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O Fruto Proibido

quando o fruto é proibido é mais gostoso

Capítulo 1 –

A passagem só de ida

O som abafado da mala de rodinhas contra o chão da rodoviária do Rio de Janeiro parecia ecoar no peito de Laura mais do que no espaço ao redor. Cada passo em direção ao ônibus que a levaria para São Paulo era uma mistura amarga de mágoa, dúvida e raiva contida.

— Você vai ver, vai ser bom pra você. – insistira a mãe, pela quinta vez naquela manhã.

Laura não respondeu. Apenas apertou os lábios e encarou a mãe com aquele olhar que dizia mais do que mil palavras.

"Bom pra quem?", ela pensava.

Desde os oito anos, Laura morava com Elena. O pai, Alex, havia desaparecido da rotina da filha desde o divórcio — por escolha própria. De repente, do nada, após cinco anos de silêncio, ele resolve mandar uma mensagem, quase uma convocação: “Gostaria que você viesse passar um tempo comigo antes do seu aniversário. Já está tudo organizado.”

Organizado para quem? Laura não se sentia parte desse plano.

— Cuida de você, tá? – Elena disse, abraçando-a rápido, como quem sabe que a filha não vai retribuir o gesto.

Ela apenas assentiu e virou as costas, sem se despedir direito. A mágoa falava mais alto. Subiu no ônibus com os fones no ouvido, a cabeça encostada no vidro, vendo a cidade se afastar, lentamente. As praias, os prédios, a vida que conhecia... até o céu parecia mais cinza naquela manhã.

Durante as seis horas de viagem, ela tentou dormir, mas a ansiedade não deixava. Pensava em como seria reencontrar Alex. E mais: como seria conhecer Bianca, a tal esposa nova, mais jovem do que ele, famosa por uma loja de roupas chique e um Tudo o que Laura desprezava.

“O que uma mulher dessas quer com um cara como meu pai?”, murmurava para si, cínica.

No celular, uma notificação de Izabel apareceu:

IZABEL: chegando em SP me avisa, por favor... e tenta não bater na sua madrasta no primeiro dia kkkk

Laura sorriu de canto. Era o primeiro sorriso em horas. E sumiu tão rápido quanto veio.

O ônibus finalmente chegou à rodoviária de Tietê no final da tarde. Ela desceu devagar, tentando reconhecer o pai na multidão. Um homem de terno azul-marinho, cabelo penteado para trás, óculos escuros e ar impaciente andava de um lado pro outro.

Eraeo motorista

— nehorita Laura Menezes? – disse segurando uma placa

— Oi. – respondeu num tom baixo.

— Vamos. O seu pai tá esperando.

um carro preto de luxo esperava. O motorista abriu a porta para Laura, que entrou sem dizer nada. O caminho até o restaurante foi silencioso, cortado apenas pela voz do GPS e o som leve do ar-condicionado.. Seu pai, como sempre, não foi buscá-la. Mandou um motorista e marcou de encontrá-la diretamente no restaurante.

“Quero que você conheça minha esposa”, ele havia dito por telefone. “Vamos jantar fora, algo tranquilo.”

Laura não deu muita importância. Não fazia ideia de quem era essa mulher, nem queria saber. Já estava irritada o bastante por estar ali.

O restaurante era um daqueles caros, com fachada de vidro, garçons de terno e luz baixa nas mesas. Laura chegou antes e pediu para ir ao banheiro enquanto esperava. O coração batia mais rápido, talvez de raiva, talvez de nervoso.

Entrou no banheiro feminino e parou por um segundo para respirar.

Foi quando a porta de uma das cabines se abriu.

E ela apareceu.

Mulher. Linda. Uns dez anos mais velha que Laura, talvez. Vestido preto, justo no lugar certo, salto alto, cabelos loiros soltos e ondulados, maquiagem leve, mas impecável. Tinha um perfume doce no ar que Laura sentiu mesmo a dois passos de distância.

A mulher passou por ela com um leve sorriso e lavou as mãos na pia ao lado. Laura observava pelo espelho, disfarçando como podia, mas cada detalhe grudava em seus olhos.

A forma como ela prendia o cabelo para não molhar, o jeito calmo e confiante. A boca bem desenhada. Os olhos claros. A pele dourada.

E algo mais.

Algo que Laura não sabia explicar. Um magnetismo. Um chamado.

Desejo.

Ficou paralisada. Quis dizer algo — qualquer coisa. Mas só conseguiu olhar.

Foi quando a mulher se virou para ela, secando as mãos com uma toalha de papel.

— Oii. Tudo bem?

A voz era firme, suave. Com um toque de simpatia sincera.

Laura engoliu em seco.

— Tô, sim.

A mulher sorriu, e saiu pela porta do banheiro como se nem soubesse o estrago que tinha causado em alguém.

Laura ainda estava com o coração acelerado quando voltou ao saguão do restaurante. O maître a levou até a mesa reservada.

E foi quando tudo virou do avesso.

Sentada com o pai, de mãos dadas com ele sobre a mesa, estava a mulher do banheiro.

Aquela mulher. Aqueles olhos. Aquele vestido.

— Laura — disse Alex, levantando-se —, essa é a Bianca. Minha esposa.

Laura congelou. Sentiu o rosto queimar, o estômago revirar.

A mulher olhou para ela e abriu o mesmo sorriso simpático de antes.

— Agora faz sentido... você é a Laura. Muito prazer.

Laura respondeu com um “prazer” quase mudo. A cabeça girava. Sentou-se sem saber como. Passou o jantar todo em silêncio, com o gosto da surpresa preso na garganta. E o olhar de Bianca, vez ou outra, pousando sobre ela como quem ainda a tentava decifrar.

Mas agora Laura sabia quem ela era.

E o que sentira... era errado. Muito errado.

Só que era tarde demais para fingir que não aconteceu.

Quando o jantar acabou foram para casa com o motorista e chegando na casa

A casa por dentro era ainda mais absurda do que por fora. Mármore branco no chão, escadas curvas com corrimão dourado, quadros enormes de arte moderna nas paredes. Laura se sentia deslocada — como se tivesse invadido o cenário de uma novela cara demais para a própria realidade.

— Você deve estar cansada da viagem — comentou Bianca, andando à frente com passos leves. — Deixamos seu quarto preparado, tenho certeza de que vai gostar.

Alex seguiu direto para o escritório sem sequer se despedir.

— Tenho uma reunião por vídeo agora. A gente se fala depois.

Laura apenas observou. Já estava acostumada com esse tipo de descaso vindo dele. O que a incomodava mesmo era o jeito natural como Bianca sorria e falava, como se tudo estivesse perfeitamente normal.

O quarto era amplo, decorado com cores neutras, uma cama enorme, janelas com cortinas de linho e um closet menor que um quarto comum, mas ainda grande demais. Sobre a cama, uma toalha dobrada com sabonetes finos, um gesto claramente vindo de Bianca.

— Espero que goste. Preparei eu mesma, achei que seria bom ter seu espaço... confortável — disse Bianca, parada na porta.

Laura assentiu, olhando o ambiente com certo desdém.

— Bonito.

— Se quiser descansar um pouco

— Tá.

Bianca sorriu, mas o olhar dela se demorou mais que o necessário. Como se quisesse decifrar Laura. Ou se deixar ser decifrada.

No outro dia , Laura desceu para o café. Vestia uma blusa básica e uma saia jeans. Nada que se encaixasse no estilo elegante da casa, mas ela também não queria agradar ninguém.

Na mesa do café, a mesa estava posta como num restaurante chique. Talheres de prata, guardanapos dobrados com perfeição, muitas sobremesas e bolos

Alex já estava à mesa, com o celular na mão. Bianca ajeitava um prato quando viu Laura se aproximar.

— Sente-se, por favor.

— Oi, filha — disse Alex, sem tirar os olhos do celular. — O chefe da campanha do senador acabou de me ligar. Você chegou bem, né?

Laura engoliu o incômodo.

— Sim.

Bianca serviu bolo para Alex suco para Laura, com uma elegância quase ensaiada.

— Ainda não sei oq vc come entao preparei de tudo ... achei melhor não arriscar.

— Certo — respondeu Laura, com um leve sarcasmo.

O café começou com silêncio. Apenas o som dos talheres e do vento do ar-condicionado.

— A Sofya está na casa da avó. Deve voltar amanhã — informou Bianca, como quem tenta puxar conversa.

— Quem é Sofya? — Laura perguntou, fingindo desinteresse.

— Minha irmã — respondeu bianca

— Ah.

Mais um gole de suco. Mais um silêncio cortante.

— Ela está animada pra te conhecer — continuou Bianca. — Fala de você desde que soube que viria.

Laura encarou a madrasta por um instante. A voz doce. O rosto calmo. O tom sempre cuidadoso. Tudo nela parecia equilibrado demais. Estudado demais.

— Que bom — disse

Alex soltou um suspiro de impaciência.

— Espero que você se esforce pra fazer isso funcionar, Laura. Não é fácil pra ninguém aqui. E sua mãe insistiu muito pra que você viesse.

A menção à mãe fez Laura apertar os punhos sob a mesa. Bianca percebeu.

— Alex — disse com gentileza — talvez seja melhor dar um tempo. É o primeiro dia. Vamos com calma, né?

Ele revirou os olhos e voltou ao celular.

Bianca olhou para Laura com um meio sorriso, como quem pede desculpas por algo que não fez.

— Você gosta de moda?

Laura a encarou.

— Gosto de usar roupas normais

Bianca soltou um riso leve, sincero até certo ponto.

— Justo.

Houve uma pausa. Então Bianca perguntou:

— Posso te mostrar o ateliê mais tarde? Fica aqui na casa. Gosto de criar ali, quando não estou na loja. Quem sabe você não encontra algo que goste?

Laura hesitou. Mas respondeu:

— Pode ser

Foi a primeira vez que as duas trocaram um olhar sem hostilidade.

Mas o que havia naquele olhar era outra coisa.

Curiosidade? Admiração? Perigo?

Laura não sabia.

Só sabia que, pela primeira vez, algo naquela casa lhe despertava atenção.

E esse algo... tinha nome. E perfume. E um sorriso de canto.

Bianca estava vestindo um short de seda claro e uma regata fina que deixava parte das costas à mostra. Os cabelos estavam soltos, caindo como uma cortina sobre os ombros.

_vamos ver o atelie?

Laura demorou meio segundo para responder. Os olhos ainda estavam grudados naquela silhueta, na pele clara exposta sob a luz suave da manhã.

Laura hesitou, mas a curiosidade venceu.

O ateliê ficava nos fundos da casa, com uma porta de vidro que dava para o jardim. Ao entrar, Laura foi tomada pelo cheiro de tecido novo, perfume adocicado e alguma coisa que não sabia nomear, mas que mexeu com seus sentidos.

Bianca abriu algumas araras, mostrando croquis, moldes, vestidos em construção.

— Gosto de criar de manhã. É quando minha cabeça funciona melhor — disse, virando-se para Laura.

Ela estava tão perto que Laura sentiu o cheiro da pele dela. Um perfume floral, discreto, mas marcante. Uma mistura perigosa.

— Você tem talento — murmurou Laura, surpresa ao dizer aquilo.

Bianca sorriu, surpresa também.

— Obrigada. Quase ninguém aqui em casa me diz isso.

Laura engoliu em seco. O coração parecia bater mais rápido, sem motivo aparente.

— Posso experimentar alguma coisa?

Bianca arqueou uma sobrancelha, surpresa — e talvez intrigada.

— Claro. Você tem o corpo ideal pra vários dos meus modelos.

O tom foi neutro. Mas o olhar… o olhar dizia mais. Como se cada palavra escondesse outra por trás.

Laura entrou em um provador improvisado com cortinas brancas. Bianca separou um vestido de tecido leve, cor creme, alças finas. Ao colocá-lo, Laura se olhou no espelho e mal se reconheceu. O corte marcava suas curvas, o colo ficava mais exposto do que o usual.

— Tá pronto? — perguntou Bianca, do lado de fora.

— Tô.

Ela abriu a cortina devagar.

Os olhos de Bianca desceram pelo corpo de Laura como se percorressem um mapa proibido. E Laura sentiu. Sentiu mesmo. O calor no rosto. O frio na barriga. O arrepio no braço.

Bianca demorou um segundo a mais do que o necessário antes de dizer:

— Ficou... lindo em você.

Laura sorriu, nervosa. E desviou os olhos. O coração estava disparado.

Por dentro, uma voz ecoava: isso é errado. Isso é loucura. Isso é... perigoso.

Mas outra parte — mais silenciosa, mais sombria — sussurrava: é só um vestido. E um olhar. Nada demais.

Ou será que era?

Sala de cinema

continuação

Por dentro, uma voz gritava que era absurdo, que aquilo estava errado. Mas havia outra — mais baixa, mais perigosa — que sussurrava: ela te olhou diferente.

Laura saiu do provador, tentando manter a compostura. Bianca, por sua vez, ajeitou uma alça do vestido no ombro dela, com a ponta dos dedos. Foi um toque leve, quase técnico, quase inevitável… mas que fez Laura prender a respiração.

— Você devia usar mais roupas assim — disse Bianca, em tom casual, mas os olhos denunciavam outra coisa.

Laura mordeu o lábio, desviando o olhar.

— Não faz muito meu estilo.

— Talvez só esteja esperando o momento certo pra descobrir qual é.

Elas ficaram em silêncio por um segundo. Um segundo longo demais.

Então Bianca se afastou, voltando a pendurar os vestidos com naturalidade forçada.

— Se quiser, pode ficar com esse — falou, virando de costas. — Acho que combina com você.

Laura hesitou.

— Não precisa…

— Quero que fique. É um presente.

Laura concordou com um aceno mudo, sem saber como recusar sem parecer ingrata. E sem saber como aceitar sem parecer envolvida demais.

Enquanto voltavam para dentro da casa, a distância entre elas parecia ter mudado. Nada havia acontecido, e ainda assim, tudo havia mudado.

de noite, Laura demorou a dormir.

No escuro do quarto luxuoso, deitada em lençóis caros, ela fechava os olhos e via o reflexo no espelho. O vestido. O olhar. O toque.

E o mais perturbador era saber que não se tratava só de desejo.

Era algo que a fazia querer mais.

Mesmo sabendo que isso podia destruir tudo.

Mesmo sabendo que ela era a mulher do seu pai.

Acordar naquela casa era como despertar dentro de um quadro bonito demais para ser real. O sol entrava pelas janelas enormes, refletindo em cortinas de linho branco, em móveis minimalistas e silenciosos. Mas dentro de Laura, havia um ruído constante. Um incômodo quase invisível. Quase.

Ela tomou banho demorado, tentando lavar a lembrança do espelho, do toque de Bianca em sua pele, da sensação que ficou. Mas aquilo não saía. Grudava nela como perfume forte.

Desceu para o café com o cabelo ainda úmido, vestindo uma camiseta larga e um short jeans que deixava as pernas à mostra. Quando chegou à cozinha, Bianca já estava lá, de costas, fritando ovos em uma frigideira.

Estava descalça, usando apenas uma camisola de cetim clara. O cabelo preso em um coque bagunçado. Laura travou na porta por um instante, sem querer — ou talvez querendo demais — observar a cena. Havia algo cruel na beleza de Bianca. Não era só aparência. Era o jeito como se movia. Como olhava. Como parecia saber o efeito que causava e, ainda assim, fingia não notar.

— Bom dia — disse Bianca, sem se virar, como se tivesse sentido o olhar de Laura.

— Bom dia — respondeu ela, com a voz mais baixa do que gostaria.

Sentou-se no balcão da cozinha, tentando parecer natural. Bianca virou-se e sorriu. Um sorriso leve, íntimo, como quem compartilha um segredo.

— Dormiu bem?

— Mais ou menos — respondeu Laura, mexendo na borda do copo de suco. — E você?

— Sonhei com uma garota bonita no espelho.

Laura corou antes de conseguir se conter. Bianca riu e serviu os ovos.

— Brincadeira… ou não.

Sentaram-se para comer. O silêncio entre elas agora era diferente. Não era mais constrangido — era denso, carregado, quase palpável.

Depois do café, Bianca sugeriu irem à piscina. Laura hesitou, mas acabou aceitando. A ideia de ficar perto dela em trajes de banho a deixava inquieta, mas recusaria o quê? E por quê? Tinha medo da resposta.

Colocou um biquíni preto e simples, por baixo de um vestido leve. Quando saiu, encontrou Bianca estendida na espreguiçadeira, óculos escuros no rosto e um livro aberto sobre o colo. O corpo dela brilhava sob o sol, e Laura quis desviar o olhar — mas não conseguiu.

— Vem nadar? — convidou Bianca, tirando os óculos.

Laura assentiu. Mergulhou sem dizer nada. A água gelada ajudou a acalmar os pensamentos — por alguns minutos. Depois, Bianca mergulhou também. E tudo voltou.

Nadaram, riram, conversaram como duas amigas. Como quase mãe e enteada. Como duas mulheres. Mas havia momentos em que a conversa morria e os olhares se estendiam. Demais.

Em um deles, já fora da piscina, sentadas lado a lado, Bianca passou protetor solar nas próprias pernas e, ao perceber Laura enrubescida, ofereceu:

— Quer que eu passe em você?

Laura hesitou. Seu corpo dizia “sim” antes que sua boca dissesse “não”.

— Acho melhor não.

— Tá bom

O tempo parecia se arrastar naquela manhã que derrepente ficou chuvosa. A cidade ao redor da casa desaparecia sob a neblina e o som insistente da chuva nos vidros criava um clima quase cinematográfico.

Depois de um almoço tranquilo, feito a quatro mãos na cozinha — com risadas, olhares roubados e dedos que se encostavam mais do que o necessário —, Bianca sugeriu:

— Que tal aproveitarmos essa tarde para ver um filme? A sala de cinema tá implorando pra ser usada, seu pai e eu não temos mais tempo ele trabalha muito e ver sozinah é chato.

Laura sorriu, tentando disfarçar a ansiedade que a acompanhava sempre que estavam sozinhas. Sabia que deveria manter distância, se proteger. Mas também sabia que qualquer desculpa seria fraca demais diante da curiosidade e da vontade que crescia silenciosamente dentro dela.

— Claro. O que você quer assistir?

— Romance? — Bianca sugeriu, meio entusiasmamada meio despreocupada. — Aqueles que fazem a gente chorar e repensar a vida.

Laura deu de ombros, como se fosse indiferente.

— Pode ser.

Foram juntas até a sala de cinema. laura colocou um dos filmes preferidos dela: uma história sensível sobre duas mulheres que se conhecem por acaso, se apaixonam e enfrentam o mundo para ficarem juntas. A escolha pareceu aleatória, mas bianca percebeu o subtexto.

Sentaram-se no sofá largo, no centro da sala. Bianca pegou uma manta e dividiu com ela. As luzes se apagaram e, por um tempo, tudo foi apenas silêncio, som de chuva, e a tela iluminando seus rostos.

Aos poucos, o filme foi se tornando plano de fundo.

Laura sentia o perfume de Bianca como se fosse música. O calor do corpo dela próximo, o leve roçar dos ombros sob a manta. Cada respiração parecia mais alta. Mais consciente.

Na tela, as personagens principais trocavam olhares intensos, como se o mundo inteiro existisse só naquele instante.

E então Laura virou o rosto.

Olhou Bianca.

De verdade.

Não apenas um olhar casual. Mas um daqueles que duram mais do que deveriam. Um olhar que dizia coisas que ela ainda não tinha coragem de colocar em palavras. Um olhar que se demorou demais na boca de Bianca. Depois subiu para os olhos. E ficou ali.

Bianca, que até então estava atenta ao filme, percebeu.

Virou o rosto lentamente, encontrando o olhar de Laura.

Por um momento, o tempo parou.

Havia uma pergunta muda no ar.

Bianca sentiu o estômago revirar. O olhar de Laura... havia algo ali. Desejo? Curiosidade? Ou só carência? Era quase impossível decifrar. Mas era quente. Queimava.

— bianca... — sussurrou, sem saber exatamente por que disse.

— Hm? — a voz dela saiu baixa, quase rouca.

— Tá tudo bem?

Laura desviou o olhar por um segundo, como se tivesse sido pega.

— Tá.

Bianca hesitou. Mordeu o lábio. O coração acelerado.

— A forma como você me olhou agora…

Laura não respondeu. Não sabia o que dizer. Porque a verdade era que nem ela mesma entendia tudo aquilo. Só sabia que, naquele instante, queria se aproximar.

Bianca continuou olhando.

O filme seguia na tela. Mas ali, naquele sofá, havia uma outra história sendo contada. Mais perigosa. Mais íntima.

As mãos delas estavam próximas. Muito próximas. E bastaria um leve movimento para que se tocassem.

Mas ninguém se mexeu.

O silêncio disse tudo.

E o que não foi dito — ficou no ar, entre elas, esperando o momento certo para cair.

A luz suave da tela continuava pintando tons de azul e dourado no rosto das duas. No filme, as personagens principais, depois de muitas idas e vindas, finalmente se entregavam uma à outra.

Era uma cena sensível, bonita — nada vulgar. As mãos se entrelaçavam, os olhares eram lentos, cuidadosos. O beijo demorava a acontecer. Quando enfim acontecia, era como se o mundo parasse para que só aquele momento existisse.

Laura não conseguiu evitar.

Seus lábios se entreabriram sutilmente, como se o corpo reagisse por conta própria. Mordeu o lábio inferior de leve. Sentiu um calor subir pelas bochechas e descer até o ventre.

Tentou ajustar a posição de onde estava sentada, mas no processo, apertou as coxas uma contra a outra, quase sem perceber. Era como se o corpo buscasse aliviar uma tensão que só crescia.

Bianca notou.

Não todo o gesto — mas o suficiente.

Notou o jeito como Laura passou a respirar um pouco mais rápido. Como os olhos dela evitaram a tela, mas também não ousaram encará-la diretamente. E aquele lábio mordido... Deus, aquilo era puro desejo.

Bianca virou lentamente o rosto para Laura, tentando disfarçar a confusão que sentia, e perguntou com delicadeza:

— Você tá mesmo bem?

A voz dela saiu baixa, suave. Mas havia uma pontada de provocação ali — ou talvez fosse apenas o reflexo da própria curiosidade.

Laura piscou rápido, como se despertasse de um transe. Estava claramente desconfortável com o que o próprio corpo revelava.

— Tô eu... — disse, mas a voz saiu fraca, hesitante.

Levantou de repente, como se precisasse fugir de si mesma.

— Eu... vou fazer pipoca. Você quer?

Bianca assentiu devagar, surpresa com a mudança abrupta.

— Quero... — respondeu, mas o olhar permaneceu nela.

Laura saiu da sala apressada, quase tropeçando na manta que caiu do sofá.

Na cozinha, apoiou as mãos no balcão e respirou fundo.

O que você tá fazendo, Laura? — pensou, frustrada. — É só um filme. É só Bianca. Só... a mulher do seu pai

Mas a verdade era que não era "só" nada.

A forma como o corpo dela reagiu, sem permissão, dizia mais do que qualquer pensamento poderia negar.

Na sala, Bianca continuava com os olhos presos na porta por onde Laura tinha saído. O filme ainda corria, mas a verdadeira cena que mexera com ela não estava na tela.

pipoca e vinhos

Bianca esperou alguns instantes, tentando se concentrar no filme. Mas a cena já tinha passado, e agora ela só conseguia pensar em Laura.

Ela parecia... estranha. E estava demorando para voltar. Talvez estivesse mesmo se sentindo mal?

Sem pensar muito, Bianca levantou-se do sofá e seguiu pelo corredor, descalça, com passos leves.

Quando chegou à cozinha, encontrou Laura de costas, parada diante do micro-ondas, com as mãos apoiadas na bancada, a cabeça levemente abaixada.

— Tudo certo por aqui? — perguntou, com a voz doce, tranquila.

Laura se virou num sobressalto, visivelmente nervosa.

— Ahn... sim! Tô só esperando a pipoca estourar — respondeu rápido demais. — É... é aquele tempo eterno do micro-ondas, sabe?

Bianca sorriu, entrando mais.

— Quer ajuda? Posso pegar as bebidas — ofereceu, indo até a geladeira, sem perceber o quanto sua presença desestabilizava a outra.

Laura tentou não olhar. Tentou focar em qualquer outra coisa — o barulho dos grãos estourando, o calor que subia pelas costas, a sensação de que seu corpo ainda estava reagindo ao que viu... e ao que sentiu.

Mas quando Bianca se abaixou um pouco para pegar duas latas de refrigerante na parte de baixo da geladeira, a blusa dela subiu ligeiramente, revelando um pedaço da pele das costas.

Laura desviou o olhar, pressionando os lábios como se quisesse impedir qualquer pensamento. Mas era tarde. O desejo ainda estava ali, preso em alguma parte do corpo, pulsando, queimando devagar.

Bianca se virou, ainda inocente da tensão no ar.

— vc quer refri ou vinho? prefiro vinho mas não sei se você bebe

Laura demorou um segundo para responder. Quando o fez, a voz saiu um pouco rouca.

— eu bebo

Bianca estranhou o tom. Estudou o rosto da enteada. Ela parecia corada, ansiosa. Evitava seus olhos de um jeito quase infantil.

Mas não disse nada.

Entregou uma das taça, tocando os dedos de bianca sem querer. Sentiu um arrepio sutil subir pelo braço, mas imaginou que era só o contraste com o vidro gelado.

Laura também sentiu.

Mas, diferente de laura, sabia que o arrepio tinha outra origem.

Sabia que, se ficasse ali por mais dois minutos, talvez dissesse ou fizesse algo que não devia.

Por isso, pegou a pipoca estourada, soltou um "vamos voltar pro filme", e saiu da cozinha quase correndo, como quem tenta fugir de um incêndio prestes a começar.

E Bianca, sem entender o porquê daquela pressa, seguiu atrás.

Mas no fundo... algo já começava a se acender dentro dela também.

. — Desde que você não me embebede.

Bianca riu baixinho.

— Prometo que não. Só um vinhozinho leve. Vai combinar com a pipoca salgada.

Ela foi até a adega pequena no canto da cozinha e tirou uma garrafa de vinho tinto suave. Abriu com delicadeza, serviu duas taças, e ofereceu uma a Laura com um olhar tranquilo, quase acolhedor.

Claro! Aqui está a continuação com Bianca pegando vinho para acompanhar com a pipoca, e Laura aceitando — tentando manter a compostura, mas ainda visivelmente abalada:

— Vamos? — Bianca perguntou.

Laura assentiu. As duas voltaram para a sala de cinema, agora com a pipoca entre elas e as taças nas mãos.

Sentaram-se lado a lado no sofá largo, a penumbra da tela iluminando seus rostos de tempos em tempos. O filme continuava — o mesmo romance sensível e sensual de antes — e o silêncio entre elas parecia mais denso, mais carregado de significados que nenhuma das duas ousava nomear.

Elas comiam devagar, tomavam goles suaves de vinho. Mas, por dentro, especialmente Laura, sentia a tensão crescendo novamente.

A forma como Bianca levava a taça aos lábios. O som sutil da sua respiração. O calor que emanava de tão perto. Tudo parecia um convite perigoso.

E ainda assim, Laura ficou.

Mesmo sabendo que o desejo ainda queimava embaixo da pele. Mesmo sabendo que era melhor fugir outra vez.

Mas agora, com Bianca ali, tão calma, tão presente — ela não conseguia se mover.

Bianca deu um pequeno suspiro, emocionada com a beleza da cena. Amava esse tipo de romance, que tratava o desejo com ternura, com verdade.

Foi então que, no canto do olho, notou o corpo ao seu lado ficar tenso.

Virou-se discretamente.

Laura tinha os olhos presos na tela, mas não via mais o filme. Mordeu o lábio inferior sem perceber, segurando a taça com força. As coxas comprimidas uma contra a outra, o maxilar travado, como se quisesse conter algo dentro de si. Seus dedos tamborilavam discretamente na perna, inquietos.

Bianca a observou por mais um segundo, confusa.

Era excitação? Desejo? Estava sentindo algo com a cena? Com ela?

O coração de Bianca acelerou, sem que ela soubesse o porquê. A vontade de perguntar se Laura estava bem veio de imediato, mas antes que dissesse qualquer coisa, Laura largou a taça meio apressada e se levantou de súbito.

Bianca se aproximou devagar, sem querer pressionar, mas sentindo que algo escapava do controle.

— Você parece... nervosa.

Laura desviou os olhos e tentou sorrir.

— É só o filme. Pegou um pouco de surpresa, só isso...

Bianca a olhou por um longo segundo. Queria acreditar. Queria não perceber as mãos trêmulas, o peito subindo e descendo de forma irregular. Mas havia algo ali.

Algo que talvez nenhuma das duas soubesse nomear ainda.

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