A sala de reuniões estava sufocante, mesmo com o ar-condicionado no máximo. O silêncio era cortante, e todos os olhos estavam em mim — todos, menos os dele. Min Jae Lee mantinha aquele maldito sorriso no rosto, como se não desse a mínima para a pressão que pairava no ar.
Eu odiava aquele sorriso.
Desde que ele entrou na empresa, dois anos atrás, nada foi o mesmo. Ele era talentoso, sim. Mas insolente, provocador, e acima de tudo, perigoso. Subia de cargo com uma velocidade absurda, ganhava a atenção da diretoria com ideias ousadas e encantava a todos com sua lábia. Todos... menos a mim.
Porque eu via além da máscara.
— Então, Sora — o CEO me chamou de volta à realidade —, acha viável a proposta apresentada?
Meus olhos se voltaram para a tela. Era a apresentação dele. Min Jae havia preparado uma campanha arriscada, cheia de imagens sensuais e slogans agressivos. Iria chocar o público. Poderia funcionar. Ou poderia ser um desastre.
Cruzei os braços, mantendo a compostura.
— Eu diria que é... ousada demais. E não temos margem para erros neste trimestre.
Vi, pelo canto do olho, Min Jae inclinar levemente a cabeça. Seus lábios se curvaram num meio sorriso. Desafiador.
— Ou talvez, o que falta é coragem. — ele disse, sem tirar os olhos de mim.
Um murmurinho percorreu a mesa. O CEO riu, tentando aliviar a tensão.
— Bom, coragem ou não, precisamos pensar com cautela. Vamos revisar juntos e ajustar os pontos sensíveis. Sora, Min Jae, deixo isso com vocês.
Ótimo.
Mais uma vez, eu teria que dividir o projeto com ele. Mais horas trancado na mesma sala, respirando o mesmo ar. Mais tempo para aquele maldito sorriso me corroer por dentro.
— Você me odeia tanto assim, ou só tem medo de mim? — ele perguntou, assim que ficamos sozinhos na sala de vidro.
Não respondi de imediato. Fingi analisar os slides, os gráficos, qualquer coisa que me desse tempo para ignorar a presença dele. Mas era impossível. Min Jae tinha essa energia... carregada. Quente. Como um fio exposto prestes a dar choque.
— Não perca tempo tentando me provocar, Lee. Temos trabalho a fazer.
— Você sempre fala meu sobrenome como se tivesse veneno na boca — ele se aproximou, os passos lentos, seguros. — Mas eu sei o que está por trás disso. Você me observa demais pra ser só desprezo.
Levantei os olhos, encarando-o de frente.
— Você está delirando.
Ele parou a poucos centímetros de mim. Tão perto que eu podia sentir o perfume amadeirado em sua pele. Tão perto que minha respiração vacilou, por um instante.
— Estou? — ele sussurrou. — Então me diga... por que sempre me olha como se quisesse me destruir... ou me tocar?
Min Jae era ousado. E eu... eu era orgulhoso demais para recuar. Segurei o queixo dele entre os dedos, firme.
— Você realmente quer brincar com fogo?
Ele arqueou a sobrancelha. O sorriso dele se desfez um pouco. Ficou mais sério. Mais... real.
— Já estou queimando, Sora.
Naquela noite, não consegui dormir.
A imagem dele invadiu meus pensamentos como um veneno lento. O jeito como me desafiava, como se quisesse me arrastar pro fundo junto com ele. Como se soubesse de algo que eu tentava esconder até de mim mesmo.
Eu odiava aquilo.
Odiava o jeito que meu corpo reagia à presença dele. Odiava pensar nele fora do terno, fora da máscara. Vulnerável. Arrogante. Meu.
Mas o que me aterrorizava mais... era a certeza de que, em algum nível obscuro, eu também desejava isso.
Ele me tocou.
Mesmo que por um instante, mesmo que com raiva, os dedos frios de Sora Kim estiveram no meu queixo. Firme, ameaçador... e absurdamente excitante.
A maioria das pessoas teria recuado diante daquele olhar cortante. Mas eu não. Porque o que ele não entende — o que ele nunca vai admitir — é que eu o conheço. Mais do que ele gostaria. Mais do que é seguro.
Sora não me odeia. Ele se odeia por querer alguém como eu.
Voltei para minha sala no fim da tarde, ainda com o cheiro dele preso na memória. Amadeirado. Preciso. Como tudo nele. E por mais que tentasse focar nos relatórios, na maldita reunião do dia seguinte, minha mente insistia em repetir o momento em que ele me encarou com fúria e... desejo. Porque estava lá. Eu vi.
Ele quer me destruir. Mas também quer me tocar.
E a linha entre esses dois impulsos é cada vez mais fina.
Conhecer Sora Kim foi como entrar num campo minado com os olhos vendados. Quando cheguei à empresa, ele já era uma lenda: o prodígio intocável. Discreto. Eficiente. Temido. Mas não foi isso que me atraiu. Foi o jeito como ele tentava apagar qualquer traço de emoção. Como se amar fosse uma fraqueza. Como se desejar fosse uma falha de caráter.
Eu quis quebrar isso.
Desde o início.
Na primeira vez que nos encaramos em uma reunião, entendi que aquilo era pessoal. Não era só sobre trabalho. Ele via em mim algo que incomodava. Algo que ameaçava o equilíbrio rígido que ele criou pra sobreviver nesse mundo.
E talvez ele tenha razão.
Porque eu não sou confiável.
E não pretendo ser.
O bar do lobby estava quase vazio quando desci, já passava das dez da noite. Pedi uísque puro e encostei no balcão, observando os reflexos dourados dançarem no vidro. O terno ainda colado ao corpo, a gravata no bolso.
Então senti.
Ele.
Antes mesmo de olhar, eu sabia. O cheiro. A presença. A tensão no ar. Sora tinha esse poder: tornava o ambiente mais denso só com o silêncio dele.
Ele parou a poucos metros. Pediu uma bebida. Fingiu que não me viu. E eu fiz o mesmo. Porque o jogo entre nós era esse. Um jogo lento, cruel, delicioso.
— Ainda tentando esquecer o que aconteceu hoje? — perguntei, sem virar o rosto.
Ele não respondeu de imediato. Apenas bebeu. Lento.
— Não há nada a esquecer — disse, por fim.
— Claro que não — sorri, girando o gelo no copo. — Só foi um toque. Um deslize. Um momento sem importância.
Dessa vez, ele virou para mim. Olhos escuros, ameaçadores.
— Está tentando me provocar?
— Sempre.
Ele se aproximou, e o mundo pareceu encolher. Havia um brilho diferente em seus olhos. Algo perigoso. Algo que, por um segundo, me fez prender a respiração.
— Cuidado, Min Jae — ele murmurou, perto demais. — Eu não sou o tipo de homem com quem se brinca.
Inclinei a cabeça, os lábios quase roçando os dele.
— Não estou brincando, Sora. Estou apostando tudo.
Quando ele saiu do bar, a tensão ainda grudava em mim como suor.
Eu o quero.
Mas o que me assusta não é o desejo.
É o quanto eu estou disposto a me perder para tê-lo.
O problema com Min Jae não era o sorriso fácil, a arrogância latente ou o talento irritante que exalava até quando apenas respirava. Não era o modo como ele encantava a todos com sua presença magnética, como se soubesse exatamente o efeito que causava — e usasse isso como uma arma disfarçada de charme.
O problema real era o que ele fazia comigo.
Por dentro.
Em silêncio.
Ele não precisava dizer nada para me desestabilizar. Bastava um olhar demorado, uma curva sutil nos lábios, uma simples passagem por perto para que meu mundo — tão cuidadosamente organizado — começasse a ruir pelas bordas. Min Jae me tirava do eixo de maneira cruelmente gentil. Rachava minhas defesas com palavras suaves, quase inocentes, toques que não aconteciam, mas eram insinuados no ar. Criava espaços entre nós onde o desejo escorria como veneno lento.
E eu... deixava.
Deixava que ele entrasse, que se infiltrasse como fumaça pelas frestas das minhas convicções. Como se uma parte escondida e perversa da minha alma não apenas desejasse aquilo, mas implorasse por mais. Por ele.
Naquela noite, dormi mal. Como sempre acontecia depois de mais um embate disfarçado entre nós. A insônia era constante, fiel, e trazia com ela os flashes do que não deveria sentir, do que jamais deveria acontecer. Sonhava — acordado — com seus olhos escuros fixos nos meus, com suas mãos me tocando onde ele nunca ousara. Com a voz dele sussurrando meu nome de um jeito que ninguém mais pronunciava.
Cheguei à empresa mais cedo do que o habitual, buscando respirar fundo antes que ele aparecesse com aquele perfume cítrico e amadeirado que me perseguia pelos corredores. Eu precisava de controle. Tinha uma proposta nova para revisar, prazos apertados estourando no relógio, uma reunião de alto escalão marcada para às dez. Tudo exigia foco.
Mas o foco evaporou assim que abri a porta da sala de projetos.
Ele estava lá. Sozinho. De costas para mim.
Camisa branca, justa demais. Mangas arregaçadas até os cotovelos, revelando os antebraços definidos. O cabelo ainda úmido caía rebelde sobre a testa. Era como se tivesse saído do banho direto para o campo de batalha, e aquele campo… era eu.
Min Jae se virou lentamente, como se soubesse desde o início que eu estava ali.
— Achei que só eu era doente o bastante pra chegar antes do expediente.
Fechei a porta, sem tirar os olhos dele.
— Tem muito trabalho. Não é hora pra piadas.
— Eu nunca brinco quando se trata de você, Sora.
Tentei ignorar. Deus sabe que tentei. Mas ele falava com aquela voz baixa, provocante, carregada de algo que era mais perigoso que desejo: certeza. Ele sabia o efeito que causava.
E eu... estava cansado de fugir.
— Você quer me provocar? — perguntei, a voz rouca, carregada de algo que beirava rendição.
Ele não respondeu. Mas também não recuou.
— Então provoque. Vamos ver até onde você aguenta.
O beijo veio como tempestade. Sem preâmbulo. Sem gentileza.
Foi raiva, frustração, entrega.
Nossos corpos se chocaram, nossas bocas se encontraram como se quisessem apagar anos de tensão em segundos. Ele me puxou pela gravata, e eu o prendi contra a parede com mais força do que deveria. Não havia lógica ali. Só instinto.
Min Jae gemeu contra meus lábios, e o som me fez perder qualquer controle. O mundo ao redor deixou de existir. Só restou o calor.
Quando me afastei, ofegante, ele estava com os olhos vermelhos, os lábios inchados, o peito arfando.
— Isso foi um erro — eu disse, embora tudo em mim clamasse por repetir.
Ele sorriu. Aquele maldito sorriso.
— Então vamos cometer mais um.
Saí da sala antes que enlouquecesse de vez.
Mas já era tarde.
O desejo tinha vencido.
E, dentro de mim, uma verdade ecoava como sentença:
Não havia mais volta.
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