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A Família do Magnata

Capítulo 1

Oriana estava sentada na borda da cama de linho marfim, observando o relógio de parede marcar 02h17 da madrugada. A luz do abajur era suave, projetando sombras douradas sobre os lençóis impecáveis que permaneciam intocados do lado de Noam. O silêncio da casa era absoluto, interrompido apenas pelo leve tique-taque, que parecia zombar da paciência dela.

Ele não voltou.

Mais uma vez.

Respirou fundo, tentando conter o nó que ameaçava subir pela garganta. Ela já não sabia se sentia raiva, tristeza ou apenas… cansaço.

Três anos.

Três longos anos de um casamento desenhado em cláusulas, tabelas e obrigações. Quando disseram sim no altar rodeado de magnatas, políticos e flashes, não havia promessas de amor eterno. Apenas um contrato com validade definida e obrigações bem delineadas: presença em eventos, união familiar e, acima de tudo, discrição.

Mas o que nenhuma cláusula previa era o que aconteceria se ela se apaixonasse.

E aconteceu. Lentamente. Nos gestos de cuidado com o filho, nos olhares silenciosos durante as madrugadas de febre infantil, nas raras noites em que Noam se despia — não das roupas de grife, mas da máscara que usava com o mundo. Nessas frestas, Oriana viu o homem por trás do magnata. E foi ali que tudo se complicou.

Agora, ela estava sozinha. O filho dormia no quarto ao lado, embalado por sonhos de criança. E Noam? Estava em uma festa, cercado por gente que ela não suportava e, pior, ao lado de uma mulher que ela conhecia bem demais.

Serena Alencar.

A ex que havia sumido por anos e, como em uma ironia cruel, retornara exatamente no momento em que Oriana mais precisava de estabilidade. A notícia da chegada de Serena correu pelas colunas sociais como um furacão. Empresária, deslumbrante, ligada ao passado de Noam como uma tatuagem mal removida.

Ela não precisava de explicações para entender o que aquela presença despertava na mídia — e nela.

Seu celular vibrou.

Mensagem: Beatriz – 02h19

“Vi agora nas redes… você viu? Ele chegou com ela. Pareciam íntimos. Você tá bem?”

Ela não respondeu. Não podia. A humilhação latejava devagar, como uma faca enterrada com cuidado, só para prolongar a dor.

Noam não era infiel. Ela acreditava nisso. Nunca encontrara provas, e mesmo com todas as ausências, ele sempre fora cuidadoso. Mas aquela foto… os dois entrando juntos no evento, ele sorrindo daquele jeito quase despreocupado, Serena com a mão no braço dele… era mais do que uma imagem. Era uma sentença.

E o pior de tudo: ela não podia nem cobrar explicações. O casamento era, oficialmente, uma parceria. Não havia cláusulas sobre fidelidade emocional.

O som da porta principal destravou.

Ela se levantou, sentindo os pés frios tocarem o chão de madeira enquanto o coração acelerava. Passos firmes atravessaram o corredor. A chave sendo deixada sobre o aparador. O casaco sendo pendurado com precisão. Tudo no estilo de Noam — calculado, silencioso, impenetrável.

Quando ele entrou no quarto, o choque entre os dois mundos foi inevitável.

Ela, de camisola de seda azul, cabelos presos em um coque desalinhado, olhos vermelhos de cansaço.

Ele, em um terno escuro impecável, a gravata frouxa no pescoço, o rosto levemente marcado pela noite longa.

— Achei que já estaria dormindo — disse ele, com a voz baixa.

— Você acha muitas coisas, Noam. A maioria erradas.

Ele franziu o cenho. Não esperava o tom. Também não esperava os olhos dela firmes, sem lágrimas, sem drama. Apenas exaustos.

— Vai começar agora? É tarde, Oriana.

— Tarde? — ela deu um passo à frente. — Não é tarde para uma festa, mas é tarde demais pra mim?

Ele suspirou, desviando o olhar. Oriana viu, pela primeira vez em semanas, um lampejo de desconforto verdadeiro.

— Eu fui a um evento de negócios. Serena estava lá. Não foi planejado. Você sabe como essas coisas funcionam.

— E a foto de vocês entrando juntos? Isso também foi um acidente?

Silêncio.

O tipo de silêncio que carrega mais verdades do que qualquer palavra.

— Não houve nada — ele disse, finalmente. — Você sabe que eu não faria isso.

Ela queria acreditar. Mas o problema não era a traição física — era o quanto aquilo a fazia sentir pequena. Como se fosse substituível. Como se fosse invisível.

— Você nunca me traiu com outra mulher, Noam. Mas me traiu com todas as vezes que me deixou sozinha nesse casamento.

Me traiu com todas as festas onde você era o magnata sorridente e eu, apenas o acessório elegante.

Me traiu com a sua indiferença.

Ele a encarou, os olhos escuros sem as defesas usuais. Ali havia algo. Um arrependimento que ele não sabia verbalizar.

— Eu nunca soube ser marido — ele confessou. — Eu cumpri minha parte do acordo. Fui um bom pai. Fui presente em tudo que era exigido.

— Mas nunca esteve aqui — ela colocou a mão no peito. — Nunca foi meu.

Noam não respondeu. Apenas a observou, como se estivesse vendo-a pela primeira vez. Não como a esposa contratual, mas como a mulher que ficou para trás em meio a tudo o que ele quis conquistar.

E, talvez, estivesse finalmente percebendo o preço de tudo isso.

Oriana fechou a porta do quarto assim que Noam saiu. Ele não insistiu. Apenas se retirou com o mesmo silêncio polido com que sempre fugia dos conflitos que não podia controlar.

Ela encostou-se à madeira fria da porta por um momento, tentando conter o turbilhão. Não queria chorar, mas sentia a garganta trêmula e os olhos pesando. O orgulho ainda mantinha suas lágrimas presas, mas por quanto tempo mais?

Desceu as escadas em passos lentos, ainda vestida com a camisola azul e um robe leve jogado por cima. A casa estava escura, mas a pequena luz da cozinha ainda estava acesa — um gesto que a empregada deixava sempre para o caso de ela precisar de água ou chá durante a noite.

Ela pegou a chaleira e começou a preparar algo quente, apenas pelo hábito de se manter ocupada. Foi quando o celular vibrou novamente.

Eli.

A única pessoa que ela ainda conseguia encarar com vulnerabilidade.

Oriana atendeu com um suspiro preso no peito.

— Você tá acordada, né? — a voz de Eli era suave, mas firme, como quem sabia exatamente o que estava acontecendo.

— Eu não conseguiria dormir mesmo que quisesse — ela respondeu, puxando uma cadeira e se sentando diante da ilha de mármore.

Do outro lado da linha, Eli não disse nada por um momento. Apenas esperou. Oriana sabia que era a forma dela dizer: pode desabar, eu tô aqui.

— Ele voltou agora. Disse que não houve nada com Serena — sua voz saiu quase sussurrada. — Que foi só uma coincidência. Um evento de negócios...

— Você acredita?

Capítulo 2

Oriana hesitou. As mãos segurando a xícara começaram a tremer levemente.

— Eu não sei mais, Eli. Eu não sei. E o pior… é que eu não quero acreditar.

— O que você quer dizer com isso?

Ela fechou os olhos, tentando organizar os pensamentos.

— Se eu acreditar nele, eu preciso admitir que o problema somos nós. Que ele nunca me traiu, mas que o nosso casamento está desmoronando mesmo assim.

Mas se eu acreditar que ele mentiu… pelo menos isso me dá uma razão para ir embora. Uma desculpa. Um ponto final.

Eli suspirou do outro lado.

— Você está cansada, Ori. Isso transborda da sua voz. Você ama esse homem. Você já tentou fazer esse casamento funcionar mais do que qualquer contrato previa.

— Eu me apaixonei por alguém que não existe, Eli. Pelo homem que ele mostra ser quando está com Asher… ou quando sorri do nada, quando está distraído. Pelos fragmentos.

Mas ele nunca me deixou ver tudo. Nunca se abriu de verdade.

— E você? Se abriu?

Oriana engoliu em seco.

— Eu tentei. Mas sempre que me aproximava… ele recuava. E depois de um tempo, a gente aprende a parar de tentar.

A água do chá ferveu e ela se levantou para servir. Fez tudo no automático. O aroma da camomila invadiou a cozinha, mas nem o calor da bebida conseguia acalmar o vazio que crescia dentro dela.

— Eu estou presa, Eli. Entre o que eu sinto… e o que eu mereço sentir. Eu quero alguém que fique. Que escolha ficar. Que não precise ser lembrado de que tem uma família.

— E você acha que Noam não é capaz disso?

— Não sei — ela sussurrou. — Mas, sinceramente? Eu tô começando a não querer mais esperar pra descobrir.

E pela primeira vez em muito tempo, Oriana deixou uma lágrima escapar. Silenciosa. Solitária. Como ela.

O som do clique da porta fechando atrás dele ainda vibrava em seus ouvidos como um tiro surdo.

Noam caminhou até o escritório no andar de baixo sem acender nenhuma luz. Conhecia aquele espaço de cor e tato — cada livro alinhado, cada garrafa de whisky esquecida na prateleira de vidro, a cadeira de couro que rangia discretamente quando ele se jogava nela como agora.

O peso do corpo era leve comparado ao que carregava por dentro.

Passou as mãos pelo rosto. As palmas ásperas arranharam a barba malfeita que crescia nas margens do seu controle. Ele estava exausto, mas mais do que isso: ele estava perdido.

Serena.

Como diabos ela sempre aparecia nos momentos errados?

Não foi proposital. Nunca seria. Quando a viu no evento, sentiu o desconforto imediato, como se parte de um passado que ele tentava enterrar tivesse voltado para rir da sua tentativa de ser alguém melhor. Ela se aproximou, conversaram brevemente — educados, nada mais. Mas a imprensa tinha talento para distorcer e pintar histórias que vendem.

E agora Oriana achava que ele tinha feito o que ele mais desprezava.

Traí-la.

— Merda — murmurou, jogando a cabeça para trás na cadeira.

Ele nunca a traiu. Nem mesmo quando teve a oportunidade. Nem mesmo quando o casamento era só papel e presença em jantares corporativos. Nem mesmo quando os sentimentos pareciam não existir — e depois, quando eles começaram a existir, menos ainda.

Ele nunca a traiu, porque pensava em Asher.

Toda vez que uma mulher se aproximava com mais intenções do que palavras, ele via o rosto do filho. E via Oriana. Não como esposa por contrato, mas como mãe do seu menino. Como mulher que, mesmo sem exigir amor, se entregou a uma vida que não era a dela.

Noam sabia que era imaturo.

Ainda gostava do barulho dos eventos, da adrenalina das decisões de última hora, das madrugadas movidas a vinho e conversa fiada com investidores estrangeiros. Sabia que deixava Oriana sozinha mais do que deveria. Sabia que fugia de conversas importantes e preferia se esconder no silêncio quando era confrontado.

Mas também sabia que não queria perder aquela família.

Aquilo que ele nunca pensou em construir, mas que, de alguma forma, acabou se tornando a única coisa que importava de verdade.

Fechou os olhos e se lembrou de quando Asher nasceu. Da primeira vez que segurou o filho nos braços e sentiu o peito apertar de um jeito que ele nunca tinha sentido antes — como se finalmente existisse algo que o tornasse humano. E ao lado da maca, Oriana, com os olhos marejados, o observando como se esperasse por alguma reação que ele não soube dar.

Desde então, ele vinha falhando em gestos pequenos.

Estava presente, sim. Nunca perdeu um aniversário, uma apresentação, uma consulta médica. Mas não sabia amar como ela merecia. Não com palavras. Não com constância.

Noam pegou o celular. Pensou em mandar uma mensagem. Em dizer não houve nada, eu juro.

Mas sabia que palavras, naquele momento, eram como copos em uma casa já trincada: frágeis demais para sustentar qualquer coisa.

O que Oriana precisava era de um homem que soubesse estar. Que soubesse ser.

E ele não sabia ainda se conseguia ser esse homem.

Mas sabia o que não queria.

Ele não queria ver aquele olhar outra vez — aquele olhar quebrado, cheio de mágoas, que ela lhe lançou antes de subir para o quarto. Não queria dormir em quartos separados. Não queria ouvir Asher, no futuro, perguntando por que a mamãe e o papai não moram mais juntos.

Ele não queria perder o que nem sabia que tinha até agora.

E era essa a maior tragédia de Noam Villeneuve:

Ele só aprendia quando já estava prestes a perder.

...Oriana...

...Noam...

...Asher...

Capítulo 3

A luz da manhã se infiltrava pelas cortinas semiabertas, iluminando a casa como se nada tivesse acontecido.

Mas tudo havia mudado.

Oriana vestiu um suéter bege por cima da camisola e desceu as escadas em silêncio, com os cabelos ainda soltos, molhados das poucas horas de sono e do banho rápido que havia tomado para tentar organizar os pensamentos — em vão.

O som de risadas infantis ecoou da cozinha.

Por um instante, ela parou no meio do corredor, segurando no corrimão. Aquele som a quebrou de forma gentil e cruel ao mesmo tempo.

Asher.

Ela o encontrou sentado no balcão da cozinha, balançando os pezinhos no ar, com um pijama azul-claro cheio de foguetes. À sua frente, Noam — já de camisa branca dobrada até os cotovelos — preparava panquecas.

A cena era familiar. Dolorosamente linda. E por isso mesmo, difícil de encarar.

— Mamãe! — Asher exclamou, assim que a viu. — Papai fez panqueca com carinha feliz hoje!

Ela forçou um sorriso.

— Fez mesmo, é? — aproximou-se e beijou a testa do filho, evitando o olhar do homem ao lado.

Noam observou o gesto, a barreira invisível que ela colocou entre eles. Estava ali, física e emocional. Ele sentiu cada centímetro.

— Bom dia — disse ele, por fim, tentando manter o tom neutro.

— Bom dia — ela respondeu, fria, pegando uma caneca no armário.

Asher, alheio ao clima denso, tagarelava:

— Papai disse que a gente pode brincar no jardim depois! E eu quero mostrar pra você, mamãe, o desenho novo que eu fiz de nós três! Tá guardado na minha gaveta secreta!

Ela apertou a xícara entre os dedos. Os nós se formaram no estômago. Os desenhos de Asher sempre tinham ela, ele e Noam de mãos dadas. Como se o mundo dele fosse feito de permanências, e não de rachaduras.

— Eu vou adorar ver, meu amor — murmurou, com a voz embargada.

— Oriana — Noam tentou, baixando o tom para que o filho não ouvisse. — Sobre ontem…

— Não aqui — ela cortou, ainda sem encará-lo. — Não na frente dele.

A resposta foi um sussurro firme. E doeu em Noam mais do que se ela tivesse gritado.

Eles tomaram o café em silêncio. Asher falava, cantava, ria. Um raio de luz em meio a duas sombras cansadas. De tempos em tempos, olhava para os dois, buscando a validação de sempre. O sorriso da mãe. A piada do pai. O abraço dos três no sofá.

Mas tudo estava levemente fora do eixo.

Depois do café, Oriana se levantou para arrumar a louça. Noam tentou se aproximar, mas o gesto dela foi claro: ela não queria palavras agora. Ele respeitou, mas observava — atento, desconfortável, como se a estivesse vendo escorregar por entre os dedos e não soubesse como segurá-la sem quebrar o que restava.

Enquanto ela enxaguava a louça, Asher apareceu ao seu lado com o desenho na mão.

— Mamãe, olha só! Eu fiz a gente no parque!

Ela se agachou, pegou o papel e sorriu com ternura genuína.

O desenho era simples, mas tocante: os três embaixo de uma árvore, com o sol sorrindo no canto da folha. As mãozinhas de cada um estavam unidas. E havia um coração enorme no meio da página.

— Está lindo, meu amor. Eu vou guardar com muito carinho, tá bem?

Ele assentiu, satisfeito. Correu até o pai.

— Papai, você gostou?

Noam pegou o desenho e sentiu a garganta apertar.

— Eu amei, filho.

— Então a gente vai ser uma família pra sempre, né? — Asher perguntou, com aquela inocência que ferra com o coração de qualquer adulto.

Oriana congelou.

Noam sentiu o baque como um soco invisível.

Ele não respondeu de imediato. Apenas se abaixou e puxou o filho para o colo.

— Vamos sempre amar você — disse, com um esforço visível para manter a voz firme. — Sempre.

Mas Asher não entendeu a nuance. Deu um beijo no rosto do pai e foi correndo buscar seus carrinhos.

Oriana, por sua vez, apertou os olhos para segurar as lágrimas. Ela não queria chorar ali. Não diante dele. Não diante de tudo o que ainda não sabia se podia acreditar, se podia reconstruir.

— Eu preciso sair mais tarde — disse, finalmente. — Tenho reunião com a Eli sobre o evento da semana que vem.

— Eu posso buscar o Asher na escola. E levar ao parque, se você quiser descansar um pouco.

Ela hesitou, finalmente o encarando.

— Tudo bem.

E saiu da cozinha.

Noam ficou ali, parado, com o desenho nas mãos. O coração no peito pesado. E a sensação de que, a cada minuto que passava, ele estava mais próximo de perder a única coisa que realmente queria ter.

O vento daquela tarde soprava leve, embalando as folhas das árvores com um sussurro que contrastava com a tempestade interna que Noam tentava conter.

Asher corria à frente, entre as árvores do parque, com um carrinho vermelho na mão e o cabelo bagunçado pelo vento. O riso do menino era como um sino distante — alegre, puro, incapaz de entender o caos invisível que rondava os adultos ao seu redor.

Noam o observava sentado em um dos bancos de madeira, os cotovelos apoiados nos joelhos, os olhos seguindo cada passo do filho com aquela vigilância instintiva de pai. Em sua mão, ainda segurava o desenho. Dobrado, sim — mas não esquecido.

"— A gente vai ser uma família pra sempre, né?", Asher havia perguntado naquela manhã.

Aquilo ecoava em sua cabeça desde então. Como uma flecha cravada num ponto que ele sempre evitou olhar de frente.

Seria mesmo? Seriam?

Ele pensou nos olhos de Oriana na noite anterior. Tão escuros, tão tristes. Como se ela já tivesse dito adeus dentro de si e agora estivesse apenas aguardando o momento certo para tornar aquilo real.

E tudo por quê?

Porque ele nunca aprendeu a estar por inteiro. Porque confundia liberdade com fuga. Porque preferia lidar com contratos a lidar com emoções.

Noam era um excelente empresário, um visionário nas negociações, um nome temido em qualquer sala de conferência. Mas em casa, com Oriana, ele sempre fora um homem inacabado.

Quando ela precisava de presença, ele entregava agenda.

Quando ela pedia conexão, ele oferecia silêncio.

E agora, quando ela precisava de confiança, ele permitia que o passado jogasse sombras sobre eles.

O nome Serena parecia sujo agora. Tóxico. Não pela mulher em si — mas pelo que ela representava. O símbolo de uma falha que ele não cometeu, mas também não soube impedir que parecesse real.

Noam abaixou o olhar para o desenho em suas mãos. O coração no centro da folha era enorme. Desproporcional. Como a esperança de uma criança que não conhece o peso dos “e se”.

“Vamos sempre amar você”, ele dissera. Mas amar não era o bastante se ele continuasse sendo esse homem: ausente em alma, mesmo quando presente em corpo.

— Papai! — a voz de Asher o tirou dos pensamentos. O menino vinha correndo, com os braços abertos, rindo. — Olha! Achei uma folha igual à do desenho!

Ele mostrou uma folha alaranjada em forma de coração. Torta, frágil, linda. Noam sorriu — um sorriso cansado, mas sincero.

— É perfeita, filho.

Asher se sentou ao lado dele, encostando a cabeça no braço do pai.

— Quando a mamãe vai vir brincar com a gente?

A pergunta veio inocente. Mas cortante.

Noam engoliu seco.

— Logo. Ela tá trabalhando hoje.

— Mamãe não tá feliz, né?

Ele virou o rosto, surpreso.

— Por que diz isso?

— Porque ela me abraçou mais forte que o normal. Quando ela faz isso é porque tá triste.

Noam não conseguiu responder. Apenas passou o braço ao redor do pequeno, apertando-o contra si.

— A mamãe te ama muito, Asher. E eu também.

— Mesmo quando vocês brigam?

— Sempre.

O menino assentiu com aquele jeito sábio e simples que só as crianças têm. Depois se levantou e correu novamente.

Noam ficou ali, observando, o peito apertado.

Ele sabia que não bastava prometer. Não bastava sentir.

Era hora de agir.

E, talvez, de crescer. Tarde, mas não tarde demais.

E se havia algo que ele ainda podia fazer, era lutar para que Asher continuasse desenhando os três de mãos dadas.

E para que Oriana — mesmo que cheia de dúvidas agora — pudesse, um dia, olhar para ele sem tristeza nos olhos.

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