Valentina nunca foi comum. Desde o momento em que abriu os olhos pela primeira vez, o mundo ao seu redor pareceu hesitar — como se a própria realidade não soubesse onde encaixá-la. Com uma asa branca e outra negra crescendo lentamente ao longo dos anos, ela era a fusão improvável de dois extremos: luz e trevas, anjo e demônio. Um ser que jamais deveria existir... e ainda assim, ali estava ela, viva, pulsando com um poder que nem ela compreendia.
Criada em um orfanato humano, Valentina cresceu em meio à normalidade forçada de um mundo que a olhava com estranheza silenciosa. Seus olhos, intensos e tempestuosos, refletiam algo que ninguém conseguia explicar. Ela era forte demais para ser apenas humana, mas emocional demais para ser apenas uma criatura sobrenatural. Ao seu lado, desde pequena, esteve Luna — uma jovem sábia além da idade, feiticeira ancestral reencarnada, com um passado tão enigmático quanto seu olhar sereno. Unidas não por sangue, mas por alma, as duas cresceram como irmãs de vida e destino.
O despertar do verdadeiro poder de Valentina não foi sutil. Aconteceu em meio a um ataque. O céu escureceu, a terra tremeu, e ela sentiu o chamado dentro de si: uma voz antiga, ancestral, que a empurrava para o meio de uma guerra que ela nunca escolhera, mas que parecia feita para ela. Forças ocultas, pertencentes tanto ao inferno quanto aos planos celestiais, desejavam controlá-la, destruí-la ou moldá-la conforme seus próprios interesses.
Foi então que Klaus cruzou seu caminho.
Alto, imponente, de olhos vermelhos penetrantes e porte de lobo dominante, ele era o Alfa de sua matilha, um líder nato. Klaus não era o típico herói, tampouco um vilão. Ele era uma força bruta e protetora, marcada por perdas, deveres e segredos. Valentina o conheceu por acaso — ou talvez por destino — em uma noite de perseguição, quando seus mundos colidiram e algo além da compreensão os ligou. O vínculo que surgiu entre os dois era mais antigo do que eles próprios, como se suas almas se reconhecessem antes mesmo que pudessem se entender.
Mas o amor entre eles não era fácil.
Como aceitar um sentimento tão intenso quando tudo ao redor gritava destruição? Como confiar em alguém quando cada memória trazia cicatrizes e obrigações que não permitiam escolhas? Klaus, nascido para liderar, sentia a pressão de proteger sua matilha. Valentina, destinada a um papel que mal compreendia, lutava contra suas próprias sombras internas. Juntos, aprenderam que o amor verdadeiro não é ausência de conflito, mas sim a coragem de permanecer — mesmo quando o mundo parece ruir.
Ao lado de aliados improváveis — como Eduardo, o leal e estrategista beta de Klaus; Luna, sempre pronta para confrontar o impossível com sabedoria e magia; e outros híbridos, magos, lobos e até humanos que escolheram acreditar —, Valentina embarca em uma jornada épica. Não apenas para sobreviver, mas para entender quem ela realmente é. E, mais do que isso, o que está disposto a sacrificar.
Durante a jornada, ela descobrirá a verdade sobre sua origem: um ritual proibido, selado há séculos, havia dado origem ao seu nascimento. Anjos e demônios, em um pacto improvável, decidiram criar um ser capaz de restaurar o equilíbrio entre os mundos, cansados de guerras sem fim. Mas a escolha por Valentina não foi aleatória. Havia uma linhagem, uma conexão com o primeiro portador da luz e da sombra. Ela não era apenas uma peça. Ela era a chave.
Os inimigos que surgem são tão diversos quanto cruéis. Alguns desejam controlá-la. Outros, destruí-la. Alguns, fingem ajudá-la. A guerra que se desenha não é apenas entre clãs ou reinos, mas entre conceitos. Entre fé e medo. Entre domínio e liberdade. Entre o desejo de manter o mundo como está... e a coragem de reconstruí-lo, mesmo que doa.
Valentina enfrentará escolhas impossíveis: destruir ou perdoar. Lutar ou fugir. Amar ou renunciar. Cada passo levará mais fundo nos segredos de sua herança, nos mistérios das antigas profecias e nas armadilhas daqueles que se dizem aliados. E enquanto suas asas crescem — uma com penas de fogo, a outra de gelo —, ela se torna algo nunca antes visto: não apenas híbrida, mas uma Guardiã.
No coração do conflito, ela entenderá que não é o sangue que define alguém, mas as decisões que essa pessoa toma. Que ser metade luz e metade trevas não a torna fraca, mas única. Que aceitar suas contradições é a única forma de se tornar inteira.
E que o amor... o amor verdadeiro... é a força mais poderosa do universo. Mesmo que ele venha com dor. Mesmo que ele exija tudo.
Entre Luz e Trevas: O Legado de Valentina é mais do que uma história de fantasia. É uma jornada de descoberta, sacrifício e redenção. Um mergulho em personagens complexos, com traumas, forças e fraquezas. Um épico sobrenatural onde o bem e o mal não são absolutos, e onde o poder mais verdadeiro nasce da vulnerabilidade.
Prepare-se para ser envolvido por uma narrativa intensa, onde cada batalha é também interna, onde o sobrenatural caminha de mãos dadas com o humano, e onde até as trevas podem esconder luz. Um mundo de magia, de lobos imponentes, de feiticeiras milenares, de pactos secretos... e de uma garota com asas diferentes, que ousou desafiar o destino com o coração aberto.
Valentina não nasceu para ser escolhida. Ela nasceu para escolher.
A chuva caía forte naquela noite. Cada gota parecia pesar mais do que o normal, batendo contra as pedras da velha rua de paralelepípedos com uma força quase sobrenatural. O vento sussurrava entre as árvores, carregando consigo um som que poderia ser confundido com o grito de uma alma perdida. Na escuridão, as sombras se arrastavam, espreitando a cidade que dormia sem saber o que se passava sob o véu da noite.
Em uma esquina esquecida, no fundo de um pequeno orfanato de aparência desgastada pelo tempo, duas pequenas figuras estavam sendo deixadas para trás. Elas mal sabiam o que significava estar ali, ou por que estavam sendo abandonadas à sorte do mundo humano. Aos seus olhos inocentes, a chuva era apenas um frio desconfortável, mas para os poucos que as viam à distância, havia algo muito mais profundo em suas presenças. Algo que fazia o ar ao redor delas pulsar, como se o próprio universo respirasse de maneira diferente.
Valentina, uma criança de aparência etérea, estava em seus braços a pequena Luna. Ambas eram tão diferentes daquelas outras crianças que foram deixadas na porta do orfanato ao longo dos anos. Não havia dor nos olhos de Luna, mas Valentina sentia o peso do mundo. Seus cabelos brancos como a neve brilhavam sob a fraca luz da lua, e seus olhos, de um azul claro como o céu antes do amanhecer, refletiam a tristeza de uma alma que ainda não compreendia seu próprio destino. Ela sabia que algo estava errado, mas o que era esse "erro" ela ainda não conseguia entender.
"Esconda-os bem", disse uma voz baixa e grave, vinda de uma figura encapuzada que se manteve nas sombras.
Valentina não sabia quem era aquele ser, mas sentia uma aura de poder vindo dele. Algo que não se parecia com qualquer humano que ela já havia visto. Seu instinto lhe dizia que ele não era amigo, mas que, ainda assim, era necessário para sua sobrevivência. Ele a observou com um olhar penetrante antes de se mover para a escuridão, desaparecendo tão rapidamente quanto surgira.
“Cuidem delas, por favor”, foi a última coisa que Valentina ouviu antes de ser deixada sozinha na chuva com a pequena Luna. A porta do orfanato se fechou com um estrondo, abafando os sons da noite. O feitiço que selaria seu destino começava ali.
A sensação de perda era palpável. Valentina tinha a sensação de que aquela noite seria lembrada por toda a sua vida, e que não importaria quantas vezes ela tentasse esquecer, a escuridão que a envolvia sempre voltaria, mais forte a cada passo. Ela estava marcada. As asas, uma branca e uma negra, haviam sido escondidas por uma magia antiga e poderosa. Seu destino estava selado, mas o mistério por trás disso ainda se escondia nas sombras.
Luna, em seu pequeno corpo, ainda não sabia o que a aguardava. Ela estava agarrada a Valentina com força, os olhos arregalados de medo, e seus dedos trêmulos apertavam a mão da amiga. Valentina sorriu para ela, tentando acalmá-la, mesmo quando seu próprio coração estava acelerado e cheio de perguntas sem respostas.
Por um breve momento, ela sentiu algo que nem mesmo o peso do abandono poderia apagar: uma conexão. Uma força invisível ligava as duas, algo muito mais forte do que a amizade comum. Talvez fosse a magia, ou talvez algo ainda mais profundo, mas Valentina sabia que, de algum modo, Luna e ela compartilhavam o mesmo destino, um destino marcado pelas trevas e pela luz.
Ela olhou para o orfanato à sua frente, um lugar de aparência decadente e cheia de segredos. A velha construção parecia tão solitária quanto ela se sentia naquele momento. A porta estava trancada, mas no fundo, ela sabia que o futuro delas não estava ali. O mundo as chamava, e elas teriam que descobrir o que estavam destinadas a ser.
Valentina deu um último olhar ao redor, sentindo uma presença estranha. Ela não sabia se era apenas a tensão do momento, ou se algo estava, de fato, a observando. Mas sabia que, com cada respiração que dava, algo dentro dela estava despertando, algo que até então permanecia adormecido.
"Vamos, Luna", ela disse, com a voz baixa e firme, embora seu coração batesse descompassado. "Este é o nosso começo."
As duas meninas se afastaram, desaparecendo na escuridão da noite. O que quer que as aguardasse, estava apenas começando.
Dezesseis anos haviam se passado desde aquela noite chuvosa. A lembrança ainda rondava os sonhos de Valentina como uma névoa persistente, mas cada vez que acordava, era como se o tempo tivesse levado as respostas com ele.
Ela vivia com a família adotiva em uma cidade pequena, cercada por colinas e florestas espessas que pareciam esconder mais do que apenas árvores. Os Dantas, seus pais adotivos, eram bondosos e simples, e sempre trataram Valentina e Luna como filhas de sangue. Mas mesmo com o amor deles, Valentina carregava a sensação de que não pertencia completamente àquele mundo.
Naquela manhã, ela acordou sobressaltada. O mesmo sonho de novo. Chamas negras e douradas dançavam ao redor de si, e no centro havia uma figura com asas... uma branca e uma negra. Ela estendia a mão para Valentina, mas quando esta tentava tocar, tudo se desfazia em poeira.
— Sonhos de novo? — perguntou Luna ao vê-la na cozinha, já com uma caneca de chá nas mãos.
Valentina assentiu, o olhar distante. — Está piorando. Sinto como se... algo estivesse vindo. E ontem à noite, o espelho no meu quarto… trincou sozinho.
Luna franziu o cenho. — Isso aconteceu comigo também. Mas foi a janela. Estava fechada, e de repente estilhaçou. Tem alguma coisa errada, Val.
Elas trocaram um olhar longo. Desde pequenas, compartilhavam mais do que o mesmo teto — compartilhavam sensações. Quando uma ficava doente, a outra sentia. Quando uma sonhava com algo estranho, a outra via ecos no dia seguinte. Mas ultimamente, tudo parecia estar se intensificando.
Naquela tarde, as duas decidiram caminhar até o bosque. Era um refúgio para ambas, um lugar onde podiam respirar sem sentir o peso da cidade ou do mundo que as rodeava. O céu estava coberto por nuvens pesadas, e o vento trazia um cheiro de terra molhada e eletricidade.
— Sente isso? — Valentina perguntou, parando abruptamente. O ar estava denso, vibrante. Uma energia diferente percorria a floresta como um sussurro.
Luna olhou em volta. — Sim… mas não é daqui.
Valentina deu mais alguns passos à frente, se afastando um pouco da amiga. Uma clareira se abria diante dela, e bem no centro, uma pedra antiga com inscrições que ela não compreendia. Mas algo a chamava. Um zumbido baixo preencheu seus ouvidos, e seus dedos começaram a formigar.
Ela estendeu a mão.
No instante em que tocou a pedra, uma onda de energia explodiu ao seu redor. As folhas se ergueram, o vento uivou, e seus olhos se apagaram por um segundo. Quando voltou a si, a pedra estava rachada e sua mão brilhava — uma luz dourada de um lado, sombras pulsando do outro.
— Valentina! — a voz de Luna ecoou, distante.
Mas antes que pudesse responder, algo se moveu entre as árvores. Um vulto, rápido, feroz. A floresta parecia prender o fôlego. Valentina virou-se, e foi então que o viu.
Ele estava parado a poucos metros. Alto, imponente, os olhos vermelhos como brasas vivas. Cabelos escuros caíam sobre a testa, e a aura ao redor dele era selvagem, quase indomável. Mas não era isso que a fez estremecer. Era a sensação de reconhecimento. Algo dentro dela reagiu à presença dele — como se suas almas já tivessem se cruzado em outra vida.
— Quem é você? — ela perguntou, a voz falhando entre o medo e a curiosidade.
O estranho inclinou levemente a cabeça. — Eu é que deveria perguntar isso.
A tensão entre os dois era palpável. Valentina sentia os pelos dos braços se eriçarem, e o coração batia como um tambor de guerra. Mas não havia hostilidade nos olhos do homem — apenas confusão... e algo mais.
— Você não é humana — ele disse, após alguns segundos. — Nem um pouco.
Ela não sabia o que responder. Pela primeira vez, alguém falava em voz alta o que ela sempre temeu.
— E você? — retrucou.
Um sorriso lento apareceu nos lábios dele. — Sou Klaus. Alfa desta região. E você está em território de lobos.
Valentina deu um passo para trás, o instinto gritando em sua mente. Mas ao mesmo tempo, algo a fazia querer se aproximar. Aquele nome... Klaus. Soava familiar, mesmo que ela tivesse certeza de nunca tê-lo ouvido antes.
Antes que qualquer um pudesse dizer mais alguma coisa, Luna apareceu, ofegante. Ela olhou de Klaus para Valentina, e seus olhos se estreitaram.
— Vamos. Agora — disse, puxando a amiga pelo braço.
Klaus não a impediu. Apenas observou enquanto elas se afastavam. Mas antes de desaparecer na floresta, disse algo que ficou gravado na mente de Valentina:
— Nos veremos de novo, híbrida.
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