NovelToon NovelToon

A Redenção de um Morelli

Prólogo

Por Riane

Oi, gente! Tudo bem com vocês?

Antes de tudo, quero dizer que esse livro não é uma continuação direta de O Pai de Mentira dos Gêmeos, mas sim uma história que mergulha fundo no passado, nas escolhas muitas vezes erradas e nos conflitos internos de um personagem que vocês aprenderam a amar odiando: Leandro Morelli.

Sim, ele mesmo. O homem frio, ambicioso, calculista. Aquele que virou as costas para a própria família, que jogou sujo para conquistar o que queria, e que não pensou duas vezes antes de trair quem mais confiava nele. Durante muito tempo, Leandro foi visto como o vilão da família Morelli. E com razão.

Mas, e se eu te dissesse que por trás de todo esse gelo existe um coração ferido?

Essa história é sobre isso. Sobre enxergar o outro lado. Sobre entender que, às vezes, os erros que cometemos não são apenas fruto da maldade, mas sim resultado de dor, abandono, medo. Leandro cresceu ouvindo que precisava ser forte. Que sentimentos eram fraqueza. Que demonstrar amor era perigoso. Ele foi moldado por uma mãe manipuladora e narcisista, por um ambiente competitivo e por uma culpa que ele nunca conseguiu enterrar de verdade.

Mas ninguém carrega o peso do mundo nas costas sem quebrar em algum momento. E Leandro quebrou. Quebrou quando viu o irmão morrer num acidente que ele poderia ter evitado. Quebrou quando foi deserdado pelo avô. Quebrou quando percebeu que a solidão era a única coisa constante na vida dele. E agora, neste livro, vocês vão acompanhar os estilhaços que ele tenta catar para, enfim, reconstruir a própria história.

Aqui, Leandro vai precisar encarar os próprios fantasmas. Vai descobrir segredos que nunca imaginou. Vai reencontrar uma mulher que ele tentou esquecer e uma criança que ele nunca soube que existia. E, no meio do caos, ele vai descobrir algo que talvez nunca tenha sentido de verdade: amor.

Esse é um livro sobre recomeços. Sobre olhar para trás e tentar consertar o que se quebrou. Sobre erros, perdão... e sim, sobre redenção. Porque até mesmo os piores vilões merecem uma chance de mudar. E, quem sabe, de serem amados.

Se você está chegando agora, seja muito bem-vinda (ou bem-vindo)! E se você já conhece o universo Morelli, prepare-se para ver tudo por um novo ângulo. Vai ter drama, vai ter segredos, vai ter momentos de cortar o coração... mas também vai ter reconciliação, descobertas lindas, e aquele toque de romance que a gente ama.

Espero, de coração, que vocês embarquem comigo nessa jornada. Já deixem o livro salvo, porque a partir do dia 17/05, às 18h, os capítulos vão começar a sair, e vocês serão notificados assim que tiver novidade!

E se quiserem acompanhar os bastidores da construção dessa história, trocar ideias, tirar dúvidas ou só bater um papo sobre personagens, plot twists e teorias, é só me seguir lá no Instagram: @riane_escritora. Tô sempre por lá e vou adorar ter vocês comigo nesse processo!

Com carinho,

Riane

Capítulo 1 - O Começo do fim. (Leandro)

A luz dourada dos lustres refletia nas paredes de mármore do Hotel Passione, dando à recepção um brilho quase celestial. Mas nada naquele lugar poderia redimir o inferno que eu tinha acabado de criar.

Encostado no corrimão da escadaria principal, vestia meu terno preto amarrotado, a gravata solta no colarinho e o gosto amargo de um erro imperdoável na boca. O coração batia descompassado, não por culpa, mas por remorso. Eu sabia que meu irmão apareceria a qualquer momento. E ele sabi

Leonardo Morelli surgiu no topo da escada como uma tempestade prestes a cair. Alto, ombros largos, os mesmos olhos castanhos que os meus — mas neles havia algo que eu nunca consegui ter: paz. Vestia a camisa social branca aberta no pescoço, as mangas dobradas até os cotovelos e o olhar firme cravado em mim.

— O que você aprontou agora, Leandro? — A voz dele era uma lâmina.

Cruzei os braços, sustentando o sarcasmo no rosto.

— Só me diverti um pouco. Nada que você já não tenha feito.

Ele desceu os degraus com raiva contida, os passos ecoando no mármore como marteladas.

— Sério que você vai me dizer isso com essa cara de pau? — Ele parou à minha frente. — Com a Thalita? A Thalita, Leandro? Ela confiava em você... e em mim. Como você pôde ser tão estúpido?

Não tive tempo de responder. O soco veio seco, certeiro, me fazendo cambalear. Levei a mão ao rosto, o gosto de sangue se espalhando pela língua.

— Estúpido? — cuspi. — Estúpido é você, Leonardo. Vivendo uma vida de conto de fadas, achando que tudo se resolve com sorrisos e abraços. Você sempre teve tudo fácil. Ninguém te manipula. Ninguém cobra nada de você. Você vive leve... eu não posso.

Ele me agarrou pelo colarinho.

— Isso justifica trair seu irmão?

— E você? Justifica fingir que é melhor do que eu, quando também tem seus podres?

Ele me empurrou com força.

— Entra no carro. A gente vai conversar longe daqui.

— Você não manda em mim.

— Cala a boca, Leandro. Entra no maldito carro.

Fomos. Sem olhar para trás, entramos na Range Rover preta dele. Leonardo assumiu o volante, e eu me joguei no banco do carona, ainda sentindo o rosto latejar.

— Você sempre foi assim. — Ele apertava o volante com tanta força que os nós dos dedos estavam brancos. — Frio. Calculista. Egoísta. Mas eu nunca imaginei que fosse capaz disso.

— Eu errei, tá? Mas você também erra. Só que ninguém aponta o dedo pra você.

— Porque eu não destruo as pessoas por diversão.

As palavras ficaram no ar. Cortantes. Insuportáveis.

— Cala a boca, Leonardo!

— Não! Você vai ouvir!

Não ouvimos mais nada. O som do impacto cortou a noite como um trovão.

Vidros estilhaçados. A escuridão invadiu tudo.

Depois, silêncio.

Acordei olhando para um teto branco e insuportavelmente calmo. As luzes frias do hospital piscavam de tempos em tempos, o bip constante da máquina era o único som que me fazia lembrar de estar vivo. Não sabia quanto tempo havia passado, só sabia que estava sozinho.

Sem meus pais.

Sem meu irmão.

Comigo mesmo.

Semanas depois, o motorista da família apareceu para me buscar. Ele não estava sozinho. Meu avô, Leonardo Morelli — o verdadeiro pilar da família — me aguardava ao lado da porta do carro. Alto, cabelo branco impecavelmente penteado, o terno cinza escuro contrastava com seu semblante grave.

— Onde estão meus pais? — perguntei, ao entrar no carro. — A mamãe... ela ficou com o Leonardo?

Meu avô me olhou com uma expressão que eu nunca tinha visto nele. Não era raiva. Era... tristeza.

— Ninguém te contou?

Engoli em seco.

— Contar o quê, vô?

Ele respirou fundo.

— O seu irmão não resistiu ao acidente, Leandro.

Meu coração parou por um instante. A dor veio como uma maré, arrastando tudo.

— Não... — murmurei. — Não... não pode ser. A gente... a gente brigou, mas éramos irmãos.

— Eu sei.

— Ele não pode ter morrido... Eu...

Meu avô se manteve em silêncio.

Duas semanas depois, ele me levou ao cemitério. Diante do túmulo de Leonardo, vi pela primeira vez o fim de mim. A parte mais humana do meu ser foi enterrada junto com ele naquele dia. Eu chorei. Não de forma bonita. Eu chorei como quem queria sair correndo da própria pele.

Ali nasceu o Leandro que meu irmão odiaria.

Presente

O reflexo no espelho mostrava um homem que não existia nove anos antes. O cabelo preto penteado para trás, o queixo firme, os olhos endurecidos por nove anos de culpa. Minha barba estava milimetricamente aparada, o terno impecável, mas nada disso escondia quem eu me tornei.

Frio. Solitário. E, pior, leal à pessoa errada.

Laura Morelli entrou no quarto como um furacão.

— Você vai deixar seu avô te deserdar? — gritou.

— O dinheiro é dele — respondi, com desdém. — Se você quer tanto, Laura, é só pedir. Afinal, você é a filha dele, não eu.

O tapa estalou forte na minha bochecha.

— Eu sou sua mãe, seu imbecil!

Meus lábios se curvaram num sorriso seco.

— Não foi tão mãe assim, foi?

Ela gritou mais alguma coisa, mas eu já tinha saído. Atravessei os corredores da Mansão Morelli ignorando os olhares dos funcionários. Cada quadro nas paredes, cada mármore no chão era um lembrete do império que eu ajudei a corroer.

Meu avô estava em seu escritório, como sempre. O ambiente cheirava a couro, charuto e tradição. Ele não levantou os olhos quando entrei.

— Sente-se.

Obedeci.

— Você sabe por que está aqui.

— Porque minha mãe não tem coragem de fazer o trabalho sujo sozinha?

Ele me encarou com severidade.

— Porque você traiu sua família. Prejudicou seu primo Dante. E eu já perdi um neto. Não vou perder outro.

Suspirei.

— Vai me mandar embora?

— Estou te deserdando. Mas... ainda há algo que pode fazer. Um último fio de redenção.

Me endireitei na cadeira.

— Que tipo de punição o senhor preparou dessa vez?

— Vai assumir o Hotel Passione, em Florianópolis.

Fiquei em silêncio por alguns segundos. O nome do hotel soava como um soco.

— Eu nunca mais voltei lá desde o acidente.

— E vai voltar agora. Ou é isso... ou a rua.

Levantei.

— Eu não quero aquele hotel.

— Mas ele é seu. Faça algo útil, Leandro. Antes que seja tarde demais.

Subi para o quarto em silêncio, os passos abafados pelo tapete grosso da mansão. Dentro de mim, algo se agitava. Não era raiva. Não era tristeza.

Era o começo de alguma coisa.

E talvez... apenas talvez... fosse o começo do fim.

Capítulo 2 - A volta ao passado. (Leandro)

Narrado Por Leandro.

Não me despedi de ninguém.

Joguei as últimas peças de roupa na mala de couro preta e fechei o zíper com força. A mansão Morelli estava silenciosa, como sempre esteve nos últimos nove anos. Fria. Intocável. Aquela casa me deu tudo, menos o que importava de verdade.

Ao atravessar o saguão de mármore, passei os olhos pelas colunas douradas, pelos quadros antigos que decoravam as paredes como lembranças de uma linhagem arrogante e falida de afeto. Não deixei nenhuma palavra para trás. Nada que valesse a pena.

Meu avô já havia providenciado o helicóptero.

O piloto me esperava no heliporto ao lado da aeronave preta com o brasão da família estampado na lateral. Quando entrei e me acomodei no banco de couro, o motor rugiu e, em poucos minutos, o céu cinzento de São Paulo ficou para trás.

A viagem pareceu ser mais curta do que eu lembrava.

O Hotel Passione surgiu entre os recortes verdes da paisagem de Florianópolis, imponente como sempre foi. De cima, as piscinas azul-turquesa reluziam sob o sol da tarde, e a fachada branca, com varandas envidraçadas e colunas coloniais, se destacava com elegância à beira-mar.

Ao aterrissar no heliponto, um funcionário correu até mim e abriu a porta do helicóptero.

— Seja bem-vindo, senhor Morelli — disse, com um sorriso profissional nos lábios.

A brisa do litoral soprou forte quando desci. Inspirei o cheiro salgado do mar misturado ao perfume familiar da madeira envernizada que vinha do hotel. Era estranho estar ali novamente. Como pisar num cenário que existia apenas nas lembranças. Lembranças que eu preferia enterrar.

Logo percebi a fileira de funcionários em frente à entrada principal. Homens e mulheres bem vestidos, alinhados como peças de xadrez, me observando com expectativa. Um deles se adiantou.

— Boa tarde, senhor Morelli. Sou Carlos Monteiro, gerente geral do Passione — disse o homem, de cabelos grisalhos impecavelmente penteados para trás. Sua voz era firme, segura, como a de quem comanda sem hesitação. — É uma honra tê-lo conosco.

— Obrigado — murmurei, ajeitando o paletó.

— E esta — ele se virou para a mulher ao seu lado — é Thalita Sodré, sua secretária executiva. Ela o acompanhará neste primeiro tour pelo hotel.

A visão dela me tirou o ar por um instante.

Thalita.

Ou como eu e Leonardo costumávamos chamá-la, Thali. A menina de sorriso largo, que passava os verões com a gente correndo pelos corredores, fugindo dos adultos, fazendo guerras de travesseiro.

Ela tinha os cabelos castanhos escuros ondulados e solto. Os olhos cor de mel, que antes carregavam uma doçura inocente, agora tinham o peso da maturidade. A saia lápis preta marcava suas curvas com discrição, e a blusa branca de mangas bufantes dava um ar profissional sem apagar sua feminilidade. Ela estava mais linda do que eu me lembrava e mais distante também.

— Senhor Morelli — ela disse com um leve aceno de cabeça. A voz era firme, sem emoção.

— Senhorita Sodré — respondi, no mesmo tom.

Foi isso. Nada de abraço. Nenhum vestígio do passado. Só formalidade.

— Podemos começar a apresentação do hotel? — ela perguntou, com os olhos fixos nos meus.

Assenti.

Entramos no saguão principal, e a grandiosidade do Passione me atingiu em cheio muitas coisas havia mudado.

O teto alto com vitrais coloridos deixava a luz do sol pintar o chão de mármore com tons vibrantes. No centro, um lustre de cristal gigantesco pendia com majestade. Ao redor, colunas brancas com detalhes em dourado davam um ar clássico e sofisticado. O cheiro de flores frescas vinha dos arranjos espalhados pelas mesas e balcões, e ao fundo, uma música ambiente suave preenchia o ar.

— O hotel conta com cento e trinta suítes, incluindo duas presidenciais e cinco master. Temos três restaurantes, um spa premiado, academia completa, salas de conferência e uma área de lazer com vista para o mar — começou Thalita, enquanto caminhávamos pelo saguão.

Fazia anos que não pisava naquele lugar. E cada canto parecia gritar meu nome e o dele.

Ali perto da recepção, eu e Leonardo costumávamos nos esconder para espionar os hóspedes famosos. Nos corredores, brigávamos por quem pegaria o elevador primeiro. No terraço, trocávamos confidências que nunca deveriam ter sido ditas.

Eu estava perdendo o foco.

— Podemos pular o resto do tour? — interrompi. — Prefiro ir direto para a minha suíte.

Ela arqueou uma sobrancelha.

— Claro, senhor. Carlos providenciou que a suíte presidencial norte estivesse pronta para sua chegada. Já mandei deixar seus pertences lá.

Seguimos pelo elevador panorâmico. O vidro permitia ver o mar ao longe, brilhando sob o sol da tarde. Mas nem o mar me acalmava.

Dentro do elevador, o silêncio era denso.

— Achei que você não voltaria nunca mais — disse ela de repente, ainda olhando para frente.

— Nem eu achei.

— E por que voltou?

— Porque não tive escolha.

Ela virou o rosto, me encarando.

— Sempre tem uma escolha, Leandro.

— Algumas a gente faz... outras, a gente paga.

O elevador apitou. Chegamos ao último andar. Caminhamos até a porta dupla da suíte presidencial. Ela abriu com a chave-cartão e me deu passagem.

O quarto era enorme, com piso de madeira clara, paredes em tom creme e uma varanda de vidro com vista para o oceano. Uma cama king-size com lençóis brancos impecáveis dominava o centro do ambiente. Ao lado, um sofá de couro bege, uma lareira apagada e prateleiras com livros de design e arquitetura.

— Está tudo conforme o padrão. Se quiser fazer alterações, posso repassar seus pedidos à equipe — disse ela, profissional até o último fio de cabelo.

— Está ótimo.

Ela me entregou uma pasta.

— Aqui está o planejamento da semana, reuniões, contratos e uma breve apresentação sobre os principais departamentos do hotel. O senhor também tem uma reunião com os coordenadores às dez amanhã.

Peguei a pasta, mas continuei olhando para ela.

— Está diferente, Thalita.

Ela cruzou os braços.

— Nove anos fazem isso com uma pessoa.

— Achei que não ia me olhar nos olhos.

— Achei que você não merecia.

Engoli em seco.

— Você tem razão.

Ela hesitou. Por um instante, o brilho de antes apareceu em seus olhos.

— Adeus senhor Moretti, precisar se algo e só chamar na recepção.

— O quê?

— Tchau.

Ela se virou para sair, mas eu falei antes que alcançasse a porta:

— Thalita...

Ela parou.

— Nada, pode ir.

Ela acenou com a cabeça virou o rosto, e partiu. Fiquei ali parado. Sozinho outra vez. Como sempre.

Para mais, baixe o APP de MangaToon!

novel PDF download
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!