Londres estava envolta por uma névoa suave naquela manhã. O céu nublado contrastava com a excitação que tomava conta de Lívia. Seu salto ecoava nas calçadas molhadas enquanto ela caminhava em direção ao prédio espelhado da Azevedo Enterprises, uma das maiores corporações de investimentos e tecnologia da Europa.
Lívia era uma advogada jovem, determinada e brilhante. Recém-formada com honras em Direito Empresarial pela University College London, já havia conquistado admiração nos estágios e em casos simulados. Disciplinada, discreta e perspicaz, não era apenas bonita — era afiada como uma lâmina.
Morava com sua melhor amiga, Isabela, em um flat charmoso em Notting Hill. As duas se apoiavam em tudo — Isabela, divertida e romântica, era seu oposto perfeito. Mas hoje, Lívia precisava focar. Era o dia da entrevista.
Ela respirou fundo diante do prédio de vidro imponente. O reflexo mostrava seu tailleur cinza impecável e o coque preso com perfeição. Estava pronta para conhecer o CEO: Dante Azevedo.
Um nome que já era quase uma lenda no mundo corporativo.
Rico, implacável, calculista. Com menos de 30 anos, Dante transformara a Azevedo Enterprises em um império. Era conhecido por sua frieza, sua exigência extrema e sua completa falta de interesse por laços emocionais. Os boatos diziam que ele nunca sorria — e nunca se apegava.
Quando Lívia entrou na recepção, foi levada direto ao último andar.
— O Sr. Azevedo a receberá agora. — disse a assistente, uma mulher de olhar sério e postura rígida.
A sala era ampla, moderna, com janelas do chão ao teto que revelavam a cidade cinzenta. Dante estava de pé diante da vista, de terno escuro, braços cruzados, mandíbula forte e o olhar afiado de quem já sabia o que queria — e o que dispensava.
Ele se virou devagar ao ouvi-la entrar.
Lívia quase perdeu o fôlego. A presença dele era avassaladora. Alto, de traços marcantes, olhos cinzentos como aço, Dante exalava poder. Mas também uma frieza cortante que parecia atravessar a alma.
— Senhorita Bernardes. — ele disse, seco, fitando-a de cima a baixo com um ar avaliador.
— Senhor Azevedo. — ela respondeu com firmeza. Não iria se intimidar. Sabia exatamente do que era capaz.
Ele se sentou à sua frente. Havia algo no olhar dele que a inquietava. Como se tentasse decifrá-la — ou desmontá-la.
— Seu currículo é impressionante. — ele disse, sem emoção. — Mas aqui não basta ser brilhante. Aqui, eu exijo mais. Agilidade. Ética. Discrição. E resistência.
— Eu costumo superar expectativas. — ela rebateu, com um leve sorriso. Seu tom era calmo, mas firme.
Dante arqueou uma sobrancelha.
— Veremos.
Nos trinta minutos seguintes, ele a testou com perguntas difíceis, dilemas jurídicos e cenários improváveis. Mas Lívia não cedeu. Respondeu tudo com segurança, com raciocínio rápido e postura elegante. Não sorriu à toa. Não gaguejou. E, no fim, os olhos frios dele pareciam conter… algo mais.
Admiração, talvez.
Quando ela se levantou para sair, ele se aproximou, mais perto do que necessário.
— Você começa amanhã. Quero você em minha equipe jurídica interna.
Ela piscou, surpresa com a decisão rápida.
— Obrigada pela oportunidade.
Dante segurou seu olhar por um momento intenso, até que ela sentiu o calor subir pelo pescoço.
— Espero não me arrepender, senhorita Bernardes.
Ela ergueu o queixo, sem desviar os olhos.
— Não vai.
E saiu com passos firmes, o coração acelerado, não só pela conquista — mas pela estranha tensão que pairava no ar entre eles.
O que ela não sabia era que, do outro lado do vidro, Dante a observava sumir pelo corredor, sentindo pela primeira vez em anos… algo.
Intriga. Fascínio. Desejo.
E uma estranha sensação de que aquela advogada seria um problema.
Um delicioso problema.
Dante
Lívia
O céu de Londres ainda estava encoberto quando Lívia desceu do táxi em frente ao prédio imponente da Azevedo Enterprises. Ela apertou a alça da bolsa no ombro, endireitou a postura e respirou fundo. Seu primeiro dia.
Apesar da ansiedade, sua mente estava focada. Sabia o tamanho da oportunidade — e também o tamanho do desafio. Trabalhar diretamente com Dante Azevedo, o CEO mais jovem e exigente do mercado europeu, era, ao mesmo tempo, uma honra e uma guerra.
Dante tinha apenas 28 anos, mas a frieza nos olhos e a rigidez nos gestos o faziam parecer mais velho. Ele não era de sorrisos nem de concessões. E, ainda assim, algo nele a havia intrigado desde o primeiro olhar.
Lívia subiu ao último andar, onde ficava a diretoria e a ala jurídica. Foi recebida por uma assistente simpática chamada Laura, que lhe mostrou sua nova sala: elegante, funcional e com uma vista parcial da cidade. Não muito longe da sala de Dante.
— Aqui você ficará bem próxima ao setor estratégico — disse Laura com um sorriso quase cúmplice. — O senhor Azevedo gosta de manter os olhos em tudo.
Lívia agradeceu e, assim que ficou sozinha, passou alguns minutos organizando sua mesa. Não demorou para que seu telefone corporativo tocasse.
— Senhorita Bernardes — a voz grave e fria de Dante soou do outro lado. — Preciso de você na minha sala. Agora.
Ela engoliu em seco e ajeitou a blusa branca de seda antes de caminhar até a porta dele. Bateu uma vez.
— Entre — disse a voz, já impaciente.
Dante estava de pé, olhando para uma tela com gráficos. Sem virar-se de imediato, indicou com um gesto para que ela se aproximasse.
— Preciso da sua análise sobre esse contrato de fusão. Preciso de parecer jurídico até o fim do dia. — Ele virou-se e entregou um tablet nas mãos dela. O toque de seus dedos nos dela foi breve, mas despertou algo involuntário. Um arrepio sutil. Ele também pareceu notar, mas ignorou.
— Compreendido — respondeu Lívia, mantendo a postura firme.
— A maioria dos meus funcionários erra porque tem medo de mim. Não quero isso de você, Bernardes. Só exijo resultado. — Seus olhos cinzentos fixaram-se nos dela, intensos e calculistas. — Não me faça perder tempo.
Ela ergueu o queixo, determinada.
— Nunca erro duas vezes.
Os olhos de Dante brilharam com um leve traço de desafio — ou admiração. Era difícil decifrar.
— Pode voltar ao trabalho.
Ela se virou e saiu com calma, mas seu coração batia mais forte. Não pelo medo. Mas pela energia magnética que ele exalava. Frio, sim. Mas perigosamente envolvente.
Horas depois, ela finalizou o parecer, revisou com precisão e entregou pessoalmente. Ele estava sentado à mesa, camisa social levemente dobrada nos antebraços, revelando músculos discretos mas definidos. Pegou o relatório e leu em silêncio.
O silêncio durou mais do que ela esperava. Ele finalmente levantou o olhar.
— Isso está… excelente.
Era a primeira vez que ela ouvia um elogio dele.
— Obrigada.
— Poucos aqui me impressionam no primeiro dia. — Seu olhar vagou rapidamente pelos traços do rosto dela. — Você é perigosa, Bernardes.
Ela franziu levemente o cenho.
— Perigosa?
— Inteligente, focada… e bonita. Uma combinação letal em um ambiente de poder.
Lívia segurou o olhar dele, surpresa com a franqueza.
— Eu estou aqui para trabalhar, senhor Azevedo.
Um leve sorriso — quase imperceptível — surgiu nos lábios dele.
— Claro que está.
O silêncio entre eles se estendeu. Tenso. Elétrico.
Antes que a atmosfera se intensificasse mais, alguém bateu na porta. Era Enzo, o braço direito de Dante e seu melhor amigo de longa data. Alto, olhar sagaz e sorriso fácil — o oposto do CEO.
— Com licença. Estou interrompendo alguma coisa?
— Claro que não — respondeu Dante, voltando à sua rigidez habitual.
Lívia aproveitou o momento para sair.
— Até mais tarde, senhor Azevedo. — Ela passou por Enzo, que a observou com curiosidade.
— Linda e esperta — comentou Enzo, assim que a porta se fechou. — Vai dar trabalho pra você, não vai?
Dante apenas o olhou, sério.
— Ela é diferente.
— Já percebi. Só não se esqueça de uma coisa, irmão — disse Enzo, jogando-se em uma poltrona —, até gelo derrete se esquentar demais.
Dante ignorou o comentário, mas seu olhar seguiu fixo na porta por onde Lívia havia saído.
Talvez Enzo estivesse certo.
Talvez o gelo começasse a rachar.
Enzo
O dia seguinte começou com o som do despertador cortando o silêncio da manhã de Londres. Lívia acordou ainda com os ecos da reunião de ontem na mente. O olhar de Dante, a frieza dele… e aquela estranha tensão entre eles. Ela não conseguia tirar o rosto dele da cabeça. O jeito como ele a observava, de longe, parecia estar calculando o próximo passo.
Era como se ele estivesse à espera de um erro, mas ao mesmo tempo, hábil o suficiente para reconhecer sua competência. Isso a intrigava. Ela não sabia ao certo o que sentia. Mas sabia que, de alguma forma, ele estava começando a ser mais do que uma mera figura de autoridade.
Ao chegar ao escritório, o dia já estava em pleno andamento. A recepção estava movimentada, mas Lívia seguiu direto para sua sala. Ela não queria perder tempo e logo começou a trabalhar em um novo caso que havia sido entregue a ela. Enquanto isso, o nome Dante Azevedo rondava seus pensamentos.
Enzo, o braço direito de Dante e melhor amigo, passou pela sala de Lívia e sorriu ao vê-la focada no trabalho.
— Primeira semana e já está a todo vapor, hum?— comentou, com aquele sorriso irreverente que contrastava tanto com a postura de Dante.
Lívia olhou para ele e sorriu, sem desviar os olhos do computador.
— Alguém tem que fazer o trabalho por aqui, certo?
— Verdade. Mas cuidado com o chefe. Ele não é exatamente… amigável com quem o desafia. — Enzo deu uma piscada antes de sair da sala.
Lívia apenas acenou com a cabeça, absorvendo as palavras dele. Ela sabia que trabalhar ao lado de Dante seria um desafio. Um desafio que ela estava pronta para enfrentar.
À tarde, ela foi chamada novamente à sala de Dante. Dessa vez, ele não parecia tão impaciente, mas sim mais… contemplativo. Quando ela entrou, ele estava olhando pela janela, os dedos cruzados sob o queixo. Quando se virou para ela, seus olhos estavam mais suaves, mas ainda carregados de uma tensão inexplicável.
— Bernardes. — Ele fez uma leve inclinação de cabeça. — Preciso de você para uma reunião importante com investidores amanhã. Vai ser um grande teste para você.
Lívia ergueu uma sobrancelha, intrigada, mas não deixou transparecer nenhum sinal de nervosismo.
— Entendido, senhor Azevedo. Estou pronta.
Dante a observou por mais um momento. Os olhos dele, normalmente distantes, agora pareciam mais próximos. Algo estava diferente.
— Você não tem medo de mim. — A frase foi direta, sem rodeios.
Lívia sustentou o olhar dele, sem hesitar.
— Não sou de ter medo. Só faço o meu trabalho.
Dante se aproximou da mesa, seus passos ecoando pelo ambiente, mas não foi até ela. Ficou a uma distância confortável, mas suficientemente próxima para que ela sentisse a intensidade de sua presença.
— Não me impressiono facilmente. — Ele disse em voz baixa. — A maioria das pessoas se curva diante do meu poder.
— Eu não sou a maioria. — Lívia respondeu com firmeza, sem se intimidar.
Ele sorriu, um sorriso que fez seu coração bater mais rápido. Um sorriso pequeno, mas carregado de algo. Desafio. Admiração. Talvez até uma fagulha de interesse.
— Vamos ver até onde essa sua determinação pode ir, Bernardes.
Lívia sentiu um calor subir em seu peito. Algo naquele olhar, naquela troca de palavras, a fez perceber que ele não estava apenas testando suas habilidades profissionais. Havia algo mais ali. Algo que se aproximava perigosamente da atração. E ela, contra sua própria vontade, estava começando a ceder.
No final da reunião, ele deu um breve aceno e se afastou, mas antes que Lívia saísse, ele a deteve por um segundo, e mais uma vez seus olhares se cruzaram. Desta vez, com mais intensidade.
— Até amanhã, senhorita Bernardes. — A voz dele estava mais suave, quase como um convite, mas sem deixar de ser autoritária.
— Até amanhã, senhor Azevedo. — Ela se virou para sair, mas a sensação de seu olhar nas costas fez seu corpo se arrepiar. Algo estava mudando. Ela não sabia o que, mas sabia que a linha entre a profissional e o pessoal estava começando a se desfocar.
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