A névoa pairava sobre as colinas como véus de um lamento antigo. O vilarejo de Lorthen dormia sob o peso de sua própria insignificância, perdido entre montanhas e lendas que ninguém mais levava a sério. Era um lugar onde os dias passavam lentos como o curso de um rio velho, e as noites traziam apenas o frio e o silêncio — ou quase.
Eldrin caminhava descalço pela relva úmida, sua harpa pendurada às costas, presa por tiras de couro envelhecido. Seus dedos, mesmo envoltos em luvas sem pontas, estavam frios, mas ele não parecia notar. A cada passo, os galhos quebrados e o musgo sussurravam sob seus pés. Ele seguia o chamado que apenas ele ouvia, um eco longínquo que se entrelaçava com o vento como uma melodia esquecida.
Desde criança, Eldrin escutava sons que ninguém mais ouvia — tons suaves entre os ruídos da natureza, acordes ocultos no crepitar das folhas, harmonias sussurradas pelas pedras antigas. Chamavam-no de “o estranho” no vilarejo, diziam que era “tocado pela bruma” ou “filho das fadas”. Mas nenhuma dessas palavras importava. A música chamava, e ele obedecia.
Naquela madrugada, seus passos o levaram para além da trilha de caça, até os limites das ruínas de Eldareth — uma cidade antiga, agora engolida pela floresta. Os anciãos diziam que ali fora o lar dos Filhos da Canção, seres de voz encantada e olhos prateados, desaparecidos há séculos. Alguns contavam que os dragões haviam dançado ao som de suas melodias. Outros sussurravam que foi ali que o último Dragão Azul caiu em silêncio eterno, traído pela própria canção.
Eldrin parou diante de um arco partido coberto de trepadeiras. As pedras, cinzentas e gastas, ainda guardavam marcas de símbolos antigos — uma língua que ele não conhecia, mas que pulsava sob seus olhos como notas de uma partitura invisível.
Ele entrou.
O interior das ruínas estava mergulhado em sombras. Troncos derrubados e raízes grossas formavam túneis naturais entre as estruturas desmoronadas. Eldrin avançou devagar, guiado apenas pela intuição e pelo som que ninguém mais ouvia: uma melodia suave, quase imperceptível, que o envolvia como um véu de sonho. Era uma canção triste, com notas longas e flutuantes, como se o tempo estivesse chorando.
E então ele viu: no centro de um salão afundado, envolto por colunas caídas e trepadeiras douradas, jazia um pedestal de pedra negra. Sobre ele, repousava uma harpa. Mas não era uma harpa comum.
Feita de ossos reluzentes e fios de prata, seu corpo era curvado como a espinha de uma criatura ancestral. As cordas pareciam vibrar mesmo em silêncio, e o ar ao redor dela ondulava, como se fosse feito de bruma viva. Eldrin se aproximou, extasiado. Havia algo naquela harpa que ressoava com algo dentro dele — algo profundo, antigo... e perigoso.
Ao tocar a primeira corda, o mundo mudou.
O chão tremeu levemente, como se as raízes da floresta tivessem acordado. O ar se preencheu com um tom grave, profundo, que se espalhou como uma onda invisível. Eldrin sentiu uma força passar por seus braços, subir por sua espinha, tomar seus pensamentos. Ele não sabia o que fazia, mas seus dedos continuavam a tocar, puxando notas que não aprendera, compondo uma música que jamais ouvira, e ainda assim... conhecia.
A canção do Dragão Azul.
Ele o viu.
Não com os olhos, mas com a alma. Um gigantesco dragão de escamas cintilantes como safiras despertava em algum lugar distante — sob montanhas, ou talvez no fundo do mar, ou entre os próprios céus. Seus olhos, feitos de luz líquida, se abriram lentamente, e sua respiração era como trovões ecoando em silêncio.
Mas o que Eldrin viu depois o fez estremecer: olhos vermelhos entre as sombras, lâminas erguidas, bocas cantando contra ele. Algo — ou alguém — o observava. E não com benevolência.
Eldrin recuou, soltando a harpa. O som cessou. O salão ficou em silêncio. Sua respiração vinha em soluços curtos, e suas mãos tremiam. Ele virou-se para fugir, mas tropeçou em algo que não estava ali antes: um medalhão.
Era de prata escura, em forma de uma asa entrelaçada a uma nota musical. No centro, uma pedra azul pulsava com fraca luz. Ao tocá-lo, Eldrin ouviu uma voz em sua mente:
— A canção foi iniciada, Filho do Som. O selo foi quebrado. O Guardião despertará... e também os Caçadores.
A harpa se desfez em pó.
Eldrin gritou.
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Dias depois, as pessoas de Lorthen notaram que as aves estavam silenciosas. Os cães uivavam à noite, e os anciãos tremiam com pesadelos que não sabiam explicar.
Na praça central, a fonte secou pela primeira vez em gerações. As crianças, mesmo as mais ousadas, se recusavam a brincar perto da antiga estátua dos fundadores, onde agora crescia uma hera escura, desconhecida, de folhas que sussurravam quando o vento passava.
Eldrin não voltou para casa naquela noite. Nem na noite seguinte. Sua pequena cabana na encosta, onde a brisa costumava trazer o som suave de suas canções, ficou em silêncio. O velho Maestro Orien, seu único amigo verdadeiro, foi o único a bater em sua porta. Quando a encontrou entreaberta e vazia, soube, no fundo do coração, que algo havia mudado.
Enquanto isso, no alto das montanhas, um vento antigo soprava entre as pedras. Os Ecos de Eldareth haviam retornado.
E com eles, a guerra entre Som e Silêncio.
O vento cortava as encostas das montanhas como um lamento vivo, varrendo folhas e sombras com igual indiferença. No coração da floresta esquecida, Eldrin despertou.
O chão de pedra ainda estava úmido sob seu corpo. Seu rosto estava virado para o céu encoberto, onde galhos retorcidos pareciam mãos tentando agarrar as nuvens. Um zumbido persistente reverberava dentro de seu crânio — não como um som, mas como um eco vibrante que não cessava. Ele se sentou com dificuldade, os músculos pesados como se tivesse caminhado dias sem descanso.
A harpa... havia desaparecido. Mas o medalhão permanecia. Preso firmemente ao seu pescoço por uma corrente que não estava ali antes. A pedra azul no centro pulsava com fraca luz, ritmada ao batimento de seu coração.
Eldrin levou a mão até ela. Assim que a tocou, uma leve corrente de ar percorreu sua espinha. A sensação não era de frio, mas de presença. De algo — alguém — o observando. Uma voz, distante, flutuou até ele, suave como fumaça:
— A Canção foi despertada... e o Guardião ouvirá.
Eldrin cambaleou ao se levantar. Estava em um lugar diferente do salão onde havia encontrado a harpa. As colunas em ruínas, as trepadeiras douradas e o pedestal tinham sumido. Em seu lugar, erguiam-se árvores antigas com troncos largos o bastante para esconder pequenas casas. Musgo cobria o chão como um tapete vivo. Era uma clareira estranhamente simétrica, circular, como se desenhada pela mão de um artista milenar.
No centro, um espelho de água cristalina refletia o céu cinzento, apesar de nenhuma fonte visível alimentá-lo.
Eldrin aproximou-se. Ao olhar para dentro da água, não viu seu próprio reflexo — mas outro.
Um rosto de escamas. Olhos de um azul intenso como safiras vivas. Um focinho longo, respirando lentamente. E então o dragão falou, sem mover os lábios:
— Você ouviu minha canção.
Eldrin recuou. Não havia som. A voz surgia em sua mente como um acorde que preenchia todos os cantos de sua consciência.
— Quem... quem é você?
— Sou aquele que dormia. Aquele que caiu com o último acorde. Sou Aeryx, o Guardião do Azul. E você, Eldrin, é o novo Portador.
O jovem tremia, mas não desviava o olhar. A imagem do dragão permanecia firme na superfície da água, mesmo com o vento balançando as árvores ao redor.
— Eu... eu só toquei a harpa... — disse Eldrin, hesitante.
— Não há apenas um som no mundo, Portador. Existem canções que criam, outras que selam... e algumas que libertam. Você libertou a Canção Perdida. Agora, os Caçadores virão.
A frase pareceu ressoar ao seu redor, como um trovão distante. Eldrin apertou o medalhão contra o peito.
— Eu não entendo. Não sou ninguém. Não passo de um músico de vilarejo!
— Você é mais. Sempre foi. A Canção escolhe. Assim como escolheu meus criadores. E agora, escolheu você.
— Por quê?
O espelho de água escureceu por um momento, e quando clareou novamente, Eldrin viu imagens: a cidade de Eldareth em sua glória ancestral, com torres altas como árvores encantadas, criaturas aladas voando entre os telhados, música fluindo das paredes como rios de luz. No centro, uma harpa gigante — feita da mesma ossatura reluzente daquela que ele havia tocado — emitia uma canção que fazia as próprias estrelas vibrarem.
Mas a cena mudou.
Homens com olhos negros como carvão. Capas feitas de névoa. Vozes que não cantavam, mas sugavam os sons ao redor. Um exército de silêncio.
— Eles eram os Filhos do Vazio. Inimigos do Som. Acreditavam que a harmonia era uma prisão, e o silêncio, a verdadeira liberdade. Eles destruíram a Canção Original. E agora... despertam novamente.
Eldrin caiu de joelhos.
— Eu não sou guerreiro. Não posso lutar contra isso.
— Você não lutará com espadas. Mas com notas. Com harmonias. A Canção ainda vive em você, e por meio dela... renascerá.
O reflexo desapareceu. O lago ficou opaco. O medalhão em seu peito aqueceu por um momento e depois esfriou.
Eldrin sentia-se vazio e sobrecarregado ao mesmo tempo. A mente cheia de perguntas. O coração cheio de medo. Mas o que mais o inquietava era o sentimento de inevitabilidade. Como se aquela jornada não tivesse começado agora... mas muito antes de seu nascimento.
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Enquanto Eldrin tentava encontrar o caminho de volta, alguém o observava.
Entre as sombras das árvores, uma figura se movia silenciosamente. Usava um manto cinzento que parecia se fundir com a neblina. Seu rosto era oculto por um capuz, mas seus olhos — vermelhos como brasas apagadas — brilhavam com malícia.
— O Guardião desperta — sussurrou para si mesmo. — E o Canto recomeça.
A figura ergueu a mão e soprou um pó escuro que se espalhou como fumaça viva, desaparecendo entre os troncos. Em resposta, sons distorcidos começaram a ecoar pela floresta: gritos distantes, notas invertidas, como se a própria música estivesse sendo engolida.
O Silêncio avançava.
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Quando Eldrin enfim emergiu da floresta, o céu já escurecia. Os contornos de Lorthen se erguiam à distância — familiar e, ao mesmo tempo, estranho. Ele nunca tinha reparado no quão silencioso era o vilarejo até aquele momento.
Caminhou até sua cabana com passos pesados. Encontrou a porta aberta, como se uma tempestade a tivesse arrombado. Lá dentro, tudo estava em seu lugar... exceto a harpa.
Sua velha harpa — a simples, de madeira clara, que ele usava desde criança — havia sido partida ao meio. E em seu lugar, sobre a cadeira onde sempre se sentava para compor, havia uma pena azul brilhante.
Eldrin a pegou com cuidado. Era quente ao toque, como se recém saída do corpo de uma criatura viva. Ao segurá-la, ouviu uma nota — uma única nota, pura e cristalina — ecoando dentro de sua mente.
Aeryx estava com ele. A Canção não havia terminado.
Era apenas o prelúdio.
As horas seguintes passaram como em um sonho confuso. Eldrin permaneceu em sua cabana, a pena azul pousada sobre sua mesa, os olhos fixos nela como se aguardasse que se transformasse em palavras ou respostas. Mas não o fez. Apenas pulsava levemente, como um coração distante.
Lá fora, o vilarejo de Lorthen seguia com sua rotina monótona. O som dos martelos dos ferreiros, o tilintar de baldes nos poços, e até o mugido das vacas pareciam mais abafados. Eldrin notava cada nuance. Havia algo fora de lugar, como se o mundo estivesse respirando mais devagar.
O jovem pegou o medalhão no pescoço. Desde o encontro com Aeryx, o Guardião do Azul, ele se tornara parte dele. Seu peso, antes sutil, agora parecia pressionar-lhe a alma. As palavras do dragão ecoavam em sua mente: "Você é mais. Sempre foi."
— Mas o que isso significa? — ele murmurou para o vazio.
Foi então que a pena emitiu um brilho mais forte.
Eldrin ergueu-se abruptamente. A pena flutuou por um segundo e caiu de pé sobre a mesa, como se fosse cravada ali por uma mão invisível. Ele se aproximou, hesitante. Assim que seus dedos tocaram a haste da pena, um calor suave envolveu sua mão. A visão ao seu redor desapareceu, como se alguém tivesse apagado a realidade com um sopro.
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Ele estava em outro lugar.
Não havia chão sob seus pés, apenas uma superfície aquosa como vidro líquido. Um céu sem estrelas se estendia sobre ele, negro e profundo, e flocos de luz dourada caíam lentamente, como neve de canções perdidas.
À sua frente, uma figura flutuava — uma mulher de cabelos prateados e olhos de âmbar. Seu corpo era etéreo, feito de som e luz. Ao seu redor, fragmentos de instrumentos flutuavam: flautas, harpas, tambores, todos quebrados, mas emitindo notas suaves no ar.
— Bem-vindo, Portador — disse ela com uma voz que soava como mil vozes em uma.
Eldrin sentiu os joelhos fraquejarem, mas não caiu. O próprio espaço o sustentava.
— Quem é você?
— Fui Meluira, uma das Últimas Cantoras. Habitei Eldareth quando os Filhos da Canção ainda caminhavam entre os ventos e as estrelas. A Canção me guarda como memória. E agora... guarda você também.
Eldrin engoliu em seco.
— Por que estou aqui?
— Para aprender o que não pode ser ensinado por palavras. Para ouvir o que está além do ouvido.
Ela se aproximou. Uma harpa flutuante se ergueu entre os dois, feita de cristal e teias de luz. Meluira passou os dedos pelas cordas, e uma melodia suave preencheu o espaço — uma canção que fez o tempo desacelerar, que trouxe imagens à mente de Eldrin: ele, criança, ouvindo o sussurro do vento; as pedras cantando sob seus pés na floresta; os sorrisos tristes dos anciãos de Lorthen.
— Toda melodia é memória — disse ela. — Toda harmonia é destino. Mas é o dissonante que transforma. Você não está preso à Canção. Você é parte dela.
Eldrin estendeu a mão e tocou a harpa. Assim que seus dedos encontraram as cordas, uma onda o envolveu — não de som, mas de conhecimento. As notas se tornaram símbolos, e os símbolos, sensações. Ele entendeu, mesmo sem entender completamente.
Havia mais do que apenas tocar. Havia invocar.
A harpa explodiu em luz.
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Eldrin acordou de súbito, caindo de costas no chão da cabana. A pena azul queimava em sua mão como brasa, mas ele não a soltou. O quarto girava. Suor escorria por sua testa, e sua respiração vinha rápida, mas algo havia mudado.
Ele sentia a música.
Não apenas ouvia. Sentia-a nas paredes, no vento, nos próprios ossos. Cada som tinha uma vibração única, como um traço de identidade. E mais do que isso... ele podia manipulá-los.
Eldrin correu até uma prateleira e pegou seu pequeno instrumento de cordas — o lirian, uma versão rústica da harpa — e deslizou os dedos pelas cordas.
As notas dançaram no ar, mas ao invés de se dissiparem, giraram em espirais. Uma delas se solidificou, tornando-se um fio de luz. Ele tocou novamente, e agora a vibração da nota parecia mover o ar em volta da sala.
Ele havia despertado.
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Mas nem todos dormiam.
No subterrâneo do mundo, onde a luz não alcançava e o som era devorado por paredes vivas, os Caçadores se reuniam. Estavam cercados por espelhos negros, e no centro de seu círculo, um trono feito de ossos de instrumentos.
Sobre ele, um ser envolto em mantos de trevas. Sua pele era cinza, como pedra esquecida, e seus olhos dois vórtices de negrume.
— O Guardião canta novamente — sibilou ele. — E o Portador foi escolhido.
Uma figura se adiantou do círculo, envolta em névoa e sombras.
— Deseja que eu o traga?
— Não. Ainda não. A canção precisa crescer... para que possamos quebrá-la com força. Que ele reúna os fragmentos. Que pense que possui o controle. No final, ele nos trará até Aeryx. E então...
O chão tremeu.
— ...o silêncio será eterno.
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Em Lorthen, Eldrin não conseguia mais ficar parado. Pegou uma bolsa, jogou nela algumas mudas de roupa, seu velho caderno de anotações, a pena azul, e o medalhão que agora parecia mais quente a cada dia.
Sabia que precisava sair. O vilarejo era pequeno demais para conter o que estava prestes a acontecer. E, mais do que isso, não podia permitir que aquelas pessoas inocentes fossem envolvidas no que quer que estivesse por vir.
Antes de partir, foi até a praça central. Lá, o velho Alor, um ancião que passava os dias esculpindo flautas de madeira, sentava-se como sempre.
— Vai a algum lugar, garoto? — perguntou ele, sem levantar os olhos da madeira.
Eldrin hesitou, depois respondeu:
— Buscar as partes perdidas da Canção. A harpa que encontrei... era apenas o início.
Alor parou por um instante, e pela primeira vez em anos, olhou Eldrin nos olhos. Havia um brilho estranho ali. Não surpresa. Mas reconhecimento.
— Sabia que esse dia chegaria — disse ele, com um suspiro. — Há muitos anos, ouvi os ecos da Harpa do Fim. Meu pai foi um dos últimos a conhecer os Filhos da Canção antes que sumissem. Disse que um dia o portador nasceria de novo... e que teria olhos que viam além do som.
Alor tirou uma flauta pequena do bolso e entregou a Eldrin.
— Foi a primeira que esculpi. Nunca consegui afiná-la direito... mas talvez ela funcione melhor nas suas mãos.
Eldrin aceitou, emocionado.
— Obrigado.
— Lembre-se, rapaz. As notas certas, nas mãos erradas, ainda podem matar. E as notas erradas, nas mãos certas... podem salvar um mundo.
Eldrin assentiu, apertando o medalhão contra o peito.
Deu as costas ao vilarejo e partiu, seguindo o eco que chamava por ele. Uma melodia distante, que o guiava pelas montanhas. Cada passo uma nota. Cada curva da trilha, um compasso.
A Canção estava apenas começando.
E em algum lugar... o Dragão Azul se movia.
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