Clara Nunes sempre soube onde guardava seu coração: com Jordan Marinho, o Marquês de Greystone. Desde a infância, ele foi seu melhor amigo, confidente e segredo mais bem escondido. Clara cresceu apaixonada por Jordan, esperando — mesmo sem admitir — que um dia ele a olhasse como ela sempre o olhou: com amor.
Mas os anos passaram, e o momento chegou. Clara é apresentada à sociedade como dama elegível, vestida em seda, adornada com joias e preparada para encontrar um marido à altura de sua linhagem. Ela acreditava que aquele seria o instante em que Jordan finalmente a cortejaria. Mas ele não se moveu. Nem um passo. Nem uma palavra.
É então que surge Alex Hider, o duque português carismático, nobre e encantador, que não perde tempo em disputar o coração de Clara. Com gentileza, flores e promessas de estabilidade, Alex conquista o que Jordan nunca ousou tentar: o direito de pedi-la em casamento.
Quando tudo parecia resolvido, uma descoberta vira o mundo de Clara de cabeça para baixo. Alex mantém um caso secreto com Esther, sua melhor amiga. E quando Jordan finalmente compreende que seu sentimento por Clara sempre foi amor — e não amizade — é tarde demais. Ou quase.
No dia do casamento, o Marquês invade a cerimônia e impede que os votos sejam trocados. Um ato impulsivo que rompe alianças, fere corações e deixa Clara devastada. Não apenas pela humilhação, mas pela ferida mais profunda: Jordan não pensou nela, pensou apenas em si mesmo.
Agora, com a reputação arruinada, um noivado rompido e o coração em pedaços, Clara precisa decidir se é possível perdoar. Jordan, por sua vez, está disposto a lutar por aquilo que nunca teve coragem de enfrentar: o amor que sempre sentiu.
"Quando o Marquês Acordou" é uma história sobre laços antigos, mágoas não ditas e a difícil arte de amar alguém que se calou por tempo demais. Em meio a vestidos de época, salões iluminados e escândalos sussurrados pelos corredores da realeza, Clara e Jordan precisam descobrir se ainda há espaço para um amor que nasceu na infância, mas que só agora teve coragem de florescer.
Sobre a autora
Autora apaixonada por romances históricos e tramas intensas, cresceu cercada por histórias e personagens que pareciam mais vivos do que as pessoas à sua volta. Com alma sensível e criatividade pulsante, escreve com o coração — e acredita que um bom livro deve arrancar suspiros, lágrimas e sorrisos em igual medida.
Este livro é uma carta de amor ao passado, aos sentimentos contidos, aos olhares demorados e às palavras que nunca foram ditas — mas também uma homenagem à força das mulheres que ousaram amar em silêncio.
Aos leitores
Se você chegou até aqui, respire fundo e prepare-se. Esta história não é feita apenas de romance, mas de reencontros, segundas chances e da coragem de olhar alguém nos olhos e dizer: “Eu esperei por você esse tempo todo.”
Obrigada por mergulhar nessa história. Que Clara e Jordan toquem seu coração como tocaram o meu ao escrevê-los.
Agradecimento especial
Este livro é dedicado com todo o meu amor a Maria Clara, minha amiga de infância, minha confidente e, para mim, minha irmã mais nova e melhor amiga. Uma alma doce, maravilhosa, que o mundo deveria conhecer melhor. Se as pessoas tivessem a chance de vê-la como eu vejo, se apaixonariam por ela também.
Maria, você é uma luz que me inspira. Obrigada por estar sempre aqui. Essa história é para você.
Prólogo
Rio de Janeiro, 1813
Dizem que o primeiro baile de uma dama é como seu nascimento para a sociedade. Se isso for verdade, então nasci em meio a uma noite abafada, com o cheiro de jasmim e suor impregnando o ar do salão do Paço Imperial.
O vestido azul-claro apertava meu busto de forma indecente — ou assim pensei, ao notar que ele parecia chamar mais atenção do que minha presença em si. O corpete subia demais, as fitas não paravam nos ombros, e mesmo assim minha mãe me garantiu que eu estava "radiante como uma princesa portuguesa".
— Pare de puxar o decote, Clara — disse mamãe, ajustando meu cabelo preso com pérolas. — Você está belíssima. Deixe-se admirar.
— Ninguém vai me chamar para dançar — murmurei, baixando os olhos. — Nem ele...
— Ele? — O olhar de minha mãe se aguçou. — Está falando do marquês Jordan Marinho?
Puxei o leque com pressa, tentando disfarçar o rubor que me subia às faces.
— Mamãe...
— Ora, minha filha. Todos sabem do seu encantamento por aquele rapaz desde que usava tranças e botas de couro. Mas Jordan é um marquês agora. Precisa agir como tal. E você, minha querida... você é uma dama em seu primeiro baile. Comporte-se como uma. Sorria, dance, seduza com os olhos. E, pelo amor de Deus, pare de franzir a testa.
Assenti, mesmo sem convicção.
Não que eu esperasse milagres. Sempre fui maior do que as outras moças da minha idade — não em altura, mas em curvas. Meu corpo parecia ter desabrochado antes do tempo, e por mais que os espelhos me mostrassem uma silhueta cheia, de seios generosos e quadris arredondados, minha mente me lembrava, a cada instante, que eu não era como elas.
E mesmo assim... mesmo assim, parte de mim sonhava que Jordan olharia para mim aquela noite. Só uma dança. Só uma palavra.
Vi-o assim que entrei no salão. Alto, elegante, com aquele olhar preguiçoso de quem domina o ambiente sem esforço. Conversava com dois oficiais da guarda, rindo de algo que eu nunca saberia. Quando nossos olhos se cruzaram, meu coração deu um salto. Sorri. Ele, no entanto, apenas inclinou a cabeça em saudação... e virou-se de volta para seus amigos.
Meu sorriso murchou como as flores do meu leque.
— Não fique parada, moça — sussurrou minha mãe. — Você vai ser chamada. Eu prometo.
Mas a música mudou três vezes. Vi moças sendo conduzidas à pista com sorrisos extasiados. Vi minha prima Julieta dançar com um conde. Vi Jordan tirar uma moça loura — muito magra e muito elegante — para dançar uma valsa lenta. E então, foi como se o salão se esvaziasse ao meu redor.
Até que uma voz, vinda da esquerda, interrompeu minha dor silenciosa.
— Permite-me esta dança?
Virei-me, surpresa. Era um homem que eu nunca havia visto antes. Elegante, moreno, com olhos castanho-claros e um sorriso contido. Tinha sotaque lusitano, mas seus modos eram impecáveis.
— Sou Alex Hider — disse, com um breve aceno. — Duque de Portugal.
Olhei para sua mão estendida, depois para meu reflexo nos espelhos dourados do salão. Havia mesmo alguém me pedindo para dançar?
— Claro — respondi, com a voz baixa, colocando a mão na sua. Sua luva era quente.
Enquanto girávamos pela pista, percebi que todos olhavam. Talvez pela surpresa de me ver dançando. Talvez por ele ser um duque. Mas pela primeira vez naquela noite, senti-me... suficiente.
Alex me elogiou, falou do calor carioca e me fez rir com suas observações sobre os nobres da corte. Era gentil. Educado. Atento. Mas enquanto dançávamos, meus olhos ainda procuravam Jordan no salão.
Ele não olhava para mim.
Ele nunca olhava para mim.
E ainda assim, no fundo do meu coração, eu sabia — nenhuma dança, nenhum elogio, nenhum duque seria capaz de tirar de mim aquilo que sempre pertenceria a outro.
Rio de Janeiro, primavera de 1803.
Naqueles tempos, o Brasil ainda era colônia de Portugal. Os nobres por aqui seguiam os moldes da corte europeia com tanto rigor quanto podiam: bailes, títulos herdados, alianças por casamento e, acima de tudo, aparências. Era assim que os salões se mantinham iluminados mesmo sob o calor úmido dos trópicos. Os senhores de terras, muitos deles descendentes de fidalgos portugueses, vestiam seus casacos de brocado enquanto abanavam-se discretamente com lenços perfumados. As senhoras andavam como cisnes entre os salões, em vestidos vindos da França ou adaptados por costureiras locais, os sorrisos contidos sob leques de renda e olhos sempre atentos aos pretendentes em potencial.
A cidade do Rio de Janeiro ainda era pequena, mas fervilhava com movimentações da aristocracia rural e da elite comercial. As ruas eram de pedras irregulares, os casarões tinham janelas altas, portas de madeira talhada e varandas de ferro trabalhado. E embora o povo simples andasse a pé pelas ladeiras, os nobres deslizavam em carruagens importadas ou construídas por artesãos lusitanos com madeira nativa. A vida social era vivida em torno da igreja, dos bailes privados e, ocasionalmente, em eventos públicos promovidos pelos governadores da Coroa.
Foi nesse cenário — cheio de regras veladas, aparências importantes e sorrisos treinados — que minha infância se moldou.
Na primavera de 1803, eu tinha doze anos. A brisa do mar batia nos coqueiros altos ao redor da propriedade de minha família, que ficava um pouco afastada do centro, num vale ensolarado com vista para a baía. Era o dia do casamento de minha irmã mais velha, Joyce Nunes, filha do Duque José Nunes com a Duquesa Ângela.
Joyce era o orgulho da família. Tinha os cabelos escuros, olhos determinados, a postura de uma dama treinada desde o berço e uma beleza silenciosa que impunha respeito. Meu pai dizia que ela era mais racional que ele próprio — e minha mãe, mesmo rígida em seus modos, deixava escapar um sorriso a cada vez que Joyce entrava num salão.
Aquela tarde era dela.
Os criados haviam decorado a casa por dias. As cortinas eram de linho branco, as fitas nas colunas cor de lavanda, e as flores — muitas delas colhidas do próprio jardim — estavam dispostas em arranjos altos sobre colunas de madeira clara. A cerimônia foi na capela da propriedade, adornada com veludo azul e prata. O coral, treinado pela governanta francesa da casa, soava como um sopro divino.
Aos meus olhos de menina, tudo parecia mágico. Até mesmo o chão de pedra polida parecia refletir a luz com mais força.
Joyce vestia um modelo de cetim branco com bordados dourados, mangas longas de renda e uma cauda tão longa que duas criadas se revezavam para segurá-la. O penteado, alto e preso com pérolas, deixava seu pescoço à mostra com delicadeza. Ela caminhava ao som de um violino, de braço dado com meu pai, e parecia flutuar.
Ao seu lado no altar, estava Daniel Souza — agora, Duque Souza — um homem alto, com a pele queimada de sol, ombros largos e um sorriso franco. Era impossível não simpatizar com ele. Sempre atencioso comigo, nunca me tratou como a irmã menor inconveniente. Eu o adorava, ainda que na época não entendesse bem por quê.
O casamento foi por amor. Isso, naquela época, era um luxo raro.
Enquanto as palavras do padre ecoavam pela capela, fui arrastada para o salão ao lado onde os músicos já afinavam seus instrumentos e os convidados circulavam. Minha mãe me arrumara como se eu fosse uma boneca de porcelana — com um vestido cor de chá de pêssego, luvas curtas e uma fita branca nos cabelos castanho-claros. Eu me sentia bonita, embora um pouco insegura entre tantos adultos.
Foi então que o vi.
Encostado próximo a uma das grandes janelas do salão, havia um menino de minha idade — talvez um pouco mais velho. O cabelo era negro como tinta fresca, os olhos baixos, e os ombros levemente curvados, como se quisesse desaparecer. Mas algo nele me chamou a atenção. A roupa estava impecável: colete azul-escuro, camisa branca engomada e botas recém-polidas.
Ele não falava. Não sorria. Apenas observava.
E então, ele me olhou.
Aquele olhar me atingiu como uma brisa súbita — e meu coração, que até então nunca havia sentido nada parecido, disparou. A sensação era quente, desconfortável e deliciosa ao mesmo tempo. Ninguém havia me olhado assim antes. E eu não conseguia olhar para outro lugar.
Ele desviou primeiro. Mas o encanto ficou.
Mais tarde, descobri o nome dele: Jordan. Sua família era recém-chegada de São Paulo, parte de uma linhagem de marqueses respeitados. Ele seria apresentado aos círculos locais ao longo do ano, mas naquela noite, para mim, ele já era inesquecível.
Naquela noite, sem saber, meu coração começou a construir uma história que nem o tempo, nem os segredos, nem as regras do mundo conseguiriam apagar.
—
Para mais, baixe o APP de MangaToon!