro de esterco, ao barulho das botas no chão de madeira e às ordens cuspidas com dureza pelos homens da minha família. Eles mandavam. Nós obedecíamos. Sempre foi assim.
Até que eu voltei.
Sete anos longe da fazenda me ensinaram duas coisas:
Primeiro, que fugir nunca é o bastante quando os fantasmas moram dentro de você.
E segundo... que o desejo não escolhe a forma certa de acontecer.
Eu amei três homens ao mesmo tempo.
Vicente, o homem do passado, que carrega meu primeiro suspiro de revolta e minha última lembrança de pureza.
Leandro, o forasteiro racional, que usa a mente como arma, mas treme quando me toco.
Ian, o bastardo selvagem, que chegou como um vendaval e me despiu com os olhos antes mesmo de me conhecer.
Na cidade pequena onde o pecado tem nome e endereço, meu nome virou maldição.
“Isadora Valente, a que desonrou o sangue.”
Mas ninguém sabe o que vivi.
Ninguém viu o que senti quando fui tocada por três almas que me libertaram das correntes invisíveis.
Ninguém entende que amar mais de um homem pode ser o único jeito de amar por inteiro.
Este livro não é sobre uma mulher indecisa.
É sobre uma mulher decidida demais para viver metade da vida.
E se eu tiver que pagar o preço por querer tudo...
Então que venha o fogo.
Porque eu já ardi antes — e sobrevivi.
Capítulo 1 — O Retorno à Estância
O barulho das rodas do ônibus se misturava ao som abafado do motor enquanto Isadora observava o horizonte dourado do entardecer gaúcho. O céu era um espetáculo de cores — laranja queimado, rosa suave e azul profundo. Ela inspirou fundo, sentindo o cheiro familiar de terra molhada e feno, que parecia trazer de volta cada lembrança da infância, cada silêncio imposto, cada ordem jamais questionada.
Ela estava de volta à Estância Valente, a fazenda da família, após quase sete anos longe.
Aos vinte e cinco anos, Isadora retornava diferente. Carregava marcas que não se viam nos olhos dos outros, cicatrizes internas que a cidade grande acentuou, mas também fortaleceu. Já não era mais a garota que abaixava a cabeça diante do pai ou que engolia o choro no silêncio do quarto. Tinha voltado para cuidar da avó doente — pelo menos era o que dizia para si mesma —, mas no fundo sabia que enfrentaria algo maior: o próprio passado.
Assim que desceu do ônibus, sentiu o vento frio bater no rosto e, com ele, o cheiro da liberdade misturado ao medo. Um Jeep antigo estacionado próximo à cerca de arame farpado a aguardava. E junto dele, ele.
— Sempre pontual, Isa — disse a voz grave e rouca que a fazia estremecer por dentro.
Era Vicente, o peão de confiança do seu avô. Agora com trinta e poucos anos, continuava com o mesmo olhar firme, o chapéu surrado na cabeça e a camisa aberta no peito queimado de sol. Mas havia algo de diferente nele — um brilho contido, uma tensão no maxilar, como se o tempo tivesse lhe endurecido mais ainda a alma.
— Sempre foi bom com relógios, Vicente — ela respondeu, forçando um sorriso.
O caminho até a sede da fazenda foi silencioso. Apenas o som dos pneus sobre o cascalho e o uivo do vento entre os pinheiros. O portão da entrada estava enferrujado, mas ainda ostentava as letras em ferro: Estância Valente — Desde 1894.
— A casa continua igual — comentou ela, descendo do c arro e olhando para a fachada de madeira branca.
— E com os mesmos fantasmas — ele respondeu, jogando a mala dela no chão da varanda.
Dentro da casa, o cheiro de bolor e lavanda tomava conta. Dona Elza, a avó, estava sentada em sua poltrona de lã tricotada, os olhos meio perdidos, os dedos entrelaçados no colo. Ao vê-la, abriu um sorriso quase infantil.
— Minha menina... — sussurrou. — Voltou.
Isadora se ajoelhou e abraçou a avó com força, o coração apertado.
— Eu prometo que vou cuidar da senhora — disse, com voz embargada. — Agora é só a gente.
Mas a verdade era outra. A fazenda não pertencia mais só à avó ou ao pai — que estava preso há dois anos por fraude e corrupção. Ela agora era dividida entre sócios silenciosos que seu pai fizera às pressas, tentando salvar o que restava da honra da família. E entre esses sócios, surgiriam os outros dois homens que mudariam a vida de Isadora.
Na manhã seguinte, Isadora saiu cedo para caminhar pelos campos. Vestia jeans, botas de montaria e uma blusa de lã cinza que moldava suas curvas. O ar frio cortava o rosto, mas o sol aquecia devagar. O som dos cavalos ao longe, o mugido do gado e o vento soprando entre os milharais formavam a sinfonia do seu passado.
Foi perto do celeiro que o segundo homem apareceu.
— Cuidado com o arame — disse uma voz firme e educada.
Isadora olhou para o lado e viu um homem alto, de cabelo castanho claro preso em um coque, barba bem feita e óculos escuros. Vestia uma camisa de flanela aberta sobre uma camiseta branca e carregava livros embaixo do braço.
— Você é? — ela perguntou, franzindo o cenho.
— Leandro. Novo administrador da parte agrícola. Vim de Santa Maria. Sou engenheiro agrônomo... e agora sócio da propriedade.
Isadora sentiu a raiva subir. Mais um estranho se metendo na história da sua família?
— Engenheiro com livros na mão e botas limpas... — ela provocou. — Não deve durar muito por aqui.
Ele sorriu de canto, desarmado.
— Gosto de trabalhar com as mãos... mas também com a cabeça. E nem todo gaúcho precisa de barro até os joelhos pra provar que é homem.
A resposta a pegou desprevenida. E, por um instante, ela viu ali algo perigoso: um homem que sabia se defender com palavras, e que não abaixaria a cabeça facilmente.
O terceiro encontro aconteceu à noite.
Ela saía do banho quando ouviu um barulho vindo do estábulo. Pegou uma lanterna, vestiu o casaco e foi até lá. O frio era cortante, e a escuridão se estendia como um véu espesso.
No meio do breu, uma figura surgiu, encostada em um dos cavalos. Alto, musculoso, pele bronzeada. Tatuagens subiam pelo pescoço e sumiam sob a camisa preta justa.
— Você não deveria andar sozinha por aqui, moça da cidade — disse ele com um sotaque misto de fronteira.
— Você quem é? — ela perguntou, firme.
Ele não respondeu. Deu dois passos à frente e a luz da lanterna revelou seus olhos escuros, intensos como tempestade.
— Sou o que seu pai tentou esconder. O sócio indesejado. O bastardo da fronteira.
Isadora prendeu a respiração.
— Ian. É assim que me chamam. — Ele sorriu, mostrando um dente de ouro. — Mas você pode me chamar do que quiser... desde que seja de novo.
Ela deveria ter virado as costas, chamado alguém, gritado. Mas ficou ali, encarando aquele estranho que exalava perigo e desejo. Algo nela estremecia — e não era só o frio.
Naquela noite, deitada na antiga cama de madeira que rangia ao menor movimento, Isadora encarava o teto escuro. Seu corpo ainda sentia os olhares deles, os três. Vicente, Leandro e Ian. Tão diferentes, tão intensos. Tão... certos de si.
E ela? Ela era apenas uma mulher tentando sobreviver em meio ao caos familiar, aos julgamentos de uma cidade pequena e ao desejo crescente por três homens que jamais deveriam estar no mesmo terreno, muito menos no mesmo coração.
Mas ali, entre cercas e silêncios, a ordem natural das coisas estava prestes a ser rompida.
E Isadora estava disposta a queimar no fogo, se fosse preciso.
Sementes do Escândalo
O sol mal havia subido quando Isadora desceu para a cozinha da casa principal. O cheiro do café fresco misturava-se ao de pão de milho e fumaça da lenha que queimava no fogão antigo. A avó ainda dormia, e a casa parecia respirar sozinha, como um organismo antigo, acostumado com o silêncio.
Isadora vestia um vestido simples de algodão com botões até o colo. Os cabelos, soltos, caíam pelas costas com naturalidade, e os pés descalços deslizavam pelo piso frio como se pertencessem àquela casa desde sempre.
Mas ela sabia que não pertencia mais.
Assim que saiu para o pátio, viu Vicente encostado no curral, cigarro entre os dedos e olhar cravado no horizonte. O vento brincava com a barra de sua camisa aberta e revelava os músculos marcados pelo trabalho no campo.
— Está sempre de pé antes das galinhas? — ela perguntou, tentando soar leve.
Ele deu uma tragada longa antes de responder.
— Alguém precisa cuidar do que teu pai largou pra trás.
A frase caiu como uma bofetada.
Isadora sentiu o estômago revirar, mas não respondeu. Sabia que Vicente nunca engolira o que o pai dela fez — as dívidas, os sócios obscuros, a prisão. Mas a culpa não era dela. E ele sabia disso.
— Estou aqui agora — ela murmurou. — Posso ajudar.
Ele se virou para encará-la. Seus olhos castanhos escuros a percorreram de cima a baixo, lentamente, como se pesassem cada curva, cada detalhe, cada suspiro.
— Cuidar de uma fazenda não é como cuidar de um apartamento na capital — ele provocou. — Aqui se suja as mãos... e a alma.
— Já vi minha alma mais suja do que você imagina — ela respondeu, firme.
Houve um silêncio tenso entre eles, cortado apenas pelo mugido de uma vaca ao longe. Vicente apagou o cigarro no calcanhar da bota e saiu andando sem dizer mais nada.
Na estufa, Leandro explicava para os funcionários sobre novas técnicas de irrigação. Seu jeito calmo e articulado contrastava com a rigidez dos outros homens. Ele falava como quem sabia o que dizia — e isso irritava profundamente os mais antigos.
Isadora chegou no meio da explicação. Ele sorriu ao vê-la.
— Veio aprender sobre gotejamento? — perguntou com bom humor.
— Vim ver o que está fazendo com o que sobrou da nossa lavoura — respondeu ela, seca.
Leandro nem se abalou. Continuou mostrando dados, plantas e mapas, até que ficaram sozinhos.
— Você tem medo de mim, Isadora?
— Medo? — ela arqueou uma sobrancelha.
— Sim. Você chega sempre com as garras afiadas, como se precisasse se proteger o tempo todo. Não sou seu inimigo.
Ela cruzou os braços, sentindo o peito apertar. O jeito com que ele a olhava... como se lesse através dela.
— Não estou aqui para fazer amigos — respondeu.
— Nem amantes?
A pergunta ficou suspensa no ar como uma bomba prestes a explodir. Isadora virou-se sem responder, mas sentiu o sangue pulsando nas têmporas.
Ele estava testando limites. E ela... estava gostando.
Na cidade, os olhares não foram diferentes do que esperava.
Ela foi à farmácia comprar remédios para a avó e, ao entrar, o sino na porta anunciou sua chegada como um grito. As conversas cessaram. Três mulheres próximas ao balcão a observaram com olhos estreitos, sussurrando entre si.
— Aquela é a filha do corrupto? — disse uma.
— Dizem que se envolveu com um professor casado lá na capital... — comentou outra.
— Imagina o que vai aprontar por aqui agora... — completou a terceira.
Isadora manteve a cabeça erguida, mas por dentro seu estômago se revirava.
Na saída, encontrou Ian encostado numa moto preta, chupando um picolé de uva com desprezo evidente no olhar.
— Bem-vinda de volta ao paraíso — ele ironizou.
— Isso aqui está mais para inferno — ela murmurou, irritada.
Ele riu, se aproximando com passos lentos, predadores.
— Infernos costumam ser mais divertidos.
Ficaram a poucos centímetros um do outro. O calor que emanava de Ian era diferente — sexual, crasso, bruto. Ele era caos. E ela sabia que se encostasse nele... queimaria.
Mas, por alguma razão, ela não se afastou.
— Me disseram que você tem sangue sujo — ela provocou.
— Todo sangue fica sujo depois de tocar o seu — ele sussurrou, os olhos cravados nos lábios dela.
Ela engoliu seco.
— Você me deseja?
Ele sorriu de lado.
— Não. Desejo destruir você... devagar.
À noite, Isadora não conseguia dormir. O quarto parecia apertado demais. Cada sombra parecia sussurrar seu nome. E seu corpo... seu corpo estava em brasa.
Levantou, saiu em silêncio, e foi até o lago atrás da casa. A água refletia a lua cheia e o silêncio da madrugada fazia tudo parecer mais intenso. Tirou o vestido, peça por peça, ficando apenas com a calcinha rendada. Entrou na água gelada com um arrepio que não vinha só da temperatura.
A poucos metros dali, entre as árvores, três pares de olhos a observavam — cada um por acaso, ou por instinto.
Vicente a viu primeiro, e mordeu o lábio ao vê-la mergulhar.
Leandro, de um ponto mais alto, observava em silêncio, com um desejo velado no rosto.
Ian, deitado na relva, sorria como um predador prestes a atacar.
E Isadora, no centro de tudo, flutuava na água escura como uma oferenda aos deuses errados.
Sabia que estava sendo observada. Sabia o que causava neles.
E pela primeira vez na vida... gostava da sensação de ser o fogo.
De ser a maldição.
De ser, finalmente, dona de si.
Marcas Que Nunca Cicatrizam
O cheiro de terra molhada anunciava a aproximação da chuva, mas o céu ainda segurava as lágrimas. Isadora observava da varanda os campos dourados pelo fim do verão, o vestido leve balançando com o vento. Estava inquieta. Desde aquela noite no lago, algo nela havia mudado — ou talvez só tivesse despertado o que sempre esteve ali.
Vicente.
O nome ecoava como um pecado guardado sob sete chaves.
Ele foi seu primeiro tudo.
Primeiro beijo.
Primeira rebeldia.
Primeiro homem que a viu... realmente viu.
E também o primeiro que a fez sangrar por dentro.
Ela se afastou depois do escândalo do pai, depois que tudo desmoronou. Mas Vicente ficou. Ficou com o fardo, com a terra, com a mágoa.
Com a lembrança do corpo dela sob o dele, jurando amor eterno num estábulo mal iluminado.
Ela sabia que ele a odiava por tê-lo deixado.
Mas também sabia que o desejo dele não havia morrido. Nem o dela.
No final da tarde, decidiu ajudar nos currais. Queria ver Vicente, mesmo sem admitir para si mesma.
Ele estava de costas, camisa branca grudada ao corpo suado, cuidando de um bezerro recém-nascido. Quando se virou e a viu de botas, calça jeans justa e uma camiseta amarrada na cintura, a expressão dele endureceu.
— Você não precisa se meter aqui. Vai acabar sujando as mãos — disse, ríspido.
— E se for isso que eu quero?
Vicente arqueou uma sobrancelha. O olhar dele deslizou pelas curvas dela como uma carícia invisível.
— Cuidado, Isadora. Tem coisa que, quando a gente toca, não dá mais pra largar.
Ela avançou, ousada, parando diante dele. Os olhos verdes dela queimavam.
— E tem coisa que, se a gente não tocar, apodrece dentro da gente.
O silêncio entre eles era feito de respiração pesada e lembranças. Vicente deu um passo à frente, tão próximo que o calor dele invadiu a pele dela.
— Por que voltou?
— Porque a fazenda é minha também.
— Mentira. Você voltou por mim.
A frase caiu entre eles como trovão. Ela estremeceu.
— Você não sabe de nada.
— Sei. Sei que nenhuma noite sua foi inteira depois que você foi embora. Sei que o gosto da minha pele ainda vive na tua boca.
Ele roçou os dedos na cintura dela. Só um toque, mas fez Isadora prender a respiração.
— Vicente...
— Diz que não quer — ele sussurrou. — Só diz.
Ela abriu a boca. Quis negar. Quis jogar palavras duras e cortar o clima como sempre fazia. Mas não havia força pra mentira. E o corpo dela já dizia tudo.
Então ele a beijou.
Sem aviso, sem permissão. Um beijo bruto, de raiva, saudade e desejo. O corpo dela foi contra o dele com força. As mãos de Vicente apertaram sua cintura, colando os dois como peças que nunca deviam ter sido separadas.
Ela gemeu entre os lábios dele. Era como voltar no tempo e ao mesmo tempo descobrir algo novo. O gosto dele... quente, urgente, viciante.
Ele a ergueu pela cintura, a colocando sobre um monte de feno seco. As mãos dele desceram pelas pernas dela, abrindo caminho por dentro da calça apertada.
— Não temos tempo — ela sussurrou, arfando.
— A gente teve sete anos roubados. Eu vou tirar tudo de volta — ele respondeu, com a voz rouca.
O zíper foi aberto. A calcinha puxada de lado. E então ela sentiu a pressão dele contra si, o membro rígido roçando a entrada do seu corpo, a respiração pesada nos ouvidos.
O primeiro impulso foi de recusar. Mas o segundo... o segundo foi de abrir as pernas e se entregar.
Ele a penetrou com força, e ela soltou um gemido que ecoou no estábulo vazio. Era rude, cru, sem amarras. Mas era verdadeiro. Cada estocada era um grito de saudade que o tempo não apagou.
Isadora agarrava os ombros dele, arranhando a pele enquanto o sentia invadir seu corpo e desestabilizar sua alma. As bocas se chocavam entre beijos e mordidas. E quando ela explodiu em prazer, gritando o nome dele, soube que estava perdida de novo.
Vicente gozou logo depois, enterrando o rosto no pescoço dela, mordendo de leve como se quisesse marcar território.
— Isso não vai acontecer de novo — ela sussurrou, ainda tremendo.
Ele levantou a cabeça, os olhos escuros e intensos.
— Vai, sim. Porque você é minha. Sempre foi.
Ela voltou para casa com as pernas bambas e a alma em conflito.
Tomou banho, se vestiu e tentou ignorar a sensação de ser observada. Mas no espelho do corredor, havia um bilhete preso com um alfinete. Escrito à mão, em letras firmes:
“Algumas verdades nunca devem ser desenterradas. — V.”
Mas ela reconheceria aquela letra em qualquer lugar.
Não era de Vicente.
Era do pai.
E ele estava morto.
Ou... não?
Sinais Queimam Mais que Palavras
O bilhete ainda tremia entre os dedos de Isadora. A letra era clara, firme, com traços que ela reconheceria mesmo de olhos fechados — do pai. Mas como aquilo era possível? Ele estava morto. Ela viu o caixão descer à terra. Chorou sobre aquela cova. Sentiu o peso da perda como ferro quente em seu peito.
Mas ali estava a mensagem.
“Algumas verdades nunca devem ser desenterradas.”
A dúvida latejava como uma ferida aberta. E o mais estranho: a assinatura embaixo, um “V” solitário, a fazia estremecer. Vicente? Teria ele encontrado algo do pai e deixado para provocá-la? Para lembrá-la de que o passado não dorme, apenas esperar.
Com o coração disparado, ela saiu para o campo. Precisava respirar. Precisava fugir da pressão daquela casa, daquela cama ainda marcada pela lembrança do corpo de Vicente, das mãos firmes, do prazer selvagem que ainda palpitava entre as coxas.
Foi então que o destino decidiu brincar com ela de novo.
- Está fugindo de alguém ou de si mesma? — a voz de Leandro veio suave, carregada de um sarcasmo elegante, enquanto ele se aproximava montado em um cavalo negro, imponente como ele.
Isadora parou no meio do caminho de terra batida. A camisa dele estava aberta nos primeiros botões, revelando parte do peito bronzeado. O olhar, sempre calculado, parecia mais... interessado.
— Talvez das duas coisas — respondeu, com um meio sorriso. — Mas não esperava te ver tão cedo. Achei que os forasteiros dormissem até tarde.
— Só quando a noite é mal dormida — ele rebateu, desmontando com uma elegância irritante. — E a última foi... inquietante.
Ela o encarou, desconfiada. Havia um tom escondido ali, como se ele soubesse de mais do que devia.
— Inquietante por quê?
— Porque sons se espalham, Isadora. E estábulo não é tão longe da casa.
Ela sentiu o estômago afundar. Será que ele tinha ouvido? Visto?
— Cuidado com o que diz — retrucou, firme.
Leandro sorriu de lado, aproximando-se. O cheiro dele era fresco, com um toque amadeirado. Quando parou diante dela, sua presença era como sombra e luz ao mesmo tempo.
— Cuidado você — murmurou. — Vicente não é o único homem nessa fazenda com sangue nas veias. Ou com desejos.
Isadora sentiu o ar se comprimir nos pulmões. A proximidade dele mexia com ela. Era diferente de Vicente — mais contida, mais cerebral. Mas havia algo magnético em Leandro. Um perigo que não se mostrava logo, mas que crescia em silêncio.
— Você não é daqui — ela disse. — Não sabe do que está falando.
— Talvez eu saiba mais do que imagina — ele rebateu, entregando algo que tirou do bolso da calça jeans. Um papel dobrado. Outro bilhete.
Ela arregalou os olhos. A caligrafia... a mesma.
— Encontrei isso na cela antiga, perto do galpão. Estava escondido sob uma tábua solta — disse, sem tirar os olhos dela. — Quem está brincando com a sua cabeça, Isadora?
Ela pegou o papel, tremendo.
“Nem tudo que morre, descansa.”
De repente, um som de passos apressados cortou o momento. Ian surgiu, ofegante, com os olhos faiscando.
— Que porra é essa? — rosnou, olhando de Leandro para Isadora como um animal acuado. — O que vocês estão fazendo aqui, sozinhos?
— Conversando — Leandro respondeu, frio como sempre.
— E você sempre conversa tão perto assim? — Ian se virou para Isadora. — E você? O Vicente não foi o suficiente? Vai brincar com todos agora?
O tapa foi automático. Isadora não pensou. Só sentiu a raiva, a humilhação. O som seco da mão dela contra o rosto dele ecoou no campo aberto.
— Você não tem esse direito! — ela gritou. — Eu sou livre. Posso estar com quem eu quiser.
Ian a encarou, tocando o rosto. Os olhos dele estavam cheios de mágoa, mas também de algo mais profundo. Um ciúme irracional. Uma dor antiga.
— Não é isso... — ele murmurou. — Você é diferente, Isadora. Você não é como elas...
— Como elas? — ela cuspiu. — Eu não sou nada que você pense. E se estou aqui é porque tenho direito. Porque essa terra também é minha. Porque essa história também me pertence.
Ian a puxou pelo braço, sem força, mas com firmeza. Os olhos dele estavam marejados.
— Você não sabe o que é viver aqui. O que foi viver com seu pai... com o que ele fez com a gente.
— Então me conte, Ian. Porque eu estou cansada de segredos.
O silêncio caiu. Leandro os observava, braços cruzados, olhos atentos. Isadora sentia o coração disparar. Estava entre dois mundos. Dois homens. Três, se contasse Vicente. E nenhum deles estava em paz.
Mais tarde, ao entardecer, ela decidiu tomar um banho no lago. Precisava de silêncio. De ar. De afastar tudo.
Mergulhou nua, sem pensar duas vezes. A água gelada cortou sua pele, despertando os sentidos. Fechou os olhos, flutuando.
— Bela visão — disse uma voz masculina à margem.
Ela se assustou, virando-se.
Era Leandro.
— Você me seguiu?
— Não — respondeu, tirando a camisa devagar. — Mas não vou embora agora.
Antes que ela pudesse protestar, ele mergulhou. Quando emergiu, os olhos estavam cravados nela.
— O que você quer, Leandro?
Ele se aproximou, até que seus corpos se tocassem levemente sob a água.
— Quero entender por que você me tira o sono.
Ela sorriu, amarga.
— Talvez porque eu seja problema.
— Gosto de problemas — sussurrou, encostando a testa na dela. — E gosto de você.
O beijo veio como tempestade. Diferente do de Vicente. Leandro era controle. Era precisão. Os lábios dele exploravam os dela como quem desenha um mapa. As mãos a envolviam com calma, mas firmeza. Quando ele a agarrou pela cintura, fazendo os corpos se unirem sob a água, Isadora gemeu entre os dentes dele.
Não houve pressa. Só intensidade. As estocadas dentro dela eram profundas, ritmadas. E quando os dois chegaram juntos ao clímax, em meio ao brilho da lua no espelho d’água, souberam que nada seria igual depois daquilo.
Mais tarde, sozinha, Isadora chorou. Chorou de raiva, de confusão, de desejo. Chorou porque sentia estar despedaçando a si mesma entre três homens. Chorou porque algo nela dizia que todos eles estavam conectados... com um segredo que seu pai jurou levar para o túmulo.
Mas o túmulo estava começando a falar.
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