Capítulo 1 — A Máscara da Pantera
JADE
Mais um dia. Mais uma batalha silenciosa.
Entro na boate com o pensamento martelando na cabeça: é só mais um dia, é só mais uma vez...
Aqui, onde meu corpo dança para homens que não conheço, encontrei a única forma de sobreviver. Não é uma escolha. É necessidade.
Meu nome é Jade. Mas para eles, sou apenas a Pantera.
Uso uma máscara para proteger o que resta da minha identidade, da minha dignidade. Com 1,60m de altura, 29 anos, pele morena e olhar determinado, prefiro o anonimato a ser reduzida a mais um pedaço de carne exposto. Estou solteira — e sinceramente? Sem o menor interesse em me envolver com qualquer um. Ainda mais com os tipos que frequentam esse lugar.
Minha concentração é quebrada pela voz familiar que ecoa da entrada.
DIOGO:
— Pantera... Sonhando acordada de novo?
Apenas confirmo com um aceno breve.
DIOGO:
— Vamos lá. Você é a próxima no palco.
Diogo, o dono da boate, sempre foi mais do que um chefe. Ele foi um amigo quando eu não tinha mais ninguém. Me deu uma oportunidade quando precisei desesperadamente pagar os medicamentos da minha mãe e garantir que meu irmão pudesse continuar estudando.
JADE:
— Já estou indo, Diogo. Só preciso terminar a maquiagem. Me sinto tão exposta com essa roupa...
DIOGO (sorrindo com ternura):
— Você não devia se sentir assim. É linda.
— E não se esqueça: seu trabalho é digno. Agora vá, ou vai me dar um ataque do coração de nervoso!
JADE (resmungando):
— Que chato!
Ele riu, divertindo-se com meu mau humor disfarçado.
Terminei de passar o batom, ajeitei a máscara dourada no rosto e segui em direção ao palco.
Respirei fundo, preparando-me para enfrentar mais uma vez aquela plateia suja.
Diogo anunciou minha entrada. A música começou.
Fechei os olhos, deixei o ritmo tomar conta do meu corpo e entrei em cena.
Ignorei os olhares que me despiam.
Apenas dançava.
No centro do palco, envolvi a barra com uma perna, desci lentamente, deslizando com movimentos sensuais e hipnotizantes.
Me arrastei até o centro e, de quatro, avancei até onde um homem, sentado à minha frente, me observava com olhos intensos, devoradores.
Era impossível ignorá-lo.
Era como se, naquele momento, só existíssemos nós dois.
Sentei em seu colo. Senti o toque dele. Forte. Possessivo.
O calor do seu corpo me invadiu, e mesmo sem querer, meu corpo reagiu.
Percebi o volume em sua calça — e o efeito que eu tinha sobre ele.
Por um instante, o mundo sumiu.
Mas a música chegou ao fim.
Afastei-me rapidamente, recuperando a lucidez, e corri para o camarim.
DIOGO (gritando para mim do corredor):
— Impressionante, Pantera! A cada dia você brilha mais! Você é a alma da boate!
JADE (resmungando):
— Valeu, Diogo. Até amanhã.
No fundo, o desconforto ainda queimava na minha pele.
Mas eu não podia me dar o luxo de escolher.
Precisava do dinheiro.
No camarim, troquei de roupa rapidamente, colocando de volta minha máscara.
Antes que pudesse sair, uma batida na porta me congelou.
Abri, esperando encontrar Diogo.
Mas era ele.
O homem do palco.
O olhar ainda mais intenso de perto.
JADE (surpresa e firme):
— Quem é você? O que está fazendo no meu camarim?
RAVI (com arrogância fria):
— É assim que você recebe seus clientes? Essa pose toda não combina com a mulher que estava se esfregando em mim há poucos minutos.
Sem pedir permissão, ele entrou e sentou-se, espalhando-se no sofá como se fosse o dono do lugar.
Arrogante. Dominador. Provocador.
JADE (cravando os olhos nele):
— Primeiro: eu não tenho clientes.
— Segundo: não me esfreguei em você porque quis.
— Faço o que é necessário para dançar para idiotas como você.
Apontei para a porta.
JADE:
— Agora saia do meu camarim.
RAVI (sorrindo com escárnio):
— Eu posso te levar para casa... ou para um lugar mais reservado.
— Você pode terminar aquela dança sensual... sem interrupções.
Olhei para ele com nojo.
Um arrogante insuportável.
JADE (gelada):
— Se não sair agora, vou chamar a segurança.
Ele se inclinou um pouco para frente, com o sorriso torto no rosto.
RAVI:
— Como eu disse... sou um cliente satisfeito.
— Estou aqui para contratar uma noite com você.
A raiva subiu como fogo pelas minhas veias.
Sem pensar, a mão estalou contra o rosto dele.
O tapa ecoou.
O sorriso sumiu.
Ele se levantou de um salto, agarrando meu braço com força.
RAVI (com a voz baixa e ameaçadora):
— Quem você pensa que é para me agredir, sua vagabunda?
— Você não tem ideia de quem eu sou.
JADE (encarando sem medo):
— De maneira alguma sou uma vagabunda.
— Você é um troglodita que acha que pode comprar dignidade com dinheiro.
Puxei meu braço, me afastando dele.
RAVI (olhando com desprezo):
— Você dança semi-nua para estranhos. Se esfrega em todo tipo de homem.
— E ainda quer respeito?
JADE (com a voz firme e cortante):
— O fato de eu trabalhar aqui, usando esta roupa, não me faz sua.
— Sou apenas uma dançarina.
— E você... é só mais um idiota arrogante.
Ele sorriu com desdém, cruzando os braços, me encarando como se estivesse me marcando com os olhos.
RAVI:
— Você não faz ideia do que sou capaz para conseguir o que quero.
— E esse tapa vai ter consequências.
Havia algo cruel na promessa velada dele.
E ainda assim...
Os olhos negros dele eram um pecado por si só.
Quentes. Hipnóticos. Perigosos.
RAVI (com um meio sorriso entediado):
— Já terminou de me analisar?
Pisquei algumas vezes, tentando recuperar o controle.
Aproximei-me dele.
Quase roçando meu corpo no dele.
JADE (sussurrando, venenosa):
— Na verdade... não.
Cheguei perto de seu ouvido, deixando minha voz acariciar sua pele.
JADE (sussurrando, amarga):
— Nem todo mundo tem a vida fácil que você tem.
— Eu odeio esse trabalho.
— E odeio ainda mais homens como você, que acham que tudo tem um preço.
Deixei o veneno da minha raiva pingar em cada palavra.
Dei um passo para trás, peguei minha bolsa e saí, sem olhar para trás.
Mas sabia.
Sabia que ele não ia deixar barato.
RAVI
Não sou o tipo de homem que permite que uma mulher levante a mão para mim.
Muito menos que me desafie.
A Pantera deixou sua marca.
O tapa dela queimava no meu rosto... e acendia meu desejo.
Essa mulher vai parar na minha cama.
Nem que eu tenha que quebrar cada muro que ela levantar.
Saí do camarim com o sangue fervendo.
No salão, Jonatha me encontrou.
JONATHA:
— Onde você estava, mano? Tava te procurando!
RAVI (seco e irritado):
— Me deixa em paz, Jonatha.
— Foi por sua culpa que vim aqui.
— E se era pra sair sem levar a garota pra cama, melhor nem ter vindo.
JONATHA (rindo nervoso):
— Como eu ia imaginar que você ia se interessar logo pela mais difícil?
— Eu também tentei... Ela não dá mole pra ninguém.
RAVI (frio):
— Você tentou.
— Agora fica longe dela.
— A dançarina mascarada é prioridade minha. Entendido?
JONATHA (erguendo as mãos):
— Uau... Fascinado pela Pantera mascarada. Relaxa, irmão. Não quero confusão.
RAVI:
— Descubra tudo sobre ela.
— Onde mora, se só trabalha aqui, o que esconde.
JONATHA (tentando argumentar):
— Cara, ela é só uma dançarina discreta. Não perca seu tempo. Tem muitas outras mulheres querendo te dar mole aqui.
RAVI (encarando-o com frieza):
— Quando eu quero algo, eu faço acontecer.
— A Pantera será minha.
— Não importa o que custe.
Mas por enquanto...
RAVI:
— Esquece a selvagem por hoje.
— Quero que arrume outra garota, qualquer uma que seja gostosa o suficiente.
— Pague e mande direto para meu apartamento.
JONATHA (rindo nervoso):
— Você é doente, irmão.
RAVI (sorrindo com malícia):
— Doente por ganhar sempre.
A noite ainda estava só começando.
E a Pantera... ainda ia se render.
RAVI
Depois de meter com uma das dançarinas, joguei um maço de notas amassadas na cama, sem nem olhar pra ela.
— Some daqui. — rosnei, acendendo um cigarro enquanto a vadia se vestia às pressas, sem coragem de me encarar.
Ela saiu tropeçando nos próprios saltos.
Sozinho no apartamento, ainda nu, recostei na poltrona, soltando a fumaça devagar.
Mas em vez de relaxar, a lembrança dela voltou com força.
A Pantera.
Não era o corpo da mulher que tinha acabado de foder que latejava na minha mente.
Era ela.
A desgraçada da máscara, dos olhos de fogo, que teve a audácia de me rejeitar.
Que me deu um tapa na cara como se eu fosse um qualquer.
Mordi o filtro do cigarro com raiva. Isso não ia ficar assim.
Essa vadia ainda vai rastejar até minha cama. Nem que seja chorando.
---
Acordei no dia seguinte com a cabeça estourando, gosto amargo na boca e um vazio ainda mais irritante dentro do peito.
Tomei banho, vesti a primeira roupa que vi e dirigi até a empresa como um demônio de ressaca.
Minha secretária tentou me abordar no corredor, mas passei reto, nem olhei.
Eu não queria conversa.
Eu queria sangue.
Joguei a pasta em cima da mesa, me joguei na cadeira, fechei os olhos, respirando fundo.
Mas a batida na porta não me deixou em paz.
— Que porra é essa? — gritei, sem paciência.
— Relaxa, irmão. — disse Donatello, entrando. — Só vim ver se você ainda tá vivo.
Levantei a cabeça, fulminando ele com o olhar.
— Ontem meu irmão me arrastou pra Little Club.
Conheci uma dançarina que... — cerrei os punhos. — …que me rejeitou na frente de todo mundo.
Donatello soltou uma gargalhada seca.
— A boate é tua, Ravi. E ainda assim tomou um fora?
Que fase!
— Vai se foder, Donatello.
Não tô caindo de amores.
Mas ela ainda vai se ajoelhar pra mim, anota o que tô dizendo.
O sorriso debochado dele só me deu mais raiva.
Eu apaguei o cigarro, esmagando-o na mesa de vidro.
Essa mulher não sabia com quem tinha mexido.
---
JADE
Sai da boate quase correndo, com o coração batendo feito um tambor nas costelas.
Peguei um táxi na primeira esquina, ainda sentindo o cheiro dele na pele.
Aquela presença... aquele cheiro de cigarro e perigo...
Aquela mão forte me segurando...
Fechei os olhos com força. "Não, Jade. Não pensa nisso."
O táxi parou em frente à minha casa humilde.
O motorista lançou um olhar desconfiado, mas só sorri cansada.
— Obrigada, moço. Boa noite.
Entrei e mal fechei a porta, já ouvi a voz da minha mãe.
— Que cara é essa, Jade? Tire logo essa roupa imunda!
Ela estava na cozinha, pálida, magra, parecendo menor do que era.
Suspirei fundo, indo até ela, tentando não chorar.
— Calma, mãezinha... já tô indo. Mas antes, deixa eu te dar um beijo.
Ela se afastou de leve, franzindo o rosto de desgosto.
— Não quero cheiro dessa boate em mim.
Meu peito apertou.
Ela nunca aceitou meu trabalho.
E eu também não aceitava, mas era o que me restava.
Ninguém queria contratar uma menina sem diploma, com irmão pequeno e mãe doente.
Só sabiam me oferecer cama em troca de "emprego".
Diogo foi o único que me deixou escolher: dançar de máscara. Sem sexo. Sem toques.
Era humilhante?
Sim.
Mas era a única maneira de bancar o tratamento da minha mãe.
Meu irmão, Joaquim, apareceu todo animado, me salvando do silêncio pesado.
— Jade! Tava te esperando!
— E aí, pirralho? — sorri, puxando ele pra um abraço. — Como foi na escola?
— Vou passar direto esse ano, tenho certeza!
— Orgulho da mana! — baguncei o cabelo dele.
Minha mãe nos chamou para jantar, a voz fraca.
Levei Joaquim até a cozinha, mas quando vi o rosto dela, o sangue me gelou.
Ela estava branca como papel.
— Mãe! — corri pra segurá-la, antes que ela caísse.
— Foi só a pressão... — murmurou, tentando disfarçar.
— Eu te levo pro hospital, agora.
— Não, Jade. Já gastamos demais.
Senta, vamos jantar.
Engoli o choro, obedecendo.
Enquanto comíamos, ela perguntou:
— E a boate? Alguma novidade?
— Tudo tranquilo. — menti, forçando um sorriso.
Não tinha coragem de dizer que naquela noite eu tinha provocado o homem errado.
E que minha vida podia ter mudado para sempre.
---
RAVI
— Donatello — falei, ainda sentindo o gosto metálico da raiva na boca. — Mandei meu irmão encontrar a Pantera, mas aquele fraco não vai fazer porra nenhuma.
Agora é com você.
— Manda o nome e eu resolvo.
— Se fosse fácil assim... — dei uma risada seca. — Não sei nem o nome da desgraçada.
Só sei que chamam ela de Pantera. Usa máscara. Olhos de gata.
— Certo. Vou atrás dela.
— Vai até a boate.
Fala com Diogo.
Quero o dossiê completo dela. De onde veio, onde mora, quem indicou, até o tipo de sangue se puder.
Donatello assentiu, mas eu ainda não tinha acabado.
— E mais uma coisa — continuei. — Pede pra Cassandra chamar os filhos da puta que me devem pela carga enviada mês passado.
Se não pagarem hoje, vão se arrepender de terem nascido.
— Você não precisa do dinheiro, Ravi.
— Eu não deixo dívida aberta, Donatello. Não com gente que acha que pode me passar a perna.
Me levantei, jogando a cadeira pra trás.
— E avisa o Diogo: a boate fecha hoje. Reunião particular.
Quero só uma dançarina lá dentro.
— A Pantera? — ele perguntou, já sabendo a resposta.
— É.
Donatello hesitou.
— Ravi... Se ela ouvir ou ver demais, pode dar merda. Você sabe que essas reuniões são perigosas. Sempre tem droga, arma, dinheiro sujo rolando.
— Problema dela.
Ela me desafiou.
Hoje ela vai descobrir quem é que manda naquela porra toda.
Vai aprender que não se brinca com Ravi Moretti.
Sorri, sentindo o sangue quente borbulhar nas veias.
Hoje seria a primeira lição dela.
A primeira... de muitas.
CAPÍTULO: A NOITE QUE NÃO ERA MINHA
O dia amanheceu arrastado, e cada parte do meu corpo protestava contra os movimentos forçados da noite anterior.
A dança, os saltos, os olhares sujos... tudo pesava como se eu carregasse o mundo nas costas.
Estiquei o corpo devagar, sentindo dores que não deveriam existir em alguém da minha idade.
Suspirei, olhando para o teto e pensando: "Espero que aquele arrogante não apareça hoje."
Hoje era sábado. A boate Little Club nunca fechava, nem em feriado, muito menos em fim de semana.
Mas para mim, isso era uma dádiva amarga: mais movimento, mais gorjetas, mais dinheiro para pagar o tratamento da minha mãe.
**
Depois de uma ducha rápida, arrumei-me com pressa e fui para a cozinha.
Minha mãe, Dona Flávia, já estava sentada à mesa, com um sorriso que não disfarçava o cansaço.
— Bom dia, meu amor. — ela disse, com a voz suave. — Achei que você fosse dormir até mais tarde hoje.
— Hoje eu quero ficar com vocês. — falei, servindo café para nós duas. — E o Joaquim?
— Ainda dormindo. — ela sorriu. — Não tive coragem de acordá-lo.
Depois de uns minutos de silêncio, ela voltou a falar, hesitante:
— Jade, você não pensa em procurar outro trabalho, filha?
Se descobrirem o que tem por trás dessa máscara...
Fechei os olhos por um instante.
— Mãe, eu tô bem.
Você já faz muito, cuidando de mim e do Joaquim.
Eu só tô tentando retribuir.
Mas eu via nos olhos dela: preocupação e medo.
Medo do mundo. Medo do que podiam fazer comigo.
**
Passei o dia inteiro com eles.
Fomos ao parque, fizemos um piquenique improvisado.
Por algumas horas, rimos como uma família normal.
Quase consegui acreditar que éramos.
Mas nos momentos em que minha mãe pensava que eu não estava olhando, ela parecia triste.
Perdida em pensamentos.
Algo estava errado.
Eu sentia.
**
Antes de sair de casa, Joaquim me abraçou forte.
— Maninha, daqui uns anos você não vai mais precisar trabalhar tanto. Eu vou cuidar de vocês.
— Eu já sou a mulher mais orgulhosa do mundo só por ouvir isso, pirralho. — sorri, contendo as lágrimas.
Minha mãe veio até mim, apoiando-se na parede.
— Cuide-se, filha. E... não esqueça a máscara.
— Nunca esqueço, mãe.
Dei um beijo nela, outro no Joaquim, e saí.
O coração pesado.
**
No táxi a caminho da boate, vesti a máscara no rosto.
Era mais que uma proteção física — era a única barreira entre mim e um mundo que queria me devorar viva.
**
Cheguei na Little Club e, logo de cara, senti o ar diferente.
As luzes apagadas. O salão vazio.
Corri para o camarim, encontrando Alice e Laura, minhas únicas amigas naquele lugar.
— Vocês ouviram? — perguntou Alice, tensa. — Hoje só uma de nós vai dançar.
— E adivinha quem? — completou Laura.
— Como assim? — franzi o cenho.
Alice cruzou os braços.
— O verdadeiro dono da boate pediu que fosse "a Pantera".
Meu sangue gelou.
— Dono? Não é o Diogo?
— Diogo é fachada. — disse Laura. — O verdadeiro dono nunca quis ser mencionado.
Antes que eu pudesse perguntar mais, Diogo entrou.
O rosto dele, sério como nunca.
— Meninas, podem ir.
A Pantera fica.
Alice e Laura me olharam com pena antes de se despedirem.
Fiquei sozinha.
O estômago embrulhado.
**
Diogo se aproximou, baixo e direto:
— Jade, hoje... é diferente.
O verdadeiro dono pediu para que só você dançasse.
Assim que eles chegarem, vou ter que sair.
Me desculpa.
Ele parecia sincero.
Assustado, até.
Mas isso só piorava as coisas.
**
Vesti o figurino curto, ajustando o top e o shortinho no corpo.
A máscara no rosto, como uma segunda pele.
Subi ao palco.
O salão inteiro estava mergulhado numa penumbra sufocante.
**
A batida da música começou.
Grave.
Suja.
Fiquei imóvel por alguns segundos.
Sentindo cada respiração presa no peito.
Então me forcei a mover o corpo.
Deslizei as mãos pelas coxas, girei os quadris, deslizei no chão...
Cada movimento era uma batalha contra o medo.
Eu dançava... mas não era uma apresentação.
Era uma sentença.
**
Então, as luzes se acenderam.
E lá estava ele.
Ravi Trajano Telles.
O arrogante.
O predador.
**
Sentado no centro do salão, copo de uísque na mão, as pernas abertas num gesto de domínio, ele me observava com olhos negros como pecado.
E eu entendi.
Toda aquela encenação.
Toda aquela reunião.
Era para mim.
**
Ravi se levantou devagar, como um rei vindo cobrar tributo.
Cada passo dele ecoava na minha cabeça.
Ele parou diante de mim, tão perto que senti seu cheiro: fumaça, couro e algo primal, masculino, que fazia minhas pernas fraquejarem de medo.
Se aproximou mais.
Abaixou a cabeça até meu ouvido.
Sua voz saiu rouca, cruel:
— Como eu devo agir com uma vadia que ousou levantar a mão para mim... no meu território?
Meu corpo inteiro congelou.
Ele riu baixo, roçando os lábios gelados no meu pescoço.
— Mostre seu talento, Pantera.
Dance para mim.
Dance para nós.
**
Foi então que vi.
Quatro homens, nas sombras.
Assistindo.
Esperando.
Cada olhar era uma ameaça silenciosa.
**
Eu poderia correr.
Gritar.
Mas a imagem da minha mãe, do meu irmão, me prendeu ali.
Engoli em seco, trêmula.
E continuei a dançar.
Não por prazer.
Não por eles.
Mas pela vida que eu precisava proteger.
**
Enquanto me movia no palco, sentindo o olhar predador de Ravi me despir a cada segundo, entendi uma coisa:
Eu tinha acabado de entrar no jogo dele.
E ele não jogava para perder.
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