Olá, sejam muito bem-vindas(os)!
Antes de tudo, quero deixar claro que este livro é uma obra totalmente fictícia e de minha autoria. Plágio não é permitido. Qualquer semelhança com pessoas, nomes ou situações da vida real é mera coincidência e sem qualquer intenção da autora.
Aviso de gatilho: Esta obra contém cenas de sexo explícito, uso de linguagem imprópria, crises conjugais, overdose, consumo de álcool, ansiedade, dependência de medicamentos e conflitos familiares.
A classificação é +18, mas fica a seu critério continuar ou não. Se em algum momento a leitura causar desconforto, priorize sua saúde mental e emocional.
Dito isso... se apaixonem com a intensa e apaixonante família Montenegro!
Um beijo carinhoso da autora!
...(...)...
...Jade Campos -Montenegro...
...Arthur Montenegro...
...Gael e Benício...
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...(...)...
...Jade Campos...
♛ Oito anos antes...
Eu odiava aquela festa promovida pelos meus pais. Sempre a mesma coisa: gente verdadeiramente rica, esnobe, que só se importava com dinheiro, roupas de grife e carros do ano. Tudo tão superficial que me dava náuseas.
Naquela altura, eu já estava prestes a me formar em Moda e somava mais de seis milhões de seguidores entre minhas redes sociais. Ainda assim, continuava sendo apenas a filha de Marina e Klaus Campos, donos de um dos resorts mais luxuosos e badalados do Brasil.
— Lembre-se de sorrir, Jade. Nada exagerado... você não está vendendo pasta de dente — murmurou minha mãe ao meu lado, apertando levemente minha mão.
O sorriso dela era impecável, calculado, digno de capa de revista. O meu? Forçado, como todo o resto daquela noite.
— Eu odeio esse tipo de festa, mãe.
— Não é sobre gostar ou não, querida. Hoje é o seu noivado.
— Um noivado que eu não pedi.
— Cuidado com o que diz... seu pai não pode ouvir isso.
Engoli em seco, sentindo o gosto amargo da impotência. Eu não podia fazer nada além de sorrir, acenar e agradecer pelas felicitações. Todos ali precisavam acreditar que Arthur e eu nos amávamos — e, naquele momento, essa era a mentira mais importante da noite.
Um tilintar de taças preencheu o salão quando meu pai subiu no pequeno palco montado ao centro. A música baixou, e todos os olhares se voltaram para ele — Klaus Campos sabia como comandar uma plateia.
— Senhoras e senhores — começou ele, com sua voz firme e orgulhosa. — Esta noite celebramos o amor, o futuro... e a união de duas famílias poderosas.
Senti meu estômago se revirar. Sabia o que vinha a seguir.
— Convido ao palco meu futuro genro, Arthur Montenegro.
Aplausos ecoaram. Arthur surgiu entre os convidados com seu terno sob medida e aquele sorriso calculado que encantava a todos, menos a mim. Ele subiu com calma, acenou para alguns empresários conhecidos e então se aproximou de mim. Seu olhar prendeu o meu, como se dissesse “apenas colabore”.
Meu coração disparou — de raiva, não de emoção.
— Jade — ele disse, pegando minha mão com a mesma suavidade de quem segura um troféu caro. — Desde o dia em que te conheci, soube que você seria a mulher com quem eu queria dividir a minha vida.
Mentira.
— Hoje, diante das pessoas mais importantes para nós, quero selar essa promessa.
E então ele se ajoelhou.
O salão inteiro prendeu a respiração. Vi flashes dispararem. Câmeras de celulares levantadas. Sorrisos emocionados. Eu estava prestes a me tornar a capa de todos os sites de celebridades.
— Jade Campos... você aceita se casar comigo?
Tudo em mim gritava “não”. Mas eu só consegui forçar um sorriso discreto, com a garganta travada e as mãos geladas. O silêncio se alongou até beirar o constrangimento.
— Sim — sussurrei.
Aplausos. Mais flashes. O anel escorregando em meu dedo. E, naquele momento, entendi: o noivado não era meu. Era deles. Um espetáculo cuidadosamente montado — e eu era só a atriz principal.
Fingimos durante meses. Nos aturamos em jantares, eventos, entrevistas, sorrisos ensaiados e uma vida toda planejada para ser perfeita diante das câmeras. O noivado virou casamento. A cerimônia foi luxuosa, televisionada, manchete nas revistas de celebridades. E por muito tempo, a única coisa que Arthur e eu dividíamos de verdade era o silêncio constrangedor nos corredores do nosso lar de fachada.
Até que um dia… a fachada começou a rachar.
Não sei se foi o tédio, a convivência forçada ou o simples fato de nos conhecermos além das máscaras. O que sei é que, de alguma forma, viramos amigos. Entre um comentário sarcástico e outro, começamos a rir das mesmas piadas. A dividir gostos. A notar os silêncios um do outro. A compartilhar olhares que já não eram tão indiferentes.
E então aconteceu.
Foi numa noite comum. Chuva lá fora, uma garrafa de vinho tinto que eu insisti em abrir e o uísque caro que ele sempre preferiu. A conversa foi leve, depois íntima. As risadas viraram toques, os toques, beijos. Quando percebi, já estávamos em nosso quarto — e pela primeira vez, não havia roteiro, não havia plateia. Só nós.
Fizemos amor como se nossas vidas dependessem disso. Como se tudo o que sentimos reprimido até ali finalmente explodisse. E quando acordei, com a cabeça apoiada no peito dele e a respiração tranquila, eu soube. Arthur também soube. Aquele amor que nunca existiu de verdade… agora era real.
Três anos depois, eu descobri que estava grávida.
De gêmeos.
Arthur chorou como uma criança ao ouvir o som dos batimentos pela primeira vez. Me carregou no colo até o carro, dizendo que éramos uma família agora. E, como se quisesse eternizar aquele sentimento, no mês seguinte tatuou no braço a data em que, segundo ele, percebeu que me amava: 10 de setembro — a noite do vinho e do uísque.
Nos amávamos com uma intensidade que nunca imaginei possível. Éramos os mesmos do começo, mas completamente diferentes. Nada era forçado, nada era fachada. Pela primeira vez, éramos só… nós.
Só que o amor, por mais forte que seja, nem sempre é suficiente para evitar que tudo desmorone.
.
Estávamos em Angra dos Reis havia três dias. Hoje, mesmo em clima de descanso, já participei de duas reuniões — rotina inevitável para quem administra uma rede de hotéis de luxo. Agora, estava a caminho do estúdio onde minha esposa faria uma campanha publicitária. Não me lembrava o nome da marca, mas isso era irrelevante. O importante era buscá-la e voltarmos juntos para São Paulo ainda esta noite.
Estacionei o Audi Q5 em frente ao prédio, coloquei meus óculos escuros e entreguei as chaves ao manobrista, Martin, com um leve aceno. Me identifiquei na portaria como o marido de Jade Montenegro e subi direto para o andar informado.
Nem todos sabem, mas nosso casamento começou como uma fusão entre duas famílias poderosas. Uma união estratégica, pensada nos bastidores da alta sociedade. O que ninguém esperava — nem mesmo nós — era que, no meio do caminho, o amor surgisse. Um amor real, intenso, avassalador.
Jade se tornou o centro do meu mundo. E nossos filhos, Benício e Gael, são as maiores bênçãos que já recebi.
Passei o cartão na fechadura eletrônica e a porta se abriu com um clique discreto. Alguns rostos se voltaram para mim — todos do time de produção. Meu olhar foi direto para ela.
Jade.
Estava sendo fotografada de lingerie, em poses elegantes, seguras, sensuais. Um profissionalismo que me deixava, ao mesmo tempo, orgulhoso e inquieto. Engoli em seco ao ver um dos fotógrafos — um cara com cabelo desgrenhado e cara de quem se acha mais artista do que é — olhando demais.
Pigarreei alto, o suficiente para marcar minha presença.
Ok, eu sei. Essas fotos serão publicadas, milhares de pessoas vão vê-la assim. Ela é uma mulher pública, uma modelo brilhante, dona de si. Mas sob a minha presença, permitir que qualquer homem a devore com os olhos daquela forma?
Inadmissível.
Ela percebeu minha presença ao final de mais uma sequência de cliques. Seu olhar encontrou o meu por cima do ombro, e por um breve instante, o tempo pareceu desacelerar. Jade ergueu uma sobrancelha com leve provocação — ela sabia exatamente o efeito que causava em mim.
— Cinco minutos, amor — disse ela, já caminhando em direção ao camarim, com um sorriso de canto que só eu conhecia.
Assenti em silêncio, cruzando os braços enquanto esperava. O fotógrafo tentou puxar conversa comigo, mas bastou um olhar para que ele voltasse a ajustar as lentes como se a vida dele dependesse disso.
Pouco depois, Jade reapareceu vestindo um conjunto confortável de moletom e tênis branco. Ainda assim, continuava deslumbrante. Os cabelos presos num coque alto, sem maquiagem, e os olhos brilhando de cansaço misturado com satisfação.
— Pronto, meu motorista charmoso pode me levar agora — disse ela, me dando um beijo rápido na bochecha.
Peguei sua mochila com uma das mãos e entrelacei os dedos da outra com os dela enquanto descíamos. O caminho até o hotel foi silencioso, mas não desconfortável. Era aquele tipo de silêncio nosso, íntimo, cheio de significados.
Ao chegar no hotel, subi com ela até a suíte presidencial. Nosso quarto temporário, com vista para o mar e cheiro de lavanda espalhado pelas almofadas. Assim que a porta se fechou atrás de nós, Jade largou os sapatos e se jogou na cama, de bruços, soltando um suspiro longo.
— Tô exausta — murmurou, a voz abafada pelo travesseiro.
— Eu percebi. Quase dei na cara daquele fotógrafo.
— Arthur... — ela riu, virando-se de lado para me encarar — você sabe que ele só está fazendo o trabalho dele.
— Ele pode fazer o trabalho dele com menos olhos famintos, talvez.
Ela revirou os olhos, mas sorriu. Um sorriso pequeno, cheio de ternura.
— Ele é gay, amor, não precisa ter ciúmes dele.
— Sempre vou ficar. Você é a mulher mais linda que já vi. E é minha.
Me ajoelhei diante da cama e segurei seu queixo com delicadeza. Ela ficou séria por um momento e levou a mão até o meu braço, passando os dedos sobre a tatuagem da data gravada ali. 10 de setembro. A noite em que tudo mudou entre nós.
— Você acha que a gente ainda vai ser assim pra sempre, Arthur?
— Eu tenho certeza. — beijei sua testa. — Só precisamos lembrar disso… mesmo quando o mundo tentar fazer a gente esquecer.
Ela fechou os olhos, como se gravasse aquelas palavras no coração. E por um momento, só existiam Jade, eu… e a memória do amor que começamos a construir quando ninguém acreditava que era real.
— Agora… será que eu posso aproveitar um pouco da mulher da minha vida ou ela está cansada demais até pra uma rapidinha? — perguntei com um meio sorriso, enquanto meus dedos acariciavam sua cintura por cima do moletom.
Os olhos dela brilharam, e um arrepio percorreu sua pele.
— Nunca estou cansada pra você — murmurou com aquela voz baixa e provocante que só usava comigo.
Nossas bocas se encontraram com urgência, num beijo faminto, carregado de desejo e pertencimento. Deitei sobre ela, sentindo seu corpo se moldar ao meu com a mesma familiaridade de quem já se conhece no escuro. Minhas mãos exploraram suas curvas com reverência e fome, deslizando sob o tecido macio enquanto nossos suspiros se misturavam no quarto silencioso.
Jade era minha. Minha mulher. Minha tentação constante. A rainha que eu tratava com devoção… e que eu amava com intensidade bruta. A minha princesa que eu fodia como uma puta.
— Você não faz ideia do que provoca em mim, amor — sussurrei contra sua pele, descendo beijos pelo pescoço até a clavícula.
Ela puxou minha camiseta com pressa, me arranhando de leve, o que só atiçava ainda mais o fogo entre nós. Nossos corpos se reconheceram, como sempre. Em movimentos sincronizados, deslizamos um sobre o outro com ritmo e desejo. Não havia pressa, mas também não havia hesitação. Era paixão crua, amor suado e pulsante.
A lingerie dela caiu no chão junto com o resto da razão. E naquela cama de hotel, fizemos o que sabíamos fazer tão bem: nos lembrar de quem éramos um para o outro, mesmo quando o mundo lá fora parecia querer nos esquecer.
— Vem cá — ela sussurrou, puxando-me pela nuca até que nossos rostos estivessem colados de novo.
Nossos corpos se alinharam naturalmente, como se feitos sob medida um para o outro. Entrei nela em um movimento firme, e Jade arqueou o corpo, soltando um gemido rouco e abafado no meu ouvido.
— Deus… — murmurei, segurando-a pela cintura, enquanto começávamos um ritmo lento, intenso, cheio de desejo contido.
Ela envolveu minha cintura com as pernas, puxando-me para mais perto, como se quisesse me manter ali dentro dela para sempre. Meus lábios percorreram seu pescoço, seu colo, enquanto suas unhas marcavam minhas costas. A cada investida, seu corpo respondia com precisão. Era como uma dança silenciosa e íntima, onde não existia dúvida, só entrega.
— Você é minha, Jade… só minha.
— Sempre fui sua, Arthur. Sempre.
Aquelas palavras saíram entre ofegos, no auge de um momento que misturava prazer com amor real. Os movimentos ficaram mais urgentes, mais profundos, até que não havia mais nada além de nós dois — os corpos unidos, os corações disparados, e a certeza de que, apesar de tudo, ainda sabíamos como nos encontrar ali. Um no outro.
Nos deixamos cair lado a lado, ofegantes, suados, mas com aquele silêncio satisfeito preenchendo o quarto. Minha mão buscou a dela por instinto. Jade sorriu, com os olhos fechados, e apertou meus dedos entre os seus.
O silêncio no quarto era preenchido apenas pela respiração acelerada de nós dois, mas os olhos dela diziam tudo. Jade me encarava como se soubesse exatamente o que queria — e o que faria comigo.
Ela se moveu com delicadeza, deslizando o corpo por cima do meu, os cabelos caindo como um véu sobre meu peito. Seus lábios começaram a explorar minha pele com beijos lentos, provocantes, descendo centímetro por centímetro enquanto seus olhos mantinham os meus presos.
— Quero te sentir inteiro — ela sussurrou, com um brilho travesso.
Quando a boca dela me envolveu, um arrepio percorreu minha espinha. Fechei os olhos e deixei a cabeça cair contra o travesseiro, me rendendo à sensação. Ela me tocava com maestria, como se cada movimento fosse calculado para me levar à beira da loucura, e ao mesmo tempo, me manter ali, no controle dela.
— Jade… — murmurei, os dedos se entrelaçando nos fios do cabelo dela. — Você sabe o que faz comigo.
Ela apenas sorriu contra minha pele, provocando ainda mais.
Quando não consegui mais suportar, a puxei com cuidado, invertendo nossas posições. Agora era minha vez de adorá-la, como ela merecia. Beijei cada curva do seu corpo com devoção, ouvindo seus suspiros suaves se transformarem em gemidos baixos.
— Eu poderia passar a vida inteira descobrindo você — sussurrei, antes de mergulhar entre suas coxas.
Jade se arqueou, levando uma das mãos à boca para conter o som que escapava. Eu a conhecia bem. Sabia exatamente como levá-la ao limite e trazê-la de volta — e naquela noite, faria isso quantas vezes fossem necessárias para lembrá-la do quanto era amada, desejada, minha.
Naquela suíte de hotel, entre lençóis amarrotados e olhares que diziam mais que palavras, não havia crise, passado ou dúvida. Só nós dois. Completos. Intocáveis.
.
Acordei com a luz suave do pôr do sol invadindo o quarto, tingindo as paredes em tons quentes de laranja e rosa. A cena parecia pintada à mão, como se o universo quisesse nos presentear com um instante de paz. Me espreguicei devagar, sentando na cama e encarando Arthur, ainda adormecido ao meu lado.
Seu rosto calmo, os cabelos bagunçados, o peito subindo e descendo em um ritmo tranquilo... era difícil acreditar que, mesmo com tudo, ainda conseguíamos ter momentos assim.
Mesmo sendo uma viagem de trabalho, aquilo tinha gosto de fuga. E, por um instante, tudo o que existia era ele e eu.
Puxei o lençol até o peito e me levantei em silêncio, caminhando até o banheiro. Liguei o chuveiro e deixei a água quente cair sobre meus ombros, relaxando cada músculo do corpo. Meus olhos se fecharam instintivamente, até sentir as mãos conhecidas de Arthur na minha cintura e seus lábios tocarem meu ombro com delicadeza.
— Nosso jatinho sai às sete e meia — ele murmurou contra minha pele, a voz rouca e ainda levemente sonolenta.
Sorri sem abrir os olhos.
— Tudo bem… Mas podemos comer antes? Tô morrendo de fome.
— Já pedi comida — respondeu, deslizando as mãos pela minha barriga. — Vai chegar em vinte minutos.
Virei-me devagar para encará-lo, e ele me recebeu com aquele sorriso torto que sempre me desarmava. Nossos corpos ainda colavam com naturalidade, como se o mundo lá fora simplesmente não existisse.
— Então temos vinte minutos, senhor Montenegro — murmurei, erguendo a sobrancelha com diversão.
— É tempo suficiente. — ele respondeu, me puxando para mais perto.
...(...)...
Dentro do carro a caminho do aeroporto, o céu estava estrelado.Eu estava com a cabeça apoiada no ombro de Arthur enquanto assistíamos à tela do celular, sorrindo juntos.
— Mamãe! Papai! — gritou Benício, do outro lado da videochamada, com os olhinhos castanhos brilhando de empolgação.
— A gente pintou um dinossauro! — completou Gael, mostrando um papel cheio de tinta, como se fosse uma obra de arte digna de galeria.
Meus olhos se encheram de ternura. Era impossível olhar para aqueles dois e não sentir o peito transbordar.
— Que lindos, meus amores! Eu tô tão orgulhosa! — falei, mandando beijos estalados para a tela. — E vocês estão obedecendo a tia Ana?
— Tô! — disse Gael.
— Eu não muito — confessou Benício, rindo. — Mas é porque ela não deixou a gente comer chocolate antes do jantar.
Arthur soltou uma risada baixa e passou a mão pelos cabelos.
— Escuta aqui, campeão… a titia tá certa. Se vocês comerem chocolate antes do jantar, vão virar monstrinhos elétricos. E a mamãe e o papai vão voltar só daqui algumas horas.
— algumas horas? — os dois fizeram uma carinha triste ao mesmo tempo.
— É só mais umas duas horas, meus amores — disse, tentando não me emocionar. — Quando a gente chegar, vamos levar vocês no parquinho e tomar sorvete, que tal?
As duas carinhas imediatamente se iluminaram.
— Sorvete de morango? — perguntou Benício.
— E de chocolate — completou Gael.
Arthur assentiu com um sorriso cúmplice.
— Com cobertura, confetes e tudo que vocês tiverem direito.
A babá apareceu ao fundo avisando que era hora do banho, e depois de mais alguns beijos e "eu te amos", encerramos a chamada. O silêncio no carro foi preenchido apenas pela música suave que tocava no rádio e pelo som discreto da cidade do lado de fora.
Arthur entrelaçou os dedos nos meus.
— Eles estão crescendo tão rápido…
— É. E cada vez que a gente se afasta, parece que perco alguma coisa importante.
Ele beijou minha mão com carinho.
— Mas a gente tá fazendo o que precisa, Jade. Por eles. Por nós.
Assenti, encostando a cabeça no vidro. A saudade já apertava, mas eu sabia: estávamos tentando manter tudo em pé. E ainda havia amor. Tanto amor.
Assim que o carro parou diante do hangar, senti um aperto bom no peito. Estávamos prestes a voltar pra casa, ver os meninos, dormir na nossa cama. Mesmo que a viagem tivesse sido a trabalho, esses dias com o Arthur tinham sido como um respiro.
Peguei minha bolsa, pronta pra descer, quando ouvi o celular dele tocando. Ele atendeu no mesmo segundo e saiu do carro.
— Fala. — Foi tudo o que disse.
Observei pela janela. Seu corpo ficou tenso. A expressão suave que ele carregava no rosto até agora se desfez. Os olhos estavam sérios. Sombrios.
Desci com calma e fui até ele, já prevendo que algo estava errado.
— Arthur?
Ele desligou e virou-se pra mim devagar, com aquele olhar que sempre me alertava antes mesmo de qualquer explicação.
— Deu problema em um dos hotéis. Hóspedes influentes, confusão com segurança… pode vazar pra imprensa. Eu preciso ir pra lá agora.
Tentei sorrir, fingir que entendia, que tudo bem. Mas a verdade é que doeu. Não por causa do trabalho em si — eu sempre admirei o que ele construiu —, mas porque hoje, justamente hoje, nós tínhamos prometido chegar juntos. Ver o sorriso dos nossos filhos juntos.
— Mas... o voo... os meninos estão esperando a gente.
— Eu sei. — Ele passou a mão pelos cabelos, visivelmente incomodado. — Mas isso é grande, Jade. Se eu não resolver agora, pode afetar tudo.
Assenti com a cabeça. Forcei um sorriso. Tentei esconder, mas ele percebeu. Sempre percebe.
— Você tá chateada.
— Não tô. Só queria ir com você… como a gente combinou.
Arthur se aproximou e segurou meu rosto com as duas mãos. O toque dele sempre teve esse poder de me acalmar e me despedaçar ao mesmo tempo.
— Eu também queria. Prometo que volto amanhã. Eu te amo, Jade.
Fechei os olhos quando ele beijou minha testa. Era um beijo cheio de pressa e cuidado. Um beijo que sabia que estava deixando pra trás o que mais amava.
— Também te amo — sussurrei, com a garganta apertada.
Ele virou-se e deu ordens aos seguranças.
— Levem minha esposa pra casa com segurança. Quero mensagem quando ela pousar.
E então ele se foi, entrando em outro carro, indo salvar o império que construiu.
Fiquei ali, parada por alguns segundos, sentindo o vento da pista bater no rosto, enquanto os motores do jatinho já rugiam, prontos pra decolar.
Engoli o nó na garganta e entrei na aeronave.
Mais uma vez, sozinha.
O voo foi tranquilo, mas eu não consegui relaxar.
Enquanto a cidade de São Paulo surgia pela janela, toda iluminada, meu peito apertava. Era um vazio silencioso, do tipo que só quem ama alguém ausente entende. Eu sabia que ele tinha feito o que precisava, mas isso não fazia a ausência doer menos.
Assim que o jatinho pousou, os seguranças me acompanharam até o carro que nos esperava. Durante o trajeto, olhei pela janela, distraída. Já era tarde, e eu só queria chegar em casa, abraçar os meninos, sentir aquele cheirinho de shampoo infantil misturado com biscoito — que só quem é mãe entende.
Quando a porta do carro abriu em frente à nossa casa, ouvi antes mesmo de ver:
— Mamããããe!
Benício e Gael correram na minha direção como dois foguetes em miniatura. Deixei a bolsa cair no chão e me abaixei, abraçando os dois ao mesmo tempo, esmagando-os contra o peito.
— Meus amores… — beijei o topo da cabeça de cada um, sentindo os olhinhos curiosos me analisando.
— Cadê o papai? — perguntou Gael, com um biquinho quase irresistível.
— Ele precisou resolver uma coisa importante no trabalho, mas disse que ama vocês e que volta amanhã.
Eles assentiram com a inocência de quem ainda acredita que o mundo gira ao nosso redor. Pegaram nas minhas mãos e me puxaram pra dentro, falando todos ao mesmo tempo sobre o que tinham feito, o desenho que assistiram, a guerra de travesseiros que o tio Nico deixou.
E naquele momento, cercada pelos meus filhos, sentindo a bagunça deles tomar conta da casa… o vazio foi ficando menor.
Mas ainda estava ali.
Porque o lugar do Arthur era aqui. Com a gente.
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