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O Legado do Magnata

C.01

– Brilho e Sombras

Leonor sorria para as câmeras enquanto o clique constante da lente ecoava pelo estúdio. Luzes fortes, maquiagem impecável, vestidos assinados por estilistas renomados… Era assim que ela vivia, entre capas de revistas e passarelas internacionais. Uma estrela em ascensão? Não. Leonor já era um nome consolidado no mundo da moda — uma das modelos mais requisitadas do país.

Naquele dia, sua agenda estava lotada: ensaios fotográficos, entrevistas e reuniões com marcas. Mas ela adorava aquela rotina intensa. Era o que sempre sonhara desde menina. E agora, ali estava ela, sendo admirada por milhões e construindo um império com sua imagem.

Entre uma troca de figurino e outra, seu celular vibrou.

— Adam — sussurrou com um sorriso nos lábios ao ver o nome na tela.

Ela atendeu animada, sentindo o coração acelerar só de ouvir sua voz.

— Amor — disse ele com aquele tom grave e encantador —, pensei em jantarmos juntos hoje. Só nós dois.

— Eu adoraria — respondeu ela, radiante. — Mal posso esperar.

Logo após a ligação, Leonor retomou o trabalho com um brilho especial nos olhos. Adam sempre conseguia fazer seu coração bater mais forte.

 

Do outro lado da cidade, na cobertura de um arranha-céu luxuoso, Adam assinava documentos em seu escritório envidraçado. Era um homem de presença forte, olhar frio para os negócios, e comanda uma das maiores corporações do país. Aos olhos do mundo, um gênio do mercado, respeitado e temido. Mas poucos conheciam seu verdadeiro império, aquele que operava por baixo dos panos — envolto em segredos, alianças perigosas e sangue.

Ele encarou a cidade do alto, pensando em Leonor. Quem diria que um homem como ele, que vivia nas sombras, poderia amar de forma tão intensa?

— Eu daria tudo por ela — murmurou para si. — Poder, dinheiro, influência… tudo. Menos ela. Nunca ela.

Naquela semana, ele havia mandado fazer um anel exclusivo. Planejava pedi-la em casamento no final de semana. Não via mais um futuro sem aquela mulher ao seu lado.

 

À noite, no restaurante reservado especialmente para eles, Leonor e Adam brindaram com vinho caro, sorrisos cúmplices e olhares apaixonados. Conversas doces, promessas veladas, beijos roubados no meio de risadas. Eram perfeitos juntos.

Após o jantar, Leonor aceitou dormir na mansão dele, como fazia em algumas noites especiais. A imponente casa refletia a riqueza de Adam, mas também escondia segredos demais.

Na madrugada, ela despertou sozinha na cama. Estranhou o vazio ao seu lado. Silenciosamente, levantou-se, vestiu um robe e decidiu procurá-lo.

Desceu até o escritório. A porta estava entreaberta. Ela entrou, curiosa, chamando por ele em voz baixa. Não o encontrou — mas notou algo estranho. Uma prateleira ligeiramente fora do lugar. Curiosa, mexeu nela… e então, como em filmes de espionagem, uma passagem se revelou.

Um fundo falso. Uma sala secreta.

Leonor entrou com o coração acelerado. Documentos, mapas, armas. Fotografias de pessoas que ela nem conhecia, dinheiro empilhado, gravações e mais gravações de negociações suspeitas. Aquilo parecia um filme de máfia. Mas era real. Era Adam.

Assustada, ela voltou para o quarto. Poucos minutos depois, escutou o barulho da porta sendo aberta. Deitou-se rapidamente e fingiu estar dormindo.

Adam entrou no quarto… coberto de sangue. As roupas sujas, uma arma nas mãos.

Ela prendeu a respiração, lutando contra o choro que queria escapar.

Naquela noite, Leonor tomou uma decisão: no dia seguinte, ela iria embora. Fugiria daquele homem que tanto amava — mas que escondia um lado perigoso demais para ela suportar.

 

O sol mal havia surgido quando Leonor abriu os olhos. O quarto ainda estava em penumbra, e Adam dormia profundamente ao seu lado. Ela ficou alguns segundos o observando. Como alguém com um rosto tão sereno podia carregar um mundo tão sombrio dentro de si?

Com o coração apertado e a respiração instável, levantou-se em silêncio. Trocou de roupa rapidamente, prendeu os cabelos e, sem olhar para trás, saiu da mansão que tantas vezes foi palco de amor... e que agora era cenário de medo e desilusão.

Já no táxi, as lágrimas começaram a cair sem controle. O motorista não perguntou nada. Apenas seguiu o caminho enquanto ela encarava a cidade pela janela, o rosto molhado, o coração aos pedaços.

Lembrava-se do dia em que conheceu Adam. Aos olhos dela, ele era perfeito. Um príncipe moderno. Um homem charmoso, inteligente, elegante. Amor à primeira vista. Mas agora... tudo estava manchado. Aquele homem escondia segredos demais. O que ela descobriu na noite anterior não era apenas assustador — era imperdoável.

Ao chegar em casa, pagou o táxi e correu para dentro. Com as mãos trêmulas, pegou o celular e ligou para a única pessoa que confiava de olhos fechados.

— Martina, eu preciso de você.

— O que aconteceu? Você tá chorando, amiga?

— Eu... eu não posso explicar agora. Só preciso ir embora. De verdade. Sumir.

Martina, meio doidinha e impulsiva, mas leal até o fim, foi até o apartamento em menos de trinta minutos. Sem perguntas, apenas ação. Em poucas horas, com contatos meio duvidosos que mantinha “por precaução”, conseguiu um passaporte falso para Leonor e uma peruca loira curta, bem diferente dos longos fios castanhos da modelo. Era o começo do plano de fuga.

— Você tem certeza disso? Fugir desse jeito? — perguntou Martina, enquanto ajudava Leonor a arrumar uma pequena mala.

— Eu vi demais, Martina. E ele... ele não é quem diz ser. Eu amei uma mentira.

Antes de sair, Leonor cancelou todos os seus cartões. Depois, desligou o celular, tirou o chip e jogou tudo no lixo. Ela sabia que Adam tinha recursos para encontrá-la. Precisava desaparecer sem deixar rastros.

Horas depois, no aeroporto, disfarçada e com identidade falsa, embarcou rumo a um novo destino. Um recomeço. Longe do homem que partiu seu coração... e a assustava até nos pensamentos.

 

Na mansão, Adam despertou estranhando o silêncio. Estendeu a mão no vazio da cama, buscando Leonor. Mas ela não estava ali.

— Onde está Leonor? — perguntou a uma das funcionárias.

— Ela saiu cedo, senhor. Disse que precisava resolver algo.

Ele franziu o cenho. Aquilo não era comum. Pegou o celular e ligou para ela. Sem resposta. Tentou novamente. Nada.

Durante o dia, o incômodo cresceu. Ele saiu para o trabalho, mas não conseguia se concentrar. Tentou falar com ela de novo, mandou mensagens. Nenhum sinal.

Ao anoitecer, impaciente, mandou seus homens irem atrás dela. Vasculharam seu apartamento. Vazio. Tudo indicava que ela tinha desaparecido.

Foi então que uma ligação confirmou seu maior temor:

— Senhor... ela fugiu. Desapareceu. Parece que sabia de algo.

Adam sentiu o chão se abrir sob seus pés. A mulher que ele amava… a única pessoa que tocou seu coração de verdade… tinha descoberto a verdade. E o deixou.

Com medo.

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C.02

O Preço da Verdade

Do outro lado do oceano, em uma pequena cidade europeia, Leonor caminhava pela varanda do apartamento modesto que alugara. O sol da manhã iluminava seu rosto cansado, mas ainda lindo. Ela olhou para dentro, onde um garotinho brincava com seus brinquedos. Seus olhos eram castanhos como os dela, mas havia algo naquele olhar... uma intensidade, uma presença que era puramente Adam.

Seu coração apertou.

Ela lembrou do dia em que descobriu a gravidez. Estava há poucas semanas fugida. Ainda confusa, perdida, com medo de tudo. Sentia náuseas, tonturas, um mal-estar constante. Achou que era apenas o estresse… até que o atraso veio. Fez o teste tremendo, e quando viu o resultado… desabou.

Grávida do homem de quem fugira. Do homem que amou com tudo o que tinha. Do homem que escondia uma face sombria.

Foi uma mistura de medo, angústia, mas também de um amor inexplicável. Ela decidiu naquele momento que daria tudo para proteger aquele bebê. E proteger significava continuar longe de Adam.

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Enquanto isso, no mundo da moda, os rumores corriam soltos. Leonor havia sumido no auge da carreira. Uma modelo renomada, requisitada, admirada… desapareceu após uma campanha incrível. As fotos foram manchetes em revistas internacionais. Todos queriam saber o motivo da súbita pausa.

— A única coisa que posso dizer — disse a diretora da agência a um jornalista — é que Leonor pediu férias. Disse que precisava de um tempo. Não deu data para voltar. E pediu que respeitassem seu silêncio.

A equipe da moda, estilistas, fotógrafos, assessores, todos estavam confusos. Leonor parecia tão feliz. Tão realizada. E de repente... sumiu.

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Adam apareceu pessoalmente na agência.

De terno escuro, olhar frio e impenetrável, exalava poder e angústia. Exigiu respostas. Mas só encontrou portas fechadas e olhares de pena.

— Eu não sei o que aconteceu — disse a chefe dela, nervosa. — Ela estava ótima! Fez uma sessão de fotos incrível, saiu sorrindo... e no dia seguinte pediu afastamento. Disse que ia viajar. Só isso.

Adam não respondeu. Apenas saiu, com os olhos ardendo de raiva e desespero.

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Os meses passaram.

Adam mudou.

O homem apaixonado e carismático desapareceu. Em seu lugar, surgiu um magnata sombrio. Grosseiro. Frio. Mal-humorado. Seus funcionários temiam até sua presença. Ele não sorria. Mal se alimentava. Dormia pouco. E toda noite... voltava àquele porta-retrato em sua mesa.

A foto de Leonor.

Bebia em silêncio, lembrando do seu cheiro, do seu toque, da forma como ela sorria só pra ele.

E se odiava.

— Eu devia ter contado tudo — murmurava para si mesmo, sempre com a voz embargada. — Ela tinha o direito de saber quem eu era. Antes de eu amá-la daquele jeito...

Ele havia perdido tudo. O que sentia por Leonor era o que nenhum poder, nenhuma fortuna, nenhum império do mundo poderia substituir.

Mas ele ainda tinha esperança.

“Um dia, eu vou encontrá-la. E vou olhar nos olhos dela. E pedir perdão por tudo.”

Mal sabia ele que, a cada noite, do outro lado do mundo, havia uma mulher que segurava uma criança nos braços... e lutava para esquecer o homem que ainda amava.

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Meu pequeno milagre

A luz suave da manhã invadia o quarto simples, mas acolhedor. Leonor estava sentada na poltrona ao lado do berço, balançando suavemente o corpo enquanto embalava o pequeno Matteo em seus braços.

Sim, Matteo. Escolhera o nome sozinha, olhando para o céu cinzento da cidade onde agora morava. Um nome forte, bonito, e que combinava com os olhos do bebê — intensos, expressivos, tão parecidos com os de Adam que doía olhar por muito tempo.

— Você é meu segredo mais bonito, meu amor — sussurrou ela, passando os dedos pelos fios fininhos de cabelo do menino, que começava a adormecer.

Matteo tinha seis meses. Era um bebê calmo, carinhoso, daqueles que olhavam nos olhos como se pudessem enxergar a alma. E Leonor? Ela era uma nova mulher. Mãe. Protetora. Sensível. Fortalecida por dentro, mesmo carregando o medo todos os dias.

A vida agora era outra. Não havia flashes, nem passarelas, nem maquiagem profissional. Trocara vestidos de grife por roupas confortáveis. Saltos por chinelos. Câmeras por mamadeiras.

Mas não reclamava.

Naquele pequeno apartamento, longe dos holofotes, ela encontrava um tipo de paz que nunca imaginou viver.

Claro, havia dias difíceis.

Como aquele dia em que o leite faltou e ela chorou abraçada com Matteo. Ou quando teve febre e, sem ninguém por perto, precisou cuidar dele mesmo assim. Havia noites sem dormir, preocupações com dinheiro, medo de ser reconhecida, pavor de que Adam a encontrasse.

E o pior de tudo: a saudade.

Ela sentia falta do olhar de Adam. Do toque, das conversas. Do homem que amava, não do magnata sombrio que ele escondia ser. Dois Adams viviam nela: o príncipe dos sonhos e o rei do submundo.

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No mundo da moda, notícias sobre Leonor eram escassas.

A agência mantinha sigilo absoluto. Seus colegas só sabiam que ela “estava descansando”. Férias sem data. E isso, no universo das passarelas, era quase um desaparecimento misterioso.

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Adam continuava a busca.

Contratou detetives. Vasculhou aeroportos, consultórios, hotéis, alugueis. Nada. Nenhum rastro. Leonor parecia ter evaporado da Terra. Isso o deixava louco.

Matteo soltou um som leve, uma risadinha dormindo. Leonor sorriu, mesmo com os olhos marejados. Apoiou o queixo sobre a cabeça do filho e suspirou.

— Eu daria qualquer coisa pra você conhecer seu pai… o lado bom dele. A parte que eu amava. Mas não posso, meu anjo. Não agora. Não com o que descobri.

Ela fechou os olhos e o abraçou mais forte.

Talvez um dia o mundo permitisse aquele reencontro.

Mas hoje, seu mundo era apenas um: Matteo.

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C.03

Febre e Cicatrizes

A madrugada caiu silenciosa sobre a pequena cidade. Leonor dormia encolhida na cama, o corpo exausto de mais um dia cuidando de tudo sozinha. Mas o silêncio não duraria.

Um choro. Fraco no começo. Depois, mais intenso.

Ela abriu os olhos num susto, sentando-se na cama de imediato.

— Matteo? — sua voz saiu ofegante.

Correu até o berço e o encontrou agitado, com o rostinho vermelho e o corpinho quente demais ao toque.

— Meu Deus… você está queimando! — Leonor sussurrou em pânico, pegando o bebê nos braços.

O termômetro confirmava: 38,9°C.

Seu coração disparou.

Estava em uma cidade nova, Não tinha carro, nem planos de saúde, nem alguém por perto. Por um segundo, tudo pareceu desmoronar.

Vestiu Matteo às pressas, colocou um casaquinho nela mesma, enfiou a carteira e a chave na bolsa, e saiu correndo para o pronto-socorro mais próximo.

As luzes brancas do hospital a deixaram mais nervosa. Sentada com Matteo no colo, ela tentava manter a calma enquanto sentia as lembranças a invadirem.

E se ele estivesse doente? E se algo acontecesse com o único pedaço de amor puro que ela tinha?

As horas passaram como dias.

— É só uma virose, — disse a médica, finalmente — nada grave. Mas ele precisa de cuidados, repouso e bastante hidratação. Se a febre não ceder em 48h, volte.

Leonor agradeceu com um sorriso forçado, os olhos ainda marejados.

Ao chegar em casa, deitou Matteo no berço e desabou no sofá. Chorou silenciosamente por longos minutos. Não era só a febre. Era o medo de estar sozinha. De não ser suficiente. De estar escondida do mundo.

Seu celular antigo — um modelo simples que comprou sem cadastro — vibrou. Uma mensagem da amiga Martina.

"Como vocês estão? Senti que algo não está bem. Quer que eu vá aí?"

Leonor respondeu com uma foto de Matteo dormindo, bochechinhas rosadas, olhos fechados. Depois, mandou:

"Hoje eu achei que ia desmoronar. Mas ele é mais forte do que parece. E eu também."

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Na mansão de Adam, a tempestade interna continuava.

— Nenhuma pista ainda? — sua voz saiu fria, sem emoção, encarando seu segurança particular.

— Nenhuma, senhor. Mas conseguimos algo novo: há boatos de que Leonor teria sido vista em um aeroporto do interior semanas atrás. Não temos imagens, mas vale investigar.

Adam apertou os punhos. Uma fagulha de esperança reacendia. Ele olhou para a foto antiga no porta-retrato da sala. Leonor sorria ao seu lado, despreocupada, linda.

— Eu vou encontrá-la. Nem que isso custe tudo que tenho. Mas eu preciso olhar nos olhos dela e dizer que… me arrependo. Que eu faria tudo diferente.

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Leonor, do outro lado do mundo, velava o sono de Matteo.

Ela ainda não sabia, mas o destino já estava traçando caminhos para aproximá-los de novo.

E a verdade… sempre encontra uma forma de emergir.

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O som de passos apressados ecoava pelo corredor de mármore da mansão de Adam. Ele estava em pé diante de um mapa preso à parede, repleto de marcações, fotos, pontos vermelhos. A obsessão pela busca de Leonor já não era segredo nem para os funcionários.

— Qual é a novidade? — ele perguntou ao segurança que entrava na sala.

— Uma pista no sul do país. Uma mulher com as mesmas características foi vista em uma pequena clínica particular.

Adam engoliu em seco.

— Continue. Vá até o fim. Eu não vou parar. — sua voz era baixa, mas firme. O olhar frio, distante. — Achem minha Leonor…

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Enquanto isso, a luz da manhã invadia a pequena casa alugada por Leonor. Ela ajeitava os paninhos de Matteo, que agora estava mais corado e cheio de energia. Um som conhecido a tirou dos pensamentos: batidas na porta.

— Quem será a essa hora? — sussurrou, indo até a entrada.

Quando abriu, viu a figura irreverente e animada de sempre: Martina.

— Surpresa! — ela disse, já entrando com uma mala pequena e um sorriso largo.

— Martina? Meu Deus! — Leonor a abraçou forte, sentindo os olhos marejarem.

— Eu não ia aguentar mais ficar longe de vocês. Queria ver com meus próprios olhos esse pacotinho que você tá escondendo do mundo. — Ela se abaixou diante de Matteo e fez caretas, arrancando risadinhas do bebê. — Que perfeição, Leonor... Ele tem o olhar do pai, não tem?

Leonor suspirou, desviando os olhos.

Depois de se instalarem e tomarem café, as duas se sentaram na varanda. Matteo dormia tranquilo no carrinho, embalado pela brisa suave.

— Você ainda ama ele, né? — Martina perguntou sem rodeios.

Leonor demorou, mas assentiu, a voz embargada.

— Eu amei Adam como nunca imaginei amar alguém. Mas eu fugi com medo, Martina. Quando vi quem ele realmente era... aquela sala secreta, o sangue, as armas... — Ela passou as mãos pelo rosto. — Eu não sabia mais em quem estava dormindo ao lado.

— Eu entendo. Juro que entendo. Mas amor como o de vocês não morre assim, amiga. Vocês precisam conhecer a verdade um do outro. Ele precisa saber do Matteo. Você precisa ouvir dele, cara a cara, o porquê de tudo isso.

Leonor balançou a cabeça negativamente.

— Não posso voltar. Não posso correr o risco de colocar meu filho perto de alguém que vive num mundo perigoso. Eu fugi pra proteger ele... e a mim.

Martina ficou em silêncio por um instante. Então, disse com pesar:

— Você sabia que o Adam não é mais o mesmo? Ele virou um homem ainda mais fechado, distante. Anda pelos corredores da própria empresa como um fantasma. Dizem que quase não dorme. Que parou de sorrir. Que não liga mais para o dinheiro. A única coisa que ele quer… é você.

Leonor ficou em silêncio, o coração apertado.

— Eu conheço aquele olhar, Leo. Ele está sofrendo. E você também.

— Talvez isso seja o destino. Um amor impossível.

— Ou talvez, — Martina disse com firmeza, — seja um amor que precisa de coragem para recomeçar. Vocês não precisam voltar ao passado. Mas podem escrever uma nova história… se quiserem.

Leonor olhou para Matteo, que dormia tranquilo.

Será que algum dia teria coragem de contar a verdade?

E mais ainda… será que ainda existia uma chance para o amor que um dia incendiou sua alma?

---

A noite caía devagar, e a casa de Leonor estava mergulhada em silêncio. Apenas o som suave da respiração de Matteo preenchia o ambiente. Ela o observava dormir no berço improvisado, com um cobertorzinho azul cobrindo o corpinho miúdo.

Sentia o peito apertado, como se a saudade insistisse em bater mais forte naquele dia. As palavras de Martina ecoavam em sua mente:

“Vocês precisam conhecer a verdade um do outro.”

Sentou-se na escrivaninha simples, pegou papel e caneta. Por um instante, ficou apenas olhando o vazio. O coração batia descompassado.

Querido Adam…

Escreveu, mas logo riscou.

Respirou fundo. Tentou de novo.

Adam,

Não sei por onde começar. Talvez pelo fato de que todas as noites, desde que fugi, penso em você. Não como o homem do submundo. Mas como o homem que me fazia rir nos jantares, que me olhava como se eu fosse tudo o que ele precisava no mundo.

Parou. Uma lágrima caiu no papel.

Descobrir quem você realmente é me destruiu. Mas não porque você é um magnata do crime. E sim porque, mesmo depois de tudo, eu ainda te amo.

Levantou-se de repente, empurrou a cadeira para trás e andou em círculos no pequeno cômodo.

Como eu posso amar alguém que me assustou tanto?

Como posso confiar num mundo que um dia quase engoliu o meu?

Mas a maior pergunta era: Como negar a você o direito de conhecer o filho que criamos com amor, mesmo sem sabermos?

Voltou à cadeira, pegou a caneta novamente. O coração batia acelerado.

Seu filho está bem. Ele é lindo. Tem seus olhos. E às vezes, quando sorri, parece que está sorrindo pra você. Mesmo sem te conhecer.

Mais lágrimas caíram.

Quando terminou, dobrou o papel e ficou olhando para o envelope em branco. Não escreveu o nome, nem o endereço.

Por fim, ela o guardou numa caixinha, junto com outras memórias que doíam demais para serem expostas.

Talvez um dia tivesse coragem de entregar. Talvez um dia conseguisse enfrentá-lo de frente. Por enquanto… ainda não.

Leonor olhou mais uma vez para Matteo, enxugou as lágrimas e sussurrou:

— Um dia você vai conhecer seu pai. Mas quando mamãe estiver pronta…

E naquela noite, dormiu com o coração em pedaços… mas com uma fagulha de esperança queimando bem lá no fundo.

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