...Prólogo...
Há milênios, muito antes dos registros conhecidos pelos homens, o mundo era um lugar onde o impossível moldava a realidade. As vastas terras eram dominadas por dragões — criaturas imensas e majestosas — que controlavam todos os elementos e reinavam com força indomável. Eles eram temidos e reverenciados, considerados deuses vivos, soberanos absolutos de todas as coisas sob o céu.
Durante incontáveis eras, os dragões governaram o mundo. Os reinos dos mortais, frágeis em comparação, curvavam-se diante de seu poder. A natureza, os oceanos, os ventos e até mesmo as montanhas dobravam-se à vontade dessas criaturas ancestrais.
No entanto, o equilíbrio do mundo começou a mudar com o surgimento de famílias humanas dotadas de habilidades raras. Elas não apenas coexistiram com os dragões, mas, ao longo de séculos, aprenderam a domá-los. Essas famílias, detentoras de uma conexão única com as forças primordiais, tornaram-se conhecidas como as Linhagens Reais.
Dentre todas, duas famílias se destacaram: a linhagem Valen e a linhagem Drake.
A família Valen era a mais antiga, a mais respeitada. Seus membros governavam com sabedoria e força, sendo os únicos capazes de comandar qualquer dragão através de uma conexão mágica ancestral. A linhagem Valen representava equilíbrio e ordem. Já a linhagem Drake, embora tão poderosa quanto, possuía um foco diferente: eles eram mestres do fogo, especialistas em domar os mais ferozes e destrutivos dragões de calor e magma, e sua influência era fortemente ligada aos elementos da terra e do fogo.
Com o tempo, uma terceira linhagem emergiu: a linhagem Frost. Surgida a partir do sangue dos Valen, mas seguindo um destino diferente, ela nasceu através de uma jovem guerreira chamada Lisa. Diferente de seus antepassados, Lisa não domou um dragão de fogo. Seu destino foi entrelaçado ao de uma criatura única: um dragão de gelo, o único de sua espécie. Um ser raro, capaz de controlar as forças da neve, do frio mortal e das tempestades gélidas.
Lisa e seu dragão, Lumina, tornaram-se lendas vivas.
Mas a harmonia nunca dura para sempre.
Com o passar dos séculos, a tensão entre os seres místicos e os humanos comuns cresceu. A humanidade, temerosa e ambiciosa, voltou-se contra aqueles que antes idolatrava. Eles ergueram muralhas e atacaram os seres místicos, tentando exterminá-los. As fadas, desesperadas, realizaram um ato de desespero: capturaram um poderoso bruxo e, utilizando magia ancestral proibida, o transformaram no Senhor das Trevas — uma entidade capaz de manipular os elementos, ressuscitar os mortos e destruir tudo em seu caminho.
O Senhor das Trevas trouxe uma era de devastação.
Lisa, com sua ligação única ao gelo, enfrentou-o bravamente. Montada em Lumina, ela travou batalhas épicas contra o inimigo sombrio. No entanto, mesmo seu poder extraordinário não foi suficiente. Durante uma das mais ferozes batalhas, Lisa foi gravemente ferida por uma lança de gelo conjurada pelo Senhor das Trevas. Seu dragão, Lumina, também foi mortalmente atingido.
Foi então que uma bruxa, compreendendo a gravidade da situação, fez um sacrifício supremo: uniu as almas de Lisa e Lumina em um só ser. Assim nasceu a primeira Besta do Norte — uma criatura com a alma de uma guerreira e a força de um dragão ancestral.
Mesmo assim, o Senhor das Trevas não foi completamente derrotado. Ele desapareceu nas sombras, levando consigo a promessa de que um dia retornaria para terminar o que começara.
Antes de sua morte, Lisa deu à luz uma filha. Essa filha herdou a força gélida de sua mãe, transmitindo o legado da linhagem Frost. Desde então, geração após geração, a linhagem Frost preservou o dom de domar dragões — um poder que antes pertencia apenas às famílias Valen e Drake.
O tempo passou, e novas guerras surgiram.
Uma das descendentes de Lisa, chamada Hanna, se destacou. Ela foi conhecida como a Besta do Norte mais sangrenta, eliminando mais de sete mil inimigos entre humanos, fadas e outros seres místicos durante a última grande guerra. Sua fúria devastadora quase levou à extinção de todas as criaturas mágicas, restando apenas poucos sobreviventes escondidos nas sombras das terras esquecidas.
Com o passar do tempo, a família Valen consolidou seu domínio. Todos os reinos — Norte, Leste, Sul e Oeste — juraram lealdade aos Valen. Cada rei ainda governava seu território, mas todos eram súditos do soberano Valen.
Dentro dessa nova era de paz frágil, surgiria uma nova esperança.
Poucos anos atrás, uma das mais grandiosas Bestas do Norte, Medelaine — neta direta de Hanna — brilhou. Conhecida por sua inteligência estratégica, gentileza inigualável e coragem sem igual, Medelaine foi considerada uma das maiores guerreiras que o mundo já viu.
Ela, no entanto, sabia que seu tempo estava se esgotando.
Pois algo milagroso aconteceu: durante seus últimos anos de vida, uma nova princesa nasceu.
Essa princesa, a atual herdeira do Leste, seria a última descendente legítima das grandes linhagens Valen, Drake e Frost — carregando em seu sangue o poder dos dragões e dos antigos reinos.
Mais ainda: ela foi a única criança a nascer enquanto uma Besta do Norte ainda caminhava entre os vivos. Isso lhe concedeu um privilégio sem igual — a chance de ser treinada pessoalmente por uma Besta do Norte verdadeira.
Medelaine, já ciente de que seus dons passariam integralmente para a princesa após sua morte, dedicou seus últimos anos a ensinar tudo o que podia: como controlar o gelo, como ouvir os dragões, como usar o poder ancestral que corria em suas veias.
Mas o destino da princesa era ainda mais grandioso.
Antes mesmo de seu nascimento, alianças foram feitas. A princesa do Leste foi prometida ao príncipe do Sul, um jovem descendente tanto da linhagem Drake quanto da linhagem Valen, dois anos mais velho que ela. Um casamento que, se concretizado, uniria finalmente os maiores poderes do mundo: fogo e gelo, força e sabedoria, tradição e revolução.
Sob suas alianças, uma nova era poderia nascer — uma era em que os reinos, por tanto tempo divididos, poderiam finalmente ser unidos sob um só estandarte.
Ainda bebê, a pequena princesa já carregava nas veias o peso e a esperança de gerações inteiras. Sua presença era uma promessa de mudança, uma força capaz de restaurar o equilíbrio perdido e afastar as sombras que ameaçavam retornar. Ela seria a última Besta do Norte. Ela seria a herdeira dos dragões. Ela seria o início de um novo capítulo. Mas também seria a peça central em uma guerra muito maior que ainda estava por vir.
Pois nas sombras, as forças do Senhor das Trevas começavam a se mexer outra vez.
E o mundo, mais uma vez, se preparava para lembrar que nem toda lenda permanece adormecida para sempre.
...🌹 Medeline🌹...
A neve caía com violência quase soberana naquele dia. O vento soprava uivando entre as torres do castelo do Leste, e as bandeiras douradas e prateadas tremulavam como se temessem a força da tempestade. As muralhas antigas, gastas pelos séculos, gemiam sob a fúria do inverno inesperado. Eu, sentada perto da grande janela envidraçada, sentia o frio se infiltrar pelas pedras, ultrapassando até mesmo a força do fogo que ardia intenso na lareira, tentando em vão aquecer o ambiente. O dia havia chegado. O dia em que minha neta viria ao mundo.
Minha filha, Wren Frost, gemia em trabalho de parto na câmara aquecida, suando e chorando em meio ao esforço quase sobre-humano de dar vida a outra alma marcada pelo destino. Atlas Hawthorne, seu marido, estava a seu lado, tão pálido quanto a neve que cobria os campos além dos muros. Seus olhos, geralmente firmes e serenos, agora tremiam com um medo silencioso. As parteiras, com as mangas arregaçadas e as faces tensas, corriam de um lado para o outro, trazendo panos quentes, bacias fumegantes de ervas e potes de unguentos. O ar estava impregnado com o cheiro metálico do sangue, misturado ao aroma pungente da madeira queimando — um perfume de vida e morte, de renascimento e perigo.
E enquanto tudo isso acontecia, eu observava, silenciosa. Meu coração, endurecido por anos de batalhas, perdas e sacrifícios, batia descompassado no peito. Era como se os próprios ancestrais sussurrassem em meu ouvido — presságios antigos, vozes esquecidas — dizendo que aquela criança não seria apenas mais uma vida entre tantas. Não. Ela seria a próxima. A escolhida. A nova Besta do Norte.
O sinal estava ali, inegável: uma nevasca colossal, anormal para aquela época do ano, se formara assim que os primeiros gritos de dor de Wren ecoaram pelas muralhas. O céu, antes cinzento e melancólico, desabara numa fúria branca e cega. E eu sabia. Ah, eu sabia. Eu lembrava bem do meu próprio nascimento: a mesma tempestade voraz, o mesmo frio que parecia querer rasgar o mundo em pedaços. Contavam que com Hana, minha avó, havia sido o mesmo. E antes dela, com Lisa, a primeira de nós, aquela que ergueu o Norte contra seus inimigos e selou o sangue das Bestas em nossas veias.
Não era coincidência. Nunca foi. Era tradição. Era destino.
Eu mantinha as mãos cerradas sobre o colo, rezando em silêncio para os deuses antigos, para os espíritos das tempestades, para as sombras das matriarcas que vieram antes. Rezava para que Wren sobrevivesse, para que a pequena nascesse forte. Sabia o peso que ela carregaria. Sabia as provações que viriam. Não era fácil ser da linhagem das Bestas. Era um fardo pesado, um caminho de espinhos e batalhas, onde a vitória muitas vezes tinha gosto amargo.
Então, após horas de agonia, ouvi o primeiro choro — forte, decidido, quase feroz.
A parteira, de mãos trêmulas e olhos marejados, sorriu entre lágrimas enquanto envolvia o bebê em mantas grossas e macias, e a entregava a Wren, que a acolheu nos braços com uma ternura tão intensa que me fez sentir uma pontada no peito, como se uma corda antiga tivesse sido puxada dentro de mim. Atlas, vencido pela emoção, caiu de joelhos, lágrimas correndo livremente por seu rosto pálido.
E eu me aproximei, o coração trovejando como o céu lá fora, os olhos presos naquele pequeno ser que, mesmo tão frágil, já emanava uma força que era mais sentida do que vista.
— Kit — sussurrou Wren, a voz embargada pela emoção e pela dor ainda presente. — O nome dela será Kit Frost Hawthorne.
Kit. Pequena e delicada em aparência, mas com a tempestade fervendo nas veias. Assim como todas nós que vieram antes. Assim como aquelas que moldaram o destino do Norte com mãos firmes e corações indomáveis.
Ajoelhei-me diante dela e toquei sua testa com a ponta dos dedos. Um calor estranho percorreu minha pele, subindo pelos braços e aquecendo meu coração congelado. Era uma bênção silenciosa. Um reconhecimento antigo, vindo das forças que nos regiam. Eu sabia, no fundo da alma: Kit era a escolhida. Era a próxima.
Era oficial.
A próxima Besta do Norte havia nascido.
...***...
Enquanto a neve cobria os campos do Leste como um manto de luto e renascimento, minha mente viajou para o passado recente — para o momento em que, um ano antes, fora feito um acordo silencioso, um pacto selado não com festas e canções, mas com olhares sérios e promessas sussurradas à luz de velas.
Quando o príncipe Jace Drake Valen completara seu primeiro ano de vida, os soberanos do Sul — a antiga e orgulhosa família Valen — enviaram uma comitiva ao Leste. Em meio aos estandartes bordados e aos cavaleiros reluzentes, vinha Selena Valen, mãe do pequeno príncipe. Ela era diferente dos nobres arrogantes que tantas vezes cruzaram nossos salões. Tinha uma serenidade que parecia vinda do próprio mar do Sul, e seus olhos azuis carregavam a promessa de um futuro mais calmo e justo.
Lembro-me de vê-la naquele dia, caminhando com passos firmes sobre os tapetes grossos da sala principal, onde a grande lareira crepitava. Minha filha Wren e meu genro Atlas a receberam com a solenidade apropriada, mas havia algo mais — uma tensão sutil, uma percepção de que aquele encontro mudaria destinos.
Eu estava lá também, sentada em meu assento reservado, como um espírito das gerações passadas, observando sem intervir. Essa decisão pertencia a eles. Pertencia ao futuro.
Selena, com voz firme mas cheia de ternura, falou:
— Viemos aqui hoje para propor algo que unirá o Sul e o Leste de maneira inquebrantável. Gostaríamos que, caso sua primeira filha venha a nascer, ela seja prometida ao meu filho, Jace. Um laço de sangue. Um futuro onde nossos povos caminhem lado a lado, e não em guerra.
Wren e Atlas trocaram um olhar carregado de significado. Eu podia sentir o peso daquele momento no ar, tão pesado quanto a neve que se acumulava nas janelas.
Com um sorriso tímido e olhos brilhando, Wren respondeu:
— Se o destino assim permitir, nossa primeira filha será destinada a seu primogênito.
Foi simples. Sem contratos, sem testemunhas, sem celebrações barulhentas. Apenas palavras, juramentos e a força de uma promessa feita de coração para coração. O pacto fora selado ali. Um fio invisível conectando futuros ainda não vividos.
E agora, enquanto a tempestade rugia lá fora e a pequena Kit dormia nos braços da mãe, eu sentia, em cada fibra do meu ser, que aquele pacto silencioso havia mudado o curso de muitas vidas. Não apenas nossas famílias — mas de todo o continente.
...***...
A nevasca continuava furiosa, como uma entidade viva, dançando entre as torres, cobrindo o mundo com sua fúria e seu silêncio pesado. O vento batia contra as muralhas como um tambor de guerra antigo. Era o sinal. Sempre foi o sinal.
Era assim que sabíamos que uma nova Besta havia sido escolhida — não por homens, mas pelos próprios deuses.
Era assim que o Norte — mesmo que agora nossas terras fossem chamadas de Leste — reconhecia o nascimento da força que um dia se ergueria para proteger todos nós.
Olhei para Kit uma última vez naquela noite. Tão pequena. Tão vulnerável. E, ainda assim, em seu peito minúsculo, batia o coração de uma tempestade ancestral.
A próxima Besta do Norte. Nossa esperança. Nosso escudo. Nossa tempestade.
O futuro era dela.
E o mundo, queira ou não, mudaria para sempre.
...Algumas décadas antes do nascimento da princesa que trouxe o inverno...
...Um evento crucial que aconteceu no reino do Sul...
O segundo século da dinastia Valen chegava ao fim, e a saúde do rei começava a falhar. Este rei — o segundo de sua linhagem — havia governado por quase oitenta anos, mas partiria sem deixar um herdeiro legítimo.
Ele era descendente direto de Alaric, o primeiro rei, aquele que uniu todos os reinos: Leste, Sul, Oeste, Norte, Noroeste, Sudeste, Centro-Oeste, Valehart. As famílias governantes viviam espalhadas pelas terras que formavam o império: os Vega, próximos das montanhas; os Harrison, no Leste, uma tradicional família de lords; os Thorne, também no Leste, mas mais ao Norte; os Stormborn, isolados em uma ilha cercada pelo mar e pela chuva.
Apesar das distâncias, todos viviam sob um único governo, e todos se curvavam ao rei do Sul. Sem um herdeiro direto, duas opções surgiram: Serena Valen, legítima prima de segundo grau do rei, e Dante Valen, um parente distante. Serena era a herdeira de sangue, mas, por ser mulher, foi rejeitada.
O conselho de líderes escolheu Dante. Preferiram manter um homem no trono a se curvarem diante de uma mulher. Assim, Dante foi coroado rei, junto de sua esposa Briar, grávida de sua primeira filha.
Serena, embora legítima, foi deixada de lado. Naquele tempo, uma mulher não podia herdar o trono.
...15 anos depois...
...🌹Selena🌹...
Para mim, só tinha uma coisa melhor do que passear entre os povos: era estar montada em meu dragão — minha enorme dragão fêmea chamada Luna. Apesar de ainda ser jovem, Luna já possuía um tamanho considerável e uma presença que ninguém ousava ignorar. Suas escamas brilhavam em um tom amarelo que, sob o sol, parecia se transformar em ouro líquido. As asas largas e elegantes se abriam como mantos dourados, e seus olhos âmbar cintilavam como brasas vivas, atentos a tudo ao redor.
Eu estava passeando com ela quando resolvi voltar para casa, já que havia conseguido escapar dos guardas — novamente — e não queria deixar meu pai maluco. O rei odiava que eu voasse em Luna, mas eu nunca dei moral.
Quando finalmente decidi descer, minha meio que amiga Lyra havia acabado de chegar. Éramos muito amigas, e acabamos entrando juntas na carruagem de volta ao palácio.
— Você fugiu de novo? — ela perguntou com aquele sorriso cínico.
— Fugi. E foi incrível. Luna voou sobre os lagos do sul. Nem os guardas me viram.
— Seu pai vai surtar — ela riu. — E sua mãe vai te mandar tomar banho de vinagre.
— Que ótimo, porque eu tô fedendo a dragão — respondi, rindo também.
— Você nasceu pra isso, Selena. Mas juro que um dia você ainda vai cair do céu com essa sua dragonesa mimada.
— Ela não é mimada, só sabe o que quer — falei, defendendo Luna com orgulho.
Quando cheguei ao palácio, fui direto até minha mãe. Ela estava grávida, perto de dar à luz ao meu tão esperado irmão — ou pelo menos era o que todos esperavam, já que meu pai ainda não tinha herdeiros homens legítimos.
— Onde você estava perguntou minha mãe.
— Estava cavalgando — eu disse, entrando no quarto.
Ela me olhou com aquele olhar exausto e respondeu:
— Você fede a dragão. E mente muito mal. Já falei que não gosto que voe.
— Mas eu amo. Amo mais do que qualquer outra coisa.
Ela suspirou e apontou para o banheiro.
— Vai tomar banho. Você cheira como se tivesse dormido nas costas de Luna.
— Eu não quero... Eu quero cuidar da senhora. Todo mundo só quer saber do bebê. Eu vou cuidar da senhora.
Ela sorriu de leve, tocando meu rosto. Depois disso, fui direto para a sala do conselho, onde eu ajudava a servir as taças de vinho e comidas para meu pai e os conselheiros. Estavam lá os membros da família Drake e da família Hawthorne. Discutiam — como sempre — alguma briga com piratas tentando invadir nossas terras.
Quando cheguei, meu pai chamou minha atenção:
— Você está atrasada.
Tentei usar a mesma desculpa de sempre.
— Estava com minha mãe…
— Você fede a dragão. E mentiu muito mal, minha filha.
Fui servir as bandejas sem responder. Eles falavam sobre meu tio — ou primo, já que ele era irmão do meu pai e primo da minha mãe, algo assim. Diziam que ele não era bom como líder da guarda real da cidade, mas eu sabia que era mentira. Ele tinha diminuído as mortes na área pobre em mais de 50%. Matou alguns, sim, mas o que são alguns perto de milhões?
Eu odiava aquele conselho. Estavam sempre tentando jogar meu pai contra seu irmão, Griffin. E eu odiava isso.
Outro que eu não gostava era Sutton, o pai da minha melhor amiga. Ele era o conselheiro-chefe do rei e se intrometia em tudo, sempre com esse tom de "estou salvando o reino", quando, na verdade, só queria controle. Estavam também discutindo sobre um torneio que fariam em homenagem ao meu irmão — que nem nascido estava. Ninguém sabia se seria menino ou menina. No fundo, eu adoraria que fosse mulher, só para ver a cara de todos eles, cheios de desespero e tristeza.
Depois disso, fui levada pelo meu guarda real até uma sala para conversar com meu querido primo Griffin, que acabara de chegar.
— O que você está fazendo aqui? — perguntei.
— Nada — respondeu seco.
— Você não devia estar na sala do trono. Nem perto da cadeira do rei. Retire-se.
Ele foi um pouco rude, mas saiu. Antes de sair, me deu um bracelete e colocou em meu pulso, em silêncio.
Mais tarde, tive uma tarde de “meninas” com Lyra. Na verdade, eu precisava estudar as histórias do reino, mas ela não aceitava que eu não quisesse o trono. Então, recitei para ela de cabeça a história do Norte, como Elisa Valen havia sido criada e como os Valen conquistaram todos os tronos e alianças. Ela ficou um pouco mais convencida, mas mesmo assim continuava achando que eu devia prestar mais atenção no futuro.
No dia seguinte, começou o grande campeonato em homenagem ao meu irmão que ainda nem havia nascido. Quando cheguei, meu pai estava discursando. Todos estavam lá — primos, tios, primas, membros do governo, até gente do Leste e do Norte.
Depois que meu pai terminou, me sentei na frente ao lado de Lyra. Quando o torneio começou, todos pediam bênçãos ou falas de sorte — de mim ou da minha prima, que havia disputado o trono com meu pai anos atrás.
Mas foi um cavaleiro que me chamou atenção: Knight Cole. Ele venceu luta após luta — inclusive contra o próprio tio Griffin — e saiu vitorioso, mesmo com a brutalidade do torneio, que não perdoava nem a vida.
Após a última luta, ele se aproximou de onde eu estava, olhando para cima.
— Princesa Selena… uma palavra sua vale mais que qualquer troféu.
Eu o olhei com respeito e disse:
— Você luta com honra. Que os ventos e os deuses jamais virem as costas para você.
Ele sorriu, agradeceu e se afastou.
Pouco depois, meu pai saiu apressado. E logo depois… a notícia.
Minha mãe… e o filho em seu ventre… não resistiram ao parto.
Ela sangrou até morrer. E a criança morreu com ela.
Mais tarde, todos estávamos no enterro. Como era tradição, incendiamos os corpos. A fogueira era enorme. E naquela época, era o marido ou o descendente quem colocava o fogo final.
Mas naquele dia… fui eu quem o fez.
Chamei Luna, minha dragão dourada. Ela desceu do céu, majestosamente. E com um único sopro flamejante, transformou em cinzas minha mãe… e o irmão que nunca conheci.
Em silêncio, me afastei dali. E não olhei para trás.
...Explicação: Griffin e tio por parte de pai da Selena e primo por perte da mãe....
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