Juro que às vezes, eu acho que nasci para ser babá.
Tipo… sério. Quem mais acorda antes das sete num sábado só porque a garotinha de cinco anos que você ama mais que tudo na vida quer cereal com glitter?
— Jennaaa, — Isla gemeu do quarto, do jeitinho manhoso de sempre. — Meu cabelo virou um ninho de passarinhooo.
Saí da cama com um grunhido, tropecei no puff do meu próprio quarto, sim, tenho um quarto aqui na casa do delegado — ainda meio zonza — e fui direto até ela.
— Que tipo de passarinho vive em um ninho cor-de-rosa, hein? — perguntei, tentando desembaraçar os cachinhos dourados dela.
— Unicórnios voadores, — ela respondeu, séria. — Eles são bem exigentes.
Ri e beijei o topo da cabeça dela.
— Então vamos deixar esse ninho de princesa decente para quando o papai voltar, ok?
Ela assentiu, segurando meu rosto com aquelas mãozinhas pequenas.
— Você vai sempre cuidar de mim, né, tia Jenna é igual minha irmã mais velha.
Congelou meu coração por um segundo.
— Claro que vou, pequena. Sempre.
Minha história com Isla não é comum. Nem minha vida.
Fui criada num orfanato em New Jersey até os 16. Sem família, sem respostas, só uma ficha fria que dizia “resgatada em operação policial, sem identificação”.
Eu não sabia o que isso significava até conhecer Marcus.
O cara é durão, cheio de cara fechada e voz de policial de filme, mas ele apareceu um dia com um olhar que eu nunca vou esquecer. Disse que me conhecia. Que tinha me tirado de um lugar horrível quando eu era só uma menininha e nunca parou de me procurar.
No dia que a filha dele nasceu — e a esposa morreu no parto — ele me trouxe para casa.
E eu… bem, eu não sabia o que era uma casa de verdade até então.
Depois do almoço, Isla tirava uma soneca no sofá e eu estava no meu quarto, trocando mensagens com as meninas.
📱 Maddie: — Sábado e vc trancada com criança?? Não não nãooo.
📱 Jenna: — Ela tá doente 😢, Mas se Marcus chegar cedo, maybe 👀.
📱 Tasha: — Tem baladinha latina nova downtown. Música boa, gente gostosa. Você vem.
Mordi o lábio, olhei para o relógio. Quase quatro. Marcus devia voltar às seis. Isla já estava melhor…
📱 Jenna: — Ok, se ele chegar a tempo, to dentro. Mas só umas horinhas.
Às 17h43 em ponto, ouvi o ronco familiar do carro na garagem.
— YES. — sussurrei, me olhando no espelho e ajustando o cropped. Jeans preto rasgado, cabelo preso num rabo alto, batom só para dar um up.
Desci as escadas enquanto Isla corria para o pai.
— Paiiii! Jenna disse que sou ninho de unicórnio, — ela riu.
Marcus sorriu, e aquele olhar exausto dele suavizou por dois segundos.
— Ela tá bem melhor, Marcus, — falei, pegando a bolsa. — Tem sopa na geladeira, remédio no armário, e ela só quer desenho e biscoito hoje. Ah, e... vou sair com as meninas. Nada de mais.
Ele me olhou, sério — do jeito dele.
— Vai para onde?
— Downtown. Tasha vai dirigir. Eu volto cedo, prometo.
Houve um segundo de hesitação. Aquele segundo que só quem cresceu com ele sabe decifrar. Mas ele só assentiu.
— Ok. Só me manda mensagem quando chegar lá. E volta em segurança, Jenna.
Sorri, tranquila.
— Claro. Obrigada por confiar.
Antes de sair, Isla correu e me abraçou nas pernas.
— Você vai dançar? Tipo princesa?
— Tipo estrela do TikTok, — pisquei. — Te mostro os passos amanhã.
E saí. Rindo. Livre. Leve.
***
As luzes piscavam em tons de rosa, azul e roxo, a batida da música vibrava sob meus pés, e o riso da Tasha era quase tão alto quanto o som. Estávamos ali, nós três — Tasha, Maddie e eu — dançando como se a vida fosse só essa noite, suando glitter e liberdade. Eu não fazia isso com frequência. Mas às vezes, a gente precisa esquecer que acordou às 6 da manhã para limpar vômito de criança e só… se sentir viva.
— Esse DJ tá me fazendo ter fé na humanidade de novo, — gritou Maddie, jogando o cabelo para trás.
— Menos, garota, — respondi, rindo, e dei um gole no meu mojito. Fraco, como pedi.
Eu sempre fui meio... atenta.
Acho que cinco anos com Marcus me ensinaram a ver o que os outros não veem.
Foi por isso que, quando dois caras se aproximaram, um com sorriso fácil e outro com olhos um pouco rápidos demais, eu já fiquei alerta. Tasha se jogou na conversa, claro. Ela era fogo. Eu era radar.
O tal do Tyler, alto, bonito, cheiroso — o que não era um problema — começou a se aproximar mais de mim, encostando o braço no meu ombro, se oferecendo para pagar drink. Eu recusei. Brinquei, fui simpática, mas firme.
— Você tem um olhar desconfiado, sabia? — ele comentou.
Exatamente, pensei.
Mas sorri.
— Fui criada por um delegado. Desconfiar é meu esporte favorito.
Ele riu. Mas os olhos dele… não riram junto.
Passaram uns vinte minutos e fui ao banheiro, sozinha. Estava tudo bem. Normal. Mas quando fechei a porta da cabine e fui abrir a bolsa, percebi que a maçaneta do lado de fora mexeu. E o que vi me fez gelar.
Tyler.
— Você é esperta demais, Jenna, — ele murmurou, empurrando a porta. — Mas não esperta o suficiente.
Tranquei rápido. Travei com o peso do corpo. Meus dedos tremiam, mas meu cérebro estava frio, do jeito que Marcus sempre dizia que precisava estar.
Respirei fundo. Tirei o celular. Liguei para o único número que eu sabia de cor, desde os 16 anos.
📞 Chamada: Marcus
Ele atendeu no primeiro toque.
— Jenna?
— S-sim… tô no banheiro do Club. Um cara tentou me seguir aqui. Eu tranquei, tô bem, mas. — não terminei e ele me perguntou.
— Você se machucou?
— Não. Mas ele tá tentando forçar a porta. Marcus…
Silêncio. Depois, firme:
— Calma. A vizinha já tá com Isla. Tô a caminho. Fica onde tá. Não sai daí por nada.
Eu assenti como se ele pudesse ver. Segurei o choro. Travei os joelhos. Lembrei de cada conselho dele.
Não tema. Reaja. Nunca deixe o medo decidir.
Demorou uma eternidade. Talvez vinte minutos.
E então, o barulho de uma voz grossa.
Marcus. E mais dois homens.
A porta da cabine foi aberta com cuidado. Eu soltei o ar num soluço, caí nos braços dele.
— Shh, já passou. Já passou, filha.
Aquela palavra. Filha.
Eu me agarrei a ela como uma criança que ainda precisa de colo, mesmo que finja o contrário.
Quando saímos do clube, algemado e gritando, estava Tyler, o falso galã.
Meu corpo tremeu, mas meus olhos não desviaram.
Ele me olhou com raiva. Eu o encarei com desprezo.
Marcus me levou até o carro dele e dirigiu em silêncio, como sempre faz quando está com raiva. Mas não de mim. Nunca de mim.
— Quero dormir no meu apê hoje, — murmurei, já mais calma. — Acho que… preciso estar sozinha.
Ele assentiu.
— Ok. Mas me promete uma coisa?
— Claro.
— Nunca facilita. Nunca acha que tá segura só porque tem gente em volta. E qualquer coisa estranha, liga para mim. Não interessa a hora.
Sorri, cansada.
— Você fala igualzinho aos filmes de ação.
Ele olhou para mim de lado, aliviado por me ver brincando.
— A vida virou um filme de ação desde que você apareceu, Jenna.
Naquela noite, dormi no meu apartamento.
Mas algo dentro de mim… não dormiu mais do mesmo jeito.
Se alguém visse a cena, ia achar que eu era só mais um cara bonito tomando café da manhã com vista para a piscina, sem camisa, cabelo bagunçado, calça de moletom baixa o suficiente para deixar tatuagem à mostra e… sorriso de quem dormiu bem demais, um sábado diferente, uma folga em família, e amava isso.
Mas a verdade? Eu nunca dormia tranquilo. Não quando se é um herdeiro Mansur, o sobrenome traz um grande alvo e como não podem nos tocar tentam atingir as meninas, precisamos estar sempre observando.
Eu sou Théo. O filho de Suzan — aquele que fazia os chefes ajoelharem só com o olhar — e de Laura, a italiana que nunca parava de sorrir… até meter uma faca em alguém que desrespeitasse a mesa.
Sangue quente. Do tipo que ferve fácil e que ninguém consegue apagar.
Elas me criaram no meio de armas, ternos caros, códigos antigos e abraços de verdade. Cresci no meio do caos, mas com ternura. Sou o resultado de duas mentes perigosamente brilhantes e, segundo minha última ficante, eu deveria ser considerado “a primeira maravilha da terra” — modesta ela.
Dou risada até hoje.
Meus primos todos já casaram. Aqueles idiotas corajosos. Noah com Alana, Enzo com Giulia, Belinda, Rafa, enfim, sou o último solteiro. Juro, é como se todo mundo aqui decidisse colecionar esposas explosivas.
Minha obrigação agora é me divertir e ajudar a cuidar da Laurinha, a menina linda de oito anos hoje, ela foi adotada pela minha mãe e virou minha princesa.
Eu? Ainda tô no time dos livres.
Mulheres? Amo. Mas nenhuma conseguiu ficar mais do que uma madrugada — e nem tentei. Porque o que eu faço… não dá para dividir com ninguém.
E não me leve a mal. Eu sou educado, charmoso, bom de cama — modéstia zero — mas também sou letal. Não tem como separar as coisas, facilmente colocaria alguém em risco e não estou pronto para isso.
Aqui no complexo, as crianças correm no jardim como se vivessem num conto de fadas. Acham que somos só uma grande família com seguranças demais.
E talvez sejamos.
Mas quem conhece o outro lado… sabe que a Máfia Mansur não é só sangue e tradição. É o poder. É o controle. É o nome que nunca caiu — e nunca vai cair.
Quem vê a gente em jantares familiares não imagina as guerras que vencemos, nem os corpos que deixamos para trás.
É por isso que eu gosto dessas manhãs. Antes do caos.
O sol batendo no café. O mar calmo. A ilusão de que sou só um cara bonito com a vida perfeita.
Até que…
📱 Telefone vibrando: Delegado Marcus
Arqueei a sobrancelha. Interessante.
Atendi, girando a xícara entre os dedos.
— Delegado Marcus? A que devo a ligação, meu amigo?
Sorri.
Porque se ele me ligou…
É porque vem merda grande por aí.
E, sinceramente?
Tô pronto.
***
Noah estava de pé no terraço, como sempre, de braços cruzados, parecendo mais velho do que os 30 anos que tinha. O novo Don da família. Meu primo. Meu irmão de vida. O cara mais racional e estrategista que eu conheço.
— Vai me dizer que a Suzan descobriu que você usou o helicóptero dela para pegar uma ruiva na Sardenha? — ele soltou, sem me olhar.
— Não dessa vez, capo.
— Então? — ele questionou.
Cheguei perto, coçando a nuca.
— Preciso ir para os Estados Unidos.
— Motivo?
— Marcus me chamou. Uma garota que ele mantém um relacionamento foi atacada com a filha e a baba. Situação estranha, gente grande envolvida. Ele quer que eu cuide da situação com tráfico de meninas. Que descubra quem tá por trás.
— É missão de proteção ou execução?
— Vai acabar sendo os dois. Você me conhece.
Noah encarou o horizonte, depois me olhou nos olhos.
— Théo… isso não é férias.
— Eu sei.
— Se for pessoal, volta. Se for pesado, chama reforço. Não some.
— Relaxa. Tô levando meus instintos. E duas pistolas.
— Leva o colete. E evita se apaixonar.
— Agora você tá me pedindo o impossível.
Ele riu — só de um lado da boca, como sempre fazia quando algo o preocupava.
— Vai. Mas volta inteiro.
Bati no peito dele duas vezes, como fazíamos desde moleques.
— Sempre volto, primo.
Minutos depois, entrei na ala residencial e ouvi vozes baixas e o cheiro de café fresco. Meus pais estavam juntos, como sempre — uma lendo o jornal, a outra distribuindo frutas como se fossem armas.
— Suas malas tão prontas? — perguntou Laura, sem nem levantar os olhos.
— Você leu minha mente.
— Eu leio seu andar. Tá indo para guerra?
— Ainda não. Mas posso acabar lá.
— Estados Unidos? — perguntou meu pai, com a sobrancelha arqueada.
— Sim. Um velho amigo pediu ajuda. Vou ficar fora por tempo indeterminado.
Ele se aproximou, me analisando. Depois, colocou a mão na minha nuca e me puxou para um beijo na testa.
— Volta vivo, filho.
— Esse é o plano.
Nesse instante, um furacão de riso e cabelo castanho-claro surgiu correndo pelo corredor.
— THÉÉÉÉÉO!
Laurinha. Minha irmã caçula. Minha menina.
Se jogou no meu colo com força suficiente para me derrubar — quase.
— Vai mesmo viajar? Vai trazer doce? Vai me esquecer? Vai conhecer uma namorada linda e me trocar?
— Hahaha! Vou trazer chocolate, uma boneca ninja e talvez… uma americana chata para você dar bronca.
Ela riu alto.
— Promete que volta?
— Prometo que volto, estarei aqui para fazer o cara que te olhar torto, sumir.
Ela sorriu de lado.
— Tô com dez, não com dezoito, não posso namorar.
— Tanto faz. Para mim, você sempre vai ser a pirralha que chorou porque um pombo te ignorou.
Ela me empurrou, rindo. Eu beijei sua testa e me afastei antes que ela chorasse.
Ou eu.
Enquanto o jatinho era preparado, eu olhei mais uma vez para casa.
Não sei por quê, mas tive a sensação de que essa missão ia mudar tudo.
E não fazia ideia de que, do outro lado, me esperava ela.
A garota que ia ensinar até o herdeiro das sombras a sentir medo.
Medo de perdê-la.
Não sei o que esperava ao aceitar a ligação do Marcus. Talvez um campo de guerra, um rastro de corpos, ou alguma cidadezinha americana cinza e previsível. O que eu não esperava… era ela. Jenna.
Primeira vez que vi, ela estava com uma bandeja na mão, rindo com uma naturalidade que não combinava com o clima tenso da sala.
A luz bateu de lado no rosto dela e, por um instante, pensei que eu tivesse sido premiado com algum tipo de visão divina.
Mas não. Era só ela mesma. De carne, osso… e curvas que Deus fez com calma.
Marcus me lançou aquele olhar de “nem pensa nisso”, o mesmo que meu pai costumava dar quando via um dos Mansur olhando demais para a esposa errada de algum aliado perigoso.
Mas o problema era: eu penso. Sempre penso.
Ela sorriu educadamente para mim, mas Marcus percebeu, claro, a criou desde que sua esposa faleceu, provavelmente a via como uma filha.
— Eu… vou fazer um café e depois vou atender a Evelyn. Antes que a Isla me enlouqueça mostrando os desenhos da Barbie… — ela disse, rindo, ajeitando a bandeja, tentando quebrar o clima denso da sala.
A acompanhei com os olhos, era impossível não olhar, seu sorriso, corpo, perfume, tudo nela era atrativo, um sexo diferente? Ou um lance para toda a vida.
— Se eu soubesse que tinha companhia tão agradável aqui, Marcus, teria vindo antes. Ele nem disfarçou que não gostou, me olhou feio e já cortou o assunto.
— Ela é uma garota séria. Não é para ser uma conquista sua, Théo. Tem só 20 anos e ninguém pode tocar nela. Está passando uns dias aqui, mas tem seu apartamento. Pela raiva que Colen tem e pelo tempo que conviveu comigo sabe que ela é importante, se a pegam… pode virar próxima vítima. Levantei as mãos, fingindo inocência.
— Ei, calma. Eu sei jogar limpo. Só estou dizendo que… sua casa está bem mais interessante do que eu imaginava. É como diz meu tio Antony: um Mansur não resiste a uma mocinha em perigo.
Na sala de jantar, Jenna servia arroz para Isla, que mostrava um desenho feito com lápis de cor no guardanapo.
— Olha, tia Jenna! É a nossa casa. E esse aqui é o Theo! — ela apontou para um boneco de palito alto com um sorriso quadrado.
Jenna riu e olhou discretamente para mim.
— Você foi promovido rápido, hein? Ergui a taça rindo.
— O boneco não condiz com minha beleza, mas o talento às vezes fala mais alto.
Ela riu e Marcus mais uma vez bufou.
Durante o jantar, tentei manter o foco. Falei de Roma, das tretas, de Victor. Dei meu show, como sempre.
Evelyn riu de algumas piadas, Isla me desenhou parecendo um boneco do Minecraft, e Jenna… Jenna ria com um ar de quem tentava não rir demais.
Ela me observava sem querer deixar que eu percebesse.
Mas, ah, pequena… eu percebo tudo.
Mais tarde, a casa dormia. Isla já estava apagada, Evelyn com Marcus em seu quarto, Jenna naquela noite dormiria ali, e já deveria estar dormindo.
E eu… eu estava com insônia.
Nada anormal.
Dormir sempre foi uma tarefa difícil quando se carrega sangue quente e alma marcada.
Desci em silêncio, só de calça e camiseta, e ouvi um barulho suave vindo da varanda. Adivinha quem?
Ela estava ali, sentada no banco de madeira, os pés descalços e uma caneca na mão.
— Você também é do time que não dorme? — perguntei, com aquele tom casual que uso quando estou muito interessado.
Ela sorriu, mas não completamente.
— Suco de maracujá. A lenda diz que ajuda. — levantou a caneca, sem olhar direto para mim.
— E funciona?
— Nem um pouco.
Me aproximei devagar, recostando no batente da porta.
— Posso me juntar? Ou o delegado vai me prender por importunação?
Ela riu, e dessa vez foi mais genuíno.
— Ele provavelmente só vai te interrogar por três horas, verificar seu histórico inteiro e depois dar um sermão sobre boas maneiras.
— Delícia de homem — brinquei, sentando ao lado dela. — E você? Já teve muitos caras para ele interrogar?
Ela balançou a cabeça devagar, olhando o escuro do jardim.
— Não muitos. Marcus… ele me criou. Me acolheu com 16 anos. Isla tinha acabado de nascer. Eu tava no meio do caos, e ele me deu paz. E com essa fama de "filha" do delegado, você acha que algum menino da cidade teve coragem?
— Nenhum?
— Alguns tentaram. Mas depois da terceira abordagem em que Marcus aparecia do nada… — ela sorriu. — Os outros desistiram.
— Então você virou a garota que ninguém toca?
— É… mais ou menos isso. A boazinha, a responsável, a certinha. Ninguém quer lidar com o risco de ser preso só por me levar no cinema.
Ficamos em silêncio por alguns segundos.
O tipo de silêncio confortável, sabe?
Eu a observei de lado. O brilho da luz da varanda refletia no cabelo solto, a pele dourada pela noite morna, os olhos… cheios de histórias não ditas.
— Bom — falei baixo — pelo menos agora você tem alguém por perto que não liga muito para regras.
Ela me olhou, um pouco séria, um pouco curiosa.
— E você ligaria para o Marcus?
— Eu respeito Marcus. Mas não tenho medo de ninguém. Principalmente quando algo — ou alguém — me interessa.
Ela desviou o olhar, mas o rubor subindo no rosto dela entregava tudo.
Fiquei ali por mais alguns minutos.
O clima entre nós estava construindo algo. Lento, mas firme. Como tempestade no horizonte.
Eu podia vê-la se perguntando: "Será que ele é só mais um cafajeste bonito?"
Talvez fosse.
Mas naquele momento, eu queria ser o homem que ela pudesse chamar — quando tudo desse errado.
E do jeito que a vida estava se movendo... ia dar errado muito em breve.
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