Antes de ser reverenciada como a Alfa escolhida pela Lua, Elena era apenas uma jovem loba vivendo com sua mãe nas colinas silenciosas, longe das grandes alcateias e dos olhos que julgavam. Levava uma vida simples, entre rituais antigos e ensinamentos sagrados da Deusa Lunar. Sua mãe, uma curandeira respeitada, fazia tudo para proteger Elena — não apenas dos perigos do mundo exterior, mas de um destino que temia ver cumprido.
Desde pequena, Elena via o que ninguém mais via. Sonhava com símbolos de prata e sangue, ouvia sussurros entre os ventos e sentia o tempo correr em ritmos diferentes. Sua mãe a alertava: um dia, esses dons a fariam alvo de forças que não entenderia.
Ela estava certa.
Ryan, filho de um Alfa tirano, apareceu como sombra e tempestade. Obcecado pelo poder oculto de Elena, ele a perseguiu e, por fim, a sequestrou. Sua mãe tentou impedir, lutou com tudo que tinha — e morreu. Ryan levou Elena para o norte, para as montanhas, onde tentou moldá-la à força.
Elena resistiu. Mas foi naquele cativeiro que sua vida mudou para sempre. Sob dor e humilhação, ela engravidou de Ryan. E foi ali que Gabriel começou a se formar em seu ventre — filho do lobo que ela mais temia, mas que jamais seria definido pelo sangue que o gerou.
Foi então que James Hale apareceu. Um guerreiro marcado pela dor, buscando vingança contra o mesmo clã que destruíra sua matilha. No confronto que seguiu, James matou Ryan. E, ao encontrar Elena acorrentada entre cinzas e ruínas, algo despertou.
O lobo dentro dele reconheceu sua verdadeira companheira.
James a libertou, cuidou de suas feridas e, com o tempo, acolheu Gabriel como seu filho, desde o primeiro instante em que o segurou nos braços. Elena, com a alma em pedaços, encontrou em James um recomeço. E Gabriel cresceu cercado por amor, verdade e força — não pela herança do sangue, mas pelo exemplo e coração de quem o criou.
Anos depois, Melissa nasceu. Feroz como a mãe, inquieta como o pai. Uma filha da lua e do fogo, que não aceitava limites e nascia para desafiá-los. Em seguida veio Lyra, a caçula, silenciosa e intensa, marcada por dons ocultos desde o berço.
Na noite em que Lyra nasceu, a floresta silenciou. Animais cessaram seus cantos. A lua pairou imóvel. Elena sentiu — aquela criança era diferente. O dom antigo corria em sua alma, uma ligação direta com forças esquecidas e perigosas. Lyra não era só uma filha. Era um chamado.
Então veio a visão.
Sob a lua rubra, Elena viu o futuro: duas jovens unidas pela profecia. Uma nascida da luz. Outra, da dor. Unidas não pelo sangue, mas pelo destino, seriam as chaves para impedir a ascensão da escuridão — uma guerra iniciada por lobos corrompidos pelo rancor e ambição.
Melissa, a filha da luz, moldada pela liberdade e pela justiça.
Bela, a filha da dor, salva por Gabriel, mas marcada por uma linhagem secreta, poderosa e perigosa.
E entre elas, Lyra — a que via além do véu, o elo silencioso entre os mundos, a guardiã do equilíbrio.
Agora, com o Coração Aelari despertando e sombras se movendo nas bordas do mundo, Elena sabe: a guerra se aproxima. E o destino de seus filhos — Gabriel, Melissa e Lyra — será forjado em escolhas impossíveis, alianças incertas e sacrifícios profundos.
Mas Elena não teme.
Ela é Alfa.
Ela é Mãe.
E, com James ao seu lado, luta com toda a alma por aquilo que a Lua confiou a ela: sua família, sua matilha e o próprio futuro.
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Autora:
Elena tinha 17 anos e levava uma vida tranquila no campo ao lado de sua mãe, Mirian. Crescera entre o perfume das flores, o canto dos pássaros e os longos dias de sol entre plantações. Ao longo dos anos, mãe e filha cultivaram muito mais do que alimentos — cultivaram laços profundos, feitos de amor, dedicação e cumplicidade.
Mirian, uma mulher forte e decidida, fazia o impossível para que nada faltasse à filha. Mesmo sendo mãe solo, nunca permitiu que as dificuldades se sobrepusessem ao carinho. Elena sempre teve o essencial para viver — e o mais importante: um lar cheio de amor.
Sobre o pai, Mirian contava apenas o necessário. Dizia que ele fora um homem honrado, mas que a vida o levou cedo demais, antes mesmo de conhecer a filha. Elena respeitava o silêncio da mãe, mas, no fundo, nutria uma curiosidade crescente.
Com sua beleza serena — cabelos ruivos, olhos bicolores e uma presença delicada — Elena chamava atenção por onde passava, especialmente entre os jovens da cidade. Ainda assim, Mirian a aconselhava a manter o foco nos estudos e no coração protegido. “Tudo tem seu tempo”, dizia com a firmeza de quem sabia o que havia além do que os olhos viam.
Elena era gentil, educada e pura de espírito. Um sopro de doçura em meio a um mundo que, para ela, ainda parecia simples e seguro.
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Elena:
Acordei cedo, como de costume. Fiz minha higiene, vesti meu uniforme e fui para a cozinha, onde mamãe já tomava o café da manhã. Sentei à mesa e comi algumas torradas com a geleia de damasco que ela mesma preparava. Bebi meu suco de laranja — colhido por ela no pomar, sempre fresco, sempre doce. Mamãe tinha um cuidado tão grande com cada detalhe… às vezes, eu me perguntava se havia algo mais por trás de tanto zelo.
Adelaide e Cristian me esperavam na escola. Eles sempre estiveram ao meu lado. Nossa escola era pequena, discreta, e apesar de a cidade ser grande, não havia tantos jovens por lá. Nunca tive problemas com ninguém — talvez por ser mais quieta, talvez por sorte. Meus amigos eram meu porto seguro.
Agora, prestes a completar 18 anos, mamãe me perguntou o que eu gostaria de ganhar. Pensei em pedir livros. Já havia lido todos os que tínhamos em casa, e novas histórias sempre acalmavam minha alma.
Mas o que realmente ocupava meus pensamentos era a tal carta.
Mamãe mencionara que havia uma carta destinada a mim, guardada há anos, e que só poderia ser aberta no meu aniversário de dezoito. O mistério em torno dela me deixava intrigada. Seria algo sobre meu pai? Sobre nosso passado?
Eu mal podia esperar. Faltavam apenas três dias.
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Cristian:
Cheguei à escola com Adelaide, mas minha cabeça estava longe. Um turbilhão de pensamentos me acompanhava desde o momento em que acordei. Eu havia decidido: hoje, falaria com Elena. Revelaria tudo.
Nossa amizade já durava anos. Adelaide foi quem a conheceu primeiro, e logo me aproximei. No início, era só amizade mesmo. Mas, com o tempo, fui me dando conta de como aquela garota — tão diferente de tudo ao meu redor — mexia comigo.
Seus olhos bicolores sempre voltavam nos meus sonhos. Seu jeito calmo e simples, a forma como ela valorizava as pequenas coisas… tudo nela me tocava de uma forma que eu não conseguia ignorar.
Tenho medo, claro. Medo de estragar o que temos. Mas guardar isso dentro de mim está se tornando insuportável.
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Adelaide:
Cristian pensa que me engana, mas eu o conheço como a palma da minha mão. Ele está completamente apaixonado por Elena — e, sinceramente, não o culpo.
Elena é uma garota rara. Não tem malícia, nem vaidade exagerada. Vive de forma simples, mas é feliz com isso. A verdade é que, apesar de termos tudo em casa — dinheiro, conforto, roupas caras — falta o que ela tem de sobra: amor.
Nossa mãe morreu há anos, e desde então, nosso pai mergulhou no trabalho como se fosse a única coisa que restava. Ele nunca está presente. Nunca olha nos nossos olhos com carinho. Em casa, somos ricos… mas vazios.
Por isso admiro Elena. Ela não tem muito, mas tem tudo o que importa.
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Elena
Mamãe me deixou na escola como sempre, com um beijo carinhoso na bochecha e aquele olhar que só ela tinha — de cuidado, de alerta, de amor silencioso. Meus amigos, Cristian e Adelaide, já me esperavam na entrada. O dia transcorreu normalmente, mas algo me incomodava: a sensação estranha de que havia algo fora do lugar.
No fim das aulas, notei que minha mãe não estava me esperando. Isso nunca acontecia. Pontualidade era uma das marcas dela. Antes que eu pudesse me preocupar demais, Cristian se ofereceu para me acompanhar até em casa. Adelaide se despediu com um sorriso sutil e seguiu sozinha. Parecia que sabia que seu irmão precisava de um momento a sós comigo.
Durante o caminho, Cristian andava inquieto. Suas mãos tremiam levemente e ele evitava o contato visual. De repente, ele parou, segurou minhas mãos e me fitou com uma intensidade que nunca havia demonstrado antes.
— Faz tempo que venho tentando criar coragem, Elena, — disse ele, a voz baixa e sincera. — Eu te amo. Sempre te amei, mesmo quando éramos apenas amigos. Guardei isso comigo por medo de perder o que temos. Mas já não posso mais esconder. Só te peço que não me afastes… se não puder corresponder, que ao menos nossa amizade continue. Esta conversa fica entre nós.
Fiquei sem palavras. Meu coração disparou, mas minha mente estava em conflito.
— Cristian… eu não sei o que dizer. Isso tudo é tão repentino pra mim. — respondi, tentando manter a calma. — Sempre tivemos uma amizade linda, e eu nunca imaginei que você se sentia assim. Preciso de um tempo. Prometo pensar com carinho. Só… me dá um tempo, tá bem?
Ele assentiu em silêncio e me deixou na porta de casa. Fiquei ali parada, observando enquanto ele se afastava. Meu coração pesava. Não queria magoá-lo, mas também não queria agir sem clareza. A amizade que tínhamos era preciosa demais.
Subi para meu quarto, troquei o uniforme pelo velho avental já gasto pelo tempo e fui para a cozinha preparar o almoço. Algo estava errado. Mamãe jamais se atrasava. Tentei me convencer de que era apenas um imprevisto qualquer.
Preparei arroz, peixe grelhado, batatas assadas e uma salada fresca de tomate com alface. Fiz também um suco de goiaba, colhida dias antes. Era nossa fruta preferida.
Montei a mesa com dois pratos. Sentei-me e esperei.
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Mirian
O tempo escapou de mim hoje. Estava na feira da cidade, vendendo os legumes que colhi pela manhã, quando percebi que já estava tarde demais. Mas havia valido a pena. Com o que arrecadei, comprei os livros que Elena queria — uma pequena alegria para os dias que se aproximavam.
Faltavam apenas três dias para minha filha completar 18 anos. Três dias para o destino que tanto temi bater à nossa porta. Eu sabia que não poderia esconder a verdade por muito mais tempo. Chegara a hora.
O herdeiro do trono da Alcateia Lunar já tinha 19 anos. Assim que Elena alcançasse a maioridade, o vínculo que a ligava à linhagem real se manifestaria. Sua loba despertaria com a chegada da próxima lua cheia. E, com isso, o chamado da alcateia seria inevitável.
Por anos, fiz o impossível para impedir que ela carregasse esse fardo. Lutei contra o destino, contra as tradições do nosso povo, contra o próprio sangue que corria em nossas veias. Eu queria que minha filha tivesse escolhas — não um casamento arranjado, não um trono imposto, não um futuro que lhe roubasse a liberdade antes mesmo de ela conhecê-la.
Meu pai, o antigo alfa, já havia partido quando descobri a gravidez. Com sua morte, os olhos da corte se voltaram para mim. A atual rainha, incapaz de gerar filhos, via em Elena a salvação da linhagem. Não fui forçada a me casar com o rei — mas, em troca da minha liberdade, eles exigiriam minha filha. Ela se uniria ao herdeiro do trono, fruto de um casamento anterior com uma loba que morrera no parto.
Foi então que decidi fugir. Renunciei à minha origem, à minha posição, à minha alcateia… tudo por ela. Desde então, minha loba permanece adormecida dentro de mim — aprisionada pelo medo, silenciada pelo amor.
Mas agora… o tempo da verdade se aproxima. E com ele, as sombras do passado.
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