Entre Sombras e Pecados...
Explicação
Apresentação da história.
Em uma metrópole fria e decadente, onde o submundo comanda mais que o governo, vive Cael, um ladrão de rua de 18 anos, esperto, ágil e com um passado que tenta esquecer. Órfão desde os 10, sobrevive roubando para gangues menores — até o dia em que invade a mansão errada.
Lá, ele conhece Dante Morelli, o chefe de uma das famílias mafiosas mais temidas da cidade, um homem de 34 anos, meticuloso, brutal, e com uma reputação de nunca deixar ninguém sair vivo após invadir seu território.
Mas ao ver Cael, algo prende Dante — talvez a audácia nos olhos do garoto, ou a estranha familiaridade com uma memória que Dante trancou a sete chaves. Ao invés de matá-lo, ele o mantém por perto. Primeiro como punição. Depois... por desejo.
O que começa como um jogo de poder, chantagem e atração proibida se transforma em uma relação complexa onde ambos começam a destruir e curar um ao outro — enquanto inimigos rondam e segredos do passado ameaçam tudo.
Bom, Irei dar meu Maximo nisso...
Pode ser meio dificil, mas Acho que tenho a capacidade de fazer algo complexo.
E vou fazer vcs se sentirem baitola e chorar, tanto em alegria...
e outros tipos de sentimento.
quero fazer vcs se apegarem aos Personagens.
RATOS DE RUA
Cael
— Filha da puta, rato desgraçado! —
Cael chutou um dos trapos onde dormia, espantando o roedor que havia se acomodado ali durante a noite. Acordar com um rabo pelado na cara não estava no topo da lista de bons começos de dia.
Estava frio, e o vento que entrava pelas frestas das paredes úmidas do porão fazia os ossos doerem. O cheiro de mofo, cigarro velho e esgoto era o mesmo de sempre. Inferno pessoal.
Vestiu a jaqueta rasgada e esfregou os braços finos pra gerar algum calor. Seu estômago roncou como se tivesse engolido um motor velho.
Cael
— Já ouvi, porra. Não tem nada aí dentro mesmo, aguenta mais um pouco — rosnou pra própria barriga, saindo do esconderijo.
Nas ruas, o caos de Valmont dava as boas-vindas: um bêbado mijando no meio-fio, sirenes ao longe, crianças catando lixo. O sol nem tinha decidido aparecer ainda, mas a merda já estava servida.
— Ei, moleque! — Cael ouviu ao virar a esquina.
O velho Gino, agiota e escroto número um da vizinhança, estava lá com sua cara de limão azedo e uma caixa de papelão.
Gino
— Tenho trabalho pra você. Não reclama.
Cael
— Não reclama? Vai tomar no cu, Gino. Sempre é furada quando você diz isso.
Gino
— Quer comer hoje ou não, seu bosta?
Cael estreitou os olhos e estendeu a mão, pegando a caixa com desdém.
Cael
— Vai se foder. Mas beleza, vamo nessa.
Gino
— Leva pro setor 5. E se der um passo fora do caminho... já sabe.
Cael
— Ah, sim. Vai cortar minha língua, arrancar meus dedos, me jogar no rio... Cê repete isso há dois anos. Se fosse fazer mesmo, já teria feito, velho filho da puta.
Gino soltou um riso rouco.
Gino
— Você tem sorte que é útil.
Cael
— Não é sorte, é talento — respondeu Cael com um sorrisinho torto e o dedo do meio levantado enquanto saía andando.
Durante o dia, ele passou por cinco tipos diferentes de inferno: correu da polícia, discutiu com uma mulher que quase o atropelou, e entregou pacotes suspeitos pra gente que ele não queria nem olhar nos olhos.
Na última entrega, o cliente o encarou como se esperasse algo a mais.
Desconhecido
— Não tá faltando nada? — o homem perguntou, desconfiado.
Cael bufou e estalou a língua.
Cael
— Faltando só se for vergonha na tua cara. Tá tudo aí. Se quiser contar, conta. Se não confiar, enfia no rabo e vê se vira diamante.
Deixou o cara plantado ali e saiu andando, com o dedo do meio em riste novamente.
No fim da tarde, estava no bar mais imundo do setor sul, limpando chão coberto de vômito e cinzas por dois pães duros e uma lata de feijão que parecia de 1960.
Dono do bar
— Aqui, teu pagamento — disse o dono, jogando a sacola em cima da mesa com nojo.
Cael
Cael olhou, revirou os olhos e murmurou:
— Se eu comer isso aqui, acho que morro de infecção alimentar antes do próximo nascer do sol.
Dono do bar
— Pode ir embora então.
Cael
— Pode enfiar a lata no cu, seu escroto —
Respondeu, pegando a sacola mesmo assim. Fome humilha, mas não mata. Pelo menos, era o que ele repetia todo dia.
Já era noite quando ele passou perto de uma lixeira no beco perto de casa e ouviu um miado baixinho. Parou. Olhou. Revirou o lixo com o pé e viu um gato cinza, magrelo, tremendo.
Cael
— Porra... mais um fodido nesse mundo.
Ele se abaixou, abriu a sacola e ficou encarando o pão duro por alguns segundos. Xingou mentalmente mais umas vinte vezes, mas rasgou um pedaço e colocou diante do bichano.
Cael
— Come aí, desgraça. Mas não te apega, hein? Eu sou um merda de primeira, não sirvo nem pra mim, quanto mais pra você.
O gato se aproximou devagar e começou a comer. Cael ficou observando em silêncio. Seus ombros relaxaram por um segundo. Um só.
Cael
— Vai nessa, sobrevive, sei lá... Eu também tô tentando — sussurrou, dando mais um pedacinho.
Depois levantou, esfregou o nariz sujo com a manga da jaqueta e voltou pro porão. O mundo podia ir à merda. Mas hoje, pelo menos hoje, ele não foi o pior ser vivo naquela rua.
Escolhas podres
No outro dia O céu cuspia uma garoa fina, fria e persistente, como se Valmont quisesse lavar a sujeira das ruas — mas já fazia tempo que essa cidade tinha desistido de ficar limpa.
Cael estava parado numa esquina perto do setor central, capuz cobrindo o rosto, mãos nos bolsos, olhar vazio.
Não um milagre, não um golpe de sorte. Só... algo. Alguém. Qualquer merda que rendesse uns trocados.
Já tinha vasculhado lixeiras, pedido restos num restaurante e até considerado roubar uma senhora de bengala — mas até isso tinha ido embora antes dele conseguir decidir.
A fome era uma lâmina pressionando a barriga por dentro.
Uma voz grave. Um carro caro. Vidro abaixado.
Cael virou o rosto devagar. Um homem bem vestido, gravata frouxa, cara de empresário cansado.
Emprsario
— Tá vendendo alguma coisa?
Cael sorriu, cínico, olhos cansados. Sabia o tipo. Já tinha visto outros.
Cael
— Depende. O que você quer comprar?
O homem hesitou um pouco, olhou em volta.
Cael pensou por dois segundos. Mais tempo do que deveria. Entrou.
Depois de uns minutos... O quarto de motel era uma mistura de perfume barato e colônia cara. Ele ficou calado durante o caminho inteiro, e calado quando tirou a roupa. Não era a primeira vez, mas ainda doía. Só que doía menos do que a fome.
Duas horas depois, Cael estava no banheiro lavando o rosto. A água era morna, mas o rosto continuava gelado.
Se olhou no espelho rachado.
Cael
— Você é um lixo, Cael. — Disse baixo. Mas com raiva. De si mesmo. Do mundo. De tudo.
Vestiu as roupas, pegou o dinheiro jogado na cama e saiu sem dizer mais nada. O homem estava dormindo, ou fingindo que estava.
Com os bolsos cheios e o estômago em chamas, ele entrou na primeira mercearia aberta e comprou pão, macarrão instantâneo, refrigerante barato e até um chocolate — luxo de rei naquela noite.
Comeu sentado na calçada, como um cão vadio, mas com um leve sorriso no rosto.
Era horrível. Mas estava vivo.
Enquanto mastigava os últimos pedaços, três caras se aproximaram. Um deles era Tenente, um delinquente conhecido por se meter em tudo que era treta.
Tenente
— E aí, Cael... Tá bem alimentado hoje, hein?
Cael olhou pra eles com tédio.
Cael
— Se for assalto, já aviso que gastei metade com miojo.
Tenente
— Relaxa, não é isso. É um convite. Trabalho sério. Roubo pesado. Mansão de um figurão, dizem que o cara tem obras de arte, cofre, tudo.
Cael arqueou a sobrancelha.
Cael
— E por que vocês tão me chamando?
Tenente
— Porque você é ligeiro, sabe entrar e sair sem fazer barulho. E, vamos ser sinceros, tá se vendendo por trocado na rua. Isso aqui vale bem mais.
Cael apertou o maxilar. Sentiu o gosto amargo do que tinha feito. E o vazio que ainda tava lá.
Cael
— Beleza... Tô dentro.
Eles se entreolharam e sorriram. Como hienas antes do banquete.
Cael não sabia, mas ali, naquela calçada molhada, com migalhas ainda na boca e a alma em frangalhos, ele tinha acabado de cometer o pior erro da vida dele.
Para mais, baixe o APP de MangaToon!