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Entre Dois Magnatas

Capítulo 1: O começo

As palavras do meu chefe ainda ecoavam nos meus ouvidos enquanto eu caminhava sem rumo pela rua. “Uma noite comigo... em troca do seu emprego.” Aquilo me pegou tão de surpresa que fiquei paralisada. Quase não consegui respirar. Quinze mil dólares. Pela minha dignidade.

Lembro-me de sair da sala dele em silêncio, com a cabeça girando. Ele me deu até o horário do almoço para responder. E o tempo havia acabado.

Saí do restaurante e voltei direto para a empresa. Fui até a sala dele, determinada.

— Senhor... — disse, tentando manter a calma, reunindo toda a coragem que me restava para não gritar com ele.

— E então? Mabelly. — perguntou, com aquele olhar nojento.

— O senhor está falando sério?

— Estou.

— Recuso a proposta. Prefiro continuar como garçonete.

— Está recusando deitar comigo?

— Sim.

— Como se atreve...

— E como o senhor se atreve a me fazer uma proposta tão absurda? É um homem casado! Sua esposa está grávida! — respondi com nojo, olhando direto em seus olhos.

— Se não quer, está fora daqui.

— Com licença. — disse, virando para ir embora.

Mas não consegui sair. Ele me segurou pelo braço com força, me empurrando contra a parede.

— Me solte! O que pensa que está fazendo?! — me debati, tentando escapar.

— Eu te quero. Vai ser minha, de um jeito ou de outro — disse, encostando os lábios em meu pescoço. Senti o estômago revirar.

— Nunca! — gritei, acertando-lhe uma joelhada entre as pernas. Aproveitei o momento e corri.

Eu jamais me venderia. Por dinheiro nenhum. Sou forte. Eu encontraria outro emprego.

Fui para casa sem saber o que fazer. Ao entrar, estranhei o silêncio. Minha mãe não estava lá. Andei pelo corredor, fui até o quarto dela... vazio. Quando voltei para a cozinha, o telefone fixo começou a tocar.

— Alô?

— É Mabelly Houston?

— Sim. Quem está falando?

— Sua mãe passou mal no trabalho. Foi levada ao Hospital São Lucas. Precisou passar por uma cirurgia de emergência.

— Estou indo agora mesmo! — falei, já desligando.

Saí correndo, quase tropeçando nos próprios pés. Peguei um táxi com as mãos trêmulas. O desespero me sufocava. Minha mãe era tudo o que eu tinha. Eu não podia perdê-la.

Assim que cheguei ao hospital, fui direto ao balcão e pedi informações. Indicaram a sala onde ela estava, e lá encontrei uma colega de trabalho dela, sentada à porta.

— Como ela está?

— Estável, agora. O coração parou por alguns segundos. Os médicos tiveram que trocar uma válvula.

— Obrigada por estar aqui com ela — agradeci com a voz embargada.

— Mas... você precisa saber: a conta do hospital vai ficar por sua conta.

— Como assim? A empresa não vai cobrir?

— Só se ela ainda estivesse empregada. Sua mãe foi demitida há duas semanas. Ela estava fazendo serviços diários, quando ocorreu o desmaio. — disse, antes de se levantar e sair, me deixando sem chão.

Eu não sabia o que fazer. Não tínhamos dinheiro. Fui até a recepção.

— Moça, por favor... pode me informar quanto custou a cirurgia da paciente Maria Houston?

— Um instante, por favor...

Enquanto esperava, eu rezava. Por favor, que não seja tanto... talvez eu conseguisse um empréstimo.

— Moça?

— Sim?

— A cirurgia custou 10 mil dólares.

As palavras dela me atingiram como um soco. Senti o coração disparar, a visão turvar, o chão sumir sob meus pés.

— A senhorita está bem?

— Sim... — menti, saindo dali aos tropeços.

Lá fora, as lágrimas escorriam como chuva. Eu estava desesperada. Então, tirei o celular do bolso com mãos trêmulas e disquei.

— Eu aceito — sussurrei para meu ex-chefe. Logo depois, recebi o endereço. Um motel qualquer. Um quarto pago.

Entrei no táxi em silêncio. No caminho, minha alma gritava, mas minha boca não ousava pronunciar nada.

Ao chegar, subi até o quarto e esperei. Chorei. Me odiava. Mas faria o que fosse preciso por minha mãe.

Quando ouvi a batida na porta, respirei fundo, enxuguei o rosto e abri.

— Sabia que voltaria atrás — disse ele, tocando meu rosto com aquela mão suja.

Meu estômago revirou. Seu olhar me dava náuseas.

— Vamos acabar com isso logo.

Foi a única frase que disse naquela noite. Fui apenas um corpo. Um contrato sem alma.

Saí antes do amanhecer, destruída, mas com a dívida paga. Voltei ao hospital com a nota em mãos e fui informada de que poderia ver minha mãe.

Ao entrar no quarto, vi que tudo tinha valido a pena.

— Como está, mãe?

— Estou bem, minha filha... só preocupada com a conta. Nós não temos nada...

— Não se preocupe com isso. Já está resolvido.

— Como você...?

— Não importa. Só descanse, por favor. — A abracei, contendo as lágrimas.

Ela nunca saberia o preço que paguei.

[Um ano depois]

Minha mãe ainda me pergunta como consegui quitar a dívida. Sempre respondo com a mesma mentira: que uma amiga me emprestou o dinheiro.

Mas depois daquela noite, nunca mais me vendi. Nunca mais me deitei com homem algum por dinheiro.

Mesmo assim, valeu a pena. Eu faria tudo de novo pela minha mãe. E é por ela que hoje estou, mais uma vez, procurando emprego.

Acordei antes do despertador — na verdade, eu já não usava mais um. Joguei todos fora nas últimas crises de raiva matinais. Estava sempre quebrando um. Levantei, ainda meio sonolenta, e bati o pé na quina da cama.

— Ai! Tinha que ser comigo!

Sinal de que o dia ia ser pior que os outros. Se é que isso era possível.

Fui direto para o banheiro. A água quente não funcionava. Tomei banho frio, escovei os dentes, penteei o cabelo e me olhei no espelho. Cabelos lisos, pele clara, um metro e setenta. Mas nada disso parecia importar naquele momento.

Escolhi uma roupa apresentável: saia azul clara, blusa branca. Precisava parecer confiante para conseguir uma vaga.

— Já está acordada, minha querida? — gritou minha mãe da cozinha.

— Já! Só vou tomar um café rápido e sair. Tenho muito chão pela frente — respondi, descendo as escadas.

Encontrei minha mãe sentada à mesa, tomando café.

— Mãe? Vai sair? Já tomou café antes de mim? — perguntei, sentando ao lado dela.

— Uma amiga conseguiu uma vaga pra mim onde ela trabalha. Hoje é a entrevista.

— Que notícia boa! Espero que consiga. Porque não tem mais nada nessa casa. Já tô cansada de comer pão com ovo. — Ri, tentando aliviar o peso das coisas. — Mas que vaga é essa?

— Governanta.

— Dona Maia como governanta? Essa eu quero ver! E já sabe algo sobre os patrões?

— O homem se chama José, tem uns quarenta anos. A mulher, Marta, é mais nova. Têm dois filhos: Benjamin, de 9, e Bruno, de 6.

— Vai se sair bem, mãe. Ninguém segura dona Maia! — falei rindo, enquanto ela saía pela porta.

Peguei minha bolsa e saí também, trancando a porta. Nem tínhamos o que ser roubado, mas vai que algum ladrão queria levar as dívidas? Com sorte, deixaria um trocado de pena.

Entreguei currículos por vários lugares. Estava com fome, mas ainda me faltavam dois lugares para tentar.

Antes de continuar, passei no parque. Comprei um hambúrguer e um refrigerante numa barraca. Sentei sob uma árvore, afastada, e comi devagar.

Foi então que vi, ao longe, uma mulher chamando seu filho para ir embora. A criança resistia, se debatia. Até que ela tentou pegá-lo pelo braço e ele... começou a chorar de um jeito que me partiu o coração.

O menino se desvencilhou e correu. Direção: a pista.

O sinal acabara de abrir.

E uma caminhonete se aproximava.

Tudo aconteceu em câmera lenta.

Eu corri.

Me joguei.

Capítulo 2: Talvez nova garçonete

A multidão ao nosso redor, ainda em choque, abriu caminho para a mãe desesperada que se jogou nos braços do filho, chorando em pânico.

— Obrigada — agradeceu ela, segurando o menino com força, como se quisesse fundi-lo ao próprio corpo, impedindo que qualquer coisa ruim se aproximasse dele novamente.

— Não foi nada — respondi, meio sem saber onde enfiar a cara com tantas pessoas olhando.

Por sorte, a caminhonete havia parado a tempo, evitando uma tragédia. O impacto que nos derrubou não foi forte, e a criança saiu ilesa. Já meu joelho não teve tanta sorte. Um corte ardido se formava com o sangue escorrendo lentamente, resultado do atrito com o asfalto quente.

Após um rápido atendimento dos socorristas, fui liberada. Nada sério, segundo eles. Mas a situação deixou uma pulga atrás da orelha. A cada dia que passa, tenho mais certeza: não nasci pra ser mãe. Mal consigo cuidar de mim... quem dirá de uma criança.

Sacudi o pensamento e continuei minha saga, entregando os currículos que faltavam. Me candidatei para vagas de garçonete, cabeleireira, faxineira... qualquer coisa que me rendesse algum dinheiro. Apesar de estar cursando Administração, precisei trancar o curso. A grana não deu. Não dava mais nem pra passagem.

Voltei pra casa com as pernas doendo e o corpo pedindo arrego. Mas, claro, como boa protagonista de vida caótica, meu dia não podia acabar sem uma nova humilhação. Um infeliz passou com o carro em uma poça gigantesca e me molhou da cabeça aos pés com lama.

Maldição. Justo hoje que eu tinha lavado o cabelo! Agora teria que repetir tudo. Voltei para casa praguejando o motorista com todos os palavrões que conhecia — e ainda inventei uns novos só pra ele. As pessoas na rua me olhavam como se eu fosse um ser emergido do esgoto. E talvez, visualmente, eu estivesse mesmo.

Cheguei em casa furiosa. Vermelha de raiva, um pouco da lama ainda escorrendo pela nuca. Subi direto para o meu quarto e fui pro banho, tentando lavar o dia de mim. Minha mãe ainda não tinha chegado.

Já mais limpa — por fora, pelo menos — decidi fazer o almoço. Sei o quanto minha mãe chega cansada, e queria poupá-la de mais uma tarefa. Nunca fui uma chef, mas também não morro de fome com minhas invenções. Preparei um feijão bem temperadinho, arroz soltinho e macarrão. Nada chique, só aquele almoço simples com gosto de casa.

Comi, enchi a barriga e me joguei no sofá para maratonar minhas séries favoritas. Uma delas, Lúcifer, era sagrada. E entre nós, que diabo mais delicioso. Já perdi as contas de quantos sonhos safados tive com ele. Daqueles em que você acorda suando, o coração disparado e uma certa região do corpo pedindo socorro. Nesses dias, só banho gelado resolve.

Fiquei tanto tempo assistindo que o sono me venceu. Dormi ali mesmo, com o controle na mão, sem nem perceber a hora.

[...]

Um sacolejo insistente começou a me tirar do torpor. Quem era o abençoado me balançando daquele jeito bruto? Não se pode mais dormir em paz? O sono estava bom demais pra ser interrompido por alguém sem noção.

— Peste, o que é? — murmurei, sem abrir os olhos, com a paciência esgotada.

A pessoa parou de me balançar. Aleluia, pensei.

Mas não. Era só o silêncio antes da tempestade. De repente, um balde de água fria caiu sobre mim, seguido por um puxão tão violento que fui parar no chão. Levantei mais rápido que o Flash.

— Me respeita, menina! Ainda sou sua mãe! Você me chama de peste? Eu que te carreguei nove meses, passei horas gritando pra te parir, e agora você me trata assim? — Ela desfilava pela sala como uma general furiosa, sem nem me dar chance de resposta.

— Mãe, desculpa! Eu não sabia que era a senhora. Foi sem querer, meu raio de luz, estrela da minha vida! — corri atrás dela, tentando amenizar a situação.

— Quem mais seria, criatura? Só moramos nós duas aqui! Você acha que é visita? Vai sonhando! E mesmo que fosse, iriam tocar a campainha! — respondeu, revirando os olhos.

— Desculpa mesmo. Você sabe que foi reflexo. — A abracei com força e dei aquele beijo longo que ela adora. A puxei para o sofá. — Fiz até o almoço. Já comeu?

— Já sim. Quando cheguei, a senhorita estava aqui, dormindo feito pedra — disse, me analisando de cima a baixo.

— E a entrevista? Conta tudo! — perguntei, cheia de esperança.

— A dona da casa é super educada. A entrevista foi maravilhosa. Conversamos horas, acredita? — sorriu.

— E aí? Conseguiu ou não? Fala logo, mãe! — quase pulei no sofá de ansiedade.

— Consegui, claro! O salário é ótimo, muito além do que esperávamos. Vamos sair do sufoco, filha — disse, apertando minha mão com carinho. — E você? Entregou todos os currículos?

— Entreguei sim. Agora é torcer para que alguém me ligue até amanhã — falei, ligando a TV. — Vamos assistir mais um pouco. Já tá anoitecendo.

— Estava conhecendo a mansão. Começo amanhã cedo — respondeu, sentando ao meu lado. — Mas agora... Lúcifer, porque ninguém é de ferro.

Terminamos de maratonar nossas séries favoritas, com direito a risadas, comentários maliciosos e aquele laço de amizade que só mãe e filha têm. Depois, fomos preparar o jantar. Fiquei com as tarefas básicas, enquanto ela cuidava do principal.

Enquanto ela terminava de cozinhar, fui conferir meus e-mails. E não é que tinha uma resposta?

Senhorita Mabelly Houston,

Seu currículo nos chamou atenção. Gostaríamos que comparecesse ao endereço abaixo para uma entrevista.

Agradecemos desde já,

Restaurante San Diego

Rua: Kwamis, Nº 312.

Li três vezes pra ter certeza. E ainda me perguntei: que nome é esse? Kwamis? Parece nome de desenho, eu sai entregando tanto currículos que nem me lembro os nomes das ruas.

Mas tudo bem, o importante é que... fui chamada pra entrevista!

— MÃE! Vem aqui agora! — gritei, correndo até a cozinha. — Recebi um e-mail! Um restaurante me chamou! Vou fazer entrevista pra garçonete!

— Como assim conseguiu um emprego? Há meia hora você tava deitada no sofá sem perspectiva nenhuma! — ela disse, surpresa.

— Vamos jantar e eu te conto tudo! — falei, cheia de entusiasmo.

E foi assim, entre garfadas e sorrisos, que contei sobre o acidente, a poça de lama, os currículos e, enfim, a tão esperada entrevista. Pela primeira vez em muito tempo, fui dormir com um fiozinho de esperança aceso dentro de mim.

Capítulo 3: San Diego

Ninguém merece acordar às 6:00 da manhã.

— MÃE, abaixa esse alarme! Que porra, nem parece um despertador, tá mais pra som de paredão! — falei, me enrolando toda para tentar abafar o barulho, mas não adiantou nada. Era uma peste mesmo.

Eu estava mais irritada do que nunca. Acordar cedo para uma entrevista e ainda com aquela bagunça na cabeça, que só fazia aumentar a raiva. Nem me lembrava como tinha caído na cama na noite anterior. Só sabia que fui dormir quase meia-noite assistindo um filme, e parecia que o despertador tinha sido armado contra mim. Tomei banho, mas a água estava mais gelada que o Alasca. Como não sou nenhuma Frozen, liguei o chuveiro elétrico. O frio me fez despertar um pouco, mas o cansaço me consumia. Eu precisava estar bem arrumada para a entrevista no restaurante.

— Porra, que som alto é esse? Não é possível que seja aqui em casa esse baile funk — desci as escadas, irritada, pra ver o que estava acontecendo. Não precisava nem de muito esforço para adivinhar de onde vinha o barulho.

Entrei em todos os cômodos e não encontrei minha mãe. Ela sempre estava em casa, mas hoje... estranhei. Caminhei até a cozinha, e meu café já estava pronto. Em cima da mesa, encontrei um bilhete dela dizendo que já tinha ido trabalhar, mas tinha deixado tudo pronto pra eu não sair com fome. Essa minha velha me conhece mesmo. Se ela soubesse o tanto que eu estava sem paciência, teria me deixado um bilhete dizendo "não vá de mau humor", mas eu não podia culpar ninguém. O dia já estava assim desde cedo.

Tomei meu café e o som não parava. Agora, parecia um disco arranhado tocando a mesma música repetidamente:

…Seu gostoso, gostoso aí eu olhei pra ela e falei assim gostosa é você de quatro na minha cama pedindo bota, pedindo soca nessa xoxota/ rebola e bota tudo nessa xoxota…

O que está acontecendo com a humanidade? Como se, em pleno século XXI, fosse aceitável uma música tão… vulgar? Não que eu fosse puritana, mas essa linguagem? Isso estava mais pra "boca de rua" do que para uma letra de funk. E o pior, "xoxota"? Gente, por favor. Eu apostava que, se o autor da música estivesse vivo, ele com certeza mudaria a letra para "buceta", que pelo menos fazia mais sentido. O que será que passava pela cabeça dele quando escreveu essa porcaria?

Resolvi ir de ônibus, mesmo sem saber direito onde ficava o restaurante, não me lembro detalhamente de todos os lugares que sai entregando meu currículo, certamente já deveria ter uns 2 meses que entreguei currículos em restaurante. Podia perguntar pro motorista, ele deve conhecer todas as ruas. Só que o ônibus estava longe, e eu não tinha paciência para esperar. Decidi andar até o ponto e talvez a caminhada me fizesse esquecer o barulho do funk.

Quando passei em frente à casa de onde vinha o som, notei que não morava ninguém ali. Mas agora, parecia que a casa tinha sido comprada ou alugada. Era uma casa enorme, aparentemente vazia, mas dava pra ver uns dez rapazes e cinco garotas, dançando e bebendo. Eles não me viram, mas eu sentia o olhar deles, como se estivessem me julgando de longe. Isso me incomodava. Fui até o ponto de ônibus, quando, de repente, alguém me chamou.

— Ei, gostosa! Vem aqui, vem!

Não olhei. Não queria me estressar. Eu estava decidida a não ser mais uma vítima de gracinhas na rua. Mas ele não desistiu.

— Você tá surda? Não tá ouvindo eu te chamando? Vem cá, que você não vai se arrepender!

Foi aí que meu temperamento se alterou. Olhei para ele e, sinceramente, não vi o que me faria perder tempo com aquele rapaz. Não era feio, mas também não fazia o meu tipo. Ele parecia um daqueles caras que acham que qualquer mulher vai se derreter só porque fala com uma voz sensual e usa uma camiseta com um pouco de ousadia. Era um erro dele achar que eu caíria nessa.

— Garoto, vai se foder e me deixa em paz, seu projeto de homem! Antes de falar comigo, vê se cresce o pinto primeiro — falei, minha voz saindo mais seca do que eu queria.

Saí dali furiosa. Não era apenas a música que estava me irritando. Era a falta de respeito de algumas pessoas e a forma como agem como se fossem donos do mundo. A vontade de seguir o caminho mais fácil — pegar o ônibus — desapareceu. Resolvi chamar um Uber. Sim, eu estava ciente de que estava gastando dinheiro que não tinha, mas já não tinha mais paciência para lidar com tudo. Eu precisava chegar naquele restaurante com um mínimo de dignidade.

Quando o Uber chegou, entrei sem pensar muito, pedi o endereço e fui me acomodando no banco. Parecia que o universo queria continuar me testando, pois o motorista estava ouvindo exatamente a mesma música da qual eu tinha acabado de fugir. A música da xoxota. Eu não conseguia mais. Era um absurdo. Como é que alguém pode estar tão envolvido com esse tipo de música?

Decidi fazer uma experiência. Já que estávamos falando de "xoxota", por que não perguntar para o motorista o que ele achava disso?

— Moço, posso te fazer uma pergunta? — falei, tentando manter a conversa descontraída, mas com um toque de curiosidade.

— Claro, senhorita. No que posso ajudar? — ele respondeu, sorrindo.

— Você parece gostar muito desse tipo de música… funk — comentei, só para testar se ele estava ciente do que estava ouvindo.

— São as minhas preferidas — respondeu ele, tranquilo, como se fosse a coisa mais normal do mundo.

— Ah, que bom. Já que você curte tanto, você não acha que "buceta" seria melhor do que "xoxota" nessa música? — perguntei, com a esperança de que ele fosse entender onde eu queria chegar.

Ele ficou em silêncio por um momento, como se não tivesse certeza do que eu estava perguntando.

— Como assim? Não estou te entendendo — ele disse, visivelmente desconfortável.

Eu não podia acreditar que ele estava assim tão perdido. A música estava tão clara em nossa volta que ele devia entender a comparação. Ele parecia um pouco nervoso.

— Olha, você não acha que "buceta" é mais apropriado? Porque hoje em dia, os jovens estão mais pra essa palavra, e "xoxota" já parece coisa de avó — falei, tentando não parecer grosseira, mas sinceramente curiosa.

— Ah, sim! No tempo atual, eu prefiro mulher do que homem, mas não julgo ninguém. Cada um com suas preferências — ele respondeu, me dando um olhar estranho pelo retrovisor.

— Hã? Não estou entendendo… você não está me dizendo que prefere mulher, né? — perguntei, desconfiada. Ele me olhou de novo e percebi o jeito como me observava. Algo estava estranho.

— Não é isso. Eu pensei que você estava me oferecendo a sua “amiguinha” — disse ele, com um sorriso malicioso, que eu sabia exatamente o que significava.

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