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“Até Que a Lua Caia”

“Aquele Lugar na Sombra do Muro”

A primavera havia deixado para trás o frio e as ruas de Sakuragi estavam em sua fase mais viva.

Estudantes iam e vinham pelas calçadas forradas de pétalas caídas.

Entre eles, **Leon**, de mochila jogada em um ombro, desviava o olhar sempre que outro grupo de alunos passava.

Não era exatamente antissocial. Só... preferia não ter que explicar por que sempre se sentava no canto mais afastado da sala.

— *"Você vai acabar mofando se continuar sempre nesse muro,"* — disse uma voz doce, mas um pouco ácida.

**Kaori**, com seu uniforme impecável e um caderno repleto de adesivos, surgiu à frente dele, os olhos semicerrados como quem estava prestes a dar um sermão.

— “Bom dia pra você também,” — **Leon** resmungou, voltando o rosto para o céu. — “O muro nunca reclama do meu silêncio.”

— “E eu reclamo,” — retrucou **Kaori**, cruzando os braços. — “O clube de ciências precisa de mais um integrante e, adivinha? Você é o último da lista de quem ainda não recusou.”

**Leon** arqueou uma sobrancelha. — “Clube de ciências? Eu mal consigo lidar com química entre pessoas.”

**Kaori** mordeu o lábio inferior, irritada. — “Você quer continuar fugindo de todo mundo até se formar?”

Ele hesitou. Queria. Mas não disse.

Do outro lado do muro da escola, o som de vozes animadas começou a chamar atenção. Era o grupo da **Sayaka**, **Yuto**, **Ren**, e **Mei**, todos do 2º ano, como **Leon** e **Kaori**.

E todos parte da mesma vizinhança que cresceu com eles.

Exceto que, ao contrário de **Leon**, os outros pareciam saber muito bem como viver em grupo.

— “Ei, **Kaori**, não vem pro treino hoje?” — gritou **Sayaka**, a mais energética do grupo, segurando uma garrafa d’água na cabeça como se fosse troféu.

— “Vou sim! Mas antes preciso arrastar um eremita para o mundo social,” — respondeu **Kaori**, dando um leve empurrão em **Leon**.

**Ren**, o mais tranquilo, apenas acenou com um sorriso contido, como quem entendia mais do que dizia.

**Mei**, ao lado dele, inclinou-se para falar algo ao ouvido de **Yuto**, e ambos riram. Os olhos de **Kaori** se apertaram por um segundo. Só um segundo.

**Leon** notou.

— “Você tá com ciúmes... deles?” — perguntou, provocando.

— “Tô nada!” — disse **Kaori**, rápido demais. — “Mas, tipo... eles se aproximaram muito rápido, né?”

**Leon** deu um leve sorriso. Pela primeira vez no dia. — “Então não sou só eu que tem problemas de interação.”

Ela bufou, corando. — “Eu só gosto de ter as coisas claras. E... previsíveis.”

— “Parece que você me odeia por ser imprevisível.”

— “Eu não te odeio,” — **Kaori** respondeu, hesitando. — “Eu só... não entendo você. E isso me incomoda.”

Antes que ele pudesse responder, **Sayaka** voltou correndo. — “Pessoal! O professor **Itou** vai anunciar os grupos da gincana de integração! É a primeira vez que vão misturar os clubes com os alunos que não participam de nenhum!”

— “Gincana?” — **Leon** arregalou os olhos. — “Por que isso soa como punição?”

— “É a chance de você não repetir esse semestre de novo,” — **Kaori** disse com um sorrisinho. — “Vamos lá. Se a gente cair no mesmo grupo, talvez eu me arrependa depois, mas... você vai ter que conversar com alguém além de mim.”

---

A quadra estava lotada. Os clubes da escola se aglomeravam em grupos coloridos. O time de vôlei da **Sayaka**, o clube de literatura do **Ren**, a orquestra onde **Mei** tocava violino, e até o grupo de astronomia onde **Yuto** era vice-presidente.

O professor **Itou** começou a ler os nomes.

— “Grupo 3: **Leon**, **Kaori**, **Ren**, **Sayaka**, e... **Arisa**, do 1º ano.”

— “Arisa?” — repetiu **Kaori**, olhando ao redor.

Uma garota baixinha, com cabelos presos em dois coques desfeitos e um grande livro nas mãos se aproximou timidamente.

— “S-Sou eu... desculpa... tô nervosa...” — ela disse, olhando para o chão.

**Sayaka** imediatamente segurou sua mão. — “Vai dar tudo certo! Vamos fazer você se sentir em casa!”

**Leon** observou de canto. Era estranho como as pessoas pareciam confiar de imediato em alguns. E como **Kaori** parecia desconfortável com isso.

— “Você sempre tem esse olhar de quem julga o mundo,” — disse **Kaori**, sem olhá-lo.

— “Não tô julgando. Tô observando.”

— “Parece julgamento.”

— “E você sempre age como se fosse obrigada a consertar os outros,” — **Leon** rebateu. — “Nem todo mundo quer ser salvo.”

Ela se calou por um instante. O peso daquelas palavras caiu entre eles.

— “Talvez eu só queira que alguém me salve também,” — disse ela, bem mais baixo.

---

O primeiro desafio da gincana seria à tarde: *Corrida de pistas com charadas em grupo*. Teriam que se mover pela escola e resolver enigmas deixados em locais marcados com selos coloridos.

**Ren** tomou a dianteira, lendo o primeiro bilhete. — “Começa com a letra que inicia o nome do lugar onde todos se encontram, mas termina onde o silêncio reina.”

— “Sala de música?” — sugeriu **Kaori**.

— “Biblioteca,” — disse **Leon**, quase ao mesmo tempo.

Eles se olharam. E sorriram, um pouco.

Foram correndo. **Arisa** tropeçava tentando acompanhar. **Sayaka** a puxava animada.

Na biblioteca, um novo bilhete: “Se quer encontrar a resposta, olhe debaixo do que nunca se move, mas nunca está no mesmo lugar.”

— “Relógio de parede,” — disse **Ren**, apontando.

Debaixo dele, outro papel. Dessa vez com instruções de uma charada pessoal: “O integrante mais calado deve liderar a próxima etapa.”

Todos olharam para **Leon**.

Ele suspirou. — “Vocês gostam de me fazer sofrer.”

Mas mesmo assim, tomou a frente. Liderou, guiou, indicou caminhos que poucos pensariam. Inclusive **Kaori**.

No final da prova, ficaram em segundo lugar — mas algo havia mudado. Uma energia diferente pairava no grupo.

**Kaori** parou ao lado de **Leon**, enquanto os outros comemoravam.

— “Você foi bem.”

— “Não sou tão inútil quanto pareço, né?” — disse ele, arqueando uma sobrancelha.

— “Ainda falta muito... mas hoje... você foi necessário.”

Ele a olhou, tentando decifrá-la.

— “Você só fala isso porque estamos no mesmo grupo?”

Ela hesitou.

— “Talvez eu não saiba bem por que falo as coisas quando é com você.”

Ele sorriu, sem dizer nada. E ela desviou o olhar, corando.

---

Na saída da escola, enquanto os outros seguiam em direção à sorveteria do bairro, **Leon** ficou parado no portão.

— “Não vai vir?” — perguntou **Kaori**.

— “Prefiro observar de longe.”

Ela caminhou até ele. Ficou parada, bem ao seu lado.

— “Então me observa também.”

**Leon** virou o rosto para ela. Pela primeira vez, a viu sob outra luz. Não só como a garota irritante que insistia em trazê-lo para o mundo. Mas como alguém... que também queria ser vista.

**\[FIM DO CAPÍTULO 1]**

“Se Eu Esquecer, Me Ensina de Novo”

A tarde seguinte à gincana chegou com um céu nublado e o som abafado dos passos nos corredores da escola.

As provas regulares se aproximavam, mas tudo que se comentava era o resultado da competição.

Na sala do clube de ciências, Kaori estava com um lápis preso entre os dentes, rabiscando ideias para o próximo experimento da turma.

— “Você ainda tá brava porque não ganhamos ontem?” — perguntou Sayaka, sentada de cabeça para baixo no sofá da sala, os pés pra cima.

— “Não. Só... fiquei pensando no que o Leon disse ontem. Sobre não querer ser salvo.”

— “É,” — disse Sayaka, pensativa. — “Mas você quer salvar todo mundo. Não dá pra viver assim o tempo todo.”

Kaori suspirou. — “Eu não tô tentando ser heroína. Só... não gosto de ver as pessoas sozinhas.”

— “Você viu o jeito que ele te olhou no final da prova?” — Sayaka sorriu. — “Se isso não é mudança, não sei o que é.”

— “Mudança assusta,” — respondeu Kaori, de cabeça baixa.

Nesse instante, Arisa entrou devagar, abraçando um fichário contra o peito.

— “O professor Itou pediu pra avisar que vai ter reunião dos grupos da gincana no sábado... tipo um encerramento.”

— “Encerramento?” — Kaori ergueu as sobrancelhas. — “Isso nunca teve antes.”

— “Acho que ele gostou da interação,” — Arisa murmurou. — “E... queria agradecer por ontem. Foi a primeira vez que alguém segurou minha mão sem me achar estranha.”

Sayaka abraçou Arisa com força. — “Você é parte do time agora, garota. E vamos te arrastar até o karaokê depois do encerramento, entendeu?”

Arisa ficou vermelha até as orelhas. — “T-tá bom…”

Na saída, Leon caminhava sozinho até o portão quando Yuto o alcançou.

— “Você tem noção do que fez ontem?”

— “Guiar um bando de adolescentes pela escola como um GPS humano?”

— “Você falou. Com mais de uma pessoa. Em voz alta.”

Leon revirou os olhos. — “Milagre.”

— “E ainda teve aquele momento com a Kaori. Aquilo foi... intenso.”

— “Você presta atenção demais.”

— “Só tô dizendo que talvez não seja ruim deixar as pessoas se aproximarem. Até você tem direito de se importar com alguém, sabe?”

Leon parou por um instante. — “E se eu não souber o que fazer com isso?”

— “Se esquecer... alguém ensina de novo.”

Sábado, no pátio coberto da escola, os grupos estavam reunidos para o tal encerramento. Havia comidas simples, sucos e alguns jogos. O clima era leve, mas havia algo no ar. Uma tensão suave, especialmente entre Kaori e Leon.

Mei, observando de longe, cochichou com Ren:

— “Eles são estranhos juntos. Mas... parece que se completam.”

Ren sorriu. — “Ela faz ele falar. Ele faz ela pensar. É um equilíbrio curioso.”

Perto dali, Kaori ajustava as bandeirinhas de papel no varal. Ao notar Leon chegando, fingiu não ver.

Ele se aproximou devagar.

— “Você não vai me arrastar pra nenhuma atividade hoje?”

— “Não preciso. Você veio sozinho.”

— “É. Culpa sua.”

Ela riu. — “Já é um avanço.”

Leon hesitou antes de falar de novo. — “Sobre o que você disse outro dia. De querer ser salva...”

— “Esquece isso,” — disse ela rápido. — “Foi só um momento bobo.”

— “Não foi.”

Kaori o encarou, surpresa.

— “Eu também não gosto de depender dos outros,” — continuou Leon. — “Mas... talvez seja mais fácil do que viver como uma ilha.”

Ela abriu a boca pra responder, mas foi interrompida por Sayaka, que apareceu com um alto-falante improvisado.

— “Gente! Vamos formar duplas pra próxima dinâmica? Uma dança cega!”

— “Dança cega?” — perguntou Yuto. — “Isso é real?”

— “Alguém da dupla fica com os olhos vendados. O outro guia. Confiança, meus caros!”

Arisa gelou. Ren logo ofereceu-se para acompanhá-la. Mei ficou com Yuto, que fingiu reclamar, mas sorriu no fim.

Kaori olhou para Leon.

— “Eu sei que vai dizer não, mas...”

— “Eu topo,” — ele disse, antes que ela terminasse.

Ela arregalou os olhos. — “Sério?”

— “Confiança, né?”

Kaori amarrou uma fita nos olhos dele. Ele segurou as mãos dela com mais firmeza do que esperava.

A música começou suave. Ela o guiava com passos pequenos. Leon seguia, tenso no começo, depois mais leve.

— “Você tem péssima coordenação,” — ela disse rindo.

— “E você tem mãos frias.”

— “Acho que é nervoso.”

— “Seu ou meu?”

Ela não respondeu. Só apertou os dedos dele.

Ao fim da música, Leon tirou a venda.

— “Foi estranho. Mas... bom.”

Kaori corou. — “Acostuma. Tem mais por vir.”

Ele sorriu. — “Se eu esquecer...”

— “Eu te ensino de novo.”

...“Nem Todo Silêncio é Vazio”...

O domingo amanheceu com céu claro e temperatura amena — perfeito para um plano que, segundo Sayaka, ninguém teria coragem de recusar.

— “Piquenique no parque da colina! Nada de desculpas!” — ela digitava furiosamente no grupo do chat. — “Quem faltar, vai pagar os lanches da próxima vez!”

Kaori leu a mensagem ainda na cama, bufando.

— “Ela age como se fôssemos uma banda de idols.”

Leon respondeu, lacônico:

— “Pior que não é ruim a ideia.”

Kaori digitou e apagou três vezes antes de escrever:

— “Você vai?”

— “Talvez. Se alguém garantir que não vão tentar me forçar a cantar.”

— “Se for só isso... eu garanto.”

Mais tarde, na praça, Ren e Arisa chegaram primeiro, trazendo uma toalha xadrez e um livro de enigmas. Yuto apareceu logo atrás com sua bicicleta e dois sacos enormes de salgadinhos. Mei, com fones no pescoço, trazia frutas cortadas com perfeição. E, como sempre, Sayaka fez sua entrada triunfal pulando a mureta como se fosse o palco de um show.

— “Onde estão os atrasados?” — ela perguntou.

— “Ali,” — disse Ren, apontando discretamente.

Leon e Kaori vinham caminhando lado a lado. Não estavam exatamente próximos. Mas também... não havia espaço entre eles que outra pessoa ousasse ocupar.

Sayaka os observou, de braços cruzados.

— “Eles juram que não são um casal. Mas olha isso.”

Mei riu. — “Ela anda mais devagar quando ele tá por perto. E ele para de olhar pro chão.”

Yuto sussurrou para Arisa:

— “A gente devia apostar quando eles vão se beijar. Eu dou uma semana.”

Arisa, vermelha, só balançou a cabeça. — “Acho que... eles nem perceberam ainda.”

Durante o piquenique, os grupos se dispersavam entre jogos de cartas, conversa fiada e muita risada. Kaori puxou Leon para montar um quebra-cabeça com Arisa e Ren, mas ficou incomodada ao ver Sayaka puxando Leon pelo braço para uma brincadeira de mímica.

— “Vem, você vai adivinhar! É só prestar atenção nos gestos!”

Leon tentava fugir, mas Sayaka era insistente. Ria alto, fazia drama nas encenações.

Kaori nem percebeu que estava apertando demais a peça do quebra-cabeça.

Ren notou.

— “Tá tudo bem?”

— “Claro que tá,” — respondeu seca.

— “Porque sua cara diz que você queria jogar a Sayaka no lago ali do lado.”

Kaori mordeu o lábio.

— “Ela é muito... livre com ele.”

— “Ele parece não ligar.”

— “Esse é o problema.”

Ren sorriu de canto. — “Ciúmes são sinais.”

— “Não é ciúme,” — disse Kaori, rápido demais. — “É... é só que ele parece não perceber quando alguém tá tentando se aproximar.”

Ren olhou para Leon, que ria de algo que Sayaka encenava.

— “Talvez ele perceba. Só não sabe o que fazer com isso.”

Ao fim da tarde, Arisa sugeriu uma roda de perguntas rápidas. Cada um respondia uma pergunta aleatória com sinceridade.

Mei pegou uma das cartas.

— “Pra Leon: qual a última coisa que alguém te ensinou e você não esqueceu?”

Leon olhou de relance para Kaori.

— “A dançar vendado sem cair. É... mais difícil do que parece.”

Todos riram. Kaori baixou o rosto, disfarçando o sorriso.

Sayaka puxou outra.

— “Pra Kaori: o que você gostaria de esquecer, mas não consegue?”

Houve um breve silêncio.

— “O dia em que percebi que gosto de alguém que vive fugindo de todo mundo.”

O grupo ficou mudo por dois segundos.

Yuto quebrou o clima:

— “Isso podia ser música de dorama.”

Leon pigarreou. Kaori olhou para o chão.

Mas ninguém riu.

Na volta, o grupo se dividiu por direção. Kaori e Leon seguiram juntos até o portão da casa dela.

— “Sobre o que você disse lá no jogo...” — começou Leon.

— “Esquece. Eu só quis soar poética.”

— “Não acho que foi isso.”

Ela o encarou. — “Você me confunde.”

— “Você me pressiona.”

— “Porque eu quero que você se importe.”

Ele hesitou.

— “Talvez eu esteja começando a... mas eu ainda não sei o que isso significa.”

— “Tudo bem,” — disse ela, virando-se para entrar. — “Se esquecer...”

— “Você me ensina de novo?” — completou ele.

Ela sorriu. — “Sempre.”

[FIM DO CAPÍTULO ]

“Entre Palcos e Silêncios”

A semana começou com uma novidade grudada no quadro de avisos do corredor principal: *“Apresentação Interdisciplinar: Grupos de até 6 alunos, tema livre, execução obrigatória.”*

Kaori leu o aviso em silêncio, os olhos fixos na folha como se pudesse apagá-la com o olhar. Sayaka, animada como sempre, se aproximou já carregando ideias e confusão.

— “A gente podia fazer uma peça! Ou uma apresentação musical! Ou um documentário poético!” — disse Sayaka, gesticulando com as mãos.

— “Ou algo simples, tipo uma leitura dramática com trilha sonora,” — sugeriu Ren, sempre com aquele tom que soava como uma tentativa de equilíbrio.

Leon, encostado no batente da janela, apenas observava. Não falou nada.

Kaori desviou o olhar quando sentiu os olhos dele sobre ela.

— “Você vai participar com a gente, né?” — perguntou Mei, segurando seu estojo de canetas coloridas como quem segura um amuleto.

— “Sim...” — Kaori respondeu, hesitante. — “Acho que sim.”

Yuto entrou na conversa meio atrasado, rindo de algo que só ele sabia. Mas logo parou ao perceber o clima sutil no grupo. Ele lançou um olhar rápido para Kaori e depois para Leon.

Foi Sayaka quem quebrou o momento.

— “Então somos nós seis, né? Fechado?”

Mas antes que qualquer um pudesse confirmar, uma nova voz surgiu:

— “Tem espaço pra mais um?”

Um garoto novo, alto, de olhar calmo e sorriso treinado, estava parado atrás deles. Cabelos escuros, camisa meio amassada, mas com uma energia que imediatamente chamou atenção.

— “Sou Sora. Acabei de me transferir. Ouvi dizer que essa apresentação é importante, então... queria participar com um grupo já formado.”

Sayaka quase gritou.

— “Mas é claro! Somos super receptivos! Né, pessoal?!”

Kaori olhou de relance para Leon. Ele permanecia imóvel, mas havia algo nos olhos dele. Um lampejo de incômodo que desapareceu rápido demais para ser confirmado.

— “Mais um integrante pode trazer boas ideias,” — disse Mei, sorrindo educadamente.

Ren assentiu. — “Seja bem-vindo.”

Yuto estalou os dedos. — “Então são sete. E o tema?”

Foi Sora quem respondeu primeiro:

— “Que tal... ‘memórias que não nos pertencem’?”

Kaori empalideceu levemente. Leon olhou diretamente para Sora pela primeira vez.

— “Interessante,” — disse Ren, anotando.

— “É só uma ideia,” — Sora completou, com um sorriso gentil demais para ser casual.

Aquele tema. Aquilo soou como uma provocação — ou um presságio.

---

Naquela tarde, a sala do clube de literatura foi aberta só para eles. Kaori ficou junto de Mei, preparando as ideias no papel. Sayaka falava demais. Ren rabiscava. Yuto tocava acordes aleatórios em um violão desafinado. E Sora... se aproximava.

— “Você é Kaori, né?” — ele disse, puxando uma cadeira ao lado dela.

— “Sou.”

— “Você tem olhos de quem já acordou de um sonho que não queria esquecer.”

Kaori congelou. Aquilo... soava familiar. Demais.

— “Desculpa, falei algo estranho?” — Sora perguntou, sorrindo com leveza.

Leon estava do outro lado da sala, mas sua atenção estava neles. Cada palavra.

— “Eu não gosto de sonhos,” — respondeu Kaori. — “Eles acabam quando a gente mais precisa deles.”

Sora pareceu entender. Mas não se afastou.

Mei tentou amenizar a tensão jogando ideias no quadro. — “Podíamos representar uma sequência de lembranças que se entrelaçam... como se fossem de pessoas diferentes, mas que compartilham o mesmo coração.”

— “Gostei,” — disse Yuto. — “Talvez isso ajude a expor... coisas que a gente normalmente esconderia.”

— “Tipo?” — Sayaka perguntou.

— “Tipo você ficar olhando pro Ren quando ele não tá vendo,” — ele respondeu, rindo.

Sayaka ficou vermelha.

— “Mentira!”

Ren fingiu não ter ouvido. Mas seus dedos pararam de escrever.

Leon se levantou e pegou o pincel da mão de Mei. No centro do quadro, escreveu:

**“Se eu esquecer, me ensina de novo.”**

Kaori olhou a frase como se a tivesse lido em algum lugar antes. Ou sentido.

— “É disso que a apresentação precisa,” — disse Leon, em voz baixa. — “De algo que a gente não consegue explicar, mas sente.”

Sora se aproximou do quadro, encarando a frase.

— “Poético... Mas alguém já viveu isso?”

— “Talvez,” — respondeu Leon, sem encará-lo.

A tensão estava ali. Invisível, mas real.

---

Naquela noite, Kaori subiu sozinha até o farol. O vento estava mais frio que o normal. Ela não esperava encontrar ninguém, mas lá estava ele. Leon. De novo. Sentado no mesmo canto.

— “Você sabia que ele ia usar aquela frase?” — ela perguntou.

— “Sora?” — ele perguntou, já sabendo a resposta. — “Não. Mas acho que ele também sente.”

— “Sente o quê?”

— “Que tem algo faltando. Algo que ninguém lembra... mas faz falta mesmo assim.”

Ela se sentou ao lado dele.

— “Você acha que pode confiar em alguém que sente o mesmo que você... mas que não sabe por quê?”

Leon demorou a responder.

— “Depende.”

— “Do quê?”

— “De quem foi a primeira pessoa que te fez sentir isso.”

Kaori não respondeu. Mas seu silêncio dizia mais do que palavras.

Ali, à beira do mar invisível naquela noite nublada, havia um espaço onde o tempo parecia parar. Onde o passado, o presente e o impossível se misturavam em memórias que talvez não fossem reais... mas ainda assim, pertenciam a eles.

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**\[FIM DO CAPÍTULO ]**

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