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A Herdeira Indesejada

Capítulo 01

Helena estava deitada em sua cama, envolta por um silêncio pesado que preenchia o quarto. A luz suave do entardecer filtrava-se pelas cortinas, lançando sombras dançantes nas paredes. Seu corpo, debilitado pelo câncer terminal, mal conseguia se mover. O peso dos remédios tornava seus olhos pesados, e uma onda de sonolência a envolvia. Ela se esforçava para lembrar dos dias em que a vida era cheia de cor e esperança, mas agora tudo parecia desvanecer-se em um borrão cinza.

No escritório, ao fundo da casa, seu marido, Ricardo, estava imerso em um mundo completamente diferente. Ele não conseguia mais suportar a dor da realidade que o cercava. A pressão do câncer de Helena, a tristeza que permeava cada canto da casa, o sufocava. Assim, ele buscou consolo nos braços da enfermeira que cuidava da sua esposa, uma jovem cheia de vida e promessas. Os sussurros de risadas e promessas trocadas ecoavam pelo escritório, enquanto Helena, alheia ao que acontecia, lutava contra a escuridão que a envolvia.

John, o filho de Helena e Ricardo, voltava da escola, seu coração ainda pulsando pela empolgação de um dia normal. Ao passar pela porta entre aberta do escritório, ele parou, sentindo um frio na espinha. A cena que se desenrolava à sua frente era como um pesadelo que ele não conseguia acordar. Seu pai, que deveria ser fiel a sua mãe, estava lá, aos beijos com a enfermeira, em uma traição que dilacerava seu coração.

Um grito silencioso ecoou na mente de John, e a raiva e a dor o impulsionaram a sair correndo. Ele não queria ver mais, não queria acreditar no que acabou de testemunhar. Com lágrimas escorrendo pelo rosto, ele abriu a porta da frente e saiu em disparada para a rua.

O barulho de um motor se aproximando cortou o ar, mas sua mente estava tomada pela confusão e pela dor. O impacto foi instantâneo e devastador. O carro, incapaz de parar a tempo, colidiu com John, que foi lançado ao chão.

A empregada da casa, Maria, estava na cozinha quando ouviu o barulho ensurdecedor da colisão. Seu coração acelerou, e uma sensação de apreensão a dominou. Deixando o que estava fazendo, ela correu em direção à porta da frente e ficou paralisada ao ver John estirado no chão, imobilizado e em um estado crítico. A cena era aterrorizante e, em um impulso, ela gritou.

" Senhor Ricardo! Senhor Ricardo! Venha rápido! É o John!"

As palavras dela ecoaram pela casa, e o som de seus passos apressados fez com que Ricardo, ainda absorvido em seu momento de traição, saltasse do escritório. O pânico tomou conta dele quando viu Maria com os olhos arregalados, apontando para a porta. Ele saiu correndo, o mundo ao seu redor desmoronando.

Ao chegar ao lado de John, o desespero se apoderou de Ricardo. Seu filho estava machucado, e a visão de seu corpo imóvel o fez sentir como se o chão estivesse se abrindo sob seus pés. "John! Meu Deus, não!" Ele se agachou ao lado do filho, com o coração acelerado, enquanto Maria pegava o telefone para chamar uma ambulância.

As sirenes soaram ao longe, e Ricardo segurou a mão de John, tentando transmitir alguma força. "Fica comigo, filho! Está tudo bem, a ambulância está a caminho," ele dizia, embora a tremedeira em sua voz traísse suas palavras. O tempo parecia se arrastar, cada segundo se tornando uma eternidade.

Quando a ambulância finalmente chegou, os paramédicos correram para avaliar a situação. Ricardo assistiu impotente enquanto eles trabalhavam, cada movimento deles se tornando uma dança angustiante. A dor em seu peito crescia, e ele se perguntava como isso havia acontecido, como poderia ter deixado sua vida escorregar por entre os dedos.

No hospital, o clima era sombrio. Ricardo esperava ansiosamente na sala de emergência, sua mente um turbilhão de pensamentos e emoções. O tempo parecia não passar, e quando os médicos finalmente apareceram, o olhar em seus rostos dizia tudo.

"Senhor," começou o médico, sua expressão séria, "fizemos o possível. Seu filho teve uma lesão grave na coluna vertebral. Ele não poderá andar novamente."

As palavras caíram sobre Ricardo como um peso insuportável. A realidade do que aconteceu se abateu sobre ele, e a culpa o consumiu. A traição a Helena, a distração que o afastou do que realmente importava, agora se transformava em um pesadelo ainda mais profundo.

Ele se sentou, a cabeça entre as mãos, enquanto a dor se espalhava por seu corpo. "Não... não pode ser verdade," ele murmurou, sentindo-se perdido. John, seu filho, sua esperança, agora preso a uma vida de limitações.

No quarto de hospital, John despertou, os olhos ainda confuso. Ele olhou para o pai, que estava ali, mas a distância entre eles parecia maior do que nunca. "Papai... o que aconteceu?" A fragilidade da voz de John fez o coração de Ricardo se despedaçar.

"Foi um acidente, filho. Eu... eu estou aqui," ele respondeu, mas as palavras soavam vazias. A verdade era que, em um único instante, tudo havia mudado. O amor que deveria proteger seu filho agora se transformou em um fardo doloroso que ambos teriam que carregar.

A vida, com suas reviravoltas cruéis, havia os colocado em um caminho incerto, onde cada passo seria uma luta, e cada dia um lembrete do que havia sido perdido.

Capítulo 02

Os dias que se seguiram foram uma montanha-russa de emoções. Helena, ainda presa em sua cama, começou a sentir a ausência de John como uma sombra que se estendia por todo o seu ser. A enfermeira, percebendo a preocupação da paciente, decidiu mentir para protegê-la de um desgosto ainda maior. "Ele está em seu quarto, descansando. Está tudo bem", disse, mas a verdade era muito mais sombria.

Quando John finalmente teve alta do hospital, Ricardo estava lá, aliviado, mas ao mesmo tempo carregando um fardo pesado. Ele sabia que o caminho à frente seria difícil, mas estava determinado a fazer seu filho se sentir o mais confortável possível. Compreendeu que, de alguma forma, precisava redimir-se, mesmo que a traição ainda estivesse fresca em sua mente.

"Vamos, filho. Eu comprei algo para você," Ricardo disse, tentando transmitir um otimismo que não sentia. Eles chegaram a uma cadeira de rodas elétrica, um presente que deveria simbolizar liberdade, mas que também lembrava John de sua nova realidade. O olhar de John ao ver a cadeira era um misto de gratidão e dor, um lembrete constante do que havia perdido.

"Obrigado, pai," ele disse, mas as palavras soaram vazias. A tristeza em seus olhos refletia não apenas a perda de seus movimentos, mas também a traição que havia presenciado. O coração de Ricardo se apertou ao ver seu filho tão desolado.

"Vamos dar uma volta," ele sugeriu, tentando animá-lo. Mas John apenas balançou a cabeça em sinal de negação. "Eu só quero ir para o meu quarto," ele respondeu, a voz embargada.

Ricardo assentiu, sabendo que a dor de John era profunda. Com cuidado, ele ajudou seu filho a se acomodar na cadeira de rodas e o empurrou em direção ao quarto. No caminho, o silêncio entre eles era pesado, uma barreira invisível que parecia intransponível.

Ao chegarem ao quarto, John olhou em volta, suas memórias inundando-o. Era um espaço que uma vez simbolizara alegria e vida, mas agora tudo parecia sombrio. "Papai, eu... eu não sei como isso aconteceu," ele disse, a tristeza transparecendo em sua voz. "Por que isso teve que acontecer comigo?"

Ricardo, tomado pela culpa e pela dor, não sabia o que responder. Ele queria confortá-lo, mas as palavras pareciam inadequadas. "Eu sinto muito, John. Eu sinto muito por tudo," ele murmurou, a emoção tomando conta de seu coração.

Ricardo se agachou ao lado do filho, tentando olhar em seus olhos. "Você é forte, John. Nós vamos encontrar uma maneira de superar isso juntos. Vou estar aqui para você, sempre," ele prometeu, mesmo sabendo que as promessas não podiam apagar a traição ou a dor.

Ainda assim, John não conseguia ver além da escuridão que o cercava. Ele se sentia preso, não apenas em seu corpo, mas em um mundo que parecia ter mudado para sempre. A traição de seu pai e a dor de sua condição o deixaram em um estado de desânimo, e, por mais que desejasse acreditar nas palavras de conforto de Ricardo, a realidade era esmagadora.

Capítulo 03

Ricardo desceu para o escritório, a mente cheia de preocupações e dúvidas. A última coisa que ele queria era enfrentar mais uma complicação em sua vida já caótica. Ao entrar, encontrou a enfermeira à sua espera, um sorriso no rosto que logo se transformou em algo mais sério.

"Ricardo, eu tenho uma notícia boa," disse ela, aproximando-se com um brilho nos olhos. Mas, ao ouvir as palavras, o coração de Ricardo afundou.

"Que notícia?" ele perguntou, tentando esconder a ansiedade na voz.

A enfermeira, sem hesitar, declarou: "Eu estou grávida. Vamos ter um filho."

O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor. Ricardo ficou paralisado, o mundo ao seu redor pareceu desmoronar. "Você está louca! Você não pode ter esse bebê," ele exclamou, a frustração transbordando. "Helena está doente, à beira da morte. Meu filho John está aleijado. Não podemos ter esse filho!"

A enfermeira, que esperava por uma reação de alegria, viu-se diante de um homem em desespero. "Mas isso é uma nova vida, Ricardo! Um novo começo para nós dois!"

"Um novo começo?" Ricardo a interrompeu, sua voz carregada de raiva. "Se Helena descobrir, ela vai tirar tudo de mim! Até o dinheiro que tenho! Não, você não pode ter esse bebê. Eu quero que você tire!"

A enfermeira, chateada e furiosa, não disse mais nada. A decepção e a raiva se misturaram em seu coração. Ela saiu do escritório sem olhar para trás, sentindo-se traída por alguém que acreditava que poderia ser seu parceiro.

Furiosa e determinada, a enfermeira subiu até o quarto de Helena, onde a mulher estava deitada, vulnerável e sem defesa. "Aqui estão os remédios para a dor," disse ela, entregando alguns comprimidos a Helena, que os aceitou sem questionar, mergulhando no sono profundo que os medicamentos proporcionavam.

Enquanto Helena adormecia, a enfermeira começou a contar a verdade, revelando a traição de Ricardo. "Você sabia que ele me traiu? Ele está esperando um filho comigo. Eu serei a nova esposa dele," ela disse, a voz suave, mas repleta de veneno.

Helena, mesmo em sua condição debilitada, sentiu uma onda de dor ao ouvir as palavras da enfermeira. A traição cortou mais fundo do que qualquer dor física que ela estivesse enfrentando. A escuridão a envolveu, e, em um último momento de consciência, ela percebeu a verdadeira traição que a cercava.

Quando Helena finalmente adormeceu, a enfermeira desligou os aparelhos que a mantinham viva, planejando tudo para que ninguém suspeitasse. Com um sorriso satisfeito, ela se retirou para o seu quarto, sentindo-se vitoriosa.

Ao amanhecer, ela voltou ao quarto de Helena com um ar de normalidade. Ligou os aparelhos novamente, como se nada tivesse acontecido, disposta a manter a farsa.

Quando os médicos chegaram para a rotina matinal, a atmosfera mudou drasticamente. Eles rapidamente perceberam que algo estava errado. "Ela não está respondendo," um dos médicos exclamou, enquanto tentava reanimar Helena. Mas era tarde demais. A luta de Helena chegou ao fim, e a tragédia se concretizou.

Ricardo, ao receber a notícia da morte de Helena, ficou em estado de choque. O peso da culpa e da traição se abateu sobre ele como uma tempestade. Ele não apenas havia perdido sua esposa, mas também havia criado uma situação impensável que agora iria reverberar por toda a sua vida. E, em meio à dor, ele percebeu que as consequências de suas escolhas seriam mais profundas do que ele poderia imaginar.

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