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Aquela Que Caminha Pelos Andares

Capítulo 1 — Flores em Apex, Sangue em Atreus

A dor era insuportável.

Melina não conseguia respirar.

Havia sangue em sua boca, o gosto metálico misturado ao gosto de terra e poeira. Um braço não respondia mais. O outro tremia, tentando mover o corpo que agora pesava como pedra. Ao seu lado, o som de ossos quebrados. Acima dela, o céu escurecido e aquele grito. O grito. Tão agudo e distorcido que fazia o coração doer só de ouvir.

— Avaliação falhou. Diferença de níveis muito alta. Leitura impossível.

A mensagem ainda estava cravada no fundo de seus olhos. Mesmo agora, ela não conseguia esquecer. Nem o som da carne sendo rasgada. Nem o olhar de desespero do tanque que havia gritado com todas as forças:

— CORRE OU MORRE!!

Mas não havia mais para onde correr.

Algumas semanas antes…

A multidão vibrava no pátio da Academia de Caçadores. Os instrutores chamavam os nomes um por um, entregando as insígnias douradas que confirmavam o fim do curso. Melina estava entre eles — olhos brilhantes, coração disparado.

— Melina, Classe Avaliadora.

Um silêncio breve pairou. Alguns alunos esconderam sorrisos. Outros suspiraram, decepcionados.

Avaliadores. A classe mais fraca. A mais inútil.

Não tinham técnicas de combate, não sabiam conjurar magias ofensivas, nem invocar escudos. Sua única função era… observar. Analisar. Julgar. Como olhos em uma batalha que não podiam tocar.

Mas para Melina, aquilo era o início de um sonho.

Ela pegou sua insígnia e sorriu, mesmo ao ver os olhares torcidos.

"Mesmo que minha classe não lute… eu vou ajudar meu time. Eu vou proteger como puder."

O Portal de Entrada para o Mundo 1 — Apex era uma estrutura imponente e circular, envolta por energia cintilante. Era por ele que todos os recém-formados começavam.

A Terra havia se tornado inabitável em muitas regiões. Cidades desertas, ecossistemas destruídos, monstros vagando fora de controle. Mas os Mundos-Dungeon eram um novo começo.

Até agora, sete mundos haviam sido descobertos.

E cada um deles… era três vezes mais perigoso que o anterior.

Apex era o único onde a humanidade havia construído cidades estáveis, com guildas organizadas e rotas comerciais. Mas mesmo ali, o perigo espreitava fora dos muros.

Melina entrou no portal, segurando seu bastão de avaliação com força.

E quando seus pés tocaram o solo de Apex…

Ela prendeu a respiração.

Um campo de flores azuis se estendia até onde os olhos alcançavam, com montanhas douradas ao fundo. Pássaros alados cruzavam o céu, e criaturas parecidas com cervos corriam livres. A beleza era viva. Mágica.

— É mais bonito do que qualquer coisa que vi na Terra…

Poucos dias depois, Melina conseguiu entrar em um pequeno grupo de expedição. Eles precisavam de alguém para analisar o valor de itens coletados em batalhas e classificar os monstros abatidos.

Era seu trabalho.

O grupo era composto por seis membros:

Griegor — líder do grupo. Um homem sério e experiente.

Sela e Runn — dois magos de combate.

Tannor — o curandeiro, também o riler (coordenador de subida de andar).

Tayk - o tanquer.

Dars — guerreiro ágil e rápido.

E por fim, Melina, a Avaliadora.

A relação era educada, mas distante.

Nas batalhas, Melina fazia seu papel: analisava monstros, identificava fraquezas, alertava sobre mutações. Mas ninguém realmente a ouvia. Nem a respeitava.

— "Avaliadores não vencem monstros. Só atrapalham."

— "Se der merda, ela vai ser a primeira a morrer."

Ela ouvia tudo. Mas não desistia.

Após quatro missões bem-sucedidas em Apex, o grupo se sentia confiante. Era hora de subir.

Para o Segundo Mundo: Atreus.

Muitos hesitavam nessa decisão. Subir significava enfrentar monstros mais ferozes. Os mundos não só mudavam em dificuldade, como em regras. Em Apex, os monstros eram previsíveis. Em Atreus… selvagens.

Mesmo assim, o grupo seguiu. Liderado por Griegor e autorizado por Tannor, o riler.

Ao atravessarem o segundo portal, uma pressão densa tomou o ar.

Atreus era coberto por uma floresta negra e silenciosa. As árvores pareciam sussurrar. O chão era coberto por folhas que não faziam som ao serem pisadas.

Melina tentou fazer algumas avaliações nos primeiros monstros, mas os padrões haviam mudado. O que antes era comum, agora era inferior. E o que antes era elite… agora era o novo comum.

Mesmo assim, com estratégia e força, o grupo avançava. Até que…

O ar se rompeu.

Uma fissura surgiu no céu. Um portal roxo, pulsando como um coração sombrio.

Tannor arregalou os olhos.

— "Isso não é bom…"

— "É um portal de descida!" — gritou Runn. — "Um monstro está descendo de um mundo superior!!"

Melina sentiu o corpo congelar.

Do portal, uma sombra se materializou…

Um morcego colossal, com olhos de rubi e asas que cobriam o céu.

Ela ativou sua habilidade.

Seu olho brilhou em azul.

— Avaliação Ativada.

— …

— …

— Leitura falhou. Diferença de níveis muito alta. Leitura impossível.

Melina caiu de joelhos.

— "Eu… não consigo avaliar isso…"

Griegor avançou com espada em punho.

— "Fiquem atrás de mim!"

Num piscar de olhos, uma rajada.

O som de carne sendo cortada.

O corpo de Griegor… partido ao meio.

— "NÃO!" — gritou Sela, lançando uma esfera de fogo.

Runn conjurou uma lança de água.

As magias explodiram no corpo do morcego.

Ele… sorriu.

Num segundo, as cabeças dos dois magos rolaram no chão.

Tannor gritou e ergueu uma barreira de cura.

— "CORRE, MELINA!!"

O morcego soltou um grito ensurdecedor.

A barreira rachou.

E a cabeça de Tannor… explodiu.

O tanque olhou para Melina, os olhos cheios de desespero.

— "CORRE OU MORRE!!!"

Ele se lançou contra o monstro.

Mas foi arremessado como uma boneca…

Diretamente contra Melina.

O impacto foi brutal.

Ela ouviu o som de ossos quebrando.

Um braço. Duas costelas.

E então… tudo ficou preto.

Fim do Capítulo 1.

Capítulo 2 — Avaliação e Fome

"— Os Raillers são todos os monstros que, por algum motivo, acabam descendo de andar. Esses monstros desequilibram o mundo que invadem, tornando-se o topo da cadeia alimentar."

A voz do professor ecoava no auditório da escola. Melina anotava tudo com seriedade, enquanto os colegas cochichavam entre si. A lembrança mudava…

"— Dizem que existem oito Terras, e a cada três andares é possível encontrar humanos de outras terras… Será que é verdade, Melina?"

Ela riu da pergunta do amigo.

Então por que ninguém nunca voltou com provas?

Melina acordou.

Seu corpo doía. Seu braço direito estava enfaixado com pedaços da própria roupa e o lado esquerdo do abdômen latejava com uma dor constante. As costelas quebradas tornavam a respiração pesada. Estava deitada em algo que parecia um ninho. Ramos secos, raízes entranhadas, e penas… enormes penas.

Onde estou…?

Ela tentou levantar, apoiando-se no braço bom. Sentiu vertigem. Ao olhar ao redor, percebeu que o céu tinha dois sóis, um maior que outro, e o calor era sufocante.

— Esse deve ser… Atreus — murmurou, convencida, mas incerta. — Preciso voltar…

A ideia de encontrar um portal de descida a reconfortava. De acordo com a teoria, mesmo se o grupo subisse, deveria haver meios de voltar. Ela caminhou. Vagou por horas, o sol girava lentamente acima das árvores vermelhas e folhas retorcidas. Nenhum sinal de portal. Nenhum sinal de humanos.

A fome crescia. Seu estômago já roncava desde o dia anterior, e a boca seca lhe deixava a língua pastosa. Ao longe, viu algo se mexer. Ao se aproximar, percebeu uma larva do tamanho de um sapo, rastejando na sombra de uma pedra.

— Finalmente… comida. — Ela murmurou, ativando sua habilidade: — Avaliar.

[Erro de Leitura]

A diferença de níveis impede a avaliação completa.

— Até um inseto é mais forte que eu? — gritou irritada. — Isso é injusto!

Sem pensar, pisoteou a criatura com a força que pôde reunir. Com nojo, apanhou parte do corpo mole e o engoliu às pressas, tentando não vomitar.

[Você adquiriu +1 Ponto de Experiência]

[Habilidade adquirida: Ganho de Mana ao Comer Planta - Nível 1]

Descrição: A cada 1kg de planta consumido, 1 ponto de mana é restaurado.

Ela arregalou os olhos.

— O quê…? Ganho habilidades ao matar e comer…?

Pensou por um instante. Sempre comi vegetais, frutas, carne. Nunca ganhei nada. Então, talvez…

— Eu preciso matar para ganhar…

Com esse pensamento, passou a buscar mais larvas. Encontrou um ninho com várias, e em poucas horas, já havia esmagado e devorado dezenas.

[Habilidade evoluída: Ganho de Mana ao Comer Planta ->Comedora de Mana]

Nova descrição: A cada 200g de planta consumida, recupera-se 80% da mana total.

[Habilidade evoluída: Avaliação -> Avaliação Avançada desbloqueada]

Agora é possível determinar a subcategoria do alvo avaliado.

Avaliar

Inseto Rastejante

Tipo: Comum — Nível Baixo

Melina caiu sentada, exausta, mas com um sorriso. Estava subindo. Devagar, mas estava.

Mais tarde, ao buscar mais larvas, ouviu algo se arrastando. Uma centopeia vermelha, com mais de dois metros, deslizou das sombras. Seus olhos brilhavam, e uma gosma preta escorria das presas.

Melina engoliu seco. Se aproximou com cautela e ativou sua habilidade.

Centopeia Escarlate

Tipo: Comum — Nível Intermediário

— Comum intermediário, hein… Eu consigo… se eu pensar bem.

A criatura avançou. Melina desviou para o lado, pegou uma pedra e mirou no olho da criatura. Errou, mas acertou a lateral da mandíbula. A centopeia gritou com um som agudo.

Ela correu, passando por entre troncos retorcidos, forçando o bicho a segui-la. Sabia que não venceria pela força. Precisava usar a cabeça.

Ali… viu uma raiz presa sobre uma pedra alta. Subiu com dificuldade. Quando a centopeia tentou segui-la, ela saltou e usou o peso do corpo para puxar a raiz presa em sua base, derrubando pedras sobre o corpo do monstro.

O impacto partiu parte da carapaça.

Ela agarrou um galho pontudo e cravou no ponto exposto. A criatura se debateu. Gosma quente espirrou no rosto de Melina. Ela gritou, mas manteve a força, cravando o galho até ouvir um estalo seco.

[Você adquiriu +18 Pontos de Experiência]

Ofegante, caída de costas, Melina olhou para o céu. Os dois sóis pareciam zombar de sua dor… mas ela sorriu.

— Eu… sobrevivi.

Com as mãos sujas de sangue e gosma, aproximou-se do corpo da centopeia.

— É isso… ou morrer.

E então, com nojo e determinação, ela deu a primeira mordida.

[Habilidade adquirida: Digestão Acelerada - Nível 1]

Descrição: Diminui os efeitos colaterais de consumir criaturas desconhecidas. Melhora a absorção de habilidades ao devorar.

Ao longe, algo a observava entre os galhos.

Algo… que não era uma centopeia.

Capítulo 3 - Sede de Sangue

Melina seguia pela floresta densa, cambaleando entre raízes grossas e folhas úmidas. O som dos pássaros havia sumido há horas. Tudo estava silencioso demais.

Ela estava exausta. O corpo inteiro doía. Braço esquerdo quebrado, três costelas trincadas e um cansaço acumulado que fazia até a respiração parecer um fardo. A floresta a estava matando devagar.

Foi quando ela viu o corpo.

Deitado de lado, parcialmente coberto por folhas, jazia um guerreiro. A armadura enferrujada, os olhos vazios, e uma espada ainda presa na mão morta.

Melina se aproximou, tentando ignorar a dor nas costelas.

— Alguém morreu aqui… foi recente?

Ela se ajoelhou com dificuldade. Usou sua habilidade.

> Avaliação: Armadura pesada, aço. Integridade: 30%.

— Pesada demais pra mim… — murmurou.

Ela avaliou a espada.

> Avaliação: Espada longa, ferro e cobre fundido. Integridade: 18%.

— Isso mal serve como ferro velho…

Foi então que algo brilhou ao lado do corpo. Uma adaga longa, parcialmente enterrada na terra.

> Avaliação: Adaga Longa, aço puro. Integridade: 70%.

Melina sorriu.

— Bom… não tenho armadura, mas só de ter uma arma já é melhor.

Assim que ela pegou a adaga, a moita atrás dela explodiu.

Um rugido agudo cortou o silêncio da floresta.

Um lagarto gigante de cauda vermelha surgiu, pulando contra ela com as presas à mostra. Seus olhos amarelos eram selvagens. A pele era grossa como couro batido, com espinhos ao longo do dorso.

Melina mal teve tempo de reagir.

Ela rolou para o lado, gemendo. A dor no tórax fez seu pulmão falhar. O lagarto pousou onde ela estava segundos antes, quebrando o chão.

— Droga… ele é rápido.

Ela se levantou com esforço. A adaga tremia em sua mão direita. A esquerda, quebrada, não servia para nada. Era uma luta de um braço só.

O lagarto girou a cauda. Melina tentou esquivar, mas a cauda atingiu seu ombro de raspão, lançando-a contra uma árvore. A madeira rachou. Ela caiu no chão com um baque surdo.

A dor a fez gritar.

O sangue escorria do canto da boca. O ombro latejava. Ela tossiu. Uma das costelas provavelmente havia furado algo.

— Levanta… levanta, Melina…

O lagarto avançou de novo, rápido como um raio. Melina rolou para o lado, gemendo a cada movimento. Ela se apoiou numa pedra, esperando o momento certo.

Quando ele passou por ela, cravou a adaga na lateral do pescoço da criatura.

O sangue jorrou quente.

Mas o lagarto não morreu.

Ele se sacudiu com violência. Melina foi jogada no chão mais uma vez. A adaga ficou presa no pescoço do bicho.

A criatura cambaleou, sangrando. Mas ainda estava de pé.

Melina também se levantou, quase desmaiando, as pernas bambas. Respirar doía. Cada passo era como andar sobre espinhos.

Mesmo assim, ela correu.

Ou pelo menos tentou.

Usando a perna direita para se impulsionar, saltou sobre o lagarto mais uma vez. Agarrou o cabo da adaga com a mão boa e empurrou com toda a força que ainda tinha.

— MORRE!

O rugido final da criatura tremeu o ar. O corpo tombou. A floresta silenciou.

Melina caiu junto.

Ficou deitada por um instante. Apenas ouvindo o próprio coração.

O sangue da criatura a cobria dos pés à cabeça. Mas ela estava viva.

Arrastando-se, ela continuou pelo caminho entre as árvores, e então a viu.

Uma aldeia.

Casas simples, feitas de madeira escura, com fumaça saindo de algumas chaminés. Uma cerca de galhos separava o lugar da floresta.

Ela sorriu, alívio nos olhos.

— Uma… civilização…

Deu dois passos.

E parou.

O ar ficou pesado.

Como se o próprio mundo tivesse prendido a respiração.

Ela virou o rosto, devagar.

Ali estava ele.

Um ser alto, coberto por trapos escuros. O capuz escondia o rosto, mas os olhos brilhavam em vermelho puro, como se fossem brasas vivas.

Uma aura esmagadora emanava daquele corpo. O chão pareceu tremer.

Melina caiu de joelhos. Não pela dor — mas pelo puro terror.

Ele deu um passo à frente.

A voz saiu baixa, arrastada, grave.

— “Humana…”

Continua…

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