Era uma noite fria em Berlim. A cobertura de um antigo cassino abandonado, reformado para encontros sigilosos entre mafiosos de alto escalão, estava envolta em fumaça de charuto e o tilintar de copos de cristal. Duas potências haviam marcado presença naquela noite — e todos os olhares estavam voltados para o centro da sala.
Enzo Moretti chegou primeiro. Terno escuro impecável, olhar afiado como uma lâmina. Caminhava com o peso de alguém que não precisava se provar. Seus homens ficaram na entrada. Ele não precisava de guarda-costas — era ele quem as pessoas temiam.
Viktor Salazar apareceu minutos depois. Lento, preciso, os olhos dourados analisando cada canto como se já soubesse quem iria matar naquela sala, se necessário. Seu porte era mais selvagem, como um animal de caça disfarçado em seda. Quando os dois se encararam pela primeira vez, o mundo pareceu silenciar.
Sem uma palavra, sentaram-se frente a frente. Era para ser apenas uma negociação de território entre Europa e América do Sul. Mas havia algo mais ali. Os olhares eram longos demais. As respostas, afiadas, carregadas de tensão. A cada provocação, um leve sorriso no canto da boca de Viktor. A cada ameaça velada, um levantar de sobrancelha de Enzo.
“Você sempre fala olhando nos olhos assim?” — disse Viktor, quebrando o silêncio denso entre um gole de uísque.
“Só quando quero saber se o homem à minha frente é covarde... ou interessante,” respondeu Enzo, sem desviar o olhar.
A mesa tremeu sutilmente com a pressão de suas presenças. Não foi amor à primeira vista. Foi algo mais perigoso: reconhecimento. Duas feras se olhando no espelho. Naquela noite, ninguém morreu. Mas algo nasceu — algo que nem a máfia, nem os anos, nem o sangue conseguiriam destruir: uma atração letal.
A reunião terminou tarde, mas nenhum dos dois quis sair primeiro. Como generais em trégua silenciosa, ficaram após todos os outros partirem. As luzes do cassino velho piscavam fracamente, lançando sombras douradas sobre as garrafas vazias e as fichas de pôquer esquecidas.
Enzo se levantou devagar, acendendo um cigarro, e foi até a sacada. A vista de Berlim era fria, cinzenta, distante — como ele costumava ser com todos. Mas ele sabia. Sentia. Que Viktor não era como todos.
“Você fuma como quem tenta não sentir,” disse a voz grave atrás dele. Viktor, parado à porta da sacada, com a gravata solta, os olhos ainda mais escuros sob a luz fraca.
Enzo não respondeu de imediato. Soltou a fumaça, sem desviar o olhar do horizonte.
“E você fala como quem já viu o inferno e ainda sente saudade.”
Viktor se aproximou, parando ao lado dele. O silêncio entre os dois era mais carregado que qualquer ameaça. Os olhares se encontraram — não havia raiva, nem medo, apenas uma curiosidade faminta, perigosa, íntima.
Enzo foi o primeiro a quebrar o espaço. Um passo à frente. Um toque leve na lapela do terno de Viktor. O outro não se moveu. Não recuou. Apenas o encarou como um predador que finalmente encontra outro à altura.
O beijo veio como uma colisão inevitável. Não foi suave — foi feroz. Línguas afiadas, mãos exigentes, desejo reprimido há anos. Os dois se chocaram contra a parede da sacada como se o mundo ao redor não existisse. Ali, entre cheiro de pólvora e perfume caro, dois inimigos se consumiam como fogo e gasolina.
Viktor o empurrou contra o vidro, os dentes roçando a pele de Enzo. “Você é um problema,” murmurou.
Enzo puxou seu cabelo com força, olhando nos olhos dele. “Eu sou a maldição que você escolheu.”
Horas depois, nus entre lençóis amassados, com a arma de Viktor no criado-mudo e a faca de Enzo caída no chão, eles não falaram sobre o que aquilo significava. Porque ambos sabiam: aquilo era o início do fim. Ou de algo que nenhum deles conseguiria controlar.
...Momento da autora com o ??? (seu marido)...
(A casa está tranquila, as crianças estão na escola, e AUTORA e seu marido finalmente têm um momento só para eles. Eles estão na sala de estar, AUTORA com seu laptop aberto, lendo alguns trechos de sua história. ??? está ao seu lado, relaxado, olhando para o celular. O silêncio é confortável até que ela começa a compartilhar as novidades da sua fanfic.)
AUTORA (lendo em voz alta, com um sorriso):
“E Enzo, com seu olhar frio e implacável, decidiu ir contra Viktor, mesmo sabendo que isso poderia significar a sua queda dentro da organização.”
(AUTORA fecha o laptop e olha para ???, com um brilho nos olhos.)
Eu acho que isso ficou perfeito! O caráter do Enzo está incrível, não acha?
??? (sem olhar para ela, ainda no celular):
Humm... eu não sei não. Eu acho que ele tá meio exagerado, sabe? Esse negócio de ser tão imbatível e calculista. Tá parecendo mais um clichê de mafioso.
AUTORA (erguendo uma sobrancelha, surpresa):
Clichê?! Você tá brincando, né? O Enzo é assim! Ele é um mafioso, ele tem essa frieza como parte de sua essência. Não dá para ele ser qualquer coisa diferente disso!
??? (olhando agora para ela, com um sorriso divertido):
Eu sei, eu sei, mas esse excesso de "frieza" e "poder" já está começando a ficar... insuportável. Quer dizer, quem vai se identificar com um cara que é só imbatível e perfeito em tudo que faz?
AUTORA (ficando ligeiramente irritada, mas ainda se divertindo com a conversa):
Insuportável? Ele é um mafioso, ???! Não dá para ele ser vulnerável o tempo todo, ele tem que ser implacável, é o que ele é! E a ideia é justamente mostrar que ele tem uma luta interna, ele não é invencível, ele também tem dilemas e dificuldades, mas de uma forma mais... controlada.
??? (rindo, se aproximando dela):
Eu entendo, mas ele poderia ser um pouco mais... real, sabe? Talvez uma fraqueza aqui ou ali. Algo que quebrasse esse gelo todo. Ele poderia ter um momento mais humano, mais “pobre de espírito”, sei lá.
AUTORA (com um sorriso sarcástico, desafiando):
Fraqueza no Enzo? Ele tem que ser assim, ???. O poder dele está justamente na forma como ele mantém essa fachada. Ele não pode ser um simples mafioso vulnerável. Se ele tivesse algum tipo de insegurança, a história ia perder toda a tensão.
??? (erguendo uma sobrancelha e sorrindo maliciosamente):
E o Viktor? Ele é totalmente perfeito então, certo? Nenhuma chance dele ter algum tipo de falha? Ou talvez ele seja o vilão clichê com um toque de "anti-herói" que todo mundo adora?
AUTORA (tentando manter a calma, mas sorrindo):
O Viktor é... diferente. Ele é do outro lado, claro que ele tem falhas, mas não é um vilão qualquer. O Viktor tem seus próprios motivos para fazer o que faz. Ele é uma alma conturbada, ele também é vítima de suas escolhas. Ele não é só uma ameaça. Ele é tão complexo quanto o Enzo, mas de uma maneira mais... vulnerável.
??? (fazendo uma careta, provocando-a):
Vulnerável? Agora você está me dizendo que o Viktor é o “coitado” da história? Esse confronto entre os dois vai acabar virando uma história de amor, com direito a brigas passionais e cenas dramáticas?
AUTORA (começando a rir, se divertindo com a discussão):
Você está zombando de mim! Claro que não! Eu estou criando algo único! A luta entre dois mafiosos, com poder, manipulação e, claro, algumas tensões. Mas nada de novela mexicana aqui, ok? Eles não vão ficar se olhando com aquele olhar de “Eu te amo, mas preciso te destruir!”
??? (rindo mais alto, se divertindo com a provocação):
Eu entendo, claro. Mas só espero que, no final, o Enzo não vire um santo e o Viktor um anti-herói com direito a frases cheias de dramatização e lágrimas. Vai ser um épico ou um romance de “mafiosos apaixonados”?
AUTORA (fechando o laptop com firmeza, mas ainda com um sorriso divertido):
Ah, é isso o que você quer? Um romance meloso de mafiosos? A história é sobre a moralidade, as escolhas difíceis que eles fazem, e a linha tênue entre o bem e o mal. Não é uma questão de quem vai ser o herói e quem vai ser o vilão. É muito mais do que isso!
??? (levantando as mãos em sinal de rendição, rindo):
Ok, ok, entendi! Vou deixar você criar seus mafiosos imbatíveis, com toda essa “complexidade”. Eu só estou aqui para te apoiar, como sempre, no fundo do meu coração.
AUTORA (com um sorriso travesso, se levantando e indo até ele):
Não me venha com esse papo de apoio! Eu sei que você está tentando me convencer a mudar tudo. Vou fazer você pagar por isso depois, mas por enquanto, podemos concordar que minha história está perfeita como está?
??? (abraçando-a com carinho, rindo):
Sim, sim, está perfeita. Vou me calar e deixar você continuar com seus "mafiosos complexos". Mas me avise se algum deles começar a usar um terno vermelho e uma capa, aí eu vou pedir para revisar o roteiro!
AUTORA (sorrindo contra o peito dele):
Pode deixar. E agora, você vai me ajudar a escrever o próximo capítulo, ou vai continuar criticando o meu Enzo e o Viktor?
??? (rindo, fazendo uma careta):
Ok, ok, eu desisto. Vou ajudar! Mas não espere que eu pare de fazer piada com o seu mafioso frio e calculista!
A cidade acordou em silêncio, mas o submundo da máfia rugia como uma fera ferida. Nos corredores escuros de Palermo e nos becos úmidos de Madrid, boatos já se espalhavam. Dois dos homens mais temidos do crime organizado haviam passado a noite juntos — e não para selar um tratado.
Enzo, de volta à Itália, encarava o espelho com olhos distantes. Seus homens o observavam com desconfiança: o lobo estava diferente. Mais letal, mais silencioso. Durante uma reunião com seus conselheiros, ignorou um pedido de execução de um dos aliados de Viktor.
"Ele nos desrespeitou," disseram.
"Não sem motivo," respondeu Enzo, cortando o assunto ali. Mas o que ele não disse foi que o motivo ainda dormia em sua memória, deitado nos lençóis de Berlim.
Do outro lado da Europa, Viktor Salazar recusava contratos que envolviam as rotas de Enzo. Seus próprios aliados começaram a questionar sua lealdade. “Você está suavizando para Moretti,” acusou um deles.
Viktor apenas riu, com um olhar sombrio. “Se eu quisesse ele morto, já estaria no chão.”
Mas o mundo da máfia não perdoa fraquezas — e paixão é a pior delas.
Uma semana depois, um carregamento de drogas de Viktor foi interceptado na fronteira italiana. A assinatura era clara: um recado das famílias que não aceitavam a aliança implícita. Na mesma noite, o primo de Enzo foi encontrado morto em Madrid, com uma carta na boca: "O amor é a ruína dos reis."
Ambos sabiam: estavam sendo testados.
E então, sem aviso, a guerra começou. Não entre eles — mas ao redor deles. Soldados começaram a cair. A lealdade dos aliados se partia. Os impérios se desmoronavam como castelos de cartas, enquanto Enzo e Viktor, em segredo, se encontravam entre o sangue e o desejo.
Num desses encontros, escondidos em uma casa segura na fronteira da França, Viktor olhou para Enzo, cansado, manchado de sangue.
“Se continuarmos, tudo isso vai arder até o chão.”
Enzo o encarou, os olhos carregados de dor e certeza.
“Então vamos queimar juntos.”
O galpão abandonado na costa francesa era escuro, úmido, com cheiro de maresia e pólvora. Lá fora, o som das ondas quebrando se misturava ao silêncio tenso de dois homens frente a frente.
Enzo chegou primeiro, como sempre. Casaco preto, olhos cansados, mandíbula cerrada. Esperava encontrar respostas. Em vez disso, encontrou um muro.
Viktor entrou segundos depois. Sem guarda-costas. Sem armas visíveis. Apenas o olhar frio — aquele mesmo que, dias atrás, queimava de desejo.
“Então é assim que vai ser?” Enzo começou, voz baixa, mas firme. “Você me chama aqui depois de dias de silêncio... depois de corpos caírem de ambos os lados... e não diz uma palavra?”
Viktor parou a poucos passos dele, olhando de cima, os ombros tensos.
“A gente se perdeu no meio disso tudo, Enzo. A noite que tivemos... não significou nada.”
O silêncio que se seguiu foi mais brutal que qualquer disparo. Enzo piscou devagar, como se as palavras tivessem demorado a feri-lo. Mas elas feriram. E sangraram por dentro.
“Não significou nada?” ele repetiu, em um tom quase incrédulo. “Você mentiu na minha cama, Viktor. E mentiu olhando nos meus olhos. Não era só desejo ali. Eu senti. Você também sentiu.”
“Você sente demais,” Viktor disse, e seus olhos desviaram por um segundo. Mas foi o bastante.
Enzo recuou um passo. “Você está com medo...”
“Não,” Viktor cortou. “Estou cansado. Dessa guerra. De você. Disso.”
Foi quando Enzo sentiu. Um clique atrás dele. Muito suave. Muito lento. Mas inconfundível: o destravar de um rifle.
Ele não se virou.
“Emboscada,” murmurou. “Você me atraiu pra cá como se fosse uma lembrança boa... e tudo o que tinha era uma armadilha.”
Viktor não respondeu. Seu maxilar tremia, mas sua expressão permanecia fria.
Enzo virou apenas o rosto, encarando-o de perfil. “É assim que termina? Você me entrega? Me mata?”
Viktor caminhou até ele, devagar. Os olhos agora denunciavam o conflito que a boca escondia. Ele parou a poucos centímetros.
“Não é pessoal, Enzo.”
“Mentira,” sussurrou Enzo.
E então, no último segundo, um disparo ecoou.
Mas não partiu de trás.
Viktor sacou sua arma e atirou no próprio homem que esperava na sombra. O traidor caiu, morto.
O silêncio voltou, tenso e sufocante.
“Eu disse que não significou nada,” Viktor murmurou, guardando a arma. “Mas isso também foi uma mentira.”
Enzo o encarou, o peito subindo e descendo com raiva contida. Mas não disse nada. Não ainda.
Ali, entre a verdade e a traição, os dois sabiam: o amor deles era uma ferida aberta — e alguém ainda sangraria até a morte por ela.
Momento da autora e o ??? (seu marido)
AUTORA (ainda abraçada com ele, sorrindo com o canto da boca):
Aliás… você realmente acha que o romance entre os dois não vai funcionar?
??? (afastando-se só o suficiente para encará-la com um olhar desafiador):
Com toda sinceridade? Não. Não acho que vá funcionar. Dois mafiosos, com históricos de traição, cercados por armas, códigos de lealdade, sangue e poder? Isso não é cenário pra romance, é cenário pra tragédia.
AUTORA (cruzando os braços, com um sorriso de provocação):
Você tá subestimando o poder do sentimento. Mesmo os mais frios sentem. O Enzo pode ser implacável, mas ele tem um coração, mesmo que escondido sob mil camadas de controle. E o Viktor… ele é tudo aquilo que desafia Enzo. Por isso funciona.
??? (erguendo uma sobrancelha, zombando):
Funcionar? Ou explodir em mil pedaços? Esses dois juntos são uma bomba-relógio. É tipo... gasolina e fósforo. Só serve pra uma coisa: combustão.
AUTORA (dando um passo à frente, rindo):
Ah, mas é isso que torna a relação deles irresistível! A tensão, o perigo, o fato de que cada gesto pode ser o último, que cada toque pode ser uma traição ou uma rendição… isso é intensidade, é paixão real. O amor não precisa ser tranquilo pra ser verdadeiro.
??? (faz uma cara pensativa e, depois, brinca):
Ou seja… você tá romantizando um romance entre dois criminosos perigosíssimos, onde um pode matar o outro a qualquer momento, e ainda assim acha que vai acabar com flores e aliança?
AUTORA (pondo a mão no peito como se tivesse sido ofendida):
Jamais flores! Eles não são desse tipo. Mas quem disse que precisa terminar bem? O romance deles pode ser trágico, pode ser cruel, mas será inesquecível. A questão não é se vai dar certo. A questão é: até onde eles vão por esse sentimento?
??? (encostando-se à bancada da cozinha, cruzando os braços):
Tá… e se um dos dois morrer? Você já pensou nisso? Ou melhor… se Viktor trair Enzo, como todo bom mafioso faria? Você vai perdoar isso só porque “há paixão envolvida”?
AUTORA (sem hesitar):
Se ele trair, Enzo vai saber. Ele não é burro. E aí vai ser outro tipo de capítulo: de fúria, de mágoa, de guerra. Mas é isso que torna tudo mais real. Porque eles amam, mas também odeiam, e vivem em um mundo onde confiança custa caro. Se não tiver risco, não tem história.
??? (encarando-a com aquele sorriso de quem vai provocar):
Então você admite que eles podem não ficar juntos no final?
AUTORA (olhando firme):
Admito que talvez não fiquem juntos. Mas mesmo separados, mesmo se tudo der errado, eles vão ter mudado um ao outro para sempre. E isso, meu querido, é mais forte do que final feliz. Isso é impacto.
??? (apontando com o dedo, rindo):
Ah-ha! Sabia! Então não é bem um romance... é tipo uma batalha emocional em forma de relacionamento!
AUTORA (junta-se a ele, debruçando-se na bancada, com um olhar vibrante):
Exatamente. Um romance perigoso, onde o amor não é gentil, mas feroz. Onde eles se testam, se ferem, mas ainda assim se procuram. Você pode não entender, mas tem gente que vai sentir isso na pele ao ler.
??? (pegando uma xícara e servindo café para os dois):
Certo, autora genial. Mas se no fim eles acabarem se matando... só digo: eu avisei.
AUTORA (pegando a xícara e piscando):
E se no fim eles largarem tudo por esse amor... eu é que vou dizer: eu te avisei.
??? (erguendo a caneca num brinde):
Então vamos ver quem ganha essa. Romance impossível ou tragédia inevitável?
AUTORA (brinda com ele):
Ou os dois ao mesmo tempo.
Os olhos de Enzo ardiam, não por lágrimas — ele havia deixado de chorar anos atrás — mas por um sentimento que nem o tempo ou o sangue conseguiam calar: traição. Não pela emboscada. Mas pelas palavras.
"Não significou nada."
Aquelas quatro palavras ecoavam na cabeça dele como tiros no escuro.
No porão úmido da mansão Moretti, Enzo se sentava à mesa de guerra. Mapas, registros de movimentações, rotas de tráfico... e um único nome circulado em vermelho: Viktor Salazar.
Ele não podia mais hesitar. Seus aliados exigiam uma resposta. A máfia italiana sangrava. Seus homens estavam divididos. E ele… ele já não sabia se ainda era o mesmo.
“Vamos destruir tudo o que ele construiu,” disse a um de seus tenentes. “Base por base. Rota por rota. Se ele quer guerra... vai ter.”
Mas, por dentro, a verdade era outra: ele ainda queria que Viktor explicasse. Que o tocasse como antes. Que dissesse que tudo aquilo foi por proteção… ou por amor.
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Enquanto isso, em um esconderijo nos arredores de Marselha, Viktor observava de longe os movimentos de Enzo.
Ele ouvia os relatórios. Sabia que Enzo estava vindo para destruí-lo. E mesmo assim, não dava ordens de retaliação.
“Por que está permitindo isso?” perguntou seu braço direito, Elena, com raiva. “Ele está desmantelando tudo. Você vai deixar?”
“Sim,” disse Viktor. “Eu vou deixar. Porque se eu atirar de volta... ele vai me matar de verdade. E eu prefiro perder tudo... do que enterrar o único homem que eu já amei.”
Na calada da noite, Viktor mandava alertas anônimos para as bases que seriam atacadas por Enzo, evacuando seus homens antes das ofensivas. Nenhum sangue era derramado. Mas Enzo achava que sim.
Era um jogo silencioso de destruição contida. Enzo tentando machucar. Viktor se deixando ferir — mas protegendo quem o atacava.
Até que um dia, um informante de Enzo revelou algo inesperado:
— “Senhor, temos algo estranho. Nenhuma das bases destruídas tinha resistência. Nenhum homem ferido. É quase como se... ele estivesse nos deixando vencer.”
A mão de Enzo tremeu com o copo de uísque. O coração disparou. Lá no fundo, uma esperança insuportável começou a crescer.
“Ele... ainda me ama?”
O copo de uísque caiu no chão e se espatifou em mil pedaços, mas Enzo nem piscou.
A revelação era como um veneno doce: Viktor estava deixando ele vencer. Estava se deixando perder. Protegendo-o.
Mesmo agora.
Mesmo depois de tudo.
Enzo fechou os olhos com força, como se pudesse expulsar aquele nome da alma. Mas Viktor estava entranhado demais. Na carne. Nos ossos. No passado.
E aquilo doía.
Muito mais do que qualquer bala.
Levantou-se da cadeira num rompante de fúria. Seus punhos acertaram a mesa, espalhando mapas e papéis. Os guardas à porta tremeram, mas sabiam: o Lobo de Palermo não queria ser contido — queria ser temido.
— “Chega.” — murmurou com ódio. — “Ele quer brincar de mártir? De amante arrependido? Então vai aprender o que é ser amado por um monstro.”
Foi até o cofre e puxou um velho isqueiro de prata. Gravado nele, discretamente, estava a letra V, dada por Viktor na única noite em que dormiram em paz.
Olhou para o objeto por alguns segundos. Seus olhos estavam marejados, mas ele sorriu — um sorriso doentio, cheio de dor e raiva.
— “Você me fez fraco, Viktor.” — sua voz era um sussurro cruel. — “E agora, eu vou me curar de você... queimando tudo que me lembra você.”
Jogou o isqueiro no chão e o esmagou com a bota.
Naquela noite, Enzo ordenou algo que nunca tinha feito: que matassem os homens de Viktor, mesmo os desarmados. Nenhuma compaixão. Nenhum aviso.
Queria sangue. Queria dor. Queria se libertar do que sentia.
Mas o que ele ainda não sabia... era que Viktor já tinha descoberto isso.
E, mesmo assim, ainda viria ao seu encontro — não para lutar.
Mas para morrer, se fosse preciso.
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