A chuva caía fina naquela tarde de sexta-feira. Lucas, encolhido em seu casaco surrado, caminhava com passos curtos pelas ruas molhadas do bairro, o peso do dia escolar pendendo sobre seus ombros como uma âncora. Seus olhos castanhos evitavam qualquer contato visual, ciente dos olhares zombeteiros dos colegas que se espalhavam pelos corredores e redes sociais.
Na escola, ele era o "fraco", o "esquisito", o "ninguém". E, naquele dia, isso ficou ainda mais claro quando Vinícius, um dos valentões, resolveu humilhá-lo na frente de toda a turma. Bastou uma provocação: um empurrão, um insulto sobre suas roupas velhas, e o riso coletivo transformou o chão sob os pés de Lucas em vidro trincado.
“Vai fazer o quê, Lucas? Chamar sua mãe?”, Vinícius zombou, enquanto o empurrava contra os armários metálicos.
Lucas tentou revidar. Não com força, mas com um grito, um pedido para que parassem. Ninguém ouviu. Ouviram, sim — mas ninguém quis fazer nada.
No final da tarde, já em casa, trancado no quarto escuro, Lucas olhava fixamente o teto. O som da televisão na sala, a voz do pai reclamando do jantar, da vida, da falta de atitude do filho... Tudo soava como um zumbido distante.
Seu punho cerrou-se, os olhos marejaram, e pela primeira vez, ele sentiu uma coisa diferente. Não era apenas tristeza — era vontade. Vontade de mudar. De sair daquela prisão invisível de medo e insegurança.
Digitou no celular: “academia de luta perto de mim”.
E foi assim que o “Caminho da Força” começou.
Na manhã seguinte, o céu estava limpo, como se o universo lhe oferecesse um novo começo. Lucas estava parado diante da fachada de uma academia modesta, com a pintura um pouco desgastada, mas um nome que soava como promessa: Força Vital MMA.
O som dos golpes de luva contra saco de pancada, o suor escorrendo dos rostos concentrados e o cheiro de esforço tomaram Lucas de surpresa. Ele não sabia o que esperar, mas sentia no fundo do peito que precisava estar ali.
Foi Marco quem o recebeu — um homem de trinta e poucos anos, barba cerrada, voz grave, olhar experiente. Ao ver Lucas parado na porta, perguntou:
— Primeira vez?
Lucas apenas assentiu.
— Vem. Hoje é só observação. Amanhã você põe as luvas.
No fundo da sala, um grupo treinava chutes e socos com precisão. Mas o que mais chamou a atenção de Lucas foi um rapaz alto, atlético, que parecia dominar o espaço com uma presença quase arrogante. Seu nome era Adam.
Quando seus olhares se cruzaram, Adam soltou um meio sorriso de desdém. Lucas sentiu o mesmo frio na espinha que sentia na escola.
— Vai ser interessante — Adam comentou, jogando a toalha no ombro e saindo do tatame.
A primeira noite foi silenciosa. Lucas não comentou com ninguém sobre a academia. Mas, pela primeira vez em muito tempo, dormiu com um fio de esperança.
O segundo dia veio com dores. Cada músculo do corpo de Lucas parecia reclamar. Mas ele voltou.
As primeiras aulas foram humilhantes. Seus golpes não tinham força, seus chutes eram desequilibrados e sua respiração logo se tornava ofegante. Marco, com paciência, corrigia seus movimentos, mas era evidente: Lucas tinha um longo caminho pela frente.
Os outros alunos não escondiam o desdém. Alguns cochichavam, outros riam quando ele errava um movimento básico. Mas havia uma exceção: Sofia.
Ela era ágil, precisa e tinha olhos que transmitiam força e compaixão. Depois de um treino particularmente difícil, ela se aproximou e ofereceu uma garrafinha de água.
— Todo começo é assim. Ninguém nasce sabendo lutar.
Lucas agradeceu, tímido. Aquele gesto simples teve um efeito profundo.
Mas Adam não deixou passar.
— Ei, Sofia. Vai perder tempo com esse fracote?
Sofia o ignorou. Lucas, envergonhado, abaixou os olhos. Mas algo nele começou a mudar. Uma pequena chama acendeu.
Ele decidiu que não seria sempre o último. Não seria sempre o fraco.
As semanas se passaram, e Lucas começou a perceber mudanças sutis. Seus movimentos se tornaram mais firmes. Sua respiração, mais controlada. Mas os treinos ainda eram duros, e sua mente, mais ainda.
Em casa, os pais continuavam indiferentes. O pai dizia que ele perdia tempo com “essas coisas de luta”. A mãe apenas suspirava, como se já tivesse desistido de esperar algo dele.
Num treino em particular, Lucas errou uma sequência de socos e caiu. Adam, rindo, aproximou-se:
— Vai desistir agora?
Lucas se levantou. Olhou nos olhos dele.
— Não.
E pela primeira vez, disse isso com convicção.
Marco o observava de longe. Mais tarde, o chamou para conversar.
— Lutar é mais do que bater ou apanhar, Lucas. É sobre ouvir a voz que está dentro de você. Aquela que diz: “continue”.
Essas palavras ficaram ecoando em sua mente
O sábado chegou com um treino em dupla. Marco organizou os pares, e Lucas sentiu o estômago revirar quando foi colocado contra um dos alunos mais antigos, Leandro.
Leandro era forte. Experiente. Lucas sabia que seria massacrado.
Mas o inesperado aconteceu.
Lucas começou a aplicar o que aprendeu. Movimentos simples, mas com foco. Defesas bem executadas. Um contra-ataque certeiro no estômago fez Leandro recuar.
Ao final da luta, ambos estavam ofegantes. Leandro estendeu a mão.
— Boa, cara. Você tem fibra.
Lucas quase não acreditou.
E naquela noite, enquanto caminhava para casa, o mundo parecia um pouco mais leve. A cidade, menos cinzenta. E dentro dele, algo crescia: a certeza de que estava.
Na manhã seguinte, o céu estava limpo, como se o universo lhe oferecesse um novo começo. Lucas estava parado diante da fachada de uma academia modesta, com a pintura um pouco desgastada, mas um nome que soava como promessa: Força Vital MMA.
O som dos golpes de luva contra saco de pancada, o suor escorrendo dos rostos concentrados e o cheiro de esforço tomaram Lucas de surpresa. Ele não sabia o que esperar, mas sentia no fundo do peito que precisava estar ali.
Foi Marco quem o recebeu — um homem de trinta e poucos anos, barba cerrada, voz grave, olhar experiente. Ao ver Lucas parado na porta, perguntou:
— Primeira vez?
Lucas apenas assentiu.
— Vem. Hoje é só observação. Amanhã você põe as luvas.
No fundo da sala, um grupo treinava chutes e socos com precisão. Mas o que mais chamou a atenção de Lucas foi um rapaz alto, atlético, que parecia dominar o espaço com uma presença quase arrogante. Seu nome era Adam.
Quando seus olhares se cruzaram, Adam soltou um meio sorriso de desdém. Lucas sentiu o mesmo frio na espinha que sentia na escola.
— Vai ser interessante — Adam comentou, jogando a toalha no ombro e saindo do tatame.
A primeira noite foi silenciosa. Lucas não comentou com ninguém sobre a academia. Mas, pela primeira vez em muito tempo, dormiu com um fio .
O segundo dia veio com dores. Cada músculo do corpo de Lucas parecia reclamar. Mas ele voltou.
As primeiras aulas foram humilhantes. Seus golpes não tinham força, seus chutes eram desequilibrados e sua respiração logo se tornava ofegante. Marco, com paciência, corrigia seus movimentos, mas era evidente: Lucas tinha um longo caminho pela frente.
Os outros alunos não escondiam o desdém. Alguns cochichavam, outros riam quando ele errava um movimento básico. Mas havia uma exceção: Sofia.
Ela era ágil, precisa e tinha olhos que transmitiam força e compaixão. Depois de um treino particularmente difícil, ela se aproximou e ofereceu uma garrafinha de água.
— Todo começo é assim. Ninguém nasce sabendo lutar.
Lucas agradeceu, tímido. Aquele gesto simples teve um efeito profundo.
Mas Adam não deixou passar.
— Ei, Sofia. Vai perder tempo com esse fracote?
Sofia o ignorou. Lucas, envergonhado, abaixou os olhos. Mas algo nele começou a mudar. Uma pequena chama acendeu.
Ele decidiu que não seria sempre o último. Não seria sempre o fraco.
As semanas se passaram, e Lucas começou a perceber mudanças sutis. Seus movimentos se tornaram mais firmes. Sua respiração, mais controlada. Mas os treinos ainda eram duros, e sua mente, mais ainda.
Em casa, os pais continuavam indiferentes. O pai dizia que ele perdia tempo com “essas coisas de luta”. A mãe apenas suspirava, como se já tivesse desistido de esperar algo dele.
Num treino em particular, Lucas errou uma sequência de socos e caiu. Adam, rindo, aproximou-se:
— Vai desistir agora?
Lucas se levantou. Olhou nos olhos dele.
— Não.
E pela primeira vez, disse isso com convicção.
Marco o observava de longe. Mais tarde, o chamou para conversar.
— Lutar é mais do que bater ou apanhar, Lucas. É sobre ouvir a voz que está dentro de você. Aquela que diz: “continue”.
Essas palavras ficaram ecoando em sua mente por dias.
O sábado chegou com um treino em dupla. Marco organizou os pares, e Lucas sentiu o estômago revirar quando foi colocado contra um dos alunos mais antigos, Leandro.
Leandro era forte. Experiente. Lucas sabia que seria massacrado.
Mas o inesperado aconteceu.
Lucas começou a aplicar o que aprendeu. Movimentos simples, mas com foco. Defesas bem executadas. Um contra-ataque certeiro no estômago fez Leandro recuar.
Ao final da luta, ambos estavam ofegantes. Leandro estendeu a mão.
— Boa, cara. Você tem fibra.
Lucas quase não acreditou.
E naquela noite, enquanto caminhava para casa, o mundo parecia um pouco mais leve. A cidade, menos cinzenta. E dentro dele, algo crescia: a certeza de que estava, finalmente, no caminho certo.
No espelho do banheiro, Lucas observava as marcas espalhadas pelo corpo. Róseas, roxas, escuras. Algumas recentes, outras já desbotando.
Mas ao contrário do passado, não sentia vergonha. Aquilo era parte do processo.
Na escola, Ramon voltou a provocar. Puxou sua mochila, derrubou seus cadernos.
Dessa vez, Lucas não reagiu com raiva. Apenas olhou nos olhos do agressor e disse:
— Eu não sou mais o mesmo.
Ramon riu, confuso. Mas a ausência de medo no olhar de Lucas deixou uma sombra de dúvida. Pela primeira vez, Lucas percebeu que a verdadeira força não precisava ser exibida — ela se manifestava na postura, no silêncio, na convicção.
Naquela noite, no jantar, o pai de Lucas observou as mãos calejadas do filho.
— Por que continua indo lá?
Lucas não hesitou.
— Porque estou me encontrando.
O pai não respondeu. Apenas assentiu levemente, com o canto dos lábios tremendo, quase imperceptível
Marco reuniu os alunos ao final de um treino intenso.
— Vai acontecer um torneio amador na cidade vizinha. Categorias de base, regras controladas. Quero que alguns de vocês participem — anunciou.
O coração de Lucas disparou.
Adam sorriu, confiante. Sofia ajeitou o cabelo, sem mostrar reação. Lucas respirou fundo. Parte dele queria se esconder. Outra… queria se testar.
— Lucas, quero que você vá — disse Marco.
Ele congelou.
— Eu? Mas... ainda sou novo nisso.
— Justamente por isso. Não é sobre ganhar. É sobre aprender a enfrentar. A si mesmo.
Nos dias que se seguiram, a rotina ficou mais intensa. Treinos duplos, sessões extras com Sofia. Cada golpe parecia carregar a ansiedade da estreia. Mas também alimentava a vontade de ir até o fim.
Sofia o ajudava a respirar entre os rounds. A controlar o medo. A confiar.
— No tatame, você estará sozinho. Mas todo o resto vai com você — disse ela, tocando levemente o peito dele com dois dedos.
Lucas assentiu. Não sabia se venceria. Mas sabia que precisava tentar.
O dia do torneio chegou com o céu acinzentado.
Lucas viajou no ônibus da equipe, o kimono dobrado no colo. As mãos suavam. Marco, sentado ao lado, mantinha a calma.
— Você não está aqui pra provar nada pra ninguém. Só pra você mesmo.
O ginásio era barulhento. Faixas coloridas, torcidas gritando, lutadores se aquecendo. Lucas quase voltou para trás — mas então viu Sofia sorrindo à distância. Era o que bastava.
Foi chamado. Subiu no tatame. O adversário parecia mais experiente, mas não maior.
O combate começou.
Lucas manteve a guarda, como treinado. Esquivou, acertou um chute leve. Levou um soco no estômago, caiu. A dor foi real — mas a vontade de continuar, ainda maior.
Levantou-se.
Lutou até o fim. Perdeu por pontos. Saiu ofegante, cambaleando, mas com a cabeça erguida.
Marco o esperava do lado de fora do tatame.
— Parabéns — disse, sem rodeios.
— Mas eu perdi…
— Você entrou. Ficou de pé. Lutou até o fim. Isso é vencer.
Lucas sorriu, com os olhos marejados. Pela primeira vez, sentia orgulho de si mesmo.
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